Tola escrita por TK


Capítulo 3
III - O Rato Branco do Horóscopo Chinês




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Branco. A primeira coisa que me chamou a atenção era o branco, que nem neve. Logo em seguida pela figura de um ratinho albino.

Tá, não era um ratinho, mas se parecia demasiadamente com um, e era claramente estrangeiro. Parecia ser um viajante que deve ter acompanhado várias coisas com aqueles olhos puxadinhos e cheios de segredos.

Se aproximou de Margot com um olhar maldoso, ao menos, para mim era bastante maldoso. Não sabia dizer se os olhos vermelhos como o sangue me influenciavam á vê-lo como uma pessoa ameaçadora e perigosa.

— Eu te avisei que ela iria te jogar fora assim que tivesse chance. – Agarrei-me com mais força á árvore assim que ouvi a provocação. Eu mal conhecia o sujeito, aliás, era a primeira vez que o via. Me senti um pouco traída por ela jamais ter sequer mencionado.

— Ela não tem motivos! Ela nunca teve motivos! Eu juro, fiz de tudo para que ficasse. Não fui perfeita, mas ela era a minha irmã! – A tentação de ir até lá, dizer que eu não havia á abandonado era tentadora, só que eu sabia que tinha. Minhas bochechas queimaram por causa da vergonha repentina das coisas que havia feito com ela, mas voltar atrás não era uma opção, não tinha como ser.

— Você fala como se pessoas más precisassem de motivo para fazer o que fazem. Escute, você, de todas as pessoas, confiou de mais nela. Deu de mais, recebeu de menos. E aonde ela está quando você precisa dela? – E ela se calou, abaixou a cabeça, um silêncio gritante me deixou sem ar por um momento. – Pois é, ela não está aqui.

— Shiro. - Margot se levantou, estava toda suja de terra, com folhas presas em seus cabelos e arranhados. Não era a primeira vez que a via desse modo, ela sempre se sujava bastante e recebia broncas da mãe quando chegava em casa. Só que parecia totalmente diferente do que eu estava acostumada á ver, parecia... uma pedra. Uma pedra dura, com uma expressão dura e um olhar mais rígido ainda. – Eu não preciso de você pra me lembrar de como eu fui burra. Basta um espelho pra isso, você sabe. Eu apenas queria acreditar, só uma vez, que alguém não partiria.

“Margot, você não é burra. A verdade é que todos partem, se não partirem, a morte os arranca de você.”

E eu também deveria seguir meu próprio conselho, porque eu sei que a única pessoa capaz de me acompanhar até um túmulo sou eu mesma. E eu estou a deixando para trás, isso só tornaria essas palavras mais verdadeiras. O pior de tudo é saber que não tenho forças para acreditar nelas.

— Estamos todos em um buraco, logo vão jogar lava em cima de nós e morreremos. Ninguém sobrevive ao fogo, e você sabe, sempre soube, que o único modo de resolver isso é se juntar á gente. -  E assim, minha imaginação cruel começou á me torturar com teorias do que fariam com ela. Abusariam dela sexualmente? Á fariam trabalhar até morrer de fome? Margot é pequena e fraca, não conseguiriam achar propósitos muito diferentes desses para ela servir.

— Não posso deixar mamãe para trás, por favor! Você sabe que eu não consigo fazer isso. – Margot reclamava de mais da mãe, mas ela sempre á amou com afinco. Me pergunto se eu conseguiria amar minha mãe tanto quanto Margot ama a dela se ela ainda respirasse.  Hoje, mal consigo me lembrar dos olhos dela. Pela expressão, o rato não parecia se importar com essa necessidade, com esse amor. Acho que mal levou á sério o motivo que Margot tinha.

— Reveja seus conceitos. Venha, vamos conversar mais, se não se limpar vai ficar doente. – Como se ele se importasse. Foram minutos ouvindo aquela conversa, mas eu já estava certa de que ele não era uma boa pessoa. Não tenho certeza se saíram ou se continuaram conversando.

Eu caí no sono, bem ali aonde estava

~*~

Dor no corpo é um castigo que Deus deve ter planejado cuidadosamente para todos os preguiçosos que não se importam de dormir em qualquer lugar.  E provavelmente eu estaria castigada por cerca de um mês. Aí.

Uma manga caiu em meu rosto pouco depois, uma manga podre e fedorenta. Foi o bastante para me dar uma energia que nem eu sabia que conseguiria ter e correr até o lago para lavar meu rosto. E assim, eu me assustei ao perceber que havia outra pessoa comigo.

Me assustei mais ainda quando notei que, na verdade, aquele era o meu reflexo.

Meus cabelos estavam levemente arrepiados, curtos, um corte desajeitado e mal feito. Contudo, apesar do jeito “diferente”, não estava tão ruim. A franjinha, que admito, quis fazer questão de deixar quando cortasse, dava um tom charmoso para o penteado, não sendo grande o suficiente para ser considerada feminina e nem muito curta.

Não era como eu imaginei, mas era perfeita.  Contudo, ainda estava longe de ser considerada um menino. A camisola não ajudava.

Já tinha um novo objetivo, eu precisava conseguir roupas masculinas. Voltar para a casa de Margot e tentar surrupiar roupas do pai morto dela estava totalmente fora de questão, eu tinha que roubar, e roubar rápido.

Segui uma trilha para fora do bosque que me levaria até um vilarejo vizinho. Lá, pegaria o que eu estava procurando e daria um jeito de seguir viagem até o castelo, um jeito fácil e simples de começar a viagem. De qualquer maneira, ainda estava cedo de mais, poucas pessoas deveriam estar acordadas.

 Aproveitei para pegar frutas de árvores que encontrava pelo caminho, me alimentando e deixando uma trilha de maçãs inacabadas e alguns alimentos que não considerava ter um gosto muito bom. Logo minhas mãos estavam cheias, conseguiria roubar algo que me ajudasse á carregar aquilo.

Assim que avistei uma casa, coloquei as maçãs no pé de uma árvore e corri até o varal. Estava cheio de roupas, roupas masculinas que deviam ser um pouco maiores do que o meu tamanho. Peguei uma cesta lá perto, e assim, comecei á tirar os prendedores que as mantinham estendidas. Pegando uma por uma, na ponta dos pés, o mais rápido que eu conseguia. Não sabia quando eu poderia ser interrompida por alguém, não tinha certeza se seria pega, e por mais que a atividade fosse ridícula, estava me fazendo nervosa.

Era simplesmente angustiante, quase agonizante, fiquei tanto tempo sem roubar que agora a atividade estava me sufocando.

E outro prendedor, mais outro, mais uma camiseta, mais uma vez na ponta de meus pés como se eu fosse uma maquina, como se fosse uma rotina.

Não sei se o que aconteceu estaria na rotina de qualquer pessoa, mas acho que nunca tem um jeito. Acho que sempre acontece, cedo, tarde, em algum momento quando estamos ficando acostumados ou distraídos para se meter no meio.  Quando pegamos o ritmo, para tirar totalmente da gente.

Mas toquei os prendedores para  tirar a camiseta, e dedos tocaram os meus, a camiseta caiu.

Eram como ouro, eram como os meus olhos, talvez mais amarelados do que os meus eram. E, eu juro, eu nunca pensei que quaisquer outros olhos pudessem ser mais preciosos do que os meus.

Buh! – O estranho, e aparentemente risonho homem, conseguiu me distrair com seus olhos e me assustou quando me acordou do transe. – Roubar é feio, e acho está frio de mais pra sair por aí de camisola.


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Notas finais do capítulo

BUH!

DESCULPA PELA DEMORA!
Ok, lá vamos nós.
O computador que eu normalmente uso para escrever os capítulos deu pau. Os ícones não aparecem na tela e, portanto, vou ter que sobreviver escrevendo os capítulos no computador dos meus avós.
Admito, parte foi por minha culpa também, porque apesar de ter a história planejada um bloqueio criativo acabou entrando no meio e eu jamais me perdoaria se postasse algo mal feito para vocês. Seria falta de respeito com quem segue a história.
Mas bem, aqui estou, e espero poder dar um jeito de voltar á ativa com mais afinco (apesar da volta ás aulas que logo logo terei de enfrentar, me desejem sorte.)



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