Vigília escrita por lucaless


Capítulo 1
Prólogo




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 Você chega do seu primeiro dia de trabalho. São sete horas da noite de uma segunda feira e já dá pra sentir o cansaço de um dia inteiro fazendo algo detestável. Bem, pelo menos dá pagar o aluguel do apartamento! Mas onde é que estão as chaves? Ah, sim! Debaixo do tapete. Não seria melhor arrumar um esconderijo melhor? Talvez sim, mas por enquanto vamos tentar só entrar em casa. Você gira a chave na fechadura, põe a mão na maçaneta e entra.

A sala está escura e tudo parece meio lúgubre até que você acha o interruptor, esperando que possa decorar logo onde ficam todos os interruptores e tomadas da casa para não passar muito tempo procurando. Finalmente as luzes se acendem e você reconhece a sala. Não é muita coisa: um sofá, uma mesa de jantar com quatro cadeiras, um tapete e um móvel onde você vai colocar a TV assim que juntar dinheiro suficiente. Parece tão vazio! E não só por causa dos móveis, mas a certeza de que ninguém vai passar pela sala faz tudo parecer enorme, mesmo sendo um apartamento pequeno. É claro que você sabia que ia se sentir assim às vezes, ainda mais sendo a primeira vez sem ninguém por perto, mas não dava pra saber que seria logo no primeiro dia. Espero me acostumar rápido com isso ou então conhecer uns amigos e trazê-los pra casa, você pensa.

Ao abrir a porta da sacada, o vento frio entra e bate no seu rosto enquanto você vai para fora e vê a iluminação da cidade embaixo de você. Bom, a vista é linda. Enquanto não tiver televisão na sala, dá pra passar o tempo na sacada. Claro que o tempo também não pode estar muito frio, mas parece que a parte mais fria do ano já passou.

O telefone fixo toca. Quem é que tem telefone fixo hoje em dia? Indo em direção à sala, o pensamento de que se ele tivesse tocado dez minutos atrás não haveria ninguém para atendê-lo cruza sua mente. Quase não dá para lembrar como era a vida antes do celular! Você finalmente tira o telefone do gancho.

— Alô? – Nenhuma resposta.

É tão estranho atender ao telefone sem ter visto o número que te ligou antes. E frustrante quando ninguém responde do outro lado. Você espera mais alguns segundos e vê que só se ouve um barulho de fundo, definitivamente um engano.

— Por que comigo? – Uma voz fala. Dá pra ouvir que há uma pessoa chorando do outro lado, mesmo com a linha cortando.

Você congela. Aquilo foi uma alucinação? Os pelos da sua nuca se arrepiam e sua respiração se torna menos constante.

— Quem é? – Pergunta em um suspiro, tentando ainda entender se aquela era uma voz masculina ou feminina. Nenhuma resposta de novo, apenas os barulhos de fundo e uma respiração ofegante e meio chorosa do outro lado da linha. – Quem é? Onde você está?! – Você pergunta. Imediatamente percebe que o choro para, dando lugar a uma respiração profunda, mas controlada.

— Entendi… - no momento seguinte a ligação cai.

Você ainda tenta falar com o telefone durante alguns segundos, mas percebe que a ligação se encerrou e o coloca de volta no gancho. O que diabos acabou de acontecer? Será que enlouqueci? – você se pergunta enquanto senta no sofá e fica olhando para a parede em sua frente. Com a cabeça cheia de perguntas, vai em direção ao banheiro para tomar banho.

Quando a água quente começa a correr pelo seu corpo, você finalmente se dá conta de que não há o que fazer. Pode ter sido um trote, não há porque se preocupar. E mesmo que não tenha sido – o que poderia ser feito? Ir à delegacia? Falar para a delegada que você acabou de receber uma ligação de alguém que não conhece e que não sabe exatamente o que a pessoa falou, nem mesmo onde ela estava, mas que aquilo fora suficiente para sair da sua casa e ir falar sobre isso? Ela vai te dizer para esquecer tudo isso e se você insistir demais, é capaz de sair da delegacia com o telefone de um psiquiatra.

Foi apenas uma ligação, você pensa já na cama, olhando para o teto azulado onde refletem as luzes noturnas que entram pelas venezianas da janela. Além do mais, o que você poderia fazer? Mesmo assim, no primeiro dia de uma casa nova, aquilo já era emoção suficiente para tomar conta de cem por cento da sua atenção. É verdade! A casa é nova. Pode muito bem ser que a linha ainda não tivesse sido transferida devidamente e aquela era uma ligação para os antigos moradores. Mesmo assim, uma ligação bem estranha. O que é que aquela pessoa havia dito mesmo? Não dava para lembrar agora, provavelmente alguma coisa medonha que seu cérebro já bloqueou para te proteger. Você pega no sono.


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