A resistência de Dorne escrita por Vitgimenes


Capítulo 5
Capítulo 5 - Mukyf




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 Mukyf

Sob a luz do luar, Mukyf aquecia seu corpo do frio noturno desértico do seu jeito preferido. Preenchido de ódio, o gigante subia de volta a colina até à residência de Rodrik Pine tirando a vida de todos aqueles que entravam em seu caminho. Apesar dos golpes que recebeu, cinquenta soldados não foram suficientes para segurar a máquina de quebrar ossos de conseguir sua vingança. Alguns tiveram coragem de encarar a morte ao enfrentá-lo, outros pediam, em vão, por clemência e alguns fugiam na esperança de escapar com vida. Ao chegar no topo, via o olhar de medo dos dez soldados que protegiam a residência. Deu um grito de intimidação e correu em direção a casa, nenhum soldado sendo corajoso o suficiente para enfrentar o homem de dois metros e meio de altura que segurava um mangual gigantesco em uma mão, um escudo de corpo na outra, o peito tingido de sangue e o olhar de fome por luta.

Quebrou a porta da casa e depois a do quarto com seu escudo. Estava escuro mas conseguia sentir a presença de duas pessoas na cama. Presumindo que seriam Lara Pine e seu marido, Mukyf largou seu escudo, puxou um dos corpos com a mão livre e então o acertou com seu mangual conforme ouvia gritos femininos. Atingira Rodrik Pine mas ainda não sabia onde, ele ficara quieto após o golpe – provavelmente desmaiara, ou então morrera. A luz que vinha da tocha acesa na sala agora iluminava fracamente o gigante e os dois nobres. Ao lado da cama a Princesa se afastava no canto do quarto chorando e pedindo clemência. Quebra-ossos segurava Rodrik em sua mão esquerda e agora percebia que seu golpe havia arrancado uma de suas pernas. O arremessou na cama fazendo o corpo quicar sem sinais de vida. Olhou para Lara e disse:

— “Comece a falar princesa. O que vocês fizeram com meu amigo e como vocês vão nos tirar dessa?”

— “Porque voce esta aqui? Do que voce esta falando? Seu maluco olha o que você fez com meu marido! Só os sete deuses sabem o que o exército dele vai fazer com você agora”, dizia em meio a choro e gritos. “SOLDADOS ME AJUDEM!”

— “Os soldados não podem te ajudar agora princesinha. Somos eu e você. E é bom você começar a falar porque meu amigo começou a cuspir sangue e tem certeza de que vocês ferraram com ele. Se você não falar, a próxima aleijada é você”

— “ALGUEM ME AJUDE RAPIDO!”, gritou Lara enquanto Mukyf se aproximava dela. “Vá em frente, me mate e não sobrará ninguém pra te contar o que aconteceu sua massa de músculos sem cérebro”

— “Matar? Quem aqui falou em te dar esse privilégio? O negócio é o seguinte, ou você me fala logo o que aconteceu ou eu arranco cada pedaço seu até que você finalmente me conte”

E foi dessa forma que procedeu. Lara gritava para que os guardas a ajudassem mas nenhum deles vinham, Mukyf sorria porque sabia que havia assustado todos e nenhum deles chegaria perto dele. Não precisou torturar muito a princesa para ela revelar a verdade. Garth estava certo, eles haviam sido envenenados. O veneno estava no vinho e chamava “Espinho de Cacto-Roxo”. Ela disse detalhes sobre onde ele é feito, como é extraido e outros detalhes mas Mukyf não entendeu nada – a única coisa que compreendeu e que o deixou inconformado é que não havia antídoto. É bom você dar um jeito de curar meu amigo, senão você vai morrer bem lentamente. A princesa disse algo sobre eles serem estúpidos de não perceberem que estavam bebendo o vinho sozinhos, mas ele não entendeu o que ela quis dizer.

Quando estava pronto para finalizar e matar os dois, Mukyf sentiu sua garganta ficar presa, sua visão turva e teve uma imensa vontade de tossir. Se desequilibrou, buscando um ponto de apoio nas paredes do quarto enquanto tossia e sentia sua garganta e seu peito queimarem. Ouviu gritos e viu movimentos dentro do quarto. Que diabos está acontecendo? Estou alucinando? A tosse não parava. Sangue continuava saindo pela sua boca. Sem forças para se sustentar apenas implorava que aquela agonia passasse. Após alguns minutos sofrendo, aos poucos voltou a ter consciência do que estava acontecendo. Rodrik e Lara Pine estavam mortos na cama, ambos com flechas fincadas em seus peitos. No quarto havia quatro pessoas. Pelos sete deuses o que está havendo? Onde eu estou? Quanto tempo fiquei inconsciente? Ouvia vozes mas não conseguia entender o que elas diziam. Após mais alguns instantes um homem que nunca vira estendeu a mão e o ajudou a se levantar dizendo: Obrigado “quebra-ossos”, você ajudou a trazer paz à Hellholtz.

— “Do que você ta falando e porque você matou os dois? Eu tava investigando eles!”, disse furioso e ainda meio tonto. Segurou o homem pelas suas roupas e o levantou contra a parede.

 - “Investigando? Quando eu entrei aqui você estava cospindo sangue e Lara ia te atacar com uma faca. Nós salvamos sua vida. Mas só porque você criou essa oportunidade para mim. Trouxemos seu amigo também. Er... Barril o “nome” dele? Um amigo meu de confiança chamado Danyel está cuidando dele na sala. Mas sinto dizer que o caso é grave. Não sei se ele tem a resistência que você possui para ficar vivo depois de um incidente desses”

Barril! Já estava me esquecendo. Soltou o nobre. Foi à passos largos até a sala onde encontrou seu amigo deitado no sofá, sangue escorrendo de sua boca. Ele ainda respirava, mas estava inconsciente e um homem cuidava dele. “É bom voce mantê-lo vivo, senão você morre junto com ele”. “Sim senhor”, disse Danyel tremendo de medo. E então Mukyf lembrou de seu outro amigo. Foi em direção ao nobre e voltou a enforcá-lo enquanto gritava:

— “E Ragnar? Onde é que ele está? O que vocês fizeram com ele?”

— “Ele voltou”, o homem respondeu enquanto mandava os guardas, que tinham suas espadas preparadas, afastarem-se. “Garth estava sozinho na taverna, mas a taverneira disse que o outro gigante foi com o filho dela para o Salão das Velas”

— “Aquele maldito”, respondeu soltando o homem, “se ele morrer no caminho eu mato ele”

— “Er.. Mukyf seu nome né? Tenho muito a fazer. Meu nome é Darrik Syrus, vou deixar você, Danyel e Barril descansando aqui. Fiquem a vontade, meus criados vão trazer comida para vocês – e prometo que não estará envenenada, se eu quisesse te matar eu teria deixado a Lara fazer isso”

— “Quem diabos é você e porque você está fazendo isso?”

— “Descanse, fique com seu amigo. Depois conversamos melhor.”

E foi o que Mukyf fez. Seu corpo estava cansado e machucado de todos os soldados que enfrentara, sem falar do veneno que desde que sua visão ficara turva no quarto o deixara com uma dor tremenda. Não entendia o que estava acontecendo, mas criados o serviam e ele aproveitava. Seu amigo ainda dormia e Danyel cuidava dele, Mukyf desconfiado e sempre intimando o homem a fazer o máximo que ele pudesse por Barril. Após ter seu corpo adormecido pelo vinho, fechou os olhos e se permitiu sonhar por algumas horas.

Após acordar,Garth ainda dormia, mas o curandeiro dizia que sua temperatura corporal estava melhor – o pior havia passado, ele provavelmente iria sobreviver. Em um certo momento dois criados arrastaram o tapete para abrir uma porta que ficava embaixo dele. Ali havia uma escada levando ao porão e eles estavam por algum motivo segurando dois pedaços de carne. Curioso, Mukyf os seguiu para o andar de baixo.

Lá havia uma enorme jaula, e dentro dela um grande animal negro com listras brancas. Era um felino gigantesco, parecia-se com um tigre. O animal e o gigante ficaram se encarando enquanto os criados, com medo, se aproximavam para jogar a comida para o bixo. Algo naquele animal deixou Mukyf fascinado. Ele o encarou e recebeu um olhar de volta. Seus olhos vermelhos lembravam o gigante de todo sangue que derramara. Lembrou de todas as vezes que o reprimiram pelas ações que havia tomado. Por ter machucado ou matado algum nobre importante, mas que ele não dava a mínima. Intrigas, linhas de sucessão, poder. Mukyf cuspia e tinha nojo de todas essas coisas. Com um bixo desses ao meu lado, seriamos só nós dois, sem motivos para nos segurar de nossos instintos. Lembrou-se do seu descontrole há muitos anos atrás. Com esse animal, posso finalmente ser livre. Livre para agir como quisesse. Bastava isso. Ter alguem ao seu lado que não fosse reclamar, não tivesse nojo e muito menos se importasse com as consequencias de suas ações. Ali, na sua frente, o amigo que sempre sonhara em ter.

— “Que tipo de animal é esse?”, perguntou Mukyf

— “Um gato-das-sombras. O lorde... digo, o antigo lorde Rodrik comprou de um caçador que veio do Norte para cá. Você.. não tem medo dele?”

— “Medo? Soltem esse animal, eu vou domá-lo”

— “Domá-lo? Você está falando sério?”

— “Eu pareço estar brincando?”, disse ainda encarando o animal que o olhava em silêncio

— “Aqui está a chave”, respondeu enquanto os dois saíam após ter jogado comida pro animal, que nem se mexia

Mukyf pegou a chave e abriu a jaula, depois se afastou lentamente. O gato-das-sombras o encarava. Se afastou e o bixo saiu lentamente de la e se aproximou do gigante. Sentiu seu cheiro e até chegou a lambê-lo, mas em nenhum momento pareceu querer ataca-lo. Mukyf passou a mão na cabeça dele e o olhou de perto dizendo: “Você vai se chamar zebra, meu novo animalzinho”. Pegou as carnes da jaula e o alimentou. Passou várias horas ali com o animal. Os criados iam e vinham, sempre mantendo uma certa distância, dizendo que os dois tinham algum tipo de conexão inexplicável. Mukyf só imaginava como seria de tirar o fôlego lutar ao lado de um animal tão gigante e esperava que esse momento acontecesse logo.

Após algumas horas subiu de volta para a sala com seu novo animal, todos os criados ficavam a uma distância segura dele e Mukyf adorava aquilo. Garth continuava dormindo mas já não parecia estar tão branco. Algum tempo depois Darrik chegou à casa, escortado por um homem de cabelos enrolados que usava uma tunica amarela leve e levava uma espada bravosii em sua bainha. Não lembrava direito da aparência de Darrik, mas ele parecia estar muito mais bem arrumado agora do que da ultima vez que o havia visto. Possuía cabelos castanhos claros encaracolados que iam até seu ombro, tinha uma pequena barbicha no rosto e usava tecidos de seda leve por cima de uma armadura de couro, ele era razoavelmente forte.

— “É uma honra estar novamente com você, Mukyf. Que os deuses nos abençõem. Vejo que você fez um novo amigo nesse pouco tempo que me ausentei. Ouvi dizer que Rodrik estava tentando domar o animal, mas embora ele tenha contratado alguns especialistas ninguem conseguiu fazer ele respeita-lo. Talvez o animal estivesse esperando por alguem maior. Espero que você consiga controlá-lo, senão seria muito triste para toda Dorne perder um lutador tão poderoso por um deslize tão pequeno”

— “Não se preocupe nobre, eu sei diferenciar coragem de não ter medo”

— “Nobre? Me chame de Darrik por favor, apesar de eu ter virado um Príncipe. Agora vocês estão em território da Casa Syrus sabia? Os estandartes azul e cinza se erguem por toda Hellholtz, com o lema: “Força, Fé e Justiça”. Por sinal, nosso sigil é o de um gato negro. Que coincidência você ter o encontrado. Espero que sempre se lembre dele como um presente da Casa Syrus para você.”

— “Casa Syrus, do que você ta falando?”

— “Lara Pine era minha tia. Todo o resto de sua família morreu, eu era o próximo na linha de sucessão. Mas o sobrenome Pine já levou muita desgraça para essa cidade. Prefiro levar o nome de minha mãe e não o de meu pai nessa nova fase. “A revolução Syrus”. Será que é assim que lembrarão desse evento? Você é o principal envolvido nisso, Mukyf. Espero que se orgulhe disso.”

— “Desde que vocês estejam do nosso lado da rebelião, ele com certeza lembrará. Agora me tragam um gole de vinho”, disse Barril em meio a tosses, enquanto Mukyf gargalhava e ia lhe dar um abraço. O gordo finalmente tinha acordado mas estava longe de ficar bem. Darrik explicou à ele tudo que havia acontecido enquanto ele se embebedava novamente depois de tomar um susto enorme quando o gato gigante lambeu seu rosto.

— “Presumo que você tenha um motivo bem razoável para você ter deixado meu amigo gigante aqui vivo. Ninguém deixaria vivo uma besta desse tamanho sem uma boa razão.”

— “Vejo que você entende como o mundo funciona, Garth. E você esta certo. Manti vocês vivos, afinal somos aliados nessa rebelião. E posso mantê-los vivos na viagem de volta pelo deserto. Mas para isso você me precisa fazer um favor, Mukyf.”

— “E o que seria esse favor, nobre?”, disse o gigante irritado, como se ele precisasse de ajuda para se manter vivo.

— “Ser meu campeão em um julgamento por combate”      


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