Desde o primeiro momento em que Lily Evans viu a garotinha de cabelos loiros, ela soube sem saber como sabia, que a garotinha Marlene McKinnon seria sua melhor amiga. 

A dupla virou trio quando a doce Dorcas Meadowes se juntou as duas.

Marlene e Dorcas foram as irmãs que Petúnia não era.

Foram dias, tardes e noites de uma amizade pura. Sete anos dividindo um dormitório, e sete anos de brigas para decidir quem usaria o banheiro primeiro. Foram dias em que Marlene sempre disputava a atenção de Lily com Snape.

Lily sempre repreendia Marlene quando a mesma chamava Snape de Ranhoso. Mesmo Lily não gostando dos marotos, Marlene os adorava. Foram várias azarações contra o Ranhoso que Marlene apreciava. Nunca gostou do garoto. Ele acabaria por machucar sua amiga de alguma forma, e Marlene o odiava por isso.

Sangue-ruim.

Quando aquelas palavras de Snape atingiram Lily, Marlene quis jogar o ranhoso de comida para a lula gigante. Mas estava ocupada confortando a amiga que chorava como uma condenada.

Foi Marlene que fez com que Lily perdoasse os marotos pelo episódio que acontecera no lago.

Quando o arrogante Potter – como Lily o chamava – começou a chamar Lily para sair, foi Marlene que tentou convencer Lily a dar uma chance ao garoto. Lily era teimosa, mas Marlene não podia reclamar, ela era do mesmo jeito em relação a Sirius.

Marlene foi a primeira a comemorar quando no 7º ano, Lily e James começaram a namorar. E Dorcas e o Lupin haviam se resolvido finalmente. Eles não podiam estar mais felizes.

Ah, mas essa felicidade se transformaria em cinzas. Infelizmente. 

Quando o corpo de Mary Mcdonald foi encontrado aos arredores de Hogwarts, Lily e Marlene passaram a noite abraçadas em frente a lareira do salão comunal chorando.

Chorar. Elas fariam muito isso daqui para frente.

A guerra eclodiu e elas já não eram mais as estudantes de Hogwarts. Elas eram Lily Potter, Dorcas Meadowes  e Marlene McKinnon lutando junto da Ordem da fênix e seus ideais.

Marlene e Dorcas foram as madrinhas.

Marlene chorou no casamento da amiga, e chorou quando Lily contou que seria mãe. Chorou de felicidade. Ela e Sirius já não escondiam o amor repreendido de quando estavam em Hogwarts. Eles se amavam. E em meio a tanto sofrimento, a felicidade estava chegando a eles.

E mesmo quando a profecia chegou e os Potter pareciam encurralados, a felicidade de ter Harry não deixou que eles caíssem. Harry sorria, então eles deveriam sorrir também. As visitas que os marotos, Marlene e Dorcas faziam eram a melhor parte. Todos sorriam mesmo querendo chorar.

Porém isso mudou. Ah se mudou.

Quando aquela noite chegou e o corpo da última McKinnon bateu no chão, o mundo ficou mais sombrio. Quando Lily recebeu a notícia um pedaço do seu coração foi junto e a dor não era suportável. Os sorrisos já não estavam mais lá.

Lily se lembrava das tardes no salão comunal passadas ao lado da amiga, dos risos e gargalhadas, e de como naquela época ela nunca imaginaria que agora estaria chorando no túmulo de mármore da melhor amiga.

O coração da ruiva se quebrava mais e mais a cada dia.

Lily passou a noite agarrada ao filho na noite que soube que Dorcas havia sido morta por Voldemort pessoalmente. James tentava confortar o amor da sua vida.

 Como chorou naquela noite.

Porque os piores dias da vida de uma pessoa, é quando pessoas da sua família se vão. Marlene e Dorcas eram da sua família. Elas eram.

Quando a temida noite chegou e Lily ouviu o corpo do seu amado bater no chão, ela sentiu que a sua hora estava próxima. As lágrimas em seus olhos eram como facadas e a única coisa que ela queria era salvar o filho.

E ela salvou.

Em seus últimos momentos, pensou nas pessoas que amava. Ela se viu uma criança, em uma tarde de piquenique com seus pais e Petúnia. Pensou nos olhos de James e em como ela queria poder encara-los mais uma vez. Pensou em Harry e seu sorriso. Pensou no gentil Remus e em como o amigo fora importante para ela. Pensou na amizade e amor que tinha para com Sirius, e em como fez bem ao escolhe-lo como padrinho de Harry. Quando finalmente se deu conta da traição de Peter ela não o odiou. Ela queria odiar, mas seu coração se recusava, ela apenas sentiu uma tristeza arrebatadora. Pensou em Petúnia e em como queria a irmã que sempre amou de volta. Pensou em Snape, não no homem que ele se tornou, e sim na criança que a ajudou e amou como um irmão.

E pensou nas irmãs que a esperavam em um lugar melhor. Pensou no carisma e bondade de Dorcas e nas gargalhadas e maluquices de Marlene. E em como valeu a pena tudo que passou com elas.

Ah, como não se arrependia de nada!

Lily não teve a vida que todos sempre querem. Mas a vida que teve foi perfeita para ela. Sabia que se não tivesse ido para Hogwarts sua vida poderia ter sido bem diferente. Ela poderia ter vivido mais, poderia ter tido uma vida normal. Mas ela não se arrependeu de nada. Ela foi amada e amou profundamente todos os seus amigos, viveu as melhores aventuras e construiu a melhor família que ela poderia querer. Afinal um lar não precisa ser uma casa e uma família não precisa ser de sangue.

Por último viu a lembrança que a tornou o que era.

Quando a carta de Hogwarts chegou. Quando todos da sua família viram o mundo de outra forma, sua mãe um dia disse, que faria o que pudesse para vê-la feliz, inclusive, enfrentar a morte . Seus pais a amavam e Lily se sentia grata.

Ela sabia o que o amor de mãe significava.

Ela enfrentaria a morte por Harry.  

A morte nem foi tão terrível assim. Seus pais estavam lá. Suas amigas e seu amado também. O peso nas costas havia partido. Harry estava seguro. E quando chegasse a hora dos outros membros da sua família, ela estaria lá para recebe-los.

Hogwarts foi o seu lar e seus amigos sua família.