Militaire escrita por Nana


Capítulo 1
Médicale et Militaire


Notas iniciais do capítulo

Tradução do título do capítulo: Médica e Militar.
One-shot com possibilidades de um capítulo bônus.
Boa leitura.



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POV MÉDICA

Já era madrugada quando terminou de dar pontos em seu último paciente –por enquanto, nunca se sabia quando viria o próximo. Suspirou alto, permitindo que parte do cansaço se esvaísse de seu corpo; sabia que o ideal seria pelo menos dez horas de sono para compensar todo o tempo em que ficou vigilante, porém não era permitido tal luxo em sua profissão.

Pegou o livro de páginas amareladas que trazia consigo em todo lugar; sentou-se na cadeira ao lado do soldado adormecido que levara os pontos e aproveitou a forte luz lunar que atravessava a janela.

Seus olhos estavam quase pregando quando alguém chutou a porta da cabana e a derrubou com um estrondo. Alarmada, levantou de supetão e ficou encarando a entrada, de onde viu surgir três homens, os dois da ponta amparando o do meio.

Apesar da parca luz, conseguia ver o sangue do indivíduo jorrar no chão e, pelo o que havia observado, o homem havia sido atingido por um projétil.

—Doutora! – gritou o homem da esquerda, procurando a mulher pela sala, logo que localizou, disse num tom exasperado – doutora, nosso amigo foi atingido e perdeu muito sangue.

—Deite ele aqui, rápido! E acenda a luz ali. – começou a preparar a maca para o homem, preocupada em como o ajudaria. Colocou todos os materiais necessários e deu espaço para os dois homens deitarem seu amigo.

Começou a abrir o uniforme do rapaz, que já estava empapado de sangue e suor. Visualizou o buraco da bala entre as costelas do lado esquerdo.

—Droga – sussurrou – não gosto nem um pouco disso.

—Doutora? – Fitou o homem que lhe chamara. Via o medo estampado no rosto jovem. – Ele vai ficar bem?

—Vou fazer tudo o que estiver ao meu alcance, mas no momento que você trouxe seu amigo ambos percebemos que a situação estava mais que crítica. Ele não está bem, mas vou dar o melhor de mim para ele ficar. – Demorou seu olhar no militar deitado sobre a maca e percebeu que tinha virado uma questão de honra para seu repertório médico ajudar aquele indivíduo, cumprir a promessa feita ao amigo dele.

Voltou ao trabalho.

***

POV AMIGO

Tyler ficou o restante da madrugada ao lado do leito onde jazia seu melhor amigo de infância, esperando pacientemente algum sinal de melhora. Acompanhou de perto todo o trabalho da doutora, desde a remoção da bala até os curativos. Em todo esse tempo amaldiçoou os conflitos armados que constantemente feriam os militares de sua base. O único consolo era que não foram apenas os seus soldados que foram feridos, vangloriou-se de causar baixas no exército inimigo.

Olhou para seu amigo, observou a respiração ruidosa dele e concluiu que seria uma longa noite.

***

POV HOMEM-BALEADO

Uma luz intensa penetrava suas pálpebras. Abriu os olhos devagar e os semicerrou, até que se acostumasse com a luz solar que entrava em feixes brilhantes pela janela. Respirou fundo e logo se arrependeu do ato pois sentiu fortes pontadas no alto de suas costelas do lado esquerdo.

—Ei, melhor respirar mais levemente, senão vai acabar estourando as bandagens.

Forçou um pouco os olhos, esquadrinhando o ambiente em busca da voz. Encontrou uma figura feminina sentada em uma cadeira próxima de sua maca. A estranha estava lendo algum clássico de Victor Hugo.

—Quando serei liberado? – perguntou impaciente, observando a mulher suspirar, porém não perdendo a compostura, muito menos fechando o livro para dar completa atenção ao paciente.

—Geralmente me perguntam “o que aconteceu comigo?” primeiro.

—Não ligo para o que aconteceu.

—O senhor foi baleado, mas acho que disso o senhor lembra. Sofreu fraturas no baço e quebrou 3 costelas. – a médica voltou ao livro – Devia agradecer aos seus amigos, já que eles conseguiram te trazer a tempo. O senhor tem sorte, senhor...?

—Pare de me chamar de senhor, tenho quase sua idade. Meu nome é Karev. – Viu o rosto da mulher se contorcer, como se não fosse acostumada a esse grau de intimidade com os pacientes. – Qual é o seu?

Foram interrompidos ao ouvirem passos pesados pela escada do lado de fora. Karev viu a figura de seu amigo emergir da entrada – que estranhamente estava sem a porta.

—Você ta acordado, que bom – viu o alívio estampado na face de seu companheiro. – Obrigado, doutora, por ter salvado meu amigo.

A mulher só acenou com a cabeça, sorrindo levemente. Karev involuntariamente ficou fascinado com aquele sorriso.

—Por que não tem porta na cabana? – perguntou ao seu amigo.

—Quando eu e o Filippo te trouxemos, queríamos economizar tempo e acabamos quebrando a porta.

—Vulgo: queriam fazer uma entrada dramática. – Corrigiu a doutora.

—Sabe, eu posso consertar a porta, como agradecimento por ter salvado minha vida. – Karev sugeriu, satisfeito ao ver a doutora fechar o livro e lhe dar total atenção.

—Que tal quando você se recuperar? Não está em condições de fazer esforço agora.

—Certo.

—Fechado? – Lançou um olhar penetrante para a mulher, admirando a coloração avermelhada que as bochechas dela adquiriram. A mulher deu o veredito final.

—Fechado.

***

POV MÉDICA

Não sabia o motivo exato de ter aceitado a ajuda daquele soldado, já que era de seu conhecimento que conseguiria muito bem consertar aquela porta sozinha. Provavelmente sua decisão foi influenciada pelo olhar esquadrinhador que lhe fora lançado, ou talvez tenha sido os cabelos ruivos despenteados que lhe tiraram a atenção. Porém a mulher sabia muito bem que de todos os “n” motivos para ter aceitado companhia daquele homem, o único que tinha realmente certeza era de que o sorriso do soldado a conquistara. Não fora pela brancura dos dentes, ou pelo alinhamento dos mesmos, mas sim pela sinceridade e espontaneidade, algo que não era acostumada a ver em homens que lutavam nessa guerra sangrenta. Isso com certeza lhe chamara a atenção, desejando a companhia dele para que pudesse desfrutar de mais momentos assim.

Estava perdida em devaneios enquanto organizava o armário de remédios, repondo alguns – os mantimentos medicinais haviam chegado naquela semana, deixando a médica mais ocupada que o normal.

—Hey doc¹— Ouviu uma voz grave atrás de si, sobressaltou e acabou largando a ampola de vidro. – Desculpe atrapalhar, só que acabei ficando entediado e como só tem você aqui, pensei em...

—Nossa relação se restringe a médico-paciente. – Disse a moça, evitando olhar para o homem atrás de si. – Aliás, você não deveria estar descansando? Lembro-me bem de ter dado essa recomendação.

—Que chatice. De qualquer forma, não quero descansar, já estou recuperado.

A médica suspirou alto, sentindo os olhos do soldado queimarem em sua nuca. Ele bem que podia facilitar meu trabalho, pensou. Distraída, começou a pegar os cacos de vidro do remédio que estava caído no chão. Sentiu uma pontada de dor na palma da mão e logo após, uma queimação.

***

POV SOLDADO

A médica não percebeu a aproximação de Karev até o momento que este segurou seu antebraço e a puxou para cima.

—Ei, me solte!

—Deixe de ser teimosa, não percebe que se machucou? – Falou enquanto ainda puxava a jovem. Com outra mão, pegou um rolo de gaze e um unguento antimicrobiano que estavam sobre uma mesinha. – Sente aí. – Indicou a maca.

Pegou a mão dela e virou para cima, expondo o corte. Em uma rápida análise percebeu que não era profundo, porém sangrava, provavelmente havia cortado uma veia, já que a coloração do sangue era vermelho escuro.

—Você deve esterilizar primeiro, depoi...

—Pode ficar sossegada que eu sei o que estou fazendo. Acha que são só vocês, médicos, que sabem lidar com ferimentos? – Encontrou o olhar dela e sorriu, evitando que a garota achasse que ele havia falado aquilo para feri-la.

—Desculpe, é que... É que não estou acostumada sabe... – Usou a mão livre para coçar o pescoço, num claro gesto de constrangimento.

—Não é acostumada a quê? – Começou a passar o unguento na palma da mão da médica, que gemeu baixo.

—A ser tratada. Eu sou a médica, faço de tudo pra não ser a paciente porque me acho um tanto quanto controladora.

—Ah, entendo. Você seria um daqueles pacientes chatos que ficam dando palpite.

A mulher riu, e apesar da ardência na mão, aproveitou o momento, relaxando como não fazia em anos. Notou a proximidade entre os dois, mas não se incomodou.

—É, tipo isso. – O toque dele era suave enquanto enrolava a faixa na mão dela, um tanto inesperado para um soldado de guerra.

—Pronto. – Pegou as mãos dela e ajudou-a a descer da maca.

—Obrigada. Agora vá descansar.

—Só depois que você me disser seu nome.

Os dois se olharam. Talvez tenha sido culpa do horário, – já se passava da meia-noite – ou simplesmente foi a estática presente entre ambos que transformou aquela troca de olhares em algo não convencional.

—Emma. – Sorriu e saiu.

***

POV MÉDICA

Quando seu dia era muito cansativo e ficava se questionando sobre sua vida, Emma sempre buscava em sua mente os motivos que a levaram a prestar medicina e atuar no exército. Claro que tive que abrir mão de muitas coisas, todos têm, se quiserem alcançar seus objetivos, pensou. Abrira mão de tudo, principalmente de relacionamentos, já que achava isso um desperdício de tempo. Não tinha tanto contato com seus pais justo pela distância a que estava deles, ela também se afastou de seus amigos e parentes mais distantes; agora, tudo o que possuía eram livros e pacientes.

Emma não entendia o porquê de ser confrontada pelas suas escolhas justo agora. Gostava da vida metódica e minimalista que adquirira, estava satisfeita com seu estilo de vida, porém subitamente começou a achar tudo isso insuficiente, como se estivesse faltando algo. Ou será alguém?

Aquele pensamento ficou germinando em sua mente. Emma rolou pela cama, inquieta, e permaneceu assim até adormecer, exatamente quando os primeiros raios da aurora despontaram no horizonte.

***

POV MÉDICA

De uma coisa tinha certeza: não havia sido a luz penetrante matinal que a despertara, mas sim as sacudidas nada gentis em seu ombro.

—Hey doc, acorda.

—Você só pode estar de brincadeira...- Sentiu vontade de socar a face de Karev, até partir aqueles lábios carnudos ao meio.

—Já são quase 9:00 da manhã, você já tem outro paciente te esperando. Eu podia muito bem atende-lo, mas o cara pediu com todas as palavras pela “doutora sexy”. Se quiser eu o arrebento.

—Não há necessidade, obrigada. – Disse Emma, gotejando sarcasmo enquanto passava a mão pelas roupas amassadas numa tentativa de parecer mais apresentável.

Foi andando até a maca ocupada por um cara grandalhão – ainda tentando fervorosamente desembaraçar o cabelo com os dedos –, que conversava num tom alto mas amigável, com um outro homem. Provavelmente ambos do mesmo batalhão. Ela iniciou uma conversa com ambos, descobrindo que a causa que os trazia ali era uma torção no tornozelo. Emma seguiu todos os procedimentos que lhe foram ensinados na faculdade, caso alguém tenha sofrido alguma entorse. Levou cerca de 20 minutos para finalizar. Deu todas as recomendações e cuidados que devem ser tomados pelo paciente e dispensou-os.

Andou até o armário de remédios e pegou dois comprimidos de Aspirina e engoliu a seco.

—Não sei dizer se esse seu procedimento foi medicamente correto.

—Não se mete, Karev. – Encostou-se à parede e suspirou alto, tentando aliviar a tensão.

—Tsc, que mulher chata. Vem aqui, me deixe massagear seus ombros. – Karev puxou a doutora pelo braço delicadamente, virando-a de costas para si.

Emma não objetou. Sentia a pressão dos dedos dele sobre os nós de seus ombros e pescoço, desfazendo-os. Cada movimento trazia uma sensação quente por onde a mão dele passava, como se estivesse deixando um rastro.

Karev desceu até as escápulas da moça e depois até as costas, segurando a cintura dela por trás para auxiliar enquanto usava os polegares para realizar movimentos circulares na parte de baixo das costelas.

—Pensei que era só nos ombros. – Disse a mulher, sussurrando.

—Você está muito tensa, vou precisar fazer o serviço completo. – Sorriu, sussurrando no ouvido de Emma.

***

POV KAREV

Não conseguia fazer passar o formigamento em suas mãos, é como se a pele dela ardesse em contato com a dele, aumentando a sensibilidade em níveis absurdos. Karev não sabia dizer a última vez que havia sentido essa conexão com alguém, porém era inegável que havia algo de místico naquilo.

Terminou a massagem e observou como a médica se espreguiçava, como se estivesse testando seus músculos recém-relaxados. Achou o gesto adorável.

—Satisfeita?

—Como nunca – respondeu com um sorriso – obrigada, Karev.

—Precisando é só falar.

—Ah, isso me lembra que alguém me disse que ajudaria a consertar a porta, sabe.

—Pois é né, uma pessoinha também me disse que eu poderia ajudar assim que melhorasse.

—Você já está melhor, provou isso hoje, quando me seguia pra todos os lugares possíveis. E nota, sem reclamar de dor. – enfatizou a última frase.

—Tsc, que doutora má você é. Vamos lá então. – Começou a seguir em direção a porta. Quando viu que a doutora não o seguia, olhou por cima dos ombros para ela – É pra hoje, Emma.

—Sim, vamos terminar de consertar o mais rápido possível. – Seguiu o homem.

***

POV EMMA

A porta demorou uma semana para ficar pronta. A culpa, como diziam os jovens cansados, era dos materiais de conserto que foram difíceis de achar. Emma viu todo aquele tempo como uma desculpa para ficarem juntos, conversando e se aproximando cada vez mais.

Karev levantou-se do chão, deixando apenas Emma estirada no mesmo. Buscou uma faca serrilhada na cozinha e chegou próximo à porta. Emma apoiou o tronco nos cotovelos.

—O que vai fazer? – perguntou curiosa, tentando observar através do corpo maciço do homem.

Karev não respondeu de imediato. Ouvia-se apenas o barulho da faca contra a porta.

—Pronto, venha ver. – Ajudou Emma a levantar do chão e puxou-a para ver o que havia feito.

Ela não conseguiu conter a surpresa quando leu o que estava escrito na porta.

—Por que KAREV?

—Para você não se esquecer de mim, não esquecer que um dia um cara chamado Karev passou pela sua vida.

A doutora arregalou os olhos, estupefata. Não conseguiu desviar o olhar do homem, sentindo novamente a estática que os entrelaçava. Ela sentia como se ele estivesse esquadrinhando as profundezas de sua alma, descobrindo seus desejos mais profundos e trazendo tudo isso a tona, apenas fixando seu olhar no dela. É como se ele me tivesse antes de me ter.

Como que por atração gravitacional, ambos foram chegando mais perto um do outro, lenta e tortuosamente, esperando o momento de finalmente se colidirem.

Eles interromperam a trajetória no momento que alguém bateu na porta. Afastaram-se bruscamente.  A mulher abriu a porta com uma vontade imensa de não fazê-lo e com uma vontade mais colossal ainda de estrangular a pessoa que atrapalhou o momento.

—Ei doutora! – era o amigo de Karev, o que havia ajudado a trazê-lo até a tenda hospitalar – Trouxe uma carta para o Karev do comandante do nosso batalhão, posso entrar?

Emma abriu a porta, permitindo que o homem passasse, virou-se para procurar Karev, localizando-o em pé encostado na parede. Bem longe de mim.

—Ah, você está aí. Já está se sentindo melhor?

—O melhor que uma pessoa baleada pode se sentir. Você disse que trouxe uma carta do comandante pra mim?

—Sim, Tyler mandou te entregar. – Estendeu a carta para o amigo. – Aqui.

Emma observou de longe enquanto Karev lia o conteúdo, estranhando quando ele franziu o cenho e permaneceu assim até que abaixou a carta e voltou a falar com o amigo dele.

—Você sabia o conteúdo dessa carta? – mais acusou que perguntou.

—Sim Karev, Tyler acha que você já está bom o suficiente para voltar.

—Quem tem que julgar se estou bom o suficiente sou eu e a doutora. Diga para o Tyler que eu na...

—Não diga nada a ninguém. Você já está bom Karev, está liberado. – Emma deixou o recinto, enquanto suas palavras ainda pairavam na mente confusa do homem.

***

POV KAREV

Filippo já havia deixado a cabana faz tempo, mesmo assim Karev não conseguia se movimentar.

“Você tem até amanhã de manhã para ficar aqui, o comandante Tyler necessita urgentemente de sua presença no batalhão.”

“Não diga nada a ninguém, você já está bom Karev, está liberado.”

“Está liberado.”

Aquelas últimas palavras o feriram mais do que imaginava. Karev finalmente conseguiu se mover, indo diretamente para onde a doutora estava.

—Emma...

—Não Karev, não diga nada. – Ela estava arrumando novamente os medicamentos, que já estavam perfeitamente alinhados.

—Emma, você quer que eu vá?

—Karev, você não entende meus motivos.

—Isso não explica nada.

—Explica sim! – virou-se para ele com o rosto corado de raiva – Eu não posso me dar ao luxo de me envolver com um paciente, não quando minha vida se tornou minha carreira. Você chegou aqui e de repente mudou todo o sistema organizado em minha cabeça, chegou bagunçando tudo! Acha que eu posso permitir isso?

—Pode.

Ele viu como essa simples palavra causou impacto nela. Não esperou mais nenhum segundo, puxou a moça para si e a abraçou.

—Você pode fazer tudo o que você quiser fazer, já deixou seu intelecto decidir demais, agora é hora de ouvir seu coração, não acha? 

Ela nada disse, apenas deixou que ele segurasse ambos os lados de sua face e a beijasse.

Retribuiu.

***

POV MÉDICA

Deitada em cima do peito nu de Karev, observava pela janela os raios da aurora, enquanto era ninada pelo subir e descer da respiração dele. Guardou aquele momento em sua memória e em seu coração, sabendo que talvez nunca mais se sentisse daquela forma com outra pessoa e, como era uma mulher realista, sabia que a perspectiva de ver Karev novamente era mínima, devido ao perigo enfrentado pela posição dele.

Era quase hora de acordá-lo, mas Emma se sentia incapaz de fazer qualquer coisa que contribuísse para que ele se afastasse dela.

Uma lágrima solitária desceu pela sua face e escorreu pelo peito dele.

***

POV MÉDICA

Estava tudo pronto, Karev já estava à porta, apenas esperando até que o momento mágico não se dissipasse. Em vão.

—Emma... – sussurrou, enquanto prendia novamente a moça em um abraço. Segurou os ombros dela e fez com que os dois se encarassem. – Eu vou voltar, prometo.

Ela queria acreditar nele, queria poder pegar todas aquelas palavras e juntar em algo sólido, para que não fossem levadas pelo vento e fossem esquecidas. Emma sentiu seu coração apertar, como se estivesse prendendo Karev, como uma criança prende algo que gosta em suas mãozinhas frágeis. O destino seria o adulto que tiraria o homem de suas mãos. Mais especificamente, de seu coração.

Eles se beijaram apaixonadamente, como se fosse a última vez – ironicamente, para Emma seria, já que toda centelha de esperança ela tentava apagar.

Observou Karev indo embora, observou como os cabelos ruivos acobreados dele pareciam um complemento da aurora e como sua pele parecia reluzir, como se fosse inteiramente fogo. De uma certa forma ele era, já que conseguiu derreter o coração há muito tempo frio de Emma.

Ela agradeceu mentalmente pelos momentos proporcionados por aquela pessoa, que acendeu algo nela que por causa de suas escolhas, foi apagado.

Fechou a porta, tendo de súbito, uma ideia. Correu até a cozinha, pegou uma faca serrilhada e começou a raspar a porta embaixo da inscrição feita pelo militar.

KAREV
        E EMMA.

Então, chorou.

Seu coração foi acalmado por uma tranquilidade súbita. Eles não ficariam juntos fisicamente, mas de alguma forma, ficariam juntos para sempre.


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Notas finais do capítulo

¹ Doc: abreviação de “doctor”, que significa médico (a) em inglês.