O presente de Peeta para Prim escrita por IsabelaThorntonDarcyMellark


Capítulo 8
Ao trabalho




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Por Peeta

Meu pai está diante de mim, olhando-me com curiosidade:

— Quero muito conhecer os seus planos e ajudar você, mas estou preocupado com o nosso cronograma. Por isso, vou pedir que você se prepare para assumir o posto de confeiteiro oficial da padaria o quanto antes.

— Ok, pai. Preciso de um bom banho e vou comer alguma coisa. Logo estarei de volta para colocar a mão na massa, literalmente.

— Depois, então, conversaremos melhor… Caso eu não esteja aqui quando você voltar, quero que saiba que já assei os bolos que serão colocados na mesa principal da festa. Você só precisa rechear e confeitar. Eu não os desenformei e estão esfriando ali naquela prateleira.

— Ótimo, pai! Foi uma grande ajuda – comento aliviado, pois isso vai me poupar bastante tempo.

Antes de me afastar, ouço Brad pedindo autorização para receber alguns de seus amigos amanhã, na reunião que sempre realizam em frente à padaria na semana da Colheita. Nem preciso ouvir a resposta do meu pai para saber que ele permitirá.

Costumamos fazer isso aqui na área comercial da cidade. As crianças e jovens que participarão da Colheita se reúnem com os colegas mais próximos no domingo que antecede a cerimônia. Seria algo divertido, se a motivação fosse outra, pois, a bem da verdade, esses encontros funcionam como uma espécie de despedida, mesmo que não saibamos quem será um tributo e quem irá, de fato, dizer adeus.

Não sei se terei tempo de participar com o meu grupo de amigos esse ano, devido ao volume de trabalho que tenho pela frente.

— Você e seus amigos marcaram de se reunir amanhã também, Peeta? – Meu pai pergunta.

— Sim, na casa do Deacon. Mas não sei se conseguirei terminar tudo a tempo de ir.

— Que tal chamá-los para virem pra cá também? Reunir uma turma boa seria legal – opina Brad. — Já terminei tudo aqui por hoje. Posso ir lá falar com o Deacon.

Imagino o motivo de o meu irmão fazer tal proposta… Interesse em alguma garota da minha turma, talvez? No entanto, só me resta concordar com a ideia, pois estou mesmo precisando conversar com a minha amiga Delly sobre o que pretendo fazer.

— Por mim, é a solução perfeita! – admito. — Só avise ao Deacon, por favor, que nossa mãe não costuma ficar conosco na padaria aos domingos.

Esse detalhe é muito importante, pois não só o Deacon, mas muitos dos meus amigos ficam completamente aterrorizados com o jeito da minha mãe.

Acho que só a Delly consegue sorrir pra ela. Mas Delly sorri pra tudo e todos e minha mãe não conseguiu ser exceção, apesar de seu "esforço".

Aos domingos, minha mãe se ocupa com as tarefas domésticas e só vem à padaria fiscalizar a nossa produção de vez em quando. É o dia perfeito para eu colocar meu plano em prática, se meu pai concordar em me ajudar.

Subo até a nossa casa para fazer um lanche rápido e tomar meu banho. Tenho que me apressar, pois, já que vou trabalhar no turno da noite para não atrasar nenhum dos pedidos, devo aproveitar as poucas horas em que temos energia elétrica no período noturno aqui no Distrito.

Quando adentro a sala de estar, observo que minha mãe pôs o buquê de flores num jarro com água. Sorrio ao pensar que as prímulas e os dentes-de-leão que antes, aos meus olhos, nada mais eram do que flores, passaram a ter também um significado depois da tarde que passei com Prim.

As prímulas agora simbolizam para mim a alegria e os dentes-de-leão, assim como para Primrose, significam a esperança.

De certa forma, eu tinha razão ao pensar que essa Colheita seria diferente e transformaria a minha vida. Ainda que ela não tenha nem acontecido, a sua iminência me levou a conhecer Prim e, desta forma, eu me sinto mais próximo de Katniss do que nunca.

Após lanchar, entro no quarto que divido com meus irmãos para pegar roupas limpas e me preparar para o banho. Michael está lendo um livro em sua cama.

— Longa noite pela frente, hein, Peeta?

— Bastante longa – respondo, sabendo que terei que retornar à padaria e, de fato, esquecer da hora. — Ainda bem que amanhã é domingo.

— A mãe está no banho. Você vai ter que esperar um pouco.

— Eu sei. Vi quando entrou, mas ela já deve estar saindo.

Realmente, não demora muito e vejo minha mãe indo em direção ao seu quarto. Ela está com os cabelos soltos e usando um vestido diferente. Não resisto e comento:

— Você fica bem nesse vestido, mãe!

— Ora, ora… Preocupe-se com o seu trabalho e trate de se apressar para confeitar os bolos! Ficar aí de conversa fiada não vai livrar você das suas obrigações – reclama ela. No entanto, pergunta a seguir: — Mas fiquei bem mesmo?

Faço um gesto afirmativo com a cabeça e me dirijo ao banheiro. Pelo visto, as flores mexeram com ela também.

Quando desço, Brad está acabando de chegar.

— Tudo certo pra amanhã! O pessoal concordou em vir pra cá, Peeta.

— A Delly também?

— Delly? – Brad faz uma expressão questionadora. — Sim, a Delly confirmou que estará aqui.

— Ótimo! – digo, sem mais explicações.

— Bom trabalho aí, irmãozinho! E que a sorte esteja sempre a seu favor! –  finaliza Brad, com o sotaque da Capital.

— Sempre – digo, preocupado.

O que era pra ser apenas um comentário bobo do Brad acaba tirando a minha paz, uma vez que me faz lembrar da triste realidade que se aproxima.

Preciso pensar em coisas positivas e me tranquilizar para desempenhar um bom trabalho na confecção dos bolos.

Até que não é uma tarefa difícil. Basta percorrer com minha mente o dia hoje, que teve tantos momentos especiais.

Logo me lembro da promessa de Prim de vir aqui amanhã e a mera possibilidade de Katniss vir com ela já me acalenta o coração.

Reúno o material para fazer o recheio e a cobertura dos bolos e dou início ao preparo. Meu pai se aproxima devagar e eu só percebo sua presença quando ele fala:

— Distraído? Pensando em alguém especial?

Dou continuidade ao que estava fazendo. Assim parece mais fácil me abrir com o meu pai.

— Sim, na minha musa inspiradora…

— Posso saber quem é essa garota de sorte? – pergunta ele e começa a me ajudar nas atividades.

— Tenho certeza de que o senhor já sabe ou faz ideia de quem ela seja, pai – afirmo, tentando parecer a pessoa mais concentrada do mundo na tarefa de misturar os ingredientes.

— Katniss Everdeen – fala ele, num misto de admiração e carinho. — A melhor caçadora que já conheci. Suas presas morrem com uma única flecha, certeira, no olho. E, pelo visto, ela acertou você também…

— Direto no coração! – completo a frase dele, levando a mão livre ao peito. — Fale mais sobre ela, pai, por favor.

— Eu desenvolvi um grande respeito ao longo dos anos por Katniss. Ela negocia comigo e sempre pede um preço justo. Mesmo sabendo da minha preferência por esquilos, nunca me cobrou por eles mais do que valiam – declara ele. — E, mesmo sendo tão jovem, ela sabe lidar com todo o tipo de gente. Existem pessoas que levam anos no comércio e não se saem tão bem.

— Ela é impressionante, pra dizer o mínimo… e quando ela canta, pai, os pássaros param para ouvir sua voz.

— Como naquela história que contei a você sobre o Sr. Everdeen.

— Eu não entendo como posso gostar tanto dela, se nunca trocamos uma única palavra. Há tantas garotas com quem eu converso, rio, brinco, mas eu não penso em nenhuma delas da maneira como penso em Katniss.

— Não tenho essa resposta, Peeta. Esses são os mistérios do amor. Seria tão mais fácil poder eleger a quem amar e ter a certeza de ser correspondido, não é?

— Seria muito mais fácil… e, talvez por isso, ainda que fosse possível eleger alguém, eu ainda a escolheria. Ela me fascina. Não consigo me ver apaixonado por nenhuma outra garota.

— Gosto de saber que você é fiel a seus sentimentos, mesmo sendo a opção mais difícil. – Meu pai se emociona e respira fundo. — Mudando de assunto, filho, sobre seus planos de recompensar quem lhe deu o remédio para queimaduras. Eles têm algo a ver com Katniss?

— Em parte.

— Então, não foi ela quem lhe deu a loção?

— Não, foi a irmãzinha dela. Acho que Katniss continua sem saber que eu existo.

— Ah, eu duvido! Mas o que você planejou fazer e como posso ajudar?

— Preciso primeiro contar o que aconteceu na Campina.

Narro, então, para o meu pai tudo o que se passou entre mim e Primrose, enfatizando a descoberta a respeito da sua paixão por bolos confeitados.

— Primrose é uma menina realmente encantadora! – Meu pai afirma depois que termino de falar. — E você está pensando em fazer pra ela um de nossos bolos?

— Não necessariamente um bolo… – pondero.

— Você sabe que bolos são o nosso produto mais caro e que não podemos custear um deles nem para nós mesmos – aponta ele, seriamente.

— Na verdade, pensei numa dessas tortas pequenas, como as que faremos para a festa na casa do Prefeito. – Uso meu último argumento.

Meu pai fica pensativo por um bom tempo. Depois, sem dizer nada, ele vai até um dos armários da padaria e pega algumas formas de bolo, de diversos tamanhos e alturas.

— Você falou sobre as tortas pequenas e lembrei que temos que definir como serão… Em sua opinião, qual seria o formato ideal?

Observo, então, que meu pai desconversou sobre o meu pedido, mudando radicalmente o assunto. Ele deve estar com o coração apertado por não poder me atender.

Sendo assim, não vou mais tocar nesse ponto e darei prosseguimento ao meu trabalho. Respondo à pergunta que ele fez, tentando disfarçar minha tristeza.

— Como elas servirão para enfeitar as mesas, o ideal é que usemos essas forminhas mais altas. Vou desenhar um esboço do que eu pretendo fazer e você me dá o seu aval, pai.

Pego lápis e papel e rabisco rapidamente um rascunho do que havia projetado.

— Está perfeito, meu pequeno artista! Concordo que as tortinhas devem ser nesse formato.

— O único problema de usar essa forminha, pai, é que o volume delas é menor do que as que costumamos utilizar. Mas temos que lembrar que a finalidade dessas tortas é também a de enfeitar as mesas, então, não é só esse aspecto que devemos considerar…

— Você pensa que é um problema? Para mim, é a solução – diz ele, satisfeito.

— Solução? – pergunto confuso.

— Como assim? Já se esqueceu do que acabou de me pedir?

— Não me esqueci, mas…

— Você terá o presente para dar à Prim, exatamente do jeito que você gostaria que fosse.

— Mas como?

— Você confia em mim, Peeta? – Ele me olha fixamente.

— Mais do que em qualquer outra pessoa, pai – afirmo, com lágrimas nos olhos.

Ao final da nossa conversa, a única etapa que falta para o primeiro bolo ficar pronto é fazer o desenho das flores. Meu pai se recolhe e continuo trabalhando, até que cortam a luz do Distrito.

A pintura no bolo já está praticamente concluída quando isso acontece, faltando só um ou outro detalhe que será melhor fazer à luz do dia.

Os dentes-de-leão que acabo de pincelar na cobertura branca do bolo refletem o que agora preenche meu peito. Esperança.

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Notas finais do capítulo

Olá, pessoal!

Adoro esses momentos entre pai e filho...

Agradeço aos que acompanham a fic!
;)

Beijos!

Isabela



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