Passava a mão direita pelo rosto diversas vezes enquanto tentava se acalmar e conter as lágrimas que ameaçavam cair a qualquer instante. Ainda trajava as roupas escuras de luto que usara no velório e enterro de sua amada naquela tarde chuvosa. Sentia-se irritado, impotente e vazio. Mirou a face de Sasuke sentado à sua frente que olhava os blocos dos prédios vizinhos através da janela semiaberta da cozinha.

— Eu realmente não consigo entender Sasuke...se ela não tivesse vindo para cá nada disto teria acontecido. Eu sabia que essa família podre dela acabaria nos afetando de alguma maneira, demorou até demais na verdade. – Alegou levantando-se bruscamente e indo de encontro ao batente da pia.

— A chegada da Hinata foi algo imprevisível...eu fiquei extremamente nervoso quando a vi ali indo de encontro aos pais. Sinto muito, eu não consegui reagir a tempo. Eu não fiz nada. Me perdoe. – Explicou-se baixando a cabeça para esconder o semblante pesado que havia tomado sua face.

— Você não me deve desculpas teme, você não poderia ter feito nada já que estava em desvantagem. Eu jamais deveria ter deixado que ela visitasse a família sozinha. – Cerrou os punhos violentamente. – O culpado sou eu Sasuke! Agora eu não tenho mais a Hinata...e meu filho não tem mais mãe...eu simplesmente não sei o que fazer. – Derramou as lágrimas que antes segurava. – Eu me sinto perdido agora...

— Como você bem sabe eu passei por algo parecido a anos atrás, de verdade eu sei como se sente. Seu filho não tem nem dois anos ainda, tente se focar em cria-lo. Você e Boruto vão sofrer pela perda de Hinata, mas ele deve ser sua prioridade daqui por diante. – Disse tentando consolar o amigo, embora também sentisse que precisava de algum conforto. Naquele momento tudo o que mais queria era sua família de volta, mas em seu íntimo sabia que nunca mais os teria de volta.

Secou os vestígios de choro sem, no entanto, mudar o aspecto vermelho e inchado de seus olhos e tentou se recompor o máximo que pôde. Desencostou-se do balcão e foi de encontro a um envelope de cor parda que estava sem cima da mesa estirando a palma da mão sobre o mesmo enquanto o empurrava em direção a Sasuke.

— Aqui estão as informações que me pediu. Creio que tenha tudo o que deseja saber. – Informou imediatamente rumando a porta que interligava a cozinha e sala.

— Naruto? – Sasuke o chamou.

— Sim? – Virou-se minimamente para fita-lo.

— A noite você estará de volta? Não se esqueça que...

— Sim, eu sei. Não me esqueci de Hanabi. Agora preciso ir fumar um pouco. – Pôs-se a caminhar novamente e parecendo se lembrar de algo parou imediatamente.

— O que foi? Indagou se movendo lentamente na cadeira por conta dos curativos e faixas que ainda enrolavam seu corpo, por debaixo da camisa azul de mangas compridas encarando o loiro atrás de si.

— Obrigado Sasuke. – Deu um sorriso genuinamente grato e saiu.

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— A sessão está remarcada para sexta-feira no horário de sempre então, correto? Obrigada e bom trabalho. – Finalizou desligando a chamada e guardando o celular no bolso traseiro do jeans.

— Não foi a consulta com sua médica de doidos hoje, Tsunade? – Perguntou Sakura adentrando seu quarto carregando uma grande mochila cinza em suas costas.

— Eu não estou a fim de responder a suas provocações agora. Você trouxe o material que pedi? – A loira rebateu ficando de frente para a mais jovem deixando evidente a diferença de altura entre as duas já que Sakura não deveria ter mais do que um metro e sessenta de altura, o que de certa forma deixava Tsunade mais intimidante.

— Sim, Ino já havia deixado tudo preparado. Os cartuchos de munição estão todos aqui. – Depositou a mochila na cama e prosseguiu. – Peguei algumas pistolas também por precaução. Aliás, eu esbarrei com o cara loiro quando cheguei, ele estava com cara de poucos amigos mas parou pra me dar um “tchau” mesmo assim. Eu só acho que esses dois estão cada vez mais nos envolvendo em problemas, não sei se fico triste ou feliz por isso.

— Deveria ficar feliz da vida já que seremos bem pagas pelo serviço. – Viu Sakura jogar-se de bruços na cama e suspirar. – Vou pegar algo para comer, espero não encontrar apenas restos de pizza na sua geladeira outra vez.

Quando Tsunade já havia deixado o recinto, a rosada bufou afundando o rosto no travesseiro. – Meu apartamento virou uma pousada e eu não estava sabendo...

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Jiraya olhava o rapaz sentado no banco do passageiro do furgão negro se remexendo constantemente indicando que se encontrava inquieto enquanto passava a mão direita pelos cabelos lisos e medianos. Ao ver tamanha irrequietude, indagou:

— O que tanto te incomoda meu jovem? – Virou o rosto para mirar a face do homem enquanto dava leves batidas em seu cigarro no cinzeiro do automóvel.

— Você acha mesmo que vai ficar tudo bem lá dentro? – Encarou-lhe esperando por uma resposta sincera.

— Sasuke, não é? – Assentiu mesmo sem resposta dando uma tragada e voltando a bater o cigarro no cinzeiro. – Você não tem muitas opções a não ser confiar nelas e naquele seu amigo loiro, o tal Naruto.

— Eu não tenho certeza se posso confiar no que um homem que fuma dentro de um furgão todo fechado diz...- Rebateu sarcástico tomando um cigarro do maço de Jiraya que jazia sobre o painel do automóvel para si.

— Como eu disse, você não tem escolha já que ainda está com o abdômen furado e não poderia fazer muita coisa indo junto. – Devolveu com um sorrisinho presunçoso. – Logo mais faremos contato com eles já que está tão preocupado assim.

— Eu tenho motivos suficientes pra isso. – Disse olhando em volta da rua deserta através do vidro escuro do furgão e fixando o olhar na colossal construção a sua frente.