Crônicas de uma galáxia escrita por Mrs Dewitt


Capítulo 25
Reencontro




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          Tentei não parecer muito animada no café da manhã. Tentei me vestir devagar enquanto me arrumava para “dar uma volta no centro” com a Martina. Tentei não pular e rir loucamente enquanto fechava o portão e caminhava rumo à rodoviária.

            E tentei parecer tranquila, mas caminhava rápido. Chegamos à rodoviária na metade do tempo que eu levaria se andasse normalmente. Por um tempo, todo o medo que eu sentia de que algo ou alguém interferisse e algo desse errado sumiu, e eu só me sentia ansiosa.

            Quando paramos em frente à rodoviária, ele estava lá, escorado numa parede. Deu alguns passos, e abriu os braços. Também tentei não correr – achava bastante ridículo sair correndo, já que ele não fugiria de mim, e me joguei nos seus braços. E nada mais importava.

            Eu ainda não conseguia acreditar que tinha realmente acontecido, que ele realmente estava lá, me abraçando. Eu me sentia leve, e bem. Ele cumprimentou a Martina, e seguimos de mãos dadas até um mirante sobre o rio, no meio de uma pequena floresta, que a prefeitura tinha feito para os visitantes.

            Era escondido e quase ninguém ia lá. Para mim, parecia perfeito.

            Eu estava sentada na murada, observando as árvores a nossa volta e conversando com ele.  Martina tinha se deitado sobre o chão de madeira, e tentava dormir. Ela já tinha percebido que era uma presença quase desnecessária por ali.

            Ele se aproximou de mim, colocando uma das mãos de cada lado das minhas pernas, sobre a murada de madeira. Eu prendi a respiração, perdida naqueles olhos castanhos. Aquela constelação era tão perfeita, que eu ficava extasiada com a ideia de ter me escolhido. Levei uma das mãos ao seu rosto.

            - Eu gostei da barba. – Murmurei, a acariciando. – Pode deixar.

            - Okay, vou deixar então. – Respondeu, ainda me olhando. Eu respirava lentamente, sentindo seu cheiro. Fechei os olhos por um instante, querendo gravar aquele momento, e ele me beijou.

            E, do modo mais natural possível, aquilo evoluiu para o verdadeiro beijo. Deixei que minhas mãos fossem para as costas dele, enquanto ainda sentia suas mãos no meu pescoço.

            E aquela tarde foi perfeita.

            Pude ouvir sua risada mais uma vez. E duas, e três vezes mais. E pude me sentir amada mais uma vez, nos braços dele. E mais uma vez, aquela certeza absoluta de que, por ele, eu faria qualquer coisa.

            - Guapa. – Ele me chamou, parado a minha frente. Eu tinha deitado a cabeça sobre seu ombro, tentando guardar aquela sensação na minha memória. Levantei, fixando seus olhos.

            - Oi. – Murmurei, sorrindo.

            Ele deu um passo para trás, e tirou uma pequena corrente do pescoço. E, pendurada nela, havia uma aliança.

            Senti meu coração bater mais forte, enquanto o observava abrindo a corrente e retirando a aliança prateada. Ele me olhou.

            - Eu não posso te deixar andando por aí sem que as pessoas saibam que tu tens um namorado. E não posso estar contigo sempre, pra espantar os garotos que venham te incomodar, mas isso pode.

            E colocou a aliança no meu dedo, na mão direita.

            Foi só então que percebi que ele já estava usando a dele.

            Mais tarde, em casa, vi que dentro daquele aro de prata estava escrito “Guapo” e a data do início daquela aventura maravilhosa, “10/11/13”.

            - Bom... – Comecei. – Agora eu já posso começar a esperar o dia em que essa aliança vai trocar de mão?

            Ele riu. Uma risada linda.

            - Eu já espero faz um bom tempo, meu amor.

            As horas foram passando, e o sol começou a se pôr. Estávamos nos minutos finais do nosso dia, quando o que eu mais temia acontecer, aconteceu.

            Algo deu errado.

            Eu e o Marco estávamos sentados num dos cantos do mirante de madeira, conversando de mãos dadas, alheios a tudo no mundo. E então, não sei exatamente da onde, dois moleques metidos a assaltantes apareceram, pedindo nossos celulares.

            Martina entregou o dela e o meu – que estava com ela. Ao pedirem o do Marco, ouviram uma negação. Ele não iria entregar o celular para duas criaturas mais novas do que eu, que de assaltantes só tinha à vontade.

            E eu ouvi o som de um tapa.

            Não sei como meu cérebro conseguiu desligar no exato momento em que bateram nele, mas eu não vi nada. Vi eles na minha frente, ouvi um som e segundos depois os vi indo embora.

            - Tá tudo bem? – Perguntei pra ele, analisando seu rosto. A pele doente não parecia estar realmente machucada, mas eu estava preocupada.

            - Eu estou bem amor, tu está? – Ele perguntou, se levantando. Não tive tempo de responder por que, ao me virar para perguntar se a Martina estava bem, ela chorava.

            Acontece que, diferente do meu celular, o dela era de última geração e tinha custado uma pequena fortuna. Ele murmurava coisas do tipo “meu pai vai me matar” e “meu celular, levaram meu celular” por todo o caminho até a rodoviária.

            Ligamos para os meus pais de um telefone público e, antes deles chegarem, Marco foi embora.


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