Sobre os recifes escrita por Philine


Capítulo 1
Os recifes cujas cores mancharam meu íntimo.


Notas iniciais do capítulo

Oi, oi.

Como dito nas notas da história, esse textinho foi escrito para um desafio, que você pode conferir nesse blog: http://bloqueiocriativobr.tumblr.com/

Fiz a primeira proposta, e a frase que me foi concebida foi exatamente: "Mas todas essas baleias serão apenas um treino.", retirada duma passagem da história Moby Dick do livro Três Vinganças. Tomei a liberdade de modificar um pouco a frase nesse texto, no que diz respeito a seu sentido - visto que orginalmente, se referia à caça de baleias, e eu não queria escrever nada para matar elas, não quero nada trágico, quero todo mundo vivo. ;u;

Tem um link na imagem, para a música na qual me inspirei, caso vocês gostem de ler com uma melodia de fundo (eu amo rs).

A fic é toda piegas mas eu gostei de escrevê-la, espero que gostem de lê-la. ♥



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Eu me lembrava — muito bem até — de quando conheci você; sorria de forma adorável, exibindo os dentinhos de coelho e as rugas despreocupadas que eventualmente lhe surgiam à face. Apontava para o grande aquário do qual estávamos diante, e naquela animação exacerbada, testando toda a minha paciência com seu jeitinho janota de ser enquanto eu, por natureza própria, era desleixo. Eu ouvia exclamações sobre o quanto aquilo era incrível e, para um desconhecido, me vi sabendo demais sobre você. Pudera, não te via de boca fechada, naquele deslumbre encantador que te transformava numa criatura angelical.

Você fazia perguntas sobre todas as espécies que vislumbrava, e eu as respondia com prazer, apesar de minha carranca. Sua inocência me era admirável e curiosa — assim como sua altura e o andar engraçado. Nenhuma palavra sua me escapava, nem mesmo ao se pôr a dissertar sobre baleias e dugongos.

Sua voz melodiosa me enchia de curiosidades — “Sabia que as orcas não são baleias, sim golfinhos?” —, as quais eu já tinha conhecimento por trabalhar no aquário, mas testemunhar a felicidade ao contá-las me fazia surpreendido. Por isso, mal percebi quando me tornei tão dependente e viciado em seu ritmo, em sua risada abafada, em sua roupa engomadinha e todo aquele brilho no olhar ao falar da vastidão do oceano. Você sempre foi uma

Tinha um cheiro de água salgada e algas, e seu olhar me atingia como uma pérola duma ostra qualquer. Seu toque era como pisar uma nuvem quebradiça num dia de sol, com o vento do sopro me empurrando para longe. Seu sorriso era uma estrela.

Estava apegado em menos de uma semana ao menear descontraído toda vez que você ouvia minhas críticas à extravagância de suas paixões. A maneira a qual enrolava o indicador nos próprios fios cor de areia, alheio a tudo e a todos, com os olhos fechados e um meio-sorriso, fazia com que eu largasse minhas ocupações para ceder um pedaço de mim a você. Em pouco tempo, já havia me doado por inteiro.

Você percebeu, admita. Notou que, no momento em que colocava aqueles seus olhos que eram recifes de cores variadas, vida e diversidade sobre mim, eu me via assolado. Inferiu que me doía a alma não ter seus corais voltados para mim, para que eu pudesse admirar sua magnificência; e da forma mais inusitada comprovou o meu erro, quando seu mar varreu minhas cinzas na primeira vez em que trocamos um beijo. Você sempre foi quente por demais, mas eu amava me perder no ecossistema que era seu corpo. Sentia a vida esvair-se de mim ao passo que você a absorvia. Nunca fora justo amar você; embora justiça não fizesse o menor sentido enquanto me encontrava nas ondas calorosas de seus braços.

Você continuava sendo radiação e oxigênio; possuía, ainda, DVDs e cassetes — por mais antiquado que fosse — sobre baleias. O modo com o qual se vangloriava, afirmando ser detentor de um conhecimento inimaginável, enquanto as palavras fluíam de sua boca como gaivotas sobrevoando o céu. Era engraçado, pois às vezes eu embalava você, embebedava-me de seu beijo e logo voltávamos a discutir sobre os seus amados cetáceos.

Equiparava-me a uma baleia-franca, enquanto me esquentava com toques, e eu nada compreendia — mas ria contigo, porque seu riso era tão puro que me contagiava. Eu sentia o gosto das explicações, ao dizer que imaginava minha docilidade como a porta para a minha fragilidade, e gostava de como permanecia irrequieto ao confessar que gostaria de ser o arpoador a me capturar.

Eu sorria, dizendo num muxoxo que você já era o mar e me abrigava.

Mas, no fundo, todas aquelas baleias eram apenas um treino.


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Notas finais do capítulo

Bom, a minha intenção era falar de um amor que afoga e que, por isso, pareça ruim, tal como o fato das baleias-francas serem mais dóceis e lentas, o que facilitou para que seu número diminuísse significativamente devido à caça. Mas, por pior que esse amor pareça, pouco importa ao narrador, de modo que ele não se importa de ser dócil/manso nas águas da pessoa amada. Claro, interpretações são válidas, mas a ideia que eu tive foi basicamente essa.

(E ajudou bastante contra o bloqueio, um obrigada ao blog hehehe)



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