Quando paramos para almoçar, meus braços latejam de segurar a arma por um longo período, até meu dedo indicador que pressionou o gatilho inúmeras vezes esta enrijecido.

No caminho para o refeitório Christina convida Al para sentar-se à mesa conosco, é inevitável olhar para ele e não se lembrar de seus soluços durante a noite, evito olhar o tempo todo para ele a fim de afastar essa lembrança.

Mexo minha comida no prato e meus pensamentos voam de volta ao dia do teste, quando Torry diz que sou Divergente e que era perigoso, até então isso não foi um problema ninguém descobriu, mas também não me sinto segura, penso que se abaixar a guarda algo terrível pode acontecer.

—Ah! Qual é Al ! Como você não lembra?- Vejo Christina e ele conversando- Éramos da mesma classe de matemática e isso só faz alguns dias e eu não sou o tipo de pessoa quieta.

— Eu dormia na maioria das aulas de matemática- Al replica- Era no primeiro horário, que absurdo.

Pode ser que o perigo não venha logo, que ainda não descubram meu segredo, mas se ele chegar mais tarde e eu não ver ou não perceber, o que poderia acontecer comigo?

—Ash! Você esta ai? – Christina começa a estalar os dedos na frente do meu rosto- Ouviu o que perguntei?

—Desculpa Chris, estava distraída- Dedico total atenção a minha amida- O que foi?

— Você já teve alguma aula comigo? Desculpe a pergunta, mas eu sinceramente acho todos os caretas iguais, não notaria você na sala. Desculpe se estou sendo rude, falo o que vem na cabeça e de qualquer forma você não pertence mais a abnegação.

Eu a encaro. Como se eu precisasse ser lembrada por ela.

— Acho que é por isso que nossas facções nunca se misturaram vocês não tem filtro para falar- Al da uma gargalhada alta e Chis faz uma careta engraçada- Acho que não, não me lembro de vocês.

—Posso me sentar com vocês?- Ao olharmos para o lado percebo Will de pé- Edward e Myra, meus colegas da antiga facção, estão saindo e eu prefiro não ser o terceiro.

Todos nós acolhemos o Will e formamos nosso grupo, era bom ter amigos e ter em quem confiar, mesmo não podendo contar meu segredo não era aconselhável eu permanecer sozinha em uma facção tão Barbara como a Audácia.

Após o almoço nosso instrutor Quatro nos guia ate uma sala ampla, ela tem aparelhos que eu desconheço e nunca vi, existia um quadrado emborrachado ao centro, um ringue provavelmente, alvos em uma das paredes e sacos de pancada em outra extremidade, realmente eu estava em um quartel general.

Ao analisar a sala vejo que caminhamos em direção ao Líder Eric, senti meu almoço desconfortável em meu estomago e uma tensão no ar, sua presença era intimidante, acima dele avisto um quadro com o nome de todos nós iniciandos.

—Como eu disse hoje de manha... – Eric grita com sua voz seca- A seguir vocês irão aprender a como lutar, o propósito da atividade é ensinar como agir, como preparar seus corpos para responder a ameaças e desafios, o que será de extrema importância se pretende sobreviver á vida no Destemor.

Eric acena para Quatro que demonstra e nomeia diferentes tipos de socos, primeiro contra o ar e depois contra o saco de pancadas.

É impossível não notar o quanto os dois são diferentes, Quatro que tem este nome um tanto estranho, era alto, mais magro que Eric, mas porem com músculos sobressalentes, sua pele era mais morena, seus olhos escuros, creio que tinha uma tatuagem nas costas, pois na sua nuca era possível ver a ponta dela, seus lábios eram volumosos e ele parecia ser uma pessoa acessível, bem mais receptível que o Líder.

Falando nele não tem como não olhar e não se sentir intimidado por sua presença, ele era alto sua pele era clara, forte e tinha uma tatuagem diferente em seu pescoço, era impossível não notar parecia que fazia parte de sua personalidade, reparei que ele tinha um piercing, não sei desde quando, mas combinava com seu rosto, seu cabelo era claro e seus olhos penetrantes sabiam que ele seria problema desde a primeira vez, mas algo me faz sentir segura perto dele.

Eu consigo entender à medida que praticamos, assim como a arma preciso de algumas tentativas para descobrir como mover meu corpo igual ao dele. Os chutes são mais fáceis mesmo assim o saco de pancadas machuca meus pés e minhas mãos deixando minha pele vermelha e ardendo.

Eric caminha pelos iniciandos observando seus movimentos, sua postura é séria e seu olhar critico, percebo que em seu pescoço, ambos os lados ele tem uma tatuagem que vai da base até o topo da garganta, era diferente e bem visível, era a cara da audácia.

Vejo que ele para na minha frente, meu interior se contorce como se alguém estivesse me revirando por dentro, ele me encara, seus olhos me analisam da cabeça aos pés, um olhar pratico e cientifico.

— Você não tem muitos músculos careta- ele diz em tom debochado- O que significa que deveria utilizar os joelhos e cotovelos, pode colocar mais força neles.

De repente ele pressiona a mão contra meu estomago, sua mão é grande e ao contrario de sua personalidade fria, é quente o que provoca um formigamento no local. Reparo que seu cabelo tem um tom de castanho claro, alguns fios até ouso dizer que são loiros, sua expressão é fria, meu coração bate tão forte que meu peito dói e algo me diz que eu não deveria encará-lo nos olhos por tanto tempo.

—Não se esqueça de manter a tensão nessa área- Diz ele silenciosamente.

Eric retira sua mão e continua andando para os demais iniciandos, continuo sentindo a pressão de sua mão e o formigamento é estranho, mas eu preciso parar para recuperar o fôlego antes de conseguir continuar praticando. Na abnegação, minha antiga facção não tinha nenhum contato em publico, são todos muito contidos e reservados, essa sensação é nova, mas é uma sensação boa.

—Você esta bem, precisa de alguma ajuda?- Olho para o lado e vejo Quatro- Vi que Eric se aproximou, ele sabe como amedrontar os novatos.

—Não tenho medo dele- Digo involuntariamente, maldita boca grande -Quer dizer, ele é um Líder, não pode nos machucar, de qualquer forma veio me orientar com relação aos golpes.

—Não o subestime Ash, ele passa por cima de todos que estão em seu caminho quando tem um objetivo em mente.

Quatro diz isso como quem conhece do assunto, existe algo de estranho em seu tom de voz, algo me diz que ele realmente sabe muito mais do que deixa transparecer.

—Sabe que como instrutor eu estou aqui para ajudá-la, e pode contar comigo sempre que precisar admiro sua coragem, sua mudança de facção foi um tanto drástica- Ele me analisa como quem lê minha alma e eu me remexo desconfortável, não estava acostumada com homens me olhando nos olhos -Bom preciso ver os outros iniciandos.

Após mais alguns longos minutos de treino, eu realmente não obtive progresso algum, estava absorta em meus pensamentos, a atitude de ambos foi bem estranha, não que eu esteja reclamando, mas eu deveria tomar cuidado meu segredo é também a minha condenação.

Quando Quatro e Eric nos libera para o jantar, Christina aparece ao meu lado e me da uma cotovelada

—Estou surpresa dos dois não terem partido você ao meio- ela diz levantando uma sobrancelha- Eles me assustam demais. É aquela voz silenciosa e olhar frio que ambos tem.

—É... Eles são... -Olho sobre meu ombro para Eric, ele é quieto e notavelmente autoconfiante, mas não tenho medo, não acho que ele possa me machucar, volto meu olhar para o outro lado e observo quatro, ele esta disposto a ajudar todos, e aparenta ter certa calma no meio de todo este caos, acho que nenhum deles me ofereceria algum tipo de risco ou perigo, mas não deixo de notar que os dois têm um ar de mistério, como quem sabe de mais e revela de menos-...Definitivamente intimidante- eu finalmente digo a ela.