Sweet Canada escrita por Anne P


Capítulo 1
Capítulo 1 ➳ Bem-Vinda ao Canadá, Harper


Notas iniciais do capítulo

Bem-Vindos a Sweet Canada (Doce Canada)
Espero que gostem, e se gostarem acompanhem, comentem, recomendem e favoritem. E façam uma autora feliz ❣
➳ Boa leitura.



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Olhei pela janela e continuava a mesma imagem de duas horas atrás, as nuvens e mais nuvens com a diferença que estava a escurecer. Ajeite-me desconfortavelmente na cadeira do avião e virei meu pescoço para encarar minha mãe.

Samantha May Allen lia seu romance calmamente enquanto escutava alguma música em seu iPod – certamente seria algum pianista famoso –, era possível ver seus olhos vermelhos enquanto absorvia as palavras daquele pedaço de papel, conhecendo-a tão bem como conheço provavelmente chorava enquanto comparava a vida amorosa da personagem com a sua vida fodida.

 As coisas não estavam fáceis, e não consigo lembrar-me ao certo o dia que estivera. Meu falecido pai Edwin, nos deixara em uma fatídica manha chuvosa quando, o ônibus que estava derrapara em uma ladeira, fazendo com que dos cinquenta passageiros, doze perdessem a vida e quinze ficassem com sequelas e infelizmente meu pai havia de ser um dos doze. Tinha apenas cinco anos na época mais ainda me lembrava claramente do final de tarde, quando um policial batera na porta e avisara do terrível acidente.

 Desde então tivemos nossa “maré de azar”, dois anos após a morte de meu pai e com minha mãe saindo recentemente de uma depressão, ela arranjara um namorado que até era bem simpático e demorou cerca de um ano para os mesmos se casarem e dois meses após lua-de-mel viera a notícia da nova gravidez.

 Não nego que nunca fiquei animada com a notícia, para mim, uma criança de oito anos sem um pai a última coisa que desejara era perder minha mãe, e em minha cabeça essa criança seria a linha tênue que separaria minha mãe de mim. Chegara a falar incontáveis vezes para meus amigos que não queria que o bebê nascesse e meu erro fora falar uma vez isso durante o jantar onde levei um tapa de Samantha.

 Eu era apenas uma criança e não tinha a noção do peso de minhas palavras, e acabei ganhando essa noção do pior jeito possível. Quando o bebe estava prestes há fazer cinco meses, durante a noite minha mãe sentia muitas dores e acabou indo para o hospital onde perdeu o filho e tivera que remover o útero.

 Minha mãe ficou arrasada assim como meu padrasto, ela dormia sob efeito de remédios e estava à beira da depressão novamente e ele bebia até altas horas, e durante uma dessas bebedeiras ele invadira meu quarto durante a noite e me batera enquanto dizia que eu era culpada pela morte de seu filho, quando minha mãe tentara intervir ele também a agrediu e isso durou cerca de nove anos.

 Nove anos indo de blusa comprida pro colégio, escondendo os hematomas. Nove anos minha mãe tendo de dormir após tomar vários comprimidos para dor no corpo. Nove anos aturando um bêbado dentro de casa. E o pior de tudo não podíamos ao menos expulsa-lo de casa, pois era o trabalho do infeliz que pagava a maior parte das contas, sem ele não duraríamos muito com o pouco que minha mãe ganhava em sua loja de doces.

 Até pouco tempo vivíamos assim, até que minha tia – irmã de meu pai – fora nos visitar, a grande advogada Marta Evans, chegou ao exato momento das agressões e presenciou tudo. Graças a ela meu padrasto fora preço e ganhamos indenização por todos os anos sofrendo em suas mãos.

 Isso nos leva a situação atual; minha mãe vendera a casa que era herança de família, e com o dinheiro da casa e da indenização estávamos nos mudando, e o pior de tudo para outro país. Minha mãe comprara uma casa e uma pequena loja no Canadá, ela estava levando a serio o conselho de tia Ivana – sua irmã –, que dizia que “O Canadá é um lugar doce para recomeçar”, isso porque conheceu seu marido lá caso contrário duvidaria que gostasse tanto assim do Canadá.

 Estamos há quatro horas neste avião, e ficaríamos mais três malditas horas. Chegaríamos de madrugada e teríamos de ir para a casa nova, já que minha mãe recusara a ficar na casa da nora de minha tia, e eu duvidaria que os móveis novos estivessem montados e em seus devidos lugares, provavelmente dormiríamos no sofá cama da sala.

 Viro-me novamente para minha mãe que estava já no final do livro e estava à beira de uma nova crise de choro, eu sinceramente esperava por ela que o Canadá fosse “um novo começo”, ela já sofrera demais e precisava de algo solido para se firmar.

   Espreguicei-me no colchão enquanto os raios matinais batiam em meu rosto, olhei ao redor atordoada não reconhecendo o lugar a minha volta, ate me deparar com minha mãe dormindo no sofá acima de mim que as memorias voltaram com um estalar de dedos.

 Havíamos chegado a Toronto por volta da meia-noite e meia, viemos pra casa – que era uma casa bem bonita por sinal – e como presumia os móveis estavam bagunçados, alguns ainda estavam nas caixas e coberto por plásticos e a maioria desmontados. Como estávamos cansadas da viagem, eu apenas peguei o colchão de minha cama não montada e o pus no chão da sala, desabando nele em seguida enquanto minha mãe se ajeitava no novo sofá cama aveludado.

 Levantei-me tentando fazer o mínimo de barulho para não acordar a morena no sofá. Andei pela casa explorando-a fascinada, a casa era grande e espaçosa. A sala era enorme com grandes janelas que davam para o quintal, a cozinha ficava ao lado com portas de correr que davam ao fundo da casa, onde tinha um gramado que estava em um tom bem fraco de verde, tinha o corredor onde havia três quartos e um banheiro.

 Voltei para sala à procura de minhas malas, encontrando minha mãe se espreguiçando no sofá. — Bom dia Harper. — Falou entre um bocejo e outro.

— Bom dia mãe. Dormiu bem? — Disse sentando-me no colchão a sua frente.

— Sim, pelo menos o sofá é mais confortável que aquela cadeira do avião. — Ri concordando com ela, aquela cadeira me deu dor nas costas. — Conheceu a casa já? — Perguntou se levantando, e dei um leve aceno com a cabeça confirmando. — Bem, a geladeira estava vazia e desligada e não temos nada nos armários, se importa de arrumar as coisas na cozinha enquanto vou ao mercado?

— Não senhora. — Falei levantando-me, minha mãe sorriu e deu um leve beijo em minha testa antes de pegar sua bolsa e partir em direção a saída, me deixando sozinha na casa nova.

Bem-vinda ao Canadá, Harper. — Falei para mim mesma antes de partir em direção a cozinha.


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Notas finais do capítulo

➳ Capítulo curto, introdução da História. Como tenho certeza que ninguém aqui quer ler sobre a mudança e arrumação da casa parei o capítulo por aqui e o próximo terá uma passagem de alguns dias e o capítulo será maior.
Comentem ❣



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