Vigília escrita por lucaless


Capítulo 3
Bairro




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É sábado e você resolveu andar pelas ruas do seu bairro para uma breve exploração. A sensação do sol no final de uma tarde fria é reconfortante e pela primeira vez você se sente bem vindo. Apesar do clima gostoso, as ruas estão vazias e o comércio está, em sua maioria, fechado. A única coisa que dá pra fazer é andar entre as ruas e imaginar como deve ser durante a semana quando tudo está aberto.

Uma das ruas do bairro termina em um pequeno morro coberto de grama e outras plantas que contém um campinho onde crianças e jovens jogam futebol nas horas vagas e dois galpões sem nada escrito nas paredes com exceção das pichações, tornando impossível determinar de quem são e para que servem. Você desce as escadas de pedra que levam ao campinho enquanto se pergunta por que no fim da tarde de um sábado não tem ninguém jogando bola. O vazio parece até tocável.

Uma ideia lhe ocorre. Você olha em volta e confirma que realmente não tem ninguém na rua naquela hora e vai em direção a um dos galpões. Quando chega mais perto, porém, percebe que o portão está trancado com um cadeado. Isso era óbvio, não? Como não esperar que o lugar estivesse fechado de alguma forma? Chegando ao outro galpão você percebe que este também está trancado. Bom, você tentou fazer seu sábado ficar um pouco mais emocionante bisbilhotando as coisas dos outros, mas aparentemente não vai acontecer. Se bem que sempre dá pra achar outros meios, parar agora não parece a melhor opção, você não quer saber o que tem lá dentro? Dando uma volta melhor em torno dos galpões, dá pra notar duas coisas: um deles é totalmente fechado, com apenas uma janela bastante alta na parede oposta ao portão; e o outro possui quatro janelas em diferentes alturas, sendo duas delas alcançáveis sem a ajuda de uma escada. Ao puxar as janelas, você percebe que ambas estão fechadas por dentro, porém uma delas parece meio solta e uma memória surge.

Você estava com aproximadamente nove anos e sua tia estava com você. Ambos tinham saído para andar de bicicleta e passeavam pelo bairro quando passaram em frente a uma sorveteria e pararam para tomar sorvete. Era verão e nada poderia parecer mais certo naquele momento do que três bolas de sorvete cobertos daquelas guloseimas que crianças adoram. Contudo, assim que colocaram os pés dentro da sorveteria sua tia percebeu que estava sem a carteira e os dois voltaram para buscá-la dentro de casa. Quando chegaram, a porta estava trancada e nenhum dos dois tinha a chave. Nesse ponto você já tinha até desistido de tomar sorvete, quando viu que ela pegava alguma coisa do chão. Ao chegar mais perto para ver, percebeu que ela tinha um graveto na mão e se aproximava de uma janela. O movimento era simples: força-se uma leve abertura da janela enquanto com o graveto se solta a trava. Assim como deu certo no passado em sua casa, a janela do galpão era um pouco maior e mais enferrujada do que a da sua antiga casa, mas em alguns minutos ela acabou cedendo. Quando pulou para dentro, você não se deu conta de que havia uma diferença de altura entre o chão do galpão e o do lado de fora e se estatelou no piso – puta merda! Ainda bem que não houve nenhuma lesão.

Se recuperando da queda você se levanta e olha em volta: o galpão é escuro mesmo com a luz do dia entrando pelas janelas e existem caixas por todos os lados, um contêiner e dois caminhões estacionados. A sensação é estar dentro de um filme, mas sem o perigo de aparecer um traficante armado ou de encontrar drogas no meio de uma das caixas. Você olha para as paredes e para o teto procurando as câmeras de segurança para não se expor, afinal, mesmo sem roubar nada, invadir propriedades é crime. Mexendo nas caixas enquanto fica fora do alcance das câmeras de segurança você percebe que se trata de um depósito de uma loja de móveis. Também dá para identificar as áreas onde eles guardam as caixas por mais tempo e as que são levadas o tempo todo, pois aparentemente o lugar vê faxinas com pouca frequência dado o nível de poeira que cobre as caixas mais antigas. Após tirar algumas fotos com seu celular, você vai em direção à janela para sair, mas percebe que enquanto a altura dela do lado de fora era suficiente para entrar, não daria para alcançá-la por dentro.

Ao chegar a sua casa você relembra como empilhar caixas para alcançar a janela poderia ter sido sua primeira ideia, mas ao invés disso, você perdeu meia hora revirando o galpão atrás de chaves ou uma escada, mas conseguiu sair sem ser visto por ninguém nem por nenhuma câmera. No meio dos pensamentos, seu celular vibra e é um alívio perceber que se trata de uma mensagem de um colega de trabalho no grupo:

“Ei, vamos fazer algo hoje? To pensando em ir no barzinho novo que abriu no centro”

“Eu topo!”

“Nao posso hoje pessoal fica pra proxima”

Você olha pra tela do celular e pensa por um momento. Ora, mesmo não sendo a melhor pessoa em situações sociais, é melhor se enturmar um pouco com seus colegas de trabalho e além do mais, que mal um bar pode fazer?

“Eu vou!”


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