Era a primeira lua cheia do mês. As famílias estavam em suas casas, escondidas, em silêncio. As luzes, apagadas. Todos com medo. O vento gélido do inverno soprava com força total. A neve branca caía no vilarejo.

            Ignorando as superstições locais, uma carruagem seguia pela precária estrada de terra. Os cavalos, quatro garanhões negros, viajavam apressados. O condutor tinha em mãos um pequeno crucifixo, apenas em caso de necessidade. De repente, a carruagem parou. O condutor fez o sinal da cruz. Um homem alto, escondido por trás de uma capa, desceu. Disse algo para o condutor e saiu.

            O condutor, homem já de certa idade, encolheu-se diante da neve que teimava em cair. Seu passageiro desapareceu na floresta, e não tinha sinal de onde ele se embrenhou. A neve encobria seus passos. Esperou, era tudo que podia fazer. O velho olhou para o céu. Nada além do branco. Da floresta, então, vieram os uivos. Em seguida, os passos.

            Ele olhou ao redor. Os uivos se misturaram aos passos, cada vez mais perto. O pobre homem pôs-se a correr, mas em vão.    O ataque veio certeiro. Os gritos do velho foram abafados por tudo. E estava longe demais para alguém ouvir. Nenhum mortal, de qualquer maneira, se atreveria a se aproximar.

            O homem de capa se aproximou, de trás de uma das árvores. Havia presenciado toda a cena, e estava feliz. O enorme lobo largou a refeição e se voltou para o homem. Rosnou, e voltou ao velho. Um riso escapou de debaixo da capa. Era bom estar de volta. Nada havia mudado nos últimos treze anos.