Vida e Morte

Houve poucas coisas que Vida odiava. Uma delas era a Morte.

Enquanto Vida era uma garota alegre, animada e divertida, Morte era triste, desanimada e irritada.

Vida sempre queria a felicidade dos outros, queria que eles sempre estivessem felizes e passassem pelas dificuldades da melhor maneira possível. Já Morte era – como Vida descrevia – uma “pé no saco”. Tantos amores ela havia separado, tantas mães sem filhos e tantos filhos sem mãe ela havia deixado. Isso fazia com que a Vida odiasse a Morte com todas as suas forças

Mas havia um porém nessa historia, as duas nunca haviam se falado.

Havia uma regra, que nunca deveria ser quebrada, Vida e Morte nunca deveriam se tocar. Isso destruiria tudo o que elas conhecessem, Vida e Morte nunca andavam lado a lado.

Destino era uma amiga de Vida, ela era o ser mais concreto já existente, ela sempre sabia o que deveria fazer e como deveria fazer. Mesmo com todas as proibições envoltas, Destino resolveu que estava na hora dessa rixa entre as duas acabar, ela combinou com as duas um encontro, e por incrível que pareça, elas aceitaram

Vida vestiu um vestido preto liso que ia até os pés, e com uma tiara de flores rosas e vermelhas na cabeça

Morte um vestido branco a cima dos joelhos.

O lugar do encontro era em baixo de uma macieira. Vida chegou 2 minutos antes do horário combinado e Morte, no horário em ponto. Quando as duas se olharam pela primeira vez, ficaram magnetizadas uma pela outra.

Sem duvida nenhuma era como a outra imaginou, Vida era negra, tinha cabelos castanhos e cacheados. Morte era branca, cabelos castanhos lisos e olhos verdes, ambas com uma beleza de tirar o fôlego.

Elas se encararam por longos minutos até que Morte tomasse iniciativa

— Olá, sou Morte – disse ela sorrindo e só depois notando o quanto aquilo era obvio

— Sou Vida – Vida sorriu e olhou para o chão – vamos nos sentar?

Morte concordou com a cabeça e ambas se sentaram. As primeiras conversas eram as mais bobas possíveis, o clima, as maças, os livros favoritos, as cores... por incrível que pareça, Vida e Morte se tornaram amigas.

Seus encontros viraram rotina, todos os dias, ao final da tarde lá estavam elas em baixo da macieira. Sem elas perceberem, a amizade foi mudando de fases, quando uma estava longe da outra, uma saudade arrebatadora batia, a necessidade de estarem juntas era mais forte que o céu e a terra.

Porém, como nem tudo são arco-íris e borboletas, elas tinham uma coisa a resolver: suas diferenças

Naquela tarde, Vida chegara 10 minutos antes do combinado, ela se sentara e ficara pensando em todos os seus momentos com Morte, seu sentimento por ela não era mais o mesmo, o ódio havia se tornado amor, e ela tinha total conhecimento que não era um amor de amizade, Vida amava Morte.

Como sempre, no horário em ponto, Morte chegara sorrindo a macieira, porém, seu sorriso desapareceu ao ver Vida sentada abraçando suas pernas

— Precisamos ter uma conversa seria – pronunciara Vida sem se quer levantar os olhos. Morte se sentara ao lado dela, mas em uma distancia considerável, e esperou até que Vida se pronunciasse. – antes de te conhecer – continuou ela por fim – eu te odiava, eu tinha raiva e magoa. Tudo o que eu queria, é que você não existisse, afinal, na minha cabeça, ninguém precisava de você, as pessoas eram muito mais felizes sem a sua presença. Mas então eu te conheci, uma menina doce, linda, que mesmo com tudo, parece que nunca faria mal nem a uma mosca. E por mais que seja estranho, por mais que seja a coisa mais egoísta que eu possa dizer, eu não consigo mais viver sem você e para ser mais sincera eu quero que o mundo se exploda, por que independente das conseqüências, eu amo você.

Vida finalmente olhou para Morte, que tinha seus olhos envoltos em lagrimas, ela fez menção de tocar a face de Vida, mas desistiu no meio do caminho. Ela fechou os olhos, respirou fundo e olhou novamente para Vida

— Antes mesmo de te conhecer, eu já te amava, e tinha toda a inveja do mundo de você. Eu sempre trazia tristeza, dor, tudo de ruim, mas você sempre trazia um mundo de coisas boas. Todas as vezes que eu fazia o meu trabalho, eu me lembrava de você, do seu poder, e da sua beleza. E olha que eu nunca tinha te visto – ela sorriu – mas depois que eu te conheci, mesmo que a gente nunca tivesse falado sobre isso, algo mudou, eu parei de me ver como um monstro, afinal, eu só estava fazendo o meu trabalho, eu nunca me atrasei e nem me adiantei, aquela era a hora certa. Eu comecei a pensar em todas as pessoas que eu tirei do sofrimento, eu comecei a me ver de uma maneira que eu nunca imaginei. Ouve um momento que eu cheguei a conclusão que eu não te amava mais, sua alma feliz me destruía, e isso nunca seria uma coisa boa, mas – ela parou e respirou fundo – não há nada, em nenhum mundo, que tenha a capacidade de me fazer parar de amar você.

Vida chorava sem pudor, seu coração batia acelerado quase saindo por sua boca.

— Morte – começou ela depois de tomar fôlego – eu amo você, e talvez, essa seja a coisa mais errada que eu irei fazer em toda a minha vida, e por mais que eu não esteja pensando nas conseqüências, nunca vou me arrepender disso.

Vida praticamente se jogou nos braços de Morte a beijando. Mesmo que assustada com a situação, Morte a beijou de volta com todo o amor que sentia. O mundo em volta delas foi literalmente desaparecendo.

Mas o mundo nunca acabaria com um beijo, muito pelo contrario, toda vez que um beijo é dado, tudo é reinventado.

Quando os lábios das duas se afastaram, o mundo estava aparentemente igual, ambas estavam vivas e tudo estava em seu lugar, mas uma coisa havia mudado. Vida e Morte se amavam, e desse amor, nasceu a Esperança.