Roxanne Weasley, com todos os seus medos, jamais temera a morte.

Era isso que tinha dito para si mesma todos aqueles anos. Isso que tinha dito para justificar suas ações, para acordar e ir dormir sem sentir aquele calafrio familiar na base de suas costas. Isso ajudava. Como um copo de chocolate quente ou um abraço de um amigo. Era reconfortante pensar que, diferentemente de aranhas, notas baixas, rejeição, desconfiança e salas escuras, ela não temia a morte.

Embora, talvez, ela pensou por fim, não fosse verdade. Ela realmente tinha acreditado naquilo todo aquele tempo. É fácil ser inconsequente quando não se tem medo de morrer. Mas, pensando bem, talvez ela não tivesse realmente achado que ia morrer. Tantas vezes encarando abismos e desobedecendo regras, tantas vezes sendo salva por seu irmão, por seus amigos, por seus companheiros. Tantas vezes. E não daquela. Ela não seria salva. Tinha se certificado disso.

   Estava feliz que seria assim, pelo menos. Não queria ser salva. Não era uma donzela indefesa. Nunca fora. Não precisava de ajuda e não clamava por heróis. Eles que insistiam em salvá-la, em ir atrás dela, tão irritantes, tão insistentes...

Roxanne quis que Amelia estivesse lá. Sim, era isso que ela queria. Era isso que ela pensava, em seus últimos minutos. Amelia era sua mais querida, embora não mais antiga, amiga. Não queria Lorcan ou Fred, ou um de seus primos, ou um dos malditos membros daquela organização idiota. Queria que sua melhor amiga abraçasse-a e falasse sobre como sua vida era ainda pior, sobre como as duas sairiam de Hogwarts direto para outro lugar, para os Estados Unidos ou a Austrália, para qualquer lugar. Para longe.

Como um copo de chocolate quente ou um abraço de um amigo. Ela não tinha nenhum dos dois, no momento. Então disse a si mesma que não temia a morte. Não temia, não temia, não temia. Tudo ficaria melhor. Sentiu-se covarde e sentiu-se sozinha e sentiu-se subitamente aliviada. A varinha lutou contra sua mão, como varinhas fazem ao perceber que estão sendo usadas algo tão estúpido como aquilo. Ao perceber que serão usadas para machucar o próprio dono.

Roxanne olhou para baixo da torre de Astronomia, seus olhos focados no chão. Aquele lugar, lá no alto, era seu lugar favorito do mundo inteiro. E permitiu-se olhar para cima e ver o céu. Permitiu-se sentir o vento em seus cabelos uma última e dolorosa vez.

E, sem aviso, sem hesitar, o feitiço saiu de seus lábios como um sussurro sem destino. Sussurro que pareceu voltar como luz verde, saindo da ponta da varinha, luz verde e teimosa. Se a garota não a tivesse segurado tão firmemente, talvez a varinha tivesse voado para longe. Talvez. Mas seus dedos eram fortes e seus olhos, mesmo fechados, determinados. O feitiço atingiu-a na garganta, embora fosse desnecessário ser em lugar tão fatal. Um soluço ínfimo saiu de seus lábios, uma última respiração ofegante, quase sem som. Seus olhos se abriram.

E o corpo sem vida do que antes fora Roxanne Weasley caiu da torre de Astronomia.