Crônicas de uma galáxia escrita por Mrs Dewitt


Capítulo 16
Fenômeno Astronômico




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Pela primeira vez naquela semana, fez frio. E não foi um friozinho leve. Fui buscá-lo na rodoviária vestindo um casaco daquela vez.

Era nosso último dia juntos. Amanhã, ele iria embora. Amanhã, um avião o levaria pra longe de mim, mais uma vez. 

O abracei quando ele desceu do ônibus, e caminhamos de mãos dadas. Eu não sabia exatamente aonde iríamos, mas não me importava também. E, seguindo o fluxo das pessoas pelas ruas, fomos parar na praça da cidade.

Era uma praça redonda, com um mirante, um chafariz, duas pracinhas para crianças e um monumento á primeira fábrica de grande porte da cidade. Nos sentamos em um dos bancos nas laterais da praça, sob um plátano. O dia estava nublado, e ameaçava chover. O vento frio brincava de congelar narizes e pontas dos dedos.

Ele se escorou em mim, a cabeça no meu ombro e os braços me enlaçando. Conversamos um pouco, mas o silêncio quis se instalar entre nós, e acabamos por lhe dar espaço. Eu não sabia, mas ele estava ali por ordem do destino, que preparava para nós um fenômeno astronômico que marcaria nossa galáxia para sempre.

Talvez não tenha ficado claro, então me sinto na obrigação de me explicar: veja bem, eu nunca tinha beijado ninguém na minha vida. Doces 15 anos e era ingênua e inocente como um flor. Então, quando ele encostou seu rosto no meu, ainda de olhos fechados, eu senti todo o meu corpo entrar em estado de alerta.

            Eu sentia a ponte do seu nariz, e seus cílios. Sentia sua respiração quente no meu pescoço, e uma das mãos subindo pelo meu braço até os ombros.

            De algum modo, minhas estrelas ativaram minha síndrome do pânico, e eu não conseguia me mexer. Não era como se não quisesse, mas eu não fazia a mínima ideia do que fazer.   

            Começou a chover. Eu sentia a chuva nos meus braços, e aos poucos encharcando meus tênis e cabelo. E mesmo assim, não me movia. Estava completamente eletrizada e paralisada pela presença dele.

            Sentia uma das suas mãos no meu pescoço. Com os dedos, ele acompanhava o contorno da minha clavícula, subindo pelo pescoço, contornando meu queixo, e meus lábios, e todo meu rosto. Eu sentia um rastro quente por onde me tocava, e já tinha fechado os olhos, absorvendo a carícia das suas estrelas. Não nos sentia mais em algum Lugar, nos sentia no nosso próprio Lugar. E era perfeito.

            Me sentia sem ar e sem controle de mim mesma. Me sentia flutuando por Lugar nenhum, presa e livre. Me sentia uma confusão. Uma confusão macia e agradável.

            Então, ele parou. Quando percebi que tinha se afastado de mim, abri os olhos, o procurando. Ele estava a minha frente, seus olhos em mim. Fitei aqueles olhos castanhos lindos, e a franja pingando água da chuva. Ele me sondava, provavelmente pedindo por permissão, tentando me entender.

            Eu só continuei a olhá-lo, sem pensar em nada, sem esperar nada. O olhei, dentro do nosso próprio Lugar e no nosso próprio tempo. E, depois de dois meses de namoro e muitos meses mais de sentimento, ele me beijou pela primeira vez.

            Foi um beijo simples, mas que acelerou meu coração e fez minha respiração falhar. Foi como se todas as estrelas se alinhassem, todas as milhares de estrelas da nossa constelação se alinhassem e formassem algo novo e lindo.

            E depois ele me abraçou. Enquanto eu finalmente voltava a tomar consciência do meu corpo, e esperava meu coração desacelerar, ele me abraçou. Respirei fundo, inalando seu cheiro.

            - Meu Deus, como eu te amo. – Ele murmurou, seu rosto no meu pescoço e a sinfonia das gotas de chuva batendo nas folhas da árvore.

            E mais uma vez, me perguntei o quão perfeito meu conto de fadas poderia ser.


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