Estio_[DEGUSTAÇÃO] escrita por Senhorita VI


Capítulo 2
Capítulo 2 e 3


Notas iniciais do capítulo

Tentei postar mais capítulos juntos, mas não rolou. Vou postando de grupo em grupo.
Boa leitura!



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Triana

CAPÍTULO II

Vinha distraída pela rua. Olhar baixo, coluna ereta e os pensamentos presos na conversa que acabara de escutar no armazém, sobre a nova república e a repercussão político e social que a pequena cidade esperava sofrer – embora Triana muito duvidasse que qualquer coisa chegasse àquele lugar, que não fosse o vento trazendo poeira.

Do lado oposto da rua, alguém a observava atravessa a praça. Porte altivo, semblante completamente desinteressado de tudo, e uma aura que atraia olhares que ela nem mesmo parecia notar.

Giuseppe encantou-se com a cena. Lhe pareceu cena retirada de livros românticos, sobre mulheres admiráveis.

Giuseppe apreciava Triana e imaginava que, se houvesse tido uma filha, certamente gostaria que fosse como ela. Ele podia perceber todo o potencial da menina. Algo nela dizia-lhe que havia muito mais força, caráter e hombridade por trás daquela beleza irrepreensível.

— Triana!

Ela estancou e buscou quem a chamava. Então, sorriu, ao avistar o senhor simpático e de bochechas vermelhas, segurando duas cestas de vime – uma em cada mão.

— Senhor Giuseppe! – e apressou-se ao seu encontro – Não havia algum rapazote na feira que pudesse ajuda-lo com estas cestas? - E foi logo apressando-se em pegar um dos balaios das mãos de Giuseppe – Permita-me ajuda-lo, por favor.

O homem entregou-lhe a cesta mais leve, contendo hortaliças e algumas verduras.

— Obrigado, menina. Não pensei que fossem se tornar tão pesadas, após os primeiros quinhentos metros.

Ambos divertiram-se com a pilhéria e caminharam lado a lado, conversando amenidades.

Apesar de conhecer o Giuseppe há anos, Triana nunca havia tido motivos para ir visita-lo em sua casa. Sabia que era um homem solitário e contava apenas com a ajuda de uma criada, que tomava conta de sua casa quando estava em uma de suas longas viagens.

O sobrado erguia-se na rua estreita e, àquela hora da manhã, o sol alcançava apenas o telhado e parte do primeiro andar. Era uma casa muito bonita, apesar de parecer um tanto descuidada, com suas árvores carentes de poda e folhas secas cobrindo-lhe a entrada.

— Venha, menina, entre. – Giuseppe abriu a porta e deixou que Trianna cruzasse-a primeiro. – Não ligue para esta bagunça. E não me faça observações. Já bastam as de Tereza.

Era impossível não reparar em tanta bagunça. A sala era pequena, e de móveis, apenas uma espreguiçadeira, uma grande e pesada mesa de trabalho, duas cadeiras e estantes que iam do chão a quase o teto. Havia livros por sobre a mesa, abarrotados nas prateleiras das estantes e sobre a espreguiçadeira. Livros de contabilidade formavam duas grandes pilhas sobre a mesa e somente após um segundo olhar, Triana pôde perceber uma pequenina mesa de canto, ao lado da espreguiçadeira.

A menina estava atônita e deslizava o olhar embevecido pelas estantes.

— Deixe a cesta aí, Triana. – e enfiou a cabeça para dentro da casa – Tereza! Tereza!

Tereza, certamente, era a sua criada. Mas mesmo com todos os berros de Giuseppe, a mulher não apareceu.

— Deve ter saído. Venha, venha. – e tomou a cesta das mãos de Triana. – vou levar isso para a cozinha. O que acha de um chá?

Triana o olhou surpresa. Não era de bom tom permanecer sozinha na casa de um homem, ainda que este tivesse idade para ser quase o seu avô.

— Senhor Giuseppe, eu o agradeço imensamente, mas não posso...

— Ora, deixe disso, menina. Todos aqui me conhecem e sabem do apreço que sinto por seu pai e toda a sua família. Ninguém irá maldar a sua vinda aqui. Além do mais, você deve estar com sede. – antes que Triana pudesse protestar, Giuseppe concluiu – Hibisco ou damasco?

— Er.... Hibisco. – disse, não antes de titubear.

O homem desapareceu corredor a dentro, deixando-a a admirar – para o bem e para o mal – aquele amontoado de livros. Sempre gostara de ler e, na medida do possível, conseguia passar algumas tardes na biblioteca do convento. Claro que lá ela não encontrava títulos muito interessantes, mas dentre as moças que, por gostarem de leitura, frequentavam a biblioteca, havia o secretíssimo “contrabando” de romances.

Triana aproximou-se de uma das estantes e deslizou as pontas dos dedos pelas lombadas dos livros. Vitor Hugo, Shakespeare,  Brönté, Dostoievsky... autores que sempre desejou conhecer. Retirou um livro - com dificuldade por causa do amontoado – e abriu a capa dura e amarelada. O título era “Os miseráveis”, e Triana pôs-se a folheá-lo cuidadosamente.

— Gosta de ler, menina Triana?

Após recompor-se do pequeno susto, Triana fechou o livro e o devolveu à estante.

— Sim, senhor. Gosto muito. E o senhor tem uma biblioteca respeitosa. Parabéns.

Giuseppe sorriu orgulhoso, enquanto pousava as duas xícaras sobre a discreta mesinha de canto.

— Foram muitos anos de viagem e solidão. – ele olhou ao redor, para as estantes repletas de volumes dos mais variados temas – Estas crianças me fizeram companhia e me livraram da loucura.

— Deve ser um tanto enfadonho, viajar todo o tempo, não?

Giuseppe sentou em uma das cadeiras e ofereceu a espreguiçadeira para que a menina se sentasse.

— Nem tanto, pois sempre tenho pessoas queridas onde aporto.

Ela sorriu sutilmente, enquanto sorvia o chá quente.

— E você, menina, do que gosta?

A jovem pousou a xícara no pires, sobre a mesa e respirou, sentindo-se leve.

— Esta falando de livros?

— De tudo. Vejo sempre você ajudando sua mãe, cuidando da casa... Mas o que gosta de fazer?

— De coisas simples, senhor Giuseppe. Gosto de observar a natureza, enquanto penso. Gosto de ler, de cuidar do jardim... coisas simples.

— E não te apetece os passeios, as confeitarias e conversas com as garotas da sua idade?

Triana sorriu e um som suave escapou entre este sorriso.

— O senhor já deve ter percebido que não tenho muito em comum com as moças daqui. Algumas, talvez. Mas estas, assim como eu, não têm paciência para as revistas de moda, coquetearias e frivolidades. Às vezes as encontro na biblioteca do convento e conversamos um pouco. Mas elas, também como eu, têm pouco tempo livre.

— Na biblioteca do convento? Tem inclinações para a vida religiosa, Triana?

Desta vez, a moça riu e exibiu todo o seu sorriso e brilho no olhar, enrubecendo as faces e relaxando os ombros. Giuseppe a olhou encantado com o que via. Como se tornava a mais linda jovem, quando sorria assim. Como podia esconder aquele brilho radiante, em um olhar tão triste e severo?

— Não, senhor Giuseppe. Não conseguiria viver em um convento nem por um mês.

— Bom saber disso. O que eu diria aos rapazes, se eles perdessem a concorrência para Jesus?

Ela tornou a rir, cada vez mais à vontade e encantadora.

— Jesus não teria concorrência. Absolutamente.

Giuseppe esticou o braço e colocou sua xicara vazia sobre a mesa.

— Por que diz isso?

— “Diva”, é um romance um pouco audacioso, não acha?

Triana pode sentir um arrepio gélido tomar seu corpo, desde os pés até as raízes dos cabelos.

— Senhor Guiseppe?! – fechou o livro imediatamente, sem nem mesmo se preocupar em marcar a página, e ergueu-se em um salto. – Desculpe, não o vi chegar.

— Mas não era para ver mesmo. – o olhar divertido de Giuseppe não deixava claro seu propósito. Não era possível saber se estava zombando da sua situação, ou se teria intenção de delatá-la ao pai. – Eu a observava de longe, e vim de mansinho.

Já refeita do susto inicial, Triana voltou a respirar e engoliu seco, antes de perguntar.

— E, por que o senhor me observava... Ainda mais, com a intenção de me assustar?

Giuseppe irrompeu em um riso satisfeito. O atrevimento da menina e a maneira como empinava o queixo ao falar, mostrava que aquela seria, quando mais adulta, uma excelente duelista nos diálogos.

— Não, não menina. Não tive a intenção de assustá-la. Ao contrário. Não queria distraí-la, já que estava tão absorta nesta... – e esticou o olhar para ver, mais uma vez, a capa do livro – leitura tão interessante. Emília é uma mulher muito audaciosa e independente. Não teme ser influenciada pelo caráter da heroína?

— Ora senhor Giuseppe, se todos que lessem a Bíblia se tornassem cristãos exemplares, sendo influenciados pelo “Herói” do livro, o nosso mundo seria o éden, não acha?

Novamente, Giuseppe não conteve o riso.

— Não precisa ficar tanto na defensiva, menina. Conheço o seu caráter e sei que sua personalidade é tão sólida e impenetrável quanto uma pedra – e então ele tomou o livro de suas mãos. – Em que parte estava?

Triana piscou rápido, um tanto tensa.

— Na parte em que Emília escreve um bilhete ao Augusto, mas assina como Leucádia.

Giuseppe correu o livro e rapidamente o devolveu à Triana, na página exata em que ela estava lendo. A moça o fitou admirada e encontrou um olhar meigo e amigo.

— Ler é um dos melhores remédios para os males do homem. É conhecer o mundo e as pessoas, sem que, para isto, se precise sair do lugar.

Triana continuou parada onde estava, apenas absorvendo as palavras e vendo Giuseppe sumir entre as estantes de livros.

..............

 

Mais um vestido voava sobre a cama, para fazer companhia aos outros três, que já haviam sido descartados. Por trás do biombo, surgia uma Triana emburrada, com as faces rosadas pelo esforço de experimentar roupas, preenchendo um vestido azul petróleo com delicados bicos de renda branca, contornando o discreto decote.

— Este está muito bom. – ela não parecia estar tão satisfeita com o diagnóstico do irmão, mas Breno simplesmente ignorou a cara amarrada e as mãos na cintura. – Aliás, está perfeito!

Apenas para não retornar à maratona de trocas de roupas e acabar usando algo mais espalhafatoso, Triana deu-se por vencida. Trançou os cabelos em uma velocidade fenomenal e pendurou nas delicadas orelhas um par de pérolas.

— Pronto? – perguntou, enquanto erguia uma sobrancelha e pousava as mãos na cintura.

— Não. Agora coloca um sorriso no rosto. – Breno sabia exatamente como driblar o mau humor da irmã.

Triana simplesmente ergueu um dos lados dos lábios com o dedo, forçando um sorriso sem qualquer disfarce e arrancando risos do irmão.

— Então vamos lá.

Desceram as escadas de braços dados e uniram-se ao resto da família. O caminho até a casa de Damião seria feito de charrete, enquanto Jesus e Otelo seguiriam lado a lado, à cavalo.

Os vizinhos ofereciam um almoço pelo aniversário da bela Domitila, uma jovem galega que irradiava beleza e graça no alto dos seus dezoitos anos. Boa parte da vizinhança fora convidada e haveria dança, comida e bebida.

Jesus, claro, não via aquilo tudo com bons olhos. Para ele, não passava de uma esnobação. O que Damião queria era esfregar na cara de todos como vendera bem a sua safra e como era excelente comerciante, segundo seu julgamento.

Otelo, seguia ao lado do pai, escutando suas opiniões e afundando-se em lamentos de amor, sem saber o que fazer para ter Domitila. Já haviam até mesmo cogitado uma fuga, mas a vergonha não seria apenas das duas famílias. Domitila era símbolo de virtude e exemplo para as moças de toda a cidade. Ele sabia que aquela festa era um último ato desesperado de Damião, a fim de não dar o braço a torcer e admitir que fora cruelmente enganado e que a ruína batia à sua porta.

CAPÍTULO III

 

Não seria exagero dizer que todas as boas famílias da região estavam presentes. As moças mais formosas e elegantes, os rapazes bem afeiçoados e até os ex combatentes estavam lá, com suas medalhas no peito e olhares sempre assustados.

A música vinha de um conjunto de cordas, que fazia a animação. As moças estavam prontas, e afoitas, para as danças e corria-se o boato de que dois bois haviam sido abatidos para o churrasco.

Otelo e Domitila já faziam par para as danças, e Breno estava junto a outros rapazes, bebendo algo que parecia vinho e rindo. Se divertia como nunca.

Triana permaneceu junto a Isabel, enquanto Jesus discutia algum assunto com aos demais senhores. Certamente estavam comentando a “esnobação” do senhor Damião.

Depois de comer um pouco, divertir-se vendo Breno dançar e acompanhar sua mãe às rodas de conversa com as senhoras, Triana aborreceu-se de escutar fofocas sobre a filha de uma, que acabara de “enlutar”; sobre o marido da outra, que fora acometido de uma tosse que não passava; e outras amenidades. Pediu licença a sua mãe e escolheu o pátio superior, para sentar-se um pouco e de lá apreciar a festa.

Cumprimentou algumas pessoas pelo caminhou e respirou aliviada quando, finalmente, subiu a escada em forma de caracol e alcançou o pátio. Ele estava quase vazio, salvo por um par de garotas que conversavam secretamente ao lado dos gerânios. Triana sentou-se no banco de ferro, que fora pintado de verde, mas que, a esta altura, suplicava por uma segunda mão de tinta.

De onde estava, podia ver os casais dançando e ainda tinha uma vista privilegiada da enorme mesa, onde algumas pessoas aproveitavam para repetir a refeição.

Dava boas risadas vendo Breno rodopiar com uma moça, pelo espaço destinado à dança, quando fora atraída por um olhar insistente.

Um arrepio incendiou todo o seu corpo quando se viu presa no olhar daquele homem. Não o conhecia, e nem mesmo o tinha vista alguma vez pela Vila. Ele a olhava obstinadamente e havia em seus lábios um sorriso intrigante, discreto... quase imperceptível, mas estava lá.

De onde estava, o homem fez um gesto com a taça em sua mão, oferecendo a bebida à Triana. Instintivamente, ela balançou a cabeça, em negativa. Então, o viu sair de seu campo de visão, ao embrenhar-se por entre os convidados.

Procurando ser discreta, Triana esticou-se para procura-lo e até ergueu um pouco o corpo do banco, para buscá-lo além das plantas que caíam como cascatas do terraço, mas ele havia sumido.

Triana analisou a posição em que se encontrava e, por fim, concluiu ela não era o alvo do olhar daquele cavalheiro. De longe parecia muito elegante e bonito, então, certamente não era para ela que ele olhava.

Voltou a distrair-se com a dança empolgada de Breno, quando uma voz rouca e segura cortou sua tranqüilidade como uma adaga afiada.

— Desculpe incomodá-la senhorita, mas não pude me conter.

Ele estava ali, bem ali!

O homem que a observava de longe, estava agora ali, na sua frente. E que esplendorosamente lindo ele era. Triana não encontrou qualquer palavra que pudesse falar sem parecer uma tola. Ele tinha olhos tão azuis quanto o céu e seu porte era atlético, como se fosse um maratonista. Estava muito bem vestido e o sorriso... Ah, o sorriso! Era algo realmente inebriante.

— Não... O senhor não incomoda. Quero dizer... Não me sinto incomodada com presença alguma. Não que o senhor...

Ele sorriu largamente. Uma mão estava mergulhada no bolso da calça e a outra ainda segurava o cálice que, - agora ela estava certa – havia lhe oferecido minutos atrás. Com esta mesma mão ele apontou para o banco descascado.

— Posso? - Triana apenas acenou com a cabeça, permitindo que ele sentasse ao seu lado. – Qual a sua graça?

— Triana Marcussi. – respondeu sem muita certeza do que estava fazendo.

— Marcussi? – ele franziu a testa e depois, sorrindo, levou o cálice aos lábios e bebeu um pequeno gole. – Então, tem algum parentesco com o jovem Otelo?

— Somos irmãos.

— Irmãos? Vejam só... Que esperto é o Otelo. Está cortejando a minha prima, mas esconde em casa uma joia como esta. – os olhos azuis penetraram os seus com intensidade.

Triana não conseguia conter os impulsos nervosos que corriam por seu corpo. Pequenos espasmos contraiam de leve seu abdômen.

— Não sei do que o senhor está falando exatamente, mas compreendi que é primo de Domitila, certo?

— Sim. – e balançou a cabeça, mostrando-se um pouco constrangido – Me desculpe, por favor. Fui extremamente indelicado em não me apresentar. É que fiquei realmente entorpecido com a sua presença. Sou Renato Seabra, moro em Curitiba, mas vim ajudar o tio Damião em algumas contabilidades. Ficarei um bom tempo.

Aquelas palavras vibraram no cérebro de Triana como sinos de igreja: “Ficarei um bom tempo...”

— Que bom. Quero dizer... Espero que goste da Vila. Embora suspeite que, depois de morar em uma cidade como Curitiba, nada pode ser interessante em um vilarejo como este.

— Engana-se.

A palavra foi seca, cortante e perturbadora. Ele a observou atentamente por um tempo, e Triana pode sentir o olhar percorrer cada traço de seu rosto, cada mecha de cabelo. Ela também aproveitou para inspecioná-lo melhor. O cabelo preto era bem cortado e brilhante, o nariz aristocrático formava um conjunto harmonioso com os lábios finos e sensuais.

 - Tenho à minha frente tudo o que pode me interessar neste lugar.

Triana sentiu que o ar simplesmente parou ao seu redor. Apenas o coração pulsava veloz e gritante em sua garganta. Então, naquele momento, fez uma busca frenética e urgente em todos os livros que já lera, mas não encontrou uma única sugestão do que poderia ser dito em uma hora como esta. Ao menos, nada sensato.

— O senhor é contabilista?

Ele sorriu de forma encantadora e tomou mais um gole de seu vinho.

— Não. Sou comerciante. – ele a observou desviar o olhar para o movimento, no pátio de baixo, mas logo retomou sua atenção. - Tenho uma loja de tecidos bastante lucrativa no centro de Curitiba.

— E a sua temporada na Vila não irá atrapalhar os negócios?

— Não. Deixei pessoas de confiança à frente dos negócios.

— Ahãn... – então, ele era rico, bonito e inteligente. Triana logo pensou no porquê dele estar ali, conversando justamente com ela, se havia garotas muito mais interessantes na festa.

— E você... Se é que me permite chamá-la de você, é claro. – diante do consentimento mudo de Triana, Renato prosseguiu. – Então, e você, o que gosta de fazer?

— Gosto de ler... – e temeu amedronta-lo, com seus gostos “excêntricos”. Também gosto de caminhar, andar pelos campos e pela plantação. Gosto do ar livre.

— E das festas?

E se ela dissesse que não? E se dissesse que odiava as festas e que não fazia parte da ala coquete das mulheres, ele sairia correndo? Será que deveria mentir?

Triana suspirou profundamente.

— Não muito. Sou um pouco reclusa.

— Ah não... Por favor, não vá me dizer que você... – seu olhar se perdeu por um momento, mas voltou com ainda mais intensidade ao rosto de Triana. – Você não está comprometida, está?

Este foi o primeiro momento em que Triana se permitiu liberar a tensão. Ela soltou o ar e sorriu.

— Não. Não tenho compromisso algum.

Após um breve momento de contemplação e alívio, Renato estendeu a mão e quase tocou no rosto de Triana. Ele queria sentir se a sua pele era de fato tão suave quanto parecia, mas ela recuou.

— Desculpe, não quis atrever-me, mas... Por favor, perdoe meu atrevimento, mas você é tão... Bonita.

Desta vez o riso foi de nervoso e Triana teve que ajeitar-se no banco para liberar um pouco a tensão que se criou entre eles.

— É muita bondade sua, mas não. Não sou bonita e o senhor não precisa me agradar com isso. – ela achou que o melhor era ser sincera e não fazer joguinhos. Se ele estava tentando enganá-la e a estava julgando uma presa fácil para os caprichos, aquilo deveria acabar ali. – Aliás, acho que o senhor está perdendo seu tempo comigo. Há moças muito bonitas, elegantes e vivazes lá embaixo. Tenho certeza que o...

— O meu tempo está sendo muito bem empregado aqui, onde estou. E, para que saiba, você é uma senhorita muito mais bonita que qualquer uma daquelas lá embaixo.

Desta vez, ela não pôde conter o impulso e levantou em um só salto.

— Senhor Renato, por favor. Acho melhor pararmos por aqui. – e olhou nervosamente para os lados, receando que alguém os observasse. Ele só podia estar brincando. Ou, então, estava entediado e tencionava divertir-se um pouco, iludindo-a – É evidente que o senhor bebeu além da conta e é mais evidente ainda que eu não estou interessada em galanteios. Portanto...

Ele também se levantou e segurou na mão de Triana, levando-a aos lábios.

— Por favor Triana, não me julgue desta forma. Não sou homem de grande consumo de álcool e muito menos de galanteios vis. – ele a encarou, mostrando toda a sinceridade que tinham suas palavras. - Não sou um garoto de vinte anos. Já passei da casa dos trinta e já conheci incontáveis mulheres por onde passei. – ele sentiu que ela puxava a mão, tentando livrar-se de seu toque, mas conseguiu mantê-la um pouco mais entre as suas mãos. – Não estou fazendo joguetes e nem pretendo subjugá-la ao constrangimento. Por isso, gostaria de vê-la outras vezes, em público. Talvez na companhia de sua mãe ou de uma amiga.

Correr, correr e gritar, eram os impulsos de Triana. Não de medo. Ou talvez fosse sim, um medo imensurável do desconhecido. Do que nunca havia acontecido e do que nunca imaginaria acontecer. Ela puxou a mão repentinamente e segurou as saias, para não tropeçar nos tecidos e cair, quando saísse com o coração aos pulos.

— Com licença senhor Renato. Estou certa de que minha mãe está me procurando.

Rapidamente desceu as escadas e não se atreveu, nem por um segundo, a direcionar o olhar para o alto do terraço. Embora nem precisasse olhar para saber. Triana podia sentir o olhar de Renato onde quer que fosse, durante os eternos minutos até o momento em que subiu na charrete e partiu com Jesus e Isabel.

 


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Notas finais do capítulo

Apesar da história já está termina, ainda não postei tudo porque venho fazendo algumas pequenas mudanças. Mas todo dia posto uma coisinha a mais, ok?
Espero que estejam gostando. Se possível, me deem um feedback, pleease!rsrsrs



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