Não Selecionada escrita por Miss Houston


Capítulo 1
Talvez fosse meu destino




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/698090/chapter/1

Eu estava devastada com o rumo que minha vida tinha tomado por conta de um segundo de descuido. Na verdade, a culpa foi dos meses em segredo. Deveria ter contato a Maxon sobre meu antigo envolvimento com Aspen, mas o medo de perdê-lo me calou. E como uma infeliz perdedora de seu coração, estava fazendo as malas, evitando a humilhação televisionada de quando ele escolhesse Kriss.

— A senhorita tem certeza disso? — Lucy perguntou.

Respirei fundo, controlando as teimosas lágrimas que queriam escapar.

— Sim. E que se dane a regra de que precisam ser duas finalistas. — fiz uma careta. — Se Maxon quiser, ele faça uma repescagem.

Só queria voltar para a minha vida antiga. Talvez vendêssemos a casa que ganhamos para nos manter enquanto ainda estávamos nos acostumando com a ideia de que meu pai não estava ali para nos apoiar. Queria que ele estivesse ao meu lado.

Uma batida suave interrompeu os meus pensamentos. Mary atendeu e deu espaço para que Aspen entrasse.

— Está tudo pronto. — informou mantendo os olhos afastados dos meus.

Assenti indo me despedir das meninas. Foi doloroso, porém nenhuma tentou me impedir. Talvez a dor refletida em meus olhos fosse transparente feito a água. Quando chegamos ao corredor, Aspen segurou-me pelo antebraço, verificando que estávamos sozinhos ali.

— Pensei que Maxon tivesse te dispensado.

— E ele dispensou. — Aspen concordou. — Daqui a pouco outro guarda virá te buscar, mas precisava falar com você primeiro. Tem certeza que quer desistir depois de tudo? Podemos esperar que Maxon esfrie a cabeça e...

Levantei minha mão, o interrompendo.

— Não tem solução, Aspen. E não vou ficar e sofrer mais do que o necessário. — disse. Um guarda virou o corredor e nos encarou confuso. — Acho que minha escolta chegou.

Ele não disse nada, vendo-me indo embora. Agradeci por não ver nenhuma das meninas no caminho até o salão principal, porém não tive a mesma sorte com o rei. As notícias pareciam estar correndo pelo palácio. Ele nem se deu ao trabalho de disfarçar a sua satisfação com a minha saída apressada.

Por mais que doesse, tinha uma parte egoísta minha que queria ver Maxon pela última vez antes de partir. Queria que ele me perdoasse e impedisse que eu saísse. Mas não tive esse privilégio.

                                           *******

        — Ames?

        Todos me encararam espantados assim que atravessei a porta. Dei um sorriso fraco, fingindo que não era nada demais. May foi a primeira a vir na minha direção e me abraça – um tanto hesitante – para me questionar com os olhos a minha presença de volta em casa. Casa. Ainda tinha aquele sentimento que simplesmente não pertencia a aquele lugar. Pisquei com força, sabendo que com o tempo me adaptaria novamente.

        — Posso não falar sobre isso? — pedi, sabendo que se abrisse a boca para tentar explicar, desabaria.

        May assentiu e me puxou para sentar-me ao lado dela e de Kenna. Todos ficaram quietos, lançando olhares ocasionais para mim, o que não pude aguentar por muito tempo. Levantei-me, atraindo a atenção de todos para mim. Deveriam achar que era alguma brincadeira ou que a qualquer momento eu diria que estava fazendo uma loucura e que retornaria à Angeles.

        — Vou trocar de roupa. — informei, destroçando as suas esperanças.

        Faltava apenas poucos minutos para o início da Seleção e por mais que Maxon já tivesse se arrependido e quisesse voltar atrás com as suas palavras, era tarde demais. Voltamos ao local de que onde viemos – e aparentemente pertencemos. Tirei o vestido, dando um último olhar para ele como um dos poucos resquícios dos meses em que estivesse longe, e vesti a calça jeans que tanto desejei nos meus primeiros dias.

        Uma leve batida na porta fez com que eu desfizesse o olhar desolado. Kenna entrou, pela segunda vez, sem Astra em seu colo.

        — Quer conversar?

        Foram preciso apenas aquelas palavras para que eu chorasse. Ambas sentamos na cama e esperamos que a dor em meu corpo apaziguasse para poder explicar os ocorridos daqueles últimos dois dias.

        — Maxon descobriu sobre Aspen e eu. — contei. — Ele iria me escolher, mas eu estraguei tudo com esse maldito segredo. Não poderia ficar lá com ele me odiando e prestes a dizer que outra seria a sua esposa. — suspirei, sentindo uma leveza ao desabafar tudo. — Deveria ter contado a verdade.

        — Você não poderia ter controlado a reação dele. — garantiu.

        — Sinto-me uma perdedora por ter ido embora, mas aliviada por não ter ficado. É confuso. — passei a mão por meu rosto, limpando as lágrimas. — Queria que o papai estivesse aqui.

        Kenna suspirou.

        — Todos nós queríamos.

        May abriu a porta de supetão, hesitando antes de falar.

        — Ames, vai começar. — anunciou.

        Nós três trocamos olhares, com uma questão simples pairando no ar. Eu tinha fugido para evitar assistir Maxon e Kriss ficando juntos, então seria uma perda de tempo ir e ver com a minha família. Porém, tinha uma parte egoísta de mim que latejava a ideia de contemplar seu rosto e imaginar se estaria procurando por mim. Por esse motivo me levantei e acompanhei minhas irmãs até a sala.

        Kota, Gerard e James estavam sentados no chão, esse último com a filha em seus braços. Kenna a pegou, sentando-se ao lado de minha mãe no sofá. May sentou no chão, deixando um espaço vago para mim. Evitei encarar Kota, por culpá-lo pelo início desse desastre. Eu tinha que culpar alguém além de mim.

        Assim que o rosto de Gavril apareceu, narrando tudo o que tinha acontecido até o dado momento – uma retrospectiva – da Seleção. Enquanto apresentava as pessoas presentes com animação um tanto forçada, eu procurava por Maxon e Kriss. Parecendo ter lido os meus pensamentos, a câmera focou nos dois, que conversavam animadamente. Meu coração se apertou. Ele nem havia ligado para a minha partida.

        Eu tinha aberto o meu coração e ele fazia questão de pisá-lo. Quando iria me levantar para voltar ao meu quarto, Maxon olhou para os lados perdido. Senti todos da minha família me encarando, reparando na mesma coisa. Ele estava procurando por mim. Talvez eu não devesse ter ido embora. Mas antes que esse pensamento realmente se concretizasse, ele retomou a conversa com Kriss.

        — Kriss será uma boa rainha — repleti.

        E apostava que August e Georgia estavam por ali torcendo. Era a hora perfeita para a minha retirada, antes que o anuncio oficial fosse dado. Porém, uma movimentação estranha manteve-me presa no sofá. Soldados posicionados ao redor do salão puseram faixas vermelhas em suas testas e se ouviu um tiro. Arfei, pondo minhas mãos na boca.

        — Maxon! — gritei levantando-me e indo em direção a porta. No entanto, parecia que as notícias tinham chegado em uma velocidade assustadora, já que apenas um guarda estava posicionada em nossa porta. Agarrei a frente de seu uniforme, desesperada. — Precisamos voltar a Angeles — supliquei.

        Delicado, soltou meus dedos.

        — Temo que isso não será possível, senhorita. — respondeu. — Garantimos sua segurança ao príncipe.

        Olhei ao redor.

        — Mas os outros guardas foram. — ressaltei recebendo um assinto em resposta. — Precisamos ir. Maxon pode estar correndo perigo.

        Ou morto.

        O guarda suspirou e balançou a cabeça.

        — Sinto muito, senhorita.

        Entrei em casa, querendo qualquer tipo de informação sobre o caos que estava acontecendo apenas para perceber que tinham cortado a transmissão. O desespero se tornou ainda mais evidente em meus olhos. Se aquele guarda não me levasse até Angeles, eu iria sozinha.

        — Onde está indo, America? — minha mãe perguntou.

        — Voltando para Angeles — disse o óbvio.

        Ela parou na minha frente.

        — Está acontecendo um inferno lá. Não pode simplesmente entrar no meio de um tiroteio.

        — Observe.

        Caminhei em direção a saída, mas May me impediu.

        — Ames, não. Por favor. Já perdemos o papai, não quero perder você também.

        Isso me fez parar e respirar fundo, por mais que ainda estivesse pronta para entrar na frente de qualquer tiro. A adrenalina em meu sangue diluiu diante da súplica de May e assenti, garantindo minha permanência em casa, dirigindo-me ao quarto, onde esperaria por notícias. E que fossem boas.

                                                                   ******

        Minutos ou horas poderiam ter se passado que eu não sentiria. Apenas tive um real contato com a realidade quando entraram em meu quarto. Estava deitada de costas para a porta, impossibilitando ver quem era. Mas pelo suspiro, deduzi ser minha mãe. Virei-me urgente na sua direção.

        — Tiveram notícias?

        Ela assentiu em silêncio.

        — E como todos estão? Como Maxon está?

        Minha mãe desviou os olhos de mim e era aquela confirmação que eu temia receber. Pensei que fosse incapaz de chorar mais, porém quando fui deixada sozinha novamente, percebi que estava errada.

       

                                                       *****

        As notícias diziam que o primeiro tiro tinha sido dado em Celeste e que o caos se instalou em seguida. Ninguém havia conseguido chegar até Maxon a tempo. Ele se pôs na frente de Kriss, querendo protegê-la e o rebelde sulista se aproveitou disso para levar os louros de matar o herdeiro. O rei e a rainha também vieram a óbito. Assim, como Aspen e Anne.

        E a cada morte que era listada, perguntava-me se eu não poderia ter feito alguma coisa caso estivesse lá. Não vi o nome de Kriss, nem de August ou Georgia, o que fez me sentir menos culpada. Não fui capaz de ir ao enterro, nem quis saber como estava a situação atual. Era questão de tempo para que tudo simplesmente desmoronasse.

        — Ames — May chamou. — Você tem visita.

        Por mais que foi idiota da minha parte, ainda tinha esperança de que as notícias fossem falsas e que Maxon atravessasse aquela porta na minha direção. Daria tudo para escutá-lo me chamando de minha querida mais uma vez. Ou ao menos Aspen, para que ele pudesse dizer as palavras que tanto interrompi ao longo desses dias. Porém, quem entrou em meu quarto foi August, acompanhado de Georgia.

        Não hesitei em abraçá-la, aliviada por ela estar bem.

        — O que estão fazendo aqui? — perguntei.

        — Queria ver como você estava. — ela esclareceu. — Aquilo tudo foi uma bagunça. — seu rosto ficou triste, talvez recordando das perdas que tiveram. — Sinto muito por Maxon. As coisas aconteceram muito rápido. Não deu tempo de chegar até ele.

        Aquilo poderia ser o destino cobrando o preço pela morte de Micah.

        — Como está Kriss?

        — Abalada. — August disse. — Ela viu Maxon sendo morto na sua frente e Aspen morreu minutos depois de levá-la ao abrigo. Um tiro nas costas. — lamentou.

        Mexi a cabeça, concentrando-me ao máximo para ficar no momento e não ceder ao luto. Tinham situações que mereciam minha atenção e por mais que fosse doloroso dizer, Maxon e Aspen haviam partido e não tinha mais nada que eu pudesse fazer. Entretanto, ali estava uma oportunidade de fazer a diferença. Sabia que eles não tinham ido apenas para ver como eu estava. Tinha que haver uma razão por trás daquela visita.

        — O que vocês vão fazer?

        Georgia e August trocaram olhares cúmplices.

        — Receio que terei de lutar pelo trono. — August disse pesaroso. — Não é algo que planejei, mas é o mais propício para controlar o caos. Sim, derrubamos os sulistas que invadiram a Seleção, ainda assim pagamos um preço alto e temos que arcar com as consequências.

        — Viemos aqui garantir a você que não tivemos nada a ver com o ataque, nem tínhamos planos de assumir o trono. — Georgia explicou. — Mas não vemos outra solução. Quanto mais tempo demoramos em colocar alguém no comando para cuidar dos estragos, mais oportunidades daremos para o sulistas se juntarem novamente e planejarem um novo ataque.

        — Eu quero ajudar. — disse com firmeza.

        Isso os fez sorrir.

        — Não esperávamos uma coisa diferente. — Georgia disse. — Queremos te colocar a frente de tudo na causa.

        — Que seja nosso braço direito. — August acrescentou. — Sempre dissemos que gostamos da sua atitude e em tempos que estão para vir, vamos precisar do seu apoio. As pessoas conhecem o seu rosto e suas ideias.

        — Então vou assumir o lugar do meu pai? — perguntei.

        Eles não se surpreenderam por eu saber do meu pai. Goergia concordou e pegou uma coisa em seu bolsa, estendendo na minha direção. Reconheci de imediato o colar que meu pai tinha me dado e o agarrei em choque. Pensei que o tinha perdido depois de entregá-lo ao rei em forma de pagamento pela liberdade de um homem.

        — Onde vocês conseguiram isso?

        Georgia sorriu.

        — Temos os nossos meios. — relatou e deu a mão a August. — Então, o que nos diz? Sei que está abalada com tudo o que houve, mas realmente precisamos de ajudar.

        Era isso que eu acreditava. Não poderia estar feliz, mas não recuaria. Por meu pai, por Aspen e por Maxon. Eu era uma lutadora e ao colocar o colar em meu pescoço, seria uma nortista.

           

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Não Selecionada" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.