Crônicas de uma galáxia escrita por Mrs Dewitt


Capítulo 38
Passarinho Verde




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/697473/chapter/38

            sei exatamente por quê, mas naquela amanhã eu acordei mais cedo do que ele. Tentei não acordá-lo ao sair do seu abraço, e arrumei as cobertas antes de deixar o quarto.

            - Tudo bem amor? – Ele murmurou, sonolento, se virando para mim.

            - Tudo sim, vou tomar banho. – Respondi, o beijando no rosto antes de pegar a toalha e atravessar o corredor em direção ao banheiro.

            O universo estava me mandando a mensagem de que hoje era um dia importante, e eu me sentia bem, animada. Cantava algumas músicas no chuveiro, enquanto observava a Luz do sol da manhã entrando pela janelinha e iluminando o aposento. O dia prometia.

            Eu só não sabia que prometia algo ruim.

            Quando terminei, enrolei-me na toalha e voltei para o quarto. Encontrei o Marco sentado na cama, olhando os pés.

            - Que foi? – Perguntei, me sentando ao seu lado, água pingando dos cabelos molhados nos meus ombros.

            - Tenho que te contar uma coisa. – Ele respondeu, segurando minha mão. – Mas se veste primeiro, eu espero.

            - Okay. – Concordei, tentando entender. Não estava realmente preocupada, depois de tanto tempo com ele, naquela vida, eu tinha desacostumado a levar rasteiras da vida, e a suspeitar dela.

            Quando terminei de vestir a bermuda e a blusa velha e gasta que eu gostava de usar – dele, me sentei novamente ao seu lado, esperando o que viria a seguir. Ele respirou fundo, seus olhos nos meus, e só naquele segundo eu percebi que alguma coisa estava errada.

            - Minha mãe descobriu que tu fugiu de casa.

            Deixei que a realidade se assentasse na minha mente, pouco a pouco. Foi como sentir um peso sendo colocado nas minhas costas novamente.

            - Como? – Murmurei.

            - Alguém nos viu, e nos entregou. Conseguiram o número aqui de casa e falaram com a sua mãe, e ela já falou com a minha. – Ele pareceu desmoronar. – Ela quer que você volte para casa amanhã.

            Um golpe forte e certeiro na boca do estômago, que me fez cair para o lado em direção ao colchão, levar as mãos ao rosto e chorar como eu não chorava em meses.

            Ele me abraçou, e ficamos deitados. Suas mãos desenrolando os nós do meu cabelo que começava a secar, enquanto eu sentia como se estivesse prestes a desaparecer. Era como se, de um dia para o outro, eu recebesse um aviso de que morreria da pior maneira possível, abandonada e esquecida, e só pudesse esperar que tudo acabasse.

            Passamos o resto do dia no quarto, evitando qualquer contato com o mundo. Eu já tinha perdido a vontade de viver que ele tinha trazido de volta para mim, e várias vezes o ouvia murmurando “por favor, não fica depressiva de novo, eu não aguento te ver assim e não pode fazer nada”. Tentava segurar as lágrimas e a sensação de vazio crescente dentro de mim, mas cada vez que me lembrava de que em algumas horas estaríamos separados, mais a certeza de que eu não conseguiria resistir aumentava.

            E quando a minha sogra chegou em casa, não conseguia falar com ela. Sentia vergonha da pessoa que eu era, e só queria me deitar no chão frio e chorar até que todo o meu corpo sumisse da atmosfera. Ela, por sua vez, me passou o telefone e pediu para que eu falasse com a minha mãe.

            Ela, apesar de doce, disse-me que eu era obrigada a voltar para casa, independente de qualquer coisa que eu pudesse dizer, e que iria comprar a passagem para dali uns dias. Ouvir aquela voz, que tantas vezes me ignorou quando eu precisava, só fez com que a raiva crescesse dentro de mim, feroz e animalesca. Destilei veneno em todas as respostas para as perguntas de falsa preocupação e sermões sobre irresponsabilidade.

            Quando desliguei, pedi desculpas por tudo que tinha causado, e me arrumei para passar o fim de semana na casa do meu sogro, como combinado semanas atrás. Cabeça baixa, pés arrastados, lágrimas nos olhos e arranhões nos braços.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Crônicas de uma galáxia" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.