Era uma vez... Destruição. escrita por Lady Liv


Capítulo 1
— Oneshot.


Notas iniciais do capítulo

EU ME RECUSU A DIZER O SHIPP
~eu shippo de tudo, então..~



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Jean.

"Era como se mil facas perfurassem todo meu corpo, a correnteza me arrastava pra baixo, objetos me cortavam e minha boca aberta emitia um grito abafado pela água.”

Você sabe o que é paralisia do sono?

Eu costumava ter um pouco antes de descobrir meus poderes. Estranho, já que nem mesmo quando sonhei com a destruição de Apocalipse eu a tive novamente... achei até que estivesse curada. Médicos afirmam que uma pessoa normal poderia ter de duas à três paralisias durante a vida.

Bem... Não que eu seja uma pessoa normal.

É quando a sua mente acorda, mas o seu corpo não capta a mensagem. É uma sensação aterrorizante que costuma vir com efeitos colaterais e no meu caso, essas... Visões durante o sono. Mamãe costumava dizer que eram alucinações causadas pela paralisia, mas...

"A mão dele é áspera em minha pele, mas também não nego que ela tinha um calor confortante. Repousa em meus ombros, subindo pro meu pescoço e parando em meu rosto obrigando-me a encara-lo.

— Eu amo o Scott. – Rezo para minha voz não sair falha.

Espera ai, eu amo o Scott?

— Mesmo? – Meu coração palpita quando eu olho em seus olhos. Tão intensos.”

Não sei se é passado ou futuro. Mas é tão real como o presente.

Jean.

"Alertas. Os bipes soam altos, e quando olho para o painel do jato sinto o desespero tomar conta de mim. Penso rápido, o que fazer? Não deixaria ninguém ali morrer.

Olho pro horizonte, meus poderes fluem. Imagino o míssil atrás de nós, se desligando. Respiro fundo concentrada. Posso sentir a sua energia sumir e ele falhar. Meus olhos queimam, e é quando sei que consegui.”

O pânico me atinge, imagens passam na minha cabeça tão rápido. Meus olhos estão abertos? Posso ver o teto do quarto queimar. Ou seria congelar? Pois meu corpo gela, arde, queima, como uma chama de tudo ao mesmo tempo.

Sinto a dor em meus ossos, meus dedos agarram as cobertas e um som sofrido sai de minha garganta.

Jean. Alguém sussurra entre as visões.

Não, pare!

— Não. – Consigo dizer angustiada. – Este é... O único jeito.

"- Eu sei o que estou fazendo. – Posso ver a imagem de uma mulher refletida na água. – Este é o único jeito.

— Não faça isso. – Uma voz inacreditavelmente agradável soa, e por um instante, não há temor. Não há desespero.

Não há nada. Apenas...

— Adeus. – E acaba.”

Estou sem ar. Eu vi a água encobri-la, ela morreu? Alguém a salve! Não sei como, mas sinto que agora eu é que estou.

Estou me afogando?

Eu quero acordar.

Ou estou queimando?

Alguém me ajude por favor! Lágrimas escorrem por meu rosto.

"Destruição. Me vejo no centro de uma explosão; estou queimando com o fogo. Há um animal... não, não. Não animal. É um ser humano, um homem, eu o conheço. Ele se aproxima com dificuldade da sombra vermelha. Eu sentia o ódio dela. Acreditava que as pessoas não mereciam sua compaixão.

Eles foram cruéis com ela, e agora ela seria com eles.”

Jean.

De onde isso vem? Isso é real?

Estou indo pegar você. Cantarolando entre risadas, uma voz feminina se diverte com meu desespero. Querida Jean, não pode fugir. Espere, mas essa é a minha voz... Ela está diferente, mais rouca e perversa, mas ainda assim...

Corredores; salas brancas; escadas; labirintos; estou perdida.

Onde estou? Eu não sei onde estou! Charles? Charles, não deixe ela me controlar!

"- Não é só uma enxaqueca.”

Achei que estava liberta, mas ter liberado meus dons somente aumentou a... Fome.

Bloqueio minha mente. Não deixe nada entrar, Jean. Digo a mim mesma. Não posso correr o risco de o que quer que fosse ela, de me pegar.

Jean...

De onde você vem? Essa voz... Onde ela está?

"- Jean.— É aquele homem de novo. Ouço sua voz, vejo seu rosto, mas não consigo identifica-lo. Eu o conheço, eu sei. – Jean, o que você fez com o Scott?

O quê?

Abaixo os olhos, ele está segurando os óculos do... Scott? Como assim o que eu tinha feito com Scott? Eu nem havia o vist...

— Deus.- Fecho os olhos me lembrando da pior das verdades.”

— EU NÃO FIZ ISSO! – Me levanto num pulo, sentindo terror correr em minhas veias.

— Jean. – Meus ombros são contidos de tombar-me para frente. Charles está aqui. Ele me apoia sentado em minha cama. Ele era a voz me chamando este tempo todo. – Está tudo bem.

Meu coração bate forte e acelerado, como se eu tivesse corrido uma maratona.

— Eu não fiz isso.

Com os olhos arregalados, eu observo a situação de meu quarto: papel de parede destruído, objetos espalhados pelo chão, porta-retratos quebrados, a porta entreaberta... Vejo a sombra de alguns alunos por ali, o professor Hank manda todos se afastarem. "É ela de novo.” Eles dizem, e fazem piadas.

Me volto para Charles, afirmando atormentada: — Eu não fiz isso. Eu não fiz isso. P-professor, eu não fiz... Eu nunca seria capaz... Eu não fiz aquilo, não fiz.

— Não fez, Jean. Não fez. – Ele balança a cabeça concordando comigo. – Já passou. Foi só um sonho ruim.

Aceno negativamente sentindo os primeiros soluços tomarem conta de mim. Palavras desconexas saem de minha boca, mas Charles apenas suspira me puxando para um abraço. Enterro meu rosto em seu peito, o segurando forte. Não controlo meu choro, sinto-me perdida, meu coração sangrando em mil pedaços; ele faz carinhos em meus cabelos, permitindo que eu jogue pra fora todas as minhas mágoas, chorando até o peito arder. Estou acordada, mas o alívio não é suficiente.

Ficamos naquela posição por um bom tempo, até que resolvo me afastar, tentando limpar as lágrimas de meu rosto. Ele me entrega um lenço e após me recompor, eu olho em seus olhos tentando acalmar a respiração.

— O que foi aquilo? – Pergunto num sussurro ainda trêmula.

— Um sonho.

— Disse a mesma coisa sobre Eh Sabar Nur. – Um riso nervoso e sem humor escapa de meus lábios. – Por que sempre mente pra mim, Professor?

— Como mentiria pra você? Eu te tenho na minha mente, Jean.

— O que são?

— Eu vou te ajudar.

— Me ajudar? – Questiono automaticamente. – O que há de errado comigo?

De repente, Charles parece chocado. Não entendo sua reação, mas ele se recompõe rapidamente erguendo a mão e limpando os rastros das lágrimas de meu rosto. Seu toque é como um chocolate quente numa noite de inverno.

— Absolutamente nada. – Ele diz com convicção. – Seu poder é apenas muito sensitivo.

— Você disse pra eu me libertar. – Eu começo, um calafrio percorre meu corpo fazendo-me tremer. – Eu.. E-eu acho que não foi suficiente.

Ele continua a me olhar daquele jeito, como se estivesse procurando algo em meu rosto.

— Está com medo das visões? – Assenti fracamente. – Eu também estou.

— Elas são reais, não são? Eu sinto. – Por favor, não minta pra mim. Peço mentalmente. – Me diga o que são.

— Elas são de um lugar há muito esquecido.

— O que? Tipo vidas passadas?

— Não, com certeza não. É bem mais complexo que isso, minha querida. – Ele esboça um pequeno sorriso e eu suspiro cansada. Algo me destrói por dentro, o sentimento de culpa por algo que eu não fiz. Ou... vou fazer... – Você não matou o Scott.

Fecho os olhos com força, passando as mãos pelo rosto, agoniada. Esforço-me para lembrar das visões, mas quanto mais tento, mais distantes elas parecem. Estão embaçadas, se afastando... Indo embora e só deixando as dúvidas. Por que eu não consigo lembrar dos detalhes?!

— Eu matei todo mundo. – Chorosa, eu volto a dizer.

Um baque soa alto pelo quarto. Assustada, olho para a porta que se trancou sozinha. Dou um pulo quando as janelas do quarto começam a abrir e fechar sem controle. O som da água no banheiro denuncia que as torneiras haviam sido ligadas. O vidro do chão flutuava perigosamente.

Era eu. Eu estava fazendo isso.

— Jean... Pare.

— Eu não consigo. – E de repente, estou arfando. – E-e-eu não consigo me concentrar.

— Lembre-se de nosso treinamento. Quando você chegou no Instituto, sobre o que nós conversamos?

— Eu... E-eu não... Eu não me lembro.

Escuto gritos pelo Instituto e isso tira minha atenção.

— Foi família. – Ele esclarece segurando meus pulsos. Ouço Charles repetir meu nome algumas vezes, preocupado, sua presença em minha mente quase como um assopro. – Jean, me diga, sobre o que conversamos?

— Família. – Repito o que ele disse.

— Não, o tópico foi família. Olhe pra mim. – Desvio o olhar, as paredes do quarto começam a soltar fumaça. Não, não, não! De novo não. – Não se desespere, Jean. Olhe pra mim, eu estou aqui com você. O que nós conversamos?

— Eu não consigo lembrar! – Exclamo afoita. O que aquilo tinha de importante afinal?!

Fecho os olhos, lágrimas voltam a rolar.

— Olhe pra mim. – Suas mãos soltam meus pulsos e apalpam meu rosto. Sou obrigada a abrir os olhos. – Sobre o que conversamos? – Repete a pergunta lentamente e com calma.

Os olhos de Charles Xavier eram tão azuis, tão bonitos, tão... cheios de paz. Mergulho neles e esqueço o que acontece. Me obriguei a pensar, trêmula. 

Pesadelos. — Respondo em tom baixo após alguns segundos de reflexão.

— O que sua mãe fazia quando você tinha pesadelos? Você pode me dizer?

— Ela... – Engoli em seco pensando. Onde ele queria chegar? – Contava histórias.

— E você gostava?

— É... É... Sim. – Vagamente, vou respondendo. – Me acalmava.

— Eram histórias reais, não eram? Você disse que eram cenas engraçadas que aconteciam na sua família.

Oh, ele estava tomando minha concentração. Respiro fundo aliviada quando percebo que os objetos em meu quarto não levitam mais.

— Jean, as palavras tem mais poder do que imaginamos. – Ele para de acariciar meu rosto e abaixa a cabeça. – Esses sonhos... Não tema o futuro, esse é o meu trabalho.

— Vai cuidar de nós, Professor?

— Vou cuidar sim, eu fiz uma promessa uma vez. Vou cuidar de você. – Ele diz sério. Sinto-me mais leve com a revelação. - ...com todo meu cabelo. – Arqueio as sobrancelhas. – Desculpe, eu costumava jurar pela coisa que eu mais amava no mundo e agora...

Eu ri baixinho. Era estranho ver ele daquele jeito, mas não tirava seu charme.

— Agora sim tem cara de professor.

— Todos morriam de inveja dele, inclusive você, menina. – Ele me inclina pra baixo, puxando as cobertas pro meu corpo.

— Não tinha não. – Aperto os lábios risonha. – Ok, talvez um pouco.

Ele segura minhas mãos, seus dedos brincam com os meus.

Viro a cabeça para a porta, fitando-a fixamente, minha telecinese a faz destrancar-se, deixando um feixe de luz iluminar o quarto escuro.

 - Desculpe. – Murmuro. – Eu vou tentar controlar.

— Não quero que controle. Todas essas barreiras que você cria para seus dons... É como aprisionar uma fera. E quando se aprisiona uma fera, ela fica com raiva.

— Humm.

— Foi um sobrevivente uma vez que me disse... Há muito tempo. – Ele parece se perder outra vez em seus pensamentos misteriosos.

Ele rompe o silêncio que havia ficado, esticando o braço para a cadeira de rodas. Sinto um bolo se formando em minha garganta quando percebo que ele está de saída.

— C-Charles... – Gaguejo seu nome ridiculamente. – Eu... Err...

— Pode dizer, Jean. - Ele toca em meu braço, encorajando-me a falar.

— V-você... Você pode em contar uma história?

Sua face transmite surpresa por um momento. Eu espero um "não" de sua parte e um "volte a dormir", como meu pai fazia quando minha mãe não estava lá para me contar. Mas surpreendendo-me, ele sorri e se abaixa beijando minha testa.

Sempre cuidarei de você, Jean. Ouço sua voz ecoar em minha mente.

Sorri, relaxando com seus toques suaves em meu cabelo.

— Era uma vez uma garota. – Ele começa e eu fecho os olhos. - ...e ela morreu para salvar os amigos dela.


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Notas finais do capítulo

AAAAAAAAAAAAWN
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