Little Dreamer escrita por Asselta


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Heya! *acena*
Como já sei que deve estar bem cansado de enrolação (se tiver lido as notas da história, né? :v), vim apenas lhe desejar uma boa leitura. :3



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“… Eu costumava a ser um herói, nos velhos tempos.

Gerson, o martelo da justiça...”

~*~

A tartaruga observava um tanto quanto distraidamente as pedras brilharem, como pequeninas e azuladas estrelas, no topo da caverna. O martelo — que era, para ele, praticamente um velho amigo de guerra —, cujo cabo tinha quase sua altura, repousava por sobre o ombro, pronto para a ação. Um par de guardas passava pela sua frente, flanqueando um ladrão meio assustado, encolhido e tremendo em suas escamas esverdeadas. “Gerson, o martelo da justiça, é o herói mais uma vez!”, exclamaram um dos dois ao passar pelo monstro, cujos lábios finos curvaram-se para cima, invisíveis aos outros por detrás do capacete da pesada armadura de ferro, um pouco desbotada pelos muitos — e longos — anos de uso. A mão livre foi para o quadril, em uma pose quase que heroica.

Mas, aos pouquinhos, o guarda real que estivera a serviço há quase séculos — antes mesmo da guerra que ocorrera entre humanos e monstros, responsável pela prisão dos últimos no subsolo — sentia-se ficando cada vez mais velho.

— Velho, mas não obsoleto. — respondera Gerson, virando a cabeça para o lado, a voz meio abafada pela armadura.

Os outros, por sua vez, continuaram seu caminho, deixando quase que completamente sozinho, apenas com as flores ecoantes, brilhando e balançando suas pétalas cianas e brilhantes quase que graciosamente, repetindo “obsoleto” entre si mesmas, na quietude do lugar e um ou outro monstro que por ali morava. Waterfall estava tranquila e quieta naquele dia — ou seria noite? —, e todas as pessoas que, vez ou outra, passavam por ali pareciam emanar uma aura tranquila e preguiçosa.

Pareceu que apenas alguns curtos segundos haviam sido gastados na apreciação da tão conhecida paisagem, que não aparentava muitas mudanças do que já havia sido antes. O guarda afastou-se, rindo um pouco, quando a pequena criança que costumava perseguir-lhe por aí — a fim de vê-lo “chutar a bunda”, como a própria dizia, de algumas pessoas — pulou em sua frente, gritando histericamente, “atacando-o” com um frágil graveto, cuja ponta pendia e balançava, prestes a cair.

Uma boa parte de seu cabelo escarlate caía sobre o rosto e cobria-lhe os olhos amarelados como os de um gato, brilhando com um ar travesso que apenas uma criança como ela poderia ter. Por sobre o ombro estava a bolsa da escola, desleixadamente apoiada em apenas uma alça e estranhamente molhada — assim como a barra do vestido preto que usava.

Quando era mais jovem, Undyne me seguia por aí, para me ver bater em alguns caras…

Às vezes, ela até tentava ajudar!

Ao forçar sua “arma” contra o metal que cobria o corpo da tartaruga — com a exceção do grande e duro casco —, a mesma se quebrou ao meio, mas a garota não desanimou.

— Peguei você! — disse em voz alta, animada. Uma série de flores repetiu suas palavras suavemente — Eu teria acabado com você, se tivesse uma arma de verdade! — posou, orgulhosamente, com as escamas azuis a cintilar à luz dos cristais. Com o movimento repentino, todo o peso que carregava nas costas moveu-se para o lado, desequilibrando-a um pouco.

Porém, nem sempre aqueles que ela atacavam eram ‘maus’...

— Pegou sim, baixinha! — respondeu Gerson, pondo o grande martelo para repousar ao seu lado enquanto bagunçava ainda mais as madeixas de Undyne. — Em breve, vai por mim, ‘tu’ vai ser uma ótima guarda real. — riu, passando a tirar o elmo.

O rosto do Martelo da Justiça era quase que simpático. Os olhos grandes e negros eram “adornados” por pequenas rugas — um presente do tempo —, e a pele esverdeada tinha um ou outro ponto mais escuro, e um tanto firme — mas já estava a ficar flácida lentamente. Sobre o queixo, uma barba ainda escura crescia, rara como pelo de um filhote. Tinha aparado-a um pouco tempo atrás, quando a mesma quase que lhe alcançara o pescoço.

— O que está fazendo aqui, pivete? — questionou, pois Undyne costumava a encontrá-lo perto de sua casa antes de seguir-lhe por onde quer que ele vá. — ‘Cê tá’ meio longe de casa, não?

A criança virou-se enquanto ele falava, como quem não estava prestando atenção, enfiando uma das mãos dentro da mochila, buscando algo. Quando voltou-se novamente para a tartaruga, ela tinha um lápis — ou o resto dele — e um caderno meio amassado e úmido em mãos. A pequena obviamente tinha entrado, mesmo que sem querer, na água. Aquilo era ago fácil de se acontecer por ali, com a mesma correndo por quase todo lugar.

— Quero que me conte uma história! — exclamou, pegando seu braço, o trazendo mais para perto. — Uma história sobre a Guerra!

— E por que você quer que eu te conte uma história sobre a guerra, pirralha? — perguntou, com um dos cantos dos lábios levemente para cima, em um meio sorriso. — Você pode muito bem ler um livro sobre ela. Até onde eu saiba, tua visão é boa. — provocou, rindo suavemente, cruzando os braços cobertos por ferro sobre o peito que estava da mesma forma.

— Porque não consigo entender os livros. E você viveu lá! Poderia me contar… — respondeu, o beiço inferior impulsionado para frente, em um biquinho manhoso. — Nunca te pedi nada!

Gerson parou alguns instantes para pensar, com o propósito de irritá-la um pouquinho — às vezes, era divertido. A menina peixe inclinou a cabeça para o lado, abraçando seu material contra o peito, com os olhinhos âmbar brilhando.

— Claro que ‘cê’ já pediu! — respondeu. — Tantas coisas... por onde eu começo? — Pôs a mão debaixo do queixo, meio pensativo, acariciando a barba rala.

— Por favor! — insistiu a criança, pulando como um coelho ansioso. — Só finja que não!

Rindo pela teimosia e insistência de Undyne, o Martelo da Justiça bagunçou-lhe as mechas escarlate mais uma vez. Ela inchava as bochechas, enchendo-as com ar. “Mais que coisinha fofa!”, pensou o monstro, “...vale realmente a pena irritá-la apenas um pouquinho para ter esta visão.” Por mais que ele não tivesse filhos — e nem pensasse em ter, estava velho demais para isso — a companhia de alguém bem mais jovem que ele, apenas descobrindo a viver, lhe agradava. Está era, também uma ótima oportunidade para contar todas as histórias que tinha em sua mente — a maioria, vivenciada pelo próprio.

— Okay, okay. — falou, animando a pequena a sua frente.

Ela soltou um som animado, enquanto voltava a sorrir, mostrando os dentes meio pontudos e amarelados — assim como a falta de alguns deles. Gerson pegou seu martelo, exibindo um símbolo difícil de se ver entre tantos arranhões, resultado de anos de uso e várias batalhas — um brasão que ela conhecia, que representava o reino dos monstros, a Runa Delta — e voltou a pôr o elmo brilhante e prateado sobre sua cabeça, escondendo suas feições.

— Há muito tempo, dois povos reinavam sobre Terra: humanos e monstros...

~*~

Undyne terminava de escrever, quando o Martelo da Justiça calou-se. A história havia acabado, e a mente da criança parecia mais clara sobre o assunto. A letra sobre o papel era um garrancho quase ilegível, que provavelmente até a própria "escritora" teria de estreitar os olhos para decifrar, mas quase tudo que Gerson tinha falado estava gravado ali, entre as linhas estreitas. Ele nem mesmo notava que ela estava escrevendo tudo aquilo.

Um pouco de água infiltrava da caverna, caindo do céu como chuva, em pingos pequeninos. Pequenas gotículas molhavam os dois, encharcando lentamente a pele e cabelos de Undyne e escorregando rapidamente pelo metal que cobria quase todo o corpo do herói e pelo seu casco. A criança logo guardou suas coisas na bolsa que tinha largado no chão, protegendo-as com o tecido escuro e desbotado.

— É uma boa história! — exclamou, meio excitada. — Sabe, eu meio que queria estar lá também. Eu poderia mostrar para esses humanos o quão fortes monstros podem ser, se fosse mais velha quando a guerra aconteceu. — acrescentou, com as mãos nos quadris, meio orgulhosa.

Gerson riu suavemente, andando um pouco para frente, o martelo sobre os ombros. Undyne prontamente lhe seguia, quase saltitando ao seu lado.

— Poderíamos ter sido parceiros… — continuou, arrumando a mochila sobre um dos ombros, deixando que a outra alça pendesse. — Na verdade, podemos ser. Eu vou crescer, e poderei me tornar uma guarda real!

A tartaruga parou repentinamente no meio de seu caminho com o fim da frase da garota. Ao perceber a reação dele, ela repetiu sua ação, voltando a ficar em sua frente. Gerson era tão alto em relação a ela que a mesma tinha de olhar para cima, para ver os olhos escuros espreitando pela viseira. Os ombros dele se moveram enquanto uma nova gargalhada saía de sua garganta.

— Ora, pivete, eu estou ficando velho. — falou, pondo sua tão querida arma no chão. Abaixou-se um pouco, a fim de ficar perto da criança e pôs a grande mão de metal, um tanto quanto pesada, sobre seu ombro. — Talvez, quando você chegar lá, eu terei que sair. Depois de tanto tempo, com certeza eu precisarei de um descanso. E você, baixinha, o dará a mim.

Undyne pareceu amuar-se, encolhendo os ombros tristemente. Os olhos âmbar pareciam meio marejados. Não havia pensado que, uma hora ou outra, ele iria se cansar. Achava que ele seria, para sempre, o Martelo da Justiça. Mas, nada era para sempre.

— Você se tornará uma guarda real, com muita dedicação e determinação, e dará ao velho Gerson um pouco de paz. Que tal? — acrescentou, sua voz soando mais forte e confortante. Undyne encarou-o com um olhar sonhador. — Quem será você, Undyne? Creio eu, com o jeito que você luta, uma espada ou uma lança.

— Uma lança! — exclamou Undyne, sentindo-se determinada. Podia imaginar-se, em uma armadura, a arma longa em mãos. — Serei a Lança da Justiça!


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Notas finais do capítulo

YAY! o/
Eu espero que tenha gostado! :3
Novamente, me desculpe se achou algum erro ortográfico. Sou horrível para sair "caçando" eles. :v
Enfim, deixa teu comentário, para eu saber o que você achou, se quiser. Vou ficar muito feliz se ouvir (ou melhor, ler. :v) a tua opinião. *^*
Muito obrigada pela atenção, e até (quem sabe?) a próxima! X3
XOXO!