Mistakes escrita por Luc


Capítulo 12
Capítulo 12 - Minha Chance


Notas iniciais do capítulo

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— Estamos aqui para o julgamento do réu três cinco quatro, Max Greyer, por concretização de assalto a mão armada. – O juiz chegou. Negro, aparentemente na casa dos cinquenta e cinco anos, alto e um pouco acima do peso, ele parecia uma figura bastante séria e um tanto severa.

Enquanto o introduzia para dentro da sala de tribunal não tão grande como as mais populares, Max enxergava tudo em câmera lenta a sua volta, analisando cada detalhe do ambiente minimalista enquanto ecos de vozes sendo faladas perambulavam sobre seu ouvido. Usava uma calça jeans, tênis social e blusa polo para dar um ar mais educado e polido diante do júri.

Poucas pessoas estavam presentes. Tinham alguns jovens, provavelmente estudantes de direito que precisavam de experiências na área, e também Christian, que tentou ficar o mais próximo possível da mesa onde Max e o advogado ficariam.

         - Você é o Christian, certo? Vou me sentar aqui. – Um jovem rapaz chegou sentando-se ao lado.

         - E você é quem?

         - Eu sou Gabriel, filho do advogado. – Leve sorriso.

         - Ah, Prazer. – Aperto de mãos.

         - Ainda não começou, né? Eu estou apreensivo e nem conheço ele. – Comentou enquanto olhava pra frente percebendo que seu pai estava conversando com as autoridades.

         - Eu tô muito nervoso, cara.

         - Meu pai falou de você. O que você está fazendo é bem legal. Não se acha mais amigos assim.

         - Ele é como se fosse um irmão pra mim.

— Estamos prontos para começar o julgamento do réu Max Greyer? – O juiz se impôs.

No trabalho, Nicolas estava numa luta interna para conseguir priorizar sua matéria que precisava ser finalizada. Para todos ali presentes ele poderia parecer o mais, mas por dentro, ele sabia que seus sentimentos estavam sendo tomados por um único nome: Max Greyer. Desde que Adam contou sobre o julgamento, Nicolas não conseguiu pensar em mais nada. Tantas possibilidades e tantos resultados que percorriam sobre seus pensamentos. A preocupação por cogitar a ideia de Max pegar anos de cadeia, a culpa por ainda se preocupar com o homem que definitivamente é o amor da sua vida, os sentimentos mais confusos o consumia por completo.

Enquanto seus dedos ligeiramente continuavam a digitar artigos sobre uma matéria, Nicolas não fazia a menor ideia do rumo que estava tomando, tudo que precisava era ficar distraído, mas parecia ser uma tarefa tão difícil que se pudesse ele pegava suas coisa e partiria para o lugar mais longe possível. Talvez para a fazenda onde Max o levou no último encontro, tal lugar que ele sente falta e daria tudo para visitar novamente.

Tomado pelo cansaço psicológico, Nicolas afastou-se de sua mesa, se levantou da cadeira e foi até a cafeteria onde lá pegou um café e aproveitou para ir até a varanda do prédio onde tomou um ar gelado enquanto contemplava o céu nublado.

“Eu sou capaz de perdoa-lo. Isso está acabando comigo. Essa culpa por querer perdoar, esse medo, essa angustia. Eu preciso me livrar disso. O que eu faço? Talvez eu saiba o que fazer, mas e o medo?” – Pensamentos conturbados.

         - Nic? Está tudo bem? – Ecos surgiram. Era Adam.

         - Oi? O que você disse? – Virou-se de encontro ao amigo.

         - Está tudo bem?

Silêncio momentâneo. Só conseguiam ouvir o barulho do vento das buzinas de carro cantando na rodovia logo ao lado.

         - Não. Não está tudo bem. – Tom pensativo.

         - Nic... – Se aproximou. – eu não posso te dizer o que fazer, e a impressão que eu tenho é que você sabe. Apenas faça. Para de pensar nas consequências.

Nicolas mostrou um olhar pensativo.

         - Estamos lidando aqui com um caso primário de um jovem garoto que não teve as melhores condições de vida, não teve grandes oportunidades, foi criado pelas ruas devido a péssima relação com os pais alcoólatras que o abandonou antes mesmo de chegar na adolescência. Max é um jovem rapaz promissor, que se arrependeu do que fez e tomou a iniciativa de dizer a polícia toda a verdade. Sim, ele demorou a dizer, mas o que eu quero que o júri entenda é que ele está disposto a mudar e ele vai lutar por uma segunda chance, ele vai lutar por uma oportunidade de ser alguém e todos nós sabemos que todo ser humano merece ter o direito de tentar seguir um caminho diferente. Sem mais palavras.

Enquanto Gerald fazia seu monólogo olhando para as seis pessoas que encabeçavam o júri, sendo eles, três homens de quarenta e cinco anos, e três mulheres de trinta e cinco, seu maior objetivo era comovê-los com a verdade.

A cada palavra usada por seu advogado, o coração de Max acelerava. Suas pernas estavam trêmulas e seu corpo cada vez mais soado. Tentar parecer calmo era impossível numa situação como essa.  

Chegou a vez do advogado da oposição, o advogado argumentativo, que é obrigatório em todos os julgamentos, criar seu argumento diante de todo o júri.

Assim que o viu se levantar, Max desejou ter superpoderes unicamente para ser capaz de não ouvir nada do que o advogado pudesse dizer.

         - Esse caso vai além de ser segunda chance. Esse é um caso onde uma pessoa precisa pagar severamente pelo que fez. É um assalto onde tiveram vítimas, e uma delas foi baleada e se encontra em coma, e aquele jovem ali fez isso.

         - Objeção meritíssimo. O réu não tem nada a ver com a vítima em coma. Ele fez parte do assalto, não atirou na vítima.

         - Objeção aceita.

         - Esse réu é um jovem delinquente que sabia do que estava fazendo e ainda sim preferiu fazer. Ele não é a vítima aqui. A vítima está no hospital e se o réu tivesse a proeza de seguir rumos diferentes, não haveria vítimas, não haveria reféns e certamente não haveria assaltos. Bandidos precisam pagar pelo que fazem e esse caso não pode ser dissolvido sem consequências. Sem mais palavras.

O júri parecia dividido. Uma parte comovida e aparentemente disposta a dar uma chance para Max, enquanto outra não esboçava nenhum tipo de expressão. Não havia uma maneira certa de interpretá-los e isso deixava Max ainda mais apreensivo.

         - O que posso pedir pra vocês, júri, é que se ponha no lugar de uma pessoa que não teve oportunidades. Esse é os Estados Unidos da América. É um país onde todos merecem ter uma segunda chance, é um país de conquistas. Nós, pessoas que tiveram oportunidade de estudar, não podemos simplesmente ignorar os outros e chamá-los de bandidos. – Olhar indireto para o advogado da oposição. – nós devemos ser solidários, nós devemos pensar em todos, afinal, essa não é uma das maiores características do patriotismo americano? Poderia ser meu filho sem ter oportunidades de crescimento, poderia ser seus filhos. Então cabe a vocês ter um mínimo de empatia, de consideração e amenizar os danos na vida desse jovem. Eu acredito em segunda chance, e vocês? – Finalizou Gerald que estava confiante e demonstrando convicção em todos os argumentos.

Alguns minutos depois que os advogados expuseram seus respectivos argumentos, o juiz decidiu dar uma trégua de dez minutos para que pudessem voltar ao julgamento, dessa vez com testemunhas.

Num corredor próximo a porta de entrada do tribunal, Max ouvia atentamente as palavras de Gerald.

         - Está tudo sobre controle. Estamos com maior potencial de vencer essa. Fique tranquilo e continue calmo.

         - Eu não estou calmo.

         - Bem, aparenta estar, então continue assim.

         - Ei, galera. Então, como anda as coisas? Christian chegou.

         - Nós vamos ganhar, pai! – Gabriel afirmou.

         - Esse é meu filho, filho, esse é o Max.

         - Prazer. – Aperto de mãos.

         - Seu pai me falou que você insistiu pra que ele pegasse o caso. Valeu, de verdade.

         - Não há de que. Espero que você consiga uma segunda chance, e principalmente, saiba usa-la. Certo?

         - Pode ter certeza.

         - Agora vamos para uma fase difícil. Eles vão trazer a testemunha do assalto.

         - Quem vai vir? – Tom assustado.

         - Calma. Eles não vão invocar o Nicolas por ele ser uma figura passiva que não está disposto a contribuir com o caso. O Nicolas só apareceria aqui se fosse o caso de espontânea vontade ou circunstâncias obrigatória. Irão trazer o gerente do mercado, mas fique tranquilo.

         - Você sempre pede para seus clientes ficarem tranquilo?

         - É a única palavra reconfortante que conheço.

         - Vai dar tudo certo. – Gabriel tentou ajudar ao ver Max nervoso.

Obrigados a voltarem para o tribunal, cegou a segunda fase do julgamento. O advogado da oposição invocou a testemunha, que era o senhor cujo trabalhava no mercado na noite do assalto. Também com o nome de Gerald, o senhor sentou-se numa cadeira, jurou solenemente dizer a verdade, nada mais que a verdade, até que então as perguntas começaram.

         -  Permita-me dizer que também me chamo Gerald. É uma grande coincidência.

         - Prazer. – O senhor, muito simpático o cumprimentou.

         - Senhor Gerald. O que você pode dizer sobre o réu Max? Você havia dito para as autoridades que ele aparentava ser um jovem muito educado, assim como o irmão. Isso é verdade?

         - Sim. É verdade. O Max aparecia no meu mercado algumas vezes, mas o irmão sempre foi mais frequente. Acho que foi o irmão quem estudou todo o assalto.

         - Algumas dessas vezes o Max te desrespeitou?

         - Muito pelo contrário. Sempre procurou ser educado, apesar de um pouco quieto. Já o irmão dele sempre muito comunicativo e sempre querendo deixar para pagar as coisas depois. – Brincou.

         - Senhor Gerald, você se sentiu ameaçado alguma vez quando encontrou com Max?

         - Nunca. Nunca nem passou pela minha cabeça. É uma surpresa eu vê-lo nessa situação.

         - Sem mais perguntas meritíssimo.

O advogado da oposição se levantou e começou a sua interrogação.

         - Senhor Gerald. Você disse que Max parecia ser muito quieto e um tanto introspectivo. Você pode dizer que ele era uma pessoa misteriosa e difícil de ser confiada?        

         - Não exatamente essas palavras, mas a gente nunca sabe o que esperar de quem é muito calado, certo?

         - O senhor acha que em uma situação de perigo, uma pessoa que se demonstra tão calada e pouco afirmativa, poderia causar danos maiores?

         - Eu não entendi bem sua pergunta...

         - Objeção, meritíssimo. Especulação e manipulação de palavras.

         - Mantido.

O advogado da oposição olhou para Gerald com um olhar de quem sabia que estava perdendo e não havia mais o que perguntar. A situação estava realmente favorável para Max.

Silêncio momentâneo.

         - Eu preciso perguntar ele uma coisa. – Gerald disse em voz baixa para Max ao seu lado.

         - O que?

         - O que eu irei perguntar a ele é algo que pode mudar todo o rumo da situação. Você está disposto a tentar? Se o que eu perguntar ele tiver a resposta correta, você vai sair daqui livre, se não, tudo pode piorar.

         - O que você quer perguntar a ele? – Assustado. – Eu não sei o que fazer...

         - Irei pergunta-lo se na opinião dele você, merece uma segunda chance.

Max respirou fundo, engoliu seco, suas pernas voltaram a tremer e seu coração disparou. Era uma decisão difícil a ser tomada, mas que certamente poderia ter um caminho triunfante. 

         - Faça a pergunta. – Max então decidiu.

         - Senhor Gerald. Eu tenho só mais uma pergunta a te fazer. – Se aproximou. – Você acha que o réu, Max Greyer, diante de todas as circunstâncias, merece uma segunda chance? Ele merece a liberdade?

         - Ele roubou meu mercado e foi coadjuvante num tiro que deixou alguém em coma. Pra mim ele não merece uma segunda chance.

Todos foram surpreendidos. Christian ficou com os olhos arregalados, Gerald também não contava com a resposta e Max... Max estava...

Enquanto isso, Adam estava procurando por Nicolas no prédio da “Seattle Now’’ para que pudessem almoçar juntos, porém, depois de ir até o banheiro e vasculhar todas as cabines, ele não o encontrou. Nicolas estava dentro de um taxi, aparentemente indo para o lugar que deveria ter ido desde o início da tarde.

Depois de acordar do breve pensamento que teve da testemunha dizendo que ele não merecia uma segunda chance. Max estava encarando o seu advogado enquanto ele aguardava uma resposta sobre a proposta de fazer a pergunta que poderia mudar o rumo do julgamento.

         - Então, Max? Eu posso fazer a pergunta?

         - Eu... Eu... – Gaguejou. Respirou fundo antes de tomar a decisão. Estava com medo e tudo que pensava era na possibilidade da testemunha dizer não, mas ao mesmo tempo pensando na chance de um sim. – Faça!

— Senhor Gerald. – Levantou-se imediatamente. -  Eu tenho só mais uma pergunta a te fazer. – Gerald se aproximou. – Você acha que o réu, Max Greyer, diante de todas as circunstâncias, merece uma segunda chance? Ele merece a liberdade?

Todo o tribunal ficou em silêncio. Uma resposta importante seria dada e o rumo da vida de Max poderia ser ajudado se caso a resposta fosse sim.

         - Eu acho que ele não pode pagar pelos erros do irmão. Não foi ele que atirou, certo? Ele roubou um mercado, mas ele não é menos humano do que todos nós. Eu não tive oportunidades de ser alguém na vida e não segui esse caminho que ele seguiu, mas eu sei que meus antigos amigos se tornaram pessoas nas quais eles não queriam por não ter oportunidade. Então, eu acho que ele merece sair disso tudo aqui. Eu não vou te julgar, eles irão. – Apontou o dedo pro júri. – Mas por mim, você sairia daqui limpo. Passe no meu mercado e eu te dou um emprego. – O senhor disse, num tom mais empático e sincero possível. Surpreendendo todos e deixando a situação de Max praticamente vencida.

Sentado na última cadeira, escondido atrás dos estudantes sentado a frente, Nicolas ouvia atentamente tudo que estava acontecendo, e seu coração acelerado, porém tranquilo, demonstrava que de fato o perdão era seu melhor caminho e ele não iria se sentir mal por conseguir perdoar.

Com as palavras ditas pela testemunha, um singelo sorriso surgiu no rosto de Max. O sentimento de regeneração nunca soou tão forte e sincero. Orgulho por estar tendo uma segunda chance e a confiança de que faria tudo diferente.

Depois de alguns longos minutos, a resposta do julgamento chegou até a mão do juiz. Max olhou para trás e viu tudo em câmera lenta enquanto os ecos do resultado percorria por toda a sala; Christian estava sorrindo enquanto abraçava Gabriel, Gerald cumprimentou todo o júri e foi educado ao cumprimentar o advogado da oposição, e e, em meio a algumas pessoas indo em direção a porta, Max se esquivou para o lado e pôde ver o belo par de olhos azuis no fim da sala. Seus olhos se conectaram, Max estava com o coração acelerado e Nicolas abaixou a cabeça dando um leve sorriso no canto da boca.  

         - O réu, Max Greyer será sentenciado a dois anos de serviços gerais no colégio “Seattle High School” e um ano como instrutor de esporte físico no orfanato “Crianças do Amor” sem remuneração.

Nicolas passou pela porta indo embora, enquanto Christian correu para abraçar o melhor amigo. 

 


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