Escarlate escrita por Anna Borges


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

"Quando ela era apenas uma garota
Ela esperava pelo mundo
Mas isso fugiu do seu alcance
Então ela fugia em seus sonhos
E sonhava com o paraíso
Toda vez que fechava os olhos"
Paradise - Coldplay



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O sol da manhã entrava timidamente pelas persianas fazendo com que os cabelos intensamente vermelhos da garota ganhassem o tom exato que o mesmo sol teria daqui algumas horas, esse fenômeno, no entanto não foi visto por ela, que se encontrava em sono profundo.

Seu celular começou a bipar impacientemente fazendo com que ela fosse obrigada a desligar o aparelho e consequentemente acordar. Ela passou algum tempo olhando para as estrelas infantis pintadas pelo seu pai tão logo ela nasceu, talvez agora com dezesseis anos fosse a hora de ela passar uma demão de tinta branca e apagar os desenhos, mas não, ela não faria isso, ela não se desprenderia de uma das poucas coisas que lhe restavam do pai, e na verdade ela até que gostava das estrelas se imaginava morando em um planeta distante.

Seus pais haviam morrido em um acidente de carro quando tinha apenas três anos, deles apenas lhe restavam duas coisas: o teto pintado a mão pelo seu pai e um pôster do filme "E o Vento Levou..." que pertencera a sua mãe, uma grande fã do clássico dos anos 1930, tão fã a ponto de dar a sua única filha o nome de Scarlett, para os mais íntimos, apenas Scar.

Além de uma única lembrança, uma meio apagada, mas mesmo assim sua preferida de estar deitada no colo quente de sua mãe enquanto a ouvia sussurrar com carinho uma canção, as mãos quentes deslizavam pelo seu pequeno rosto e junto com a canção ela ouvia uma voz masculina - que acreditava com todas as forças ser de seu pai dizer:

— Helena Scar já dormiu?

— Não, essa mocinha está custando dormir hoje, não é Scarlett? - Helena olhou carinhosamente para Scar.

Sua mãe era uma mulher linda, Scar tinha uma imagem apagada, porém conseguia se lembrar dos cabelos da mãe tão ruivos quanto os seus e dos olhos cinza e totalmente expressivos e carinhosos para ela.

— Scar! Scar! - Sentiu pedras quicarem contra sua janela - desce! Ou vamos chegar atrasados!

— Arthur! - Abriu depressa a janela dando de cara com o rosto familiar do amigo - tia Mauba ainda está dormindo, espere aí que eu já desço para abrir a porta.

Tia Mauba, na realidade, era tia-avó Mauba, tia de sua mãe que criara Scar desde o acidente, mas ao contrário de seus pais tia Mauba nunca fora carinhosa ou amorosa mesmo quando ainda era mais nova sua tia costumava ser uma mulher dura e fria porém Scar sabia que ela a amava, mas ultimamente tia Mauba estava perdendo para a idade afinal já passava dos noventa anos e a garota tinha que se virar sozinha.  O que não era tão difícil afinal contava com a mãe de Arthur, Marina, que a ajudava nas burocracias de ser adolescente e quanto a financeiramente seus pais haviam lhe deixado uma gorda pensão provinda de uma de uma médica e um arquiteto.

Despertando-se de seus devaneios com cuidado a garota abriu a gaveta e tirou suas roupas, bom ela até que podia comprar coisas melhores, mas simplesmente não tinha paciência preferia comprar coisas mais interessantes como livros e quadrinhos, então pegou a velha camiseta de uniforme que usava desde os catorze anos e uma calça jeans qualquer e passou a pentear os longos cabelos ruivos em frente ao espelho, sim os cabelos ela herdara da mãe sem dúvida, mas seus olhos não eram cinza e sim azuis ofuscante o que ela imaginava ter herdado do pai.

Ela gostaria de ter visto uma foto, mas não foi por falta de tentativas, em um domingo no meio das férias do ano anterior, ela e Arthur tinham passado a noite em claro, no antigo quarto dos pais de Scar revirando tudo que podiam, mas nada, nem uma única prova de que um dia Helena e Felipe Bernardi tinham vivido naquela casa.

A noite acabou com Scar chorando abraçada a Arthur.

Ela não se orgulhava de se apegar tanto ao passado assim, mas eram seus pais poxa!

— Scar! - A voz impaciente de Arthur atravessou mais uma vez os as paredes da casa.

— Já estou descendo! - Gritou da janela, já jogando a velha mochila nas costas e descendo com pressa as escadas velhas da, mais velha ainda, casa.

— Você andou pensando nos seus pais de novo - disse o amigo assim que ela apareceu na porta.

Arthur era o dito "garoto bonito" tinha os cabelos cor de areia em perfeitas ondas, os olhos castanho-claros uma charmosa pinta do canto esquerdo da boca, alto o suficiente para que mesmo Scar tendo 1,75m toda vez que o abraçasse pudesse sentir o coração do mesmo vibrando sob sua orelha toda vez que se abraçavam. 

— Oi? Como assim?

— Seus cabelos, eles estão mais penteados do que de costume você sempre os penteia mais quando pensa nos seus pais.

— Eu nunca reparei como você consegue?

— Te conhecendo desde os dez anos - respondeu chocando seu ombro com o da amiga.

Arthur tinha se mudado para o bairro de Scar sete anos após o acidente, os dois haviam ficado amigos depois de uma briga envolvendo um acidente com a colisão de ambas as bicicletas.

Ela se lembrava do dia perfeitamente, tinha acabado de comprar uma bicicleta e saíra feliz pelas ruas de seu bairro, e depois como se tivesse sido combinado a bicicleta de Arthur viera em alta velocidade na direção da sua e a batida fora inevitável.

Brigaram feio, mas no mesmo dia Marina a mãe de Arthur fez o filho pedir desculpas à Scar e terminaram o dia comendo rosquinhas de nata na casa deles e consequentemente como melhores amigos como dizia o destino.

Cadernos coloridos, cabelo perfeito, unhas impecáveis, maquiagem intocada, se equilibrando delicadamente saltos 20 cm, essa é a perfeita descrição de uma garota de dezesseis anos normal.

Mas por querer do destino, não era a descrição de Scar com suas roupas mal passadas cabelos de qualquer jeito, rosto limpo e um amado caderno de The Walking Dead, essa era a descrição de Scar.

Ela não era normal, e adorava o som disso o que a tornava ainda menos normal. A vida era cheia dessas, riu sonoramente atraindo alguns olhares de sua sala de aula, o que era mais comum do que gostaria de admitir.

— Scar – foi atraída de volta ao mundo real por Arthur que a olhava com seus grandes e piedosos olhos castanhos – onde você estava?

— Pensando em como eu sou diferente das outras garotas e no quanto eu adoro isso.

Arthur pegou sua mão sobre a carteira sorrindo com o canto da boca, fazendo a pequena pinta que se encontrava sobre seu lábio superior levantar-se o que o tornava ainda mais charmoso. E Scar não dizia isso por ela... quer dizer as garotas que sentavam atrás dela estavam o encarando e dando risadinhas.

Foi quando ela viu a mais detestável entre elas se levantar. Alice. Com seus 1,55m sustentados em um salto que desafiava a lei da gravidade e o cabelo ridiculamente brilhante e liso que se entendia até a cintura da garota. Ela detestava Scar, Scar a detestava mantinham uma boa convivência a partir daí se não fosse um único detalhe: Alice era sempre sorrisos de gloss para cima de Arthur e isso irritava a outra, poxa! Sua pior inimiga não devia ter uma queda pelo seu melhor amigo, isso ia contra as regras não ia?

— Oi Art.

Ah é ela se esquecera de mencionar que aquela garota tinha o irritante hábito de se referir a Arthur como “Art” come se ele fosse um maldito grilo falante!

Sem respostas provindas do garoto a outra continuou.

— É que eu e as garotas estávamos pensando se você não quer ir sentar com a gente hoje, porque você sabe, vai ter trabalho de matemática e a professora sempre dá em grupo.

Não! Não! Não! Arthur era o apoio de Scar em exatas – ela sempre fora de humanas – e ela precisava dele para os trabalhos se Alice se atrevesse a tirar ele dela...

— Eu já combinei com a Scar, foi mal.

Toma seu protótipo de Emily! O Ross prefere a Rachel aqui! Oh droga! No que raios ela estava pensando?

— Ah claro fica para outra então, a gente se vê.

Assim que Alice virou as costas Scar abriu a boca para falar mas Arthur foi mais rápido.

— Você odeia ela.

— Eu realmente odeio.

— Bom dia pessoal!

A professora de matemática adentrou a sala, fazendo com que Scar soltasse um suspiro, ela realmente odiava exatas mas precisava delas para passar no vestibular então fez a única coisa que podia fazer no momento, prestar atenção nos números que lhe embolavam a cabeça.

— Chegou meu Box em Blue-Ray de Harry Potter ontem quer ir lá em casa hoje assistir?

— Tudo bem, mas tenho que esperar a tia Mauba dormir.

Tia Mauba ainda achava que viviam nos anos 1940, mesmo não estando tão lúcida quanto era a alguns anos atrás a ideia de Scar estar na casa de um garoto lhe dava arrepios, ou seja, a garota era proibida de ir na casa do amigo e precisava ir escondida quando a tia dormia o mesmo acontecia quando o garoto precisava ir a sua casa.

— Tudo bem vou pedir para mamãe fazer suas rosquinhas preferidas.

— Arthur não!

Marina a mãe de Arthur praticamente adotara Scar, era ela que – como já dito antes – cuidava das burocracias escolares da garota, cuidava de suas gripes e suas cólicas e o melhor fazia rosquinhas de nata com cobertura de chocolate, sua sobremesa favorita, mas era injusto com a mulher pedir-lhe para fazê-las toda vez que ia até sua casa.

— Na última vez eu fiz o que você pediu e levei a maior bronca por ela não ter rosquinhas para te receber.

— Tudo bem se ela faz tanta questão – Scar sorriu de lado, comer a comida de Marina não era nenhum sacrifício.

— Tudo bem eu te espero então Vermelhinha – Arthur beijou o topo da sua cabeça e seguiu para sua casa, porém Scar só conseguiu seguir para sua própria quando Arthur sumiu dentre os muros, ultimamente seus sentimentos pelo seu melhor amigo estavam cada vez mais confusos, talvez eram apenas seus hormônios de adolescente em ebulição.

Bom mas se ela não pensasse nisso talvez desaparecesse.

— Tia? – Encontrou tia Mauba deitada no sofá com um livreto de sudokus, algumas pessoas diriam que isso a deixava lúcida mas na verdade ela apenas escrevia qualquer número ou rabisco que lhe vinham a cabeça.

— Helena? Estava com o menino Felipe novamente não é? Você sabe o que eu penso sobre isso não é bom uma menina direita andar tanto com um garoto.

Às vezes, nos dias mais difíceis, era comum tia Mauba confundi-la com sua mãe e apesar de demonstrar que sua tia estava piorando Scar se sentia meio orgulhosa por pelo menos parecer com ela.

— Não é Helena tia, mamãe morreu a treze anos, é Scarlett, filha dela – ajoelhou-se ao lado do sofá da tia.

— Já disse que não gosto desse seu filme bobo Helena! Eu vou para o meu quarto você cuide do almoço!

— Tudo bem, tudo bem tia. – ela já ia fazer isso de qualquer jeito mesmo.

Porém quando começou a mexer nas panelas a campaninha tocou, seria Arthur? Ele esquecera algo nos materiais dela durante a bagunça da hora da saída? Provavelmente.

Mas ao abrir a porta, não foi o familiar sorriso torto do amigo que encontrou.

Uma mulher belíssima de rosto em formato de coração, lisos cabelos negros brilhantes e olhos tão azuis quanto os de Scar encarava a garota com um sorriso cheio de covinhas que lhe era vagamente familiar.

— Oh meu Deus como você cresceu! – A mulher colocou as unhas devidamente pintadas de vermelho sobre a boca enquanto algumas lágrimas brilhavam em seus olhos.

— Perdão, eu te conheço?

— Me desculpe, você era tão pequena da última vez que te vi eu é compreensível que não se lembre de mim, mas eu sou Clara irmã de seu pai.


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Notas finais do capítulo

E aí??????? Digam o que acharam por favorzinhoooo, postarei um por semana okay? Nos vemos sábado que vem.