Zoe não sabia há quanto tempo estava dentro do chalé quando ouviu o barulho na porta. Ela já havia chorado, jogado alguns livros no chão... naquele momento estava sentada olhando para a fonte de água salgada no fundo do aposento, era reconfortante. Quando a porta se abriu ela tomou um susto, afinal, tinha solicitado o Fechamento do chalé (um mecanismo implantado para tempos de guerra, mas ei, ela estava em uma guerra interna) então por um instante se perguntou se o próprio Poseidon estaria ali, talvez para expulsá-la, já que até onde ela sabia, ele não era seu pai coisa nenhuma. Quando olhou na direção do recém chegado não ficou totalmente surpresa em encontrar Jackson parado olhando para ela.

                - Fechar o chalé foi uma boa, exceto que como filho de Poseidon eu tenha o direito de entrar a qualquer momento – disse ele, numa voz tranquila. Zoe o encarou. Jackson era um homem de pouco mais de 30 anos, com cabelos negros e rebeldes, o olhos de um azul-verde-mar, sorriso fácil, pele bronzeada e porte atlético. Por um momento ela imaginou como seria tê-lo tido em sua infância, ela sentiu lágrimas de raiva nos olhos.

                - O que você quer? – perguntou voltando-se para a fonte

                - Quero conversar com você, Zo, você precisa conhecer o nosso lado da história

                - VOCÊ TEVE MUITO TEMPO PRA ME CONTAR A SUA PARTE DA HISTÓRIA

                - Eu não podia. Não naquele momento.

                - E o que mudou? Que eu descobri a piada que vocês fizeram com a minha vida?

                - Você mudou, Zoe. Você reformulou o seu destino. Você conquistou o direito a todas as respostas que quiser.

                - Como assim?

                - Vamos fazer um acordo? Você escuta o que eu tenho a dizer. Se, no final você não quiser mais falar comigo ou com a sua mãe, tudo bem, a decisão é sua. – Zoe respirou fundo. Ela queria saber. Queria entender a situação. E ao mesmo tempo queria pegar aquela fonte e acertar Jackson com ela.

                - Se depois de te ouvir eu não quiser mais ver vocês nem vestidos de Apolo, vocês vão me deixar em paz?

                - Eu juro pelo rio Estige. Se você nos quiser longe, é como será.

                - Ok então – Jackson se sentou ao lado dela. Ele cheirava a mar

                - Zoe, você sabe que existe também o acampamento Romano, certo? Lá, junto do acampamento tem a cidade de Nova Roma. Eu e sua mãe nos mudamos pra lá, fizemos faculdade e nos casamos. Logo depois Annabeth descobriu que estava grávida. Todos ficaram encantados, Zo. Você sabe como é raro que meio-sangues cheguem a idade adulta, imagina constituir família? Sua mãe foi chamada ao Olimpo e todos os deuses deram bênçãos a você. Poseidon e Atena fizeram trégua pela primeira vez em 5 mil anos. Você era esperada e adorada antes mesmo de nascer. E quando você veio ao mundo... – a voz dele soava distante e embargada – eu nunca tinha visto nada mais bonito. Sua mãe me deixou escolher seu nome. Zoe Doce-Amarga era uma Caçadora de Ártemis, foi tenente por 2 mil anos e deu sua vida para me salvar.

                - a constelação da Caçadora – sussurrou Zoe

                - Sim. Quando você fez 1 ano os Oráculos previram coisas terríveis, disseram que você seria a Perdição do Olimpo. Por viver entre os deuses e semi-deuses você desenvolveria um ódio profundo pela humanidade e acabaria por tentar destruí-la. – Zoe o encarou espantada

                - Eu jamais faria isso!

                - Não, você não. Mas a pessoa que teria se tornado sim. Alguns deuses pediram sua execução, outros se levantaram em seu nome. Os acampamentos ficaram em lados opostos novamente. Eu e sua mãe fugimos de Nova Roma e nos escondemos. Sua avó, a deusa Atena, procurou Poseidon e elaborou um plano. A ideia dela era te entregar ao sistema de adoção, deixar que você crescesse como uma mortal. Mas eu e sua mãe não suportávamos a ideia de te abandonar. Também não podíamos ir os dois ou uma caçada se iniciaria. Sua mãe e sua avó cuidaram de tudo, esconderijo, nomes falsos, documentação. Eu e Poseidon escondemos os rastros. Me separar de vocês foi a coisa mais difícil que eu já fiz, Zo, e eu daria qualquer coisa para ter te visto crescer. Fizemos o necessário pra te manter viva, a salvo.

                - Você sabia quem eu era assim que eu cheguei, não sabia?

                - Sim. Eu a reconheci assim que você passou pela porta. Precisei de todo o meu autocontrole pra não te abraçar e acabar com isso. Mas Annabeth estava em perigo e você também. Seu avô te reclamou como filha para que as suspeitas não surgissem, não porque eu não... eu não podia.

                - Você e mamãe passaram 12 anos sem se falar?

                - Não podíamos nos comunicar diretamente, era arriscado, mas Rachel...

                - Tia Rachel?

                - Sim, ela trazia cartas, fotos. Tudo precisava ser queimado imediatamente, mas era uma forma de eu me manter firme aqui e sua mãe lá.  – ele tirou um papel do bolso, quando desdobrou Zoe percebeu que era uma foto. – Essa é a ultima foto que tiramos antes de tudo acontecer – Zoe a pegou

                Era uma foto engraçada, o Jackson jovem sorria enquanto segurava uma bebê de cachinhos dourados e olhos azuis suja de bolo azul que estava ocupada em sujar os cabelos loiros da Annabeth jovem que estava ao lado deles.

                Pela primeira vez em muito tempo Zoe teve um daqueles flashes que a atormentavam quando mais nova. Aquela figura masculina que a rodava e jogava pra cima, a praia, uma gargalhada, uma criança dizendo “Papa”. Ela pensou naquele homem, Percy Jackson, como seu pai. Aquele cara que a havia ensinado a montar pégasus, a usar a agua a seu favor, que havia lhe contado os segredos do chalé, dividido histórias das próprias missões. Assim como as coisas que sua mãe contou, que conheceu seu pai no acampamento de verão, que viajaram o mundo, foram pra faculdade juntos e tiveram um casamento breve mas perfeito. Jackson interrompeu seus pensamentos.

                - Zoe, você precisa saber. Eu amo você, e eu tenho muito orgulho de ser seu pai. Tudo que eu fiz, do momento em que eu soube que você existia até agora foi pensando em mantê-la a salvo.

                - Qual é o meu nome?

                - O que?

                - Certamente não é Zoe Stuart né?

                - Seu nome de batismo é Zoe Silena Jackson. Sua mãe queria colocar o Chase também mas acabei ganhando – ele disse sorrindo

                - Zoe Silena Jackson... Gostei. Olha, isso não acabou. Não é só você entrar aqui, me mostrar uma foto e me contar uma historinha que tá tudo resolvido. Você e a mãe tem muito pra explicar. Mas o que eu quero dizer é, to disposta a ouvir.

                - É tudo que eu peço. – Percy se levantou – Agora precisamos ir, Zo

                - Ir pra onde?

                - Pro Olimpo, temos muitas explicações a dar. – ele estendeu a mão para sua filha – Esse é só o começo.

                Zoe aceitou a ajuda e foi, ao lado de seu pai. Para o que quer que os esperava do lado de fora. Era tudo confuso, sim. Mas pela primeira vez na vida algo parecia certo.