The Cog Workers escrita por AllBlueSeeker


Capítulo 2
Dama da Plebe e Nobre Vagabundo


Notas iniciais do capítulo

Fala galera! Cês tavam com saudade desse trem aqui?
Pois bem! Vou saciar a sede de vocês por mais um capítulo dessa história.

E lá vai!



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[Sarah]-E então? -a jovem de braços cruzados e expressão séria encarava o bigodudo

[Olaf]-Desculpem crianças, eu não posso contar isso a vocês. É que eu tinha um favor a pagar a uma pessoa. 

[Thomas]-Essa desgraçada vai sangrar por fazer isso com o senhor! Onde já se viu tantos números por uma banana de ouro? Que ela enfie na...

[Sarah]-Irmão! Pelo amor de deus.

[Olaf]-É que... Bem, vocês não entenderiam de toda forma. É bem extenso e difícil de explicar. Mas podem ficar tranquilos, porque essa pessoa garantiu todo o ouro assim que eu entregar essa geringonça para os oficiais. E eu já estou quase conseguindo!

[Thomas]-Pai, se o senhor estiver mentindo...

[Olaf]-Não não não, eu juro! Juro pelo meu bigode! E vocês sabem o quanto eu o amo.

[Sarah]-Eu estou com sono. -ela bufou tais dizeres, puxando o capuz feito com o cobertor de volta para a cabeça - Você nos convenceu por hoje, papai. Thomas, vamos dormir.

[Thomas]-Tá querendo mandar em mim, sua pirralha? Eu não me sinto convencido.

[Sarah]-Eu não estou querendo. Eu já mandei. -Sarah lançou um olhar ameaçador para o irmão

Ele se deu por vencido e pôs as mãos nos bolsos, acompanhando a irmã até o quarto. Assim que passaram, ele fechou a porta:

[Thomas]-Qual o seu problema, hein? A gente ia ter a situação nas mãos e já poderíamos saber o que fazer.

[Sarah]-Não seja um cabaço, Thomas! Você quer deixar o papai triste? Se ele não terminar aquela porcaria, ele já era. Você sabe que ele não trabalha de mau humor. 

[Thomas]-Você não quer ajudar o pai?

[Sarah]-Eu vou, é diferente. 

[Thomas]-E você vai entrar lá feito uma mulamba e dizer que quer encarar a Imperatriz? Boa sorte com isso.

A mão da garota pesou na bochecha direita de Thomas:

[Sarah]-Eu consigo fazer o que me der na telha, seu bocó. Olha bem pro meu rosto! Você acha mesmo que uma mulamba teria olhos verdes e esse cabelo ruivo? Acha mesmo? É óbvio que não! O vovô pode me ajudar a me limpar e arrumar o meu vestido. -a garota bateu as mãos na porta do armário, abrindo-o - O papai comprou pra mim, depois de semanas de insistência. Agora ouse me chamar de mulamba de novo, e eu juro que nunca vou ser tia. -ela cerrou o punho

Ela se jogou sobre a cama, enquanto Thomas ficou com cara de paisagem, olhando para o vestido e resistindo à queimação do tapa na bochecha. Assim que voltou à realidade, subiu para sua cama.

Na manhã seguinte, os dois foram acordados pelo aroma de café e pão que escorria pela greta da porta do quarto. Rapidamente foram para a cozinha, onde o pai observava o forno que os três construíram e limpava a careca suada com uma flanela que trazia no bolso do avental:

[Sarah]-Quem diria, o senhor Olaf também é padeiro... Estou impressionada, papai. -a jovem sorriu

[Olaf]-Bom dia, meus amores. Não é meio cedo pra vocês?

[Thomas]-Talvez seja culpa do seu pão estarmos de pé a essa hora... -o garoto coçava o olho esquerdo freneticamente

[Olaf]-Eu consegui adiantar meu trabalho de hoje e resolvi fazer algo diferente. Neil passou aqui, e acabei pedindo a ele algumas coisas... 

[Sarah]-E o vovô te ensinou a fazer pão?

O homem coçou seu bigode, rindo:

[Olaf]-Minha donzela, o papai tem seus truques.

Os dois sentaram-se à mesa e, quinze minutos depois, o monólito de fibra foi colocado sobre o tampo:

[Olaf]-Certo, criançada. Eu acho que tá bom. 

[Thomas]-Qualquer coisa, a gente vira a garrafa de café sobre ele e é isso aí!

O homem riu outra vez:

[Olaf]-Profilático, Tommy! Mas sua irmã...

[Sarah]-...detesta café. É, eu prefiro meu suquinho de laranja mesmo. É mais saudável que essa coisa cheia de açúcar aí. 

[Thomas]-E seu suco não tem?

[Sarah]-Eu não coloquei. Se a Natureza colocou nas frutas, aí já não é problema meu. -ela sorriu com o copo na boca

Olaf "serrou" dois pedaços do pão e deu aos filhos. Depois, sentou-se para bebericar de sua caneca de café:

[Sarah]-Puxa papai, está incrível! 

[Olaf]-O segredo são as nozes. 

[Thomas]-Você devia largar aquela banana e virar padeiro. Ia ganhar mais com isso...

Descruzando suas pernas num movimento acrobático, Sarah chutou a coxa do irmão e o encarou de lado. O bigodudo olhou surpreso:

[Olaf]-Sabe Tommy, você acabou de arrumar a minha aposentadoria! Assim que vocês crescerem, eu deixo isso aqui pra vocês se virarem e abro uma padaria na praça. Lucraremos muito mais! É brilhante, filho! -as enormes mãos foram jogadas ao ar

Thomas lançou um sorriso de "Ha!" para a irmã, que fez bico e cerrou o cenho. Assim que terminaram de comer, puseram os utensílios usados sobre o balcão e foram para o quarto. Porém, a garota parou no meio do caminho:

[Sarah]-Papai...

[Olaf]-Sim?

[Sarah]-Estou pensando em usar o vestido hoje. O que o senhor acha?

[Olaf]-Eu preciso achar? Você sabe que fica linda naquele vestido.

[Sarah]-O senhor não liga mesmo?

[Olaf]-Claro que não. Eu tenho um bacamarte. -ele sorriu confiante

A garota deu de ombros e foi para o quarto, onde o irmão jogava uma bolinha no teto e ela voltava para suas mãos:

[Sarah]-Thomas, eu preciso da sua força.

[Thomas]-Pra queeeeeeeeeeeeeeeeeee....

A garota despiu-se e pegou o vestido no armário:

[Thomas]-Eu tô aqui dentro ainda, sua miserável.

[Sarah]-E daí? 

[Thomas]-Daí que eu sou homem!

[Sarah]-Tá. Mas e daí?

[Thomas]-Que você não deveria trocar de roupa na minha frente.

[Sarah]-Sério Thomas, cê me conhece há 13 anos. Eu não sou "uma Sarah"?

[Thomas]-Já posso olhar?

[Sarah]-Tá esperando um convite formal ou o quê?

O rapaz de nariz ensanguentado desprendeu o rosto da parede e virou-se. Pela primeira vez na vida ele vira a irmã parecer uma mulher de verdade, uma como qualquer uma das damas que andavam pela cidade:

[Thomas]-Uau. -ele assobiou - Até mesmo uma Sarah pode parecer gente rica.

[Sarah]-Estúpido. -a garota virou-se de costas - Amarre por favor. Mas sem me esmagar.

[Thomas]-Por que precisa disso? Você não é  nenhuma gorda tentando esconder as banhas.

[Sarah]-É parte da convenção social, seu bocó. Apenas faça o que eu falei pra fazer.

Sem muito esforço, o garoto cumpriu o pedido:

[Thomas]-Suficiente?

[Sarah]-Sim, obrigada.

[Thomas]-E o que vai fazer com essas roupas?

[Sarah]-Eu já disse o que vou fazer. 

Thomas apenas bufou, evitando dar uma resposta mal educada na irmã. Ela o ignorou completamente e saiu para o galpão:

[Sarah]-Papai?

De dentro da locomotiva, uma carequinha suada foi avistada pela jovem:

[Olaf]-Só um pouquinho... Ergh... -o homem fazia bastante esforço, dado o tom de sua voz - E... Pronto! 

[Sarah]-Tira a cabeça daí e olha pra mim.

Olaf procurou sua fiel flanelinha e limpou a careca. Seu rosto, munido de óculos para solda e máscara para proteger o resto do rosto surgiram da janela vitoriana da locomotiva:

[Olaf]-O que... 

[Sarah]-Você gostou? -ela sorriu e deu uma volta

[Olaf]-E-eu criei... Um anjo? -ele sacou seus óculos e baixou a máscara, denotando a expressão de surpresa - S-Sarah, meu bem, é você mesma?

[Sarah]-Eu deveria ser alguém mais? -manteve o sorriso

[Olaf]-Ashley... Oh meu Deus, vocês duas. 

[Sarah]-Quem é Ashley?

[Olaf]-Sua mãe. Sua e do Tommy.

A mãe. Sarah não fazia a menor ideia se a conhecera ou não. Nem sequer lembrava da voz, do cheiro. Tocar naquele assunto fez a jovem pensar nisso profundamente, até ter a atenção atraída pelo pai:

[Olaf]-Suas mãos são tão lindas quanto as dela... 

[Sarah]-Eu ainda preciso ir ao vovô para lavá-las direito. Só limpei um pouco com o querosene do senhor. Até lá, vou usar luvas. -ela as exibiu

O bigodudo, imóvel, permanecia com a expressão surpresa no rosto. A jovem deu-lhe um abraço e saiu pela porta dianteira da oficina:

[Olaf]-Tommy, onde vai?

[Thomas]-Certificar de que a bocó vai ficar bem.

[Olaf]-Não quer aprender um pouco mais sobre a maquinaria?

[Thomas]-Não quero atrasar seu trabalho, pai. -ele cuspiu o palito que tinha na boca

[Olaf]-Você é um Rayzen, moleque. Dois Rayzens trabalhando juntos somam forças e diminuem tempo! Venha, já tá mais que na hora de você aprender a mexer com máquinas e dar um tempo pra sua irmã.

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A porta da loja do velho Neil foi aberta:

[Neil]-Oh, uma jovem sozinha? 

[Sarah]-Bom dia, vovô. -a menina sorriu após tirar seu chapéu emplumado

[Neil]-Eu quase não reconheci você! Está lindíssima! Diga, o que esse velho pode fazer por você hoje?

Sarah sacou as luvas e exibiu as mãos:

[Sarah]-Eu preciso lavá-las. E o senhor conhece bem a nobreza, não é?

[Neil]-De fato. Muitos deles são meus clientes. A Cherry conhece muitos deles. 

[Sarah]-A Cherry está aqui? 

O velho abriu a portinhola, exibindo a gata preguiçosa dormindo na caixa de maçãs:

[Neil]-Vá até o lavabo e limpe-se. Você precisa tomar banho também?

[Sarah]-Não, obrigada. Eu já fiz isso ontem. Tirei boa parte da sujeira das mãos e do corpo. E ainda usei um pouco do querosene do papai agora há pouco. Só quero tirar esse cheiro horrível das mãos.

[Neil]-Certo. Você já sabe o caminho. 

A garota embrenhou-se pelos fundos da loja até o lavabo. Minutos depois ela retornou com as mãos sem o odor maldito de querosene:

[Neil]-Certo, Sarah, o que quer com a nobreza?

[Sarah]-Nada demais... -tentou mentir

[Neil]-Bom, você deve sempre deixar que eles façam por você, especialmente os homens. Isso é "cavalheirismo", ou seja, educação. Sempre diga "por favor", "obrigada" e "com licença". E nunca, nunca mesmo, use quaisquer palavras de baixo calão.

[Sarah]-E para falar com a Imperatriz?

O velho ergueu a espessa sobrancelha direita:

[Neil]-Por que é que você falaria com a Imperatriz?

[Sarah]-É um exemplo, vovô. Apenas me diga, por favor!

[Neil]-Hmm... Certo, certo. Você nunca a olharia nos olhos, em primeiro lugar. Sempre diga "Vossa Alteza". Se ela for mal educada, não retruque.  Ah e... Não use indiretas com ela. Por qualquer coisa, ela manda a guarda imperial arrancar você do palácio.

[Sarah]-Certo. Obrigada, vovô!

[Neil]-Tenha cuidado!

A garota saiu da loja e voltou para a praça. Começou a caminhar apenas para exibir-se, dando fluidez aos movimentos do corpo:

[Max]-Mas que bela moça, Jerry! Veja como ela anda.

[Jerry]-De fato, senhor. De fato.

A garota virou o rosto para esconder a possível vermelhidão que poderia estar apresentando. Resolveu sentar no banco da praça e observar o trânsito de barcas flutuantes, zeppelins e do bondinho da Torre Aquilina. Logo, um jovem de terno preto, sem gravata e medalhas penduradas no paletó surgiu. Tinha os cabelos muito bem penteados e pretos, olhos rasgados e o rosto livre de barba:

[Max]-Com licença, minha jovem, me perdoe pela indelicadeza. Eu apenas fiquei deslumbrado pelo seu andar. Eu sou Maxwell de Auricia, filho de Nero de Auricia. Eu sou um nobre! -ele sorriu confiante - E esse é meu amigão, Gerald, ou só Jerry. 

O velho baixinho curvou-se:

[Jerry]-Estou honrado.

Max sentou-se ao lado de Sarah:

[Max]-Entãããão... Será que a bela dama poderia me dizer sua graça?

[Sarah]-Sarah Rayzen. -ela virava o rosto para não ser vista

[Max]-Senhorita Sarah, mas que privilégio conhecê-la! -o rapaz pescou a mão da jovem e beijou-a

Rapidamente, ela sentiu o rosto ficar mais quente e recolheu a mão:

[Max]-Me desculpe, eu fiz algo errado?

[Sarah]-N-não... É que eu não estou acostumada com isso.

[Max]-Ouviu isso, Jerry? Que sociedade podre temos aqui embaixo! Não sabem apreciar uma bela jovem e serem cordiais com ela. Estou enojado com esse bando de ratos!

[Jerry]-Jovem Mestre, o senhor está no meio deles...

[Max]-E eles lá fariam algo com o filho de um dos homens mais próximos da Imperatriz? Sabem que seriam dizimados da existência! 

[Sarah]-Será que você poderia parar de gritar? Sua voz incomoda meus ouvidos... -ela sussurrou baixinho

[Max]- Oh! -ele tapou a boca com a mão direita - Mil perdões. Gostaria de me acompanhar ao Lar da Lua?

Ela engoliu em seco:

[Sarah]-E-eu... Eu preciso ir. -a garota ergueu-se como um autômato

[Max]-Mas espere, por que vai tão cedo?

[Sarah]-E-eu deixei uma torta no forno!

Ela apressou o passo em direção à oficina. Tentou não olhar para trás e, ao mesmo tempo, acalmar o coração saltitante. Assim que passou pela porta, a bateu com força, o que chamou a atenção dos dois bebericadores de café:

[Thomas]-Sarah?

[Olaf]-Você está vermelha e assustada, filha. O que foi?

[Thomas]-Eu vou lá quebrar uns ossos dele. Descreva o indivíduo!

[Sarah]-N-não é nada disso... É que... Um nobre beijou a minha mão.

Em sincronia, Olaf e Thomas cuspiram o café que bebiam:

[Olaf e Thomas]-UM O QUÊ?!

A expressão assustada da garota tornou-se um sorriso singelo. Ela estendeu o dorso da mão aos dois:

[Sarah]-Sim, um nobre beijou minha mão!


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Notas finais do capítulo

E aí?



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