Uma, duas e três, paixões de uma vez escrita por Yennefer de V


Capítulo 3
Três poções com três fios loiros de pontas duplas




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Três frascos de poções com conteúdo de brilho perolado e soltando fumaça em espirais. Três fios de cabelo loiros quebradiços e com pontas duplas para forçar três paixões falsificadas.

A sorte de ter um tio dono de uma loja de logros e brincadeiras que vendia as melhores Poções do Amor britânicas era a de que também era possível furtá-las diretamente de seu estoque durante as férias caso você estivesse apaixonada por três pessoas diferentes.

Provavelmente só Dominique estivesse nessa situação, mas ao menos uma vez ela conseguiu se antecipar aos acontecimentos. Ela sempre quisera uma chance de usar aqueles malignos venenos.

As Poções do Amor não eram novidade na vida de Dominique. Ela nunca as tinha usado, mas sua irmã mais velha Victorie, que já estava formada e ao contrário dela era um tanto mais vaidosa e romântica, tinha sido vítima das poções três vezes.

Na primeira vez, desavisada e desatenta, ela aceitou o pedido de namoro do rapaz atacante. No dia seguinte acordou chocada, porque era secretamente apaixonada por Ted Lupin, e de repente acordou namorando um sonserino. Terminou o namoro com um bilhete discreto, achando que estava sendo indelicada.

Na segunda vez, ainda desprevenida, ela já estava namorando Ted, que tinha se formado. Passou o dia aos berros atrás de um lufano que, arrependido de seu ato, se escondeu em banheiros, salas de aula vazias e até nas masmorras esperando o efeito da poção passar.

Na terceira vez, Dominique já estava em Hogwarts e já tinha aprendido algumas azarações. Victorie estava no sétimo ano e apareceu com os sintomas característicos que todos seus amigos já conheciam. Dominique simplesmente azarou o babaca que tinha jogado a poção no suco da irmã e o fez preparar um antídoto. Por sorte, ele era bom em Poções. Foi a primeira detenção de Dominique por azarar alguém.

Dominique tinha três propósitos ao envenenar suas três paixões. O primeiro era verificar o quanto cada um deles estava interessado nela. O segundo era checar como cada um agia de forma apaixonada (tinha gente que se apaixonava e se comportava de forma extremamente inapropriada. Victorie e Ted, por exemplo, ficavam aos beijos na frente das pessoas e adoravam toques, juras apaixonadas e não passavam um segundo desgrudados. Para Dominique, isso seria o fim do relacionamento) (ela prezava bastante sua individualidade, seus momentos solitários e sentia repulsa por grude demais e romantismo).

O terceiro objetivo era testar suas habilidades com a boca. Dominique odiaria namorar alguém que beijasse mal.

Ela encheu uma garrafa térmica com cerveja amanteigada misturada com as três doses da poção, pegou três taças de prata na mesa do jantar e as colocou dentro do blusão da Corvinal. Levou um antídoto para a poção em caso de emergência. Era novembro e o clima felizmente já permitia o uso do blusão sem suspeitas adicionais.

Lysander não gostou da ideia quando ela lhe convidou no dia anterior, depois de chegar de Hogsmeade. 

— Isso está parecendo um encontro duplo. – resmungou ele com sagacidade.

— É parte do meu projeto. – explicou Dominique com dedos cruzados atrás das costas. – Você estava reclamando de eu não ter te envolvido.

— Sair com Tiago Potter e me levar? – as sobrancelhas dele se arquearam. – Você não precisa de companhia extra num encontro, Dominique. Sei que nunca fez isso, mas as pessoas não levam os amigos em encontros. – Lys tentou explicar em tom condescendente.

— Você está zombando de mim? – ela percebeu o deboche dele.

— Sim.

Dominique respirou fundo, tentando manter a calma.

— Lys, eu sei como encontros funcionam. Você não será companhia extra. É meu projeto atual.

— Você não está com vergonha porque nunca fez isso antes? – perguntou Lys.

— Não!

— Então faça um Voto Perpétuo comigo para eu ter certeza. – um sorriso dançava no canto da boca dele.

— O quê?!

— Estou brincando. Está bem, Dominique. Espero que você saiba o que está fazendo com você e comigo. – Lys suspirou alto e revirou os olhos.

Dominique não sabia o que estava fazendo consigo mesma e com ele, mas celebrou mentalmente sua vitória mesmo assim.

Às dezoito horas do dia seguinte, horário em que todos ainda estavam jantando, Dominique foi para as arquibancadas do estádio de quadribol junto com sua vassoura. Por baixo do blusão ela usava jeans e uma camiseta do time Harpias de Holyhead. Tinha até penteado os cabelos e tirou alguns nós que os fios formaram ao longo da semana.

Felizmente, nenhum dos quatro times de quadribol estava treinando àquela noite. O problema é que o estádio estava na maior escuridão em conseqüência.

Lumus!— ordenou Dominique para sua varinha. Uma luz opaca e cintilante a iluminou, revelando outra presença além dela nas arquibancadas.

Ela reconheceu o recorte da figura diminuta que era Lily Luna Potter vindo em sua direção, um sorriso tímido estampado no rosto. Lily Luna estava prestes a ter seus trinta e três minutos. Dominique achou que estava com muita sorte àquela noite.

— Oi Nique! – Lily a abraçou e Dominique entrou em desespero. Quis empurrá-la para longe, mas estava contendo seus impulsos com suas três paixões. – Eu achei que tinha me adiantado demais quando cheguei, mas estava errada.

Lily tinha feito três coisas que Dominique odiava: abraçá-la sem ter intimidade ou motivo, chamá-la por um apelido ridículo e começado a falar sem parar.

Lily a soltou (finalmente!) e sentou em um dos bancos. Também acendeu sua própria varinha e pegou uma bolsa. Tirou de lá de dentro alguns doces da Dedosdemel. Dominique pousou a vassoura com cuidado no chão e sentou ao lado da garota.

— Você quer? – ela ofereceu a Dominique. Dominique balançou a cabeça negativamente e começou a analisá-la.

Lily Luna tinha os cabelos ruivos e lisos. Os olhos eram castanhos e ela tinha duas covinhas no rosto. Era um tanto miúda para seus catorze anos. Seus olhos eram gentis e bondosos e ela parecia gostar de contato humano, porque se encolheu junto do corpo de Dominique.

Dominique percebeu que ela estava sem agasalho. Lily encheu a boca com Chocobolas, esperando pacientemente os garotos ou mesmo que Dominique resolvesse falar alguma coisa.

— Por que você veio tão cedo? – quis saber Dominique. – Achei que ia chegar com seu irmão.

— Não gosto de me atrasar. – respondeu Lily. – E adoro uma desculpa para jantar doces. – ela deu um riso culpado.

Dominique achou graça. Depois sentiu seu próprio estomago reclamando da falta de jantar.

— Você tem Esqueletos Doces? – perguntou Dominique. Lily Luna, com a boca cheia, fez que não com a cabeça. Ofereceu alguns Sapos de Chocolate para Dominique, que avaliou que não teria melhor opção, e os aceitou. Por conta de tantos doces à sua volta, Lily Luna Potter tinha um suave cheiro de chocolate.

Suas mãos se tocaram quando Dominique pegou os Sapos e ela sentiu a eletricidade percorrer-lhe o corpo.

Lumus Maxima! — uma voz conhecida anunciou sua presença. Era Lysander chegando com Tiago Potter, ambos sem graça.

O estádio se iluminou de forma mais favorável. Tiago Potter não estava brincando quando disse que ele e Dominique podiam “rebater algumas bolas no estádio”. Ele estava não apenas com sua vassoura, mas com a maleta com os balaços, o pomo e a goles. Dominique deu um sorriso.

Lily se levantou e abraçou Lysander da mesma forma carinhosa que tinha feito com Dominique. Pro irmão ela só deu um “oi!” empolgado.

— Ei Dominique. – Tiago a saudou e olhou para sua vassoura.

Lysander deu de ombros e sentou ao lado de Lily Luna, formando as palavras com a boca, de forma que só Dominique percebeu “en-con-tro du-plo!”.

Dominique fez uma cara falsa de inocente e olhou para Tiago.

— Está se enchendo de doces de novo? – perguntou Tiago para a irmã.

Ela assentiu com a cabeça.

— Passe alguns pra cá. – ele estendeu a mão, sentando ao lado de Dominique.

Lily aparentemente já conhecia o gosto do irmão, pois sua ação foi automática ao lhe dar um Pirulito Com Sabor De Sangue. Tiago enfiou o pirulito na boca e ficou brincando com ele, jogando pra lá e pra cá.

— Você quer Lys? – perguntou Lily.

— Não, obrigado. – Lysander recusou olhando firmemente para Dominique, para que ela se sentisse extremamente responsável por aquela cena aleatória na vida dele.

Tiago estava muito próximo de Dominique. Suas pernas não estavam se tocando, mas Dominique percebeu que diferente da irmã, os cabelos dele tinham cheiro de cera de abelha. Dominique não se surpreendeu. Era a substância usada para polimento de varinhas e vassouras.

Os cabelos dele estavam tão despenteados que ela se perguntou se algum dia ele já passara um pente por dentre os fios. O pirulito gingava entre seus dentes.

Dominique pensou por um instante e lembrou que já sabia o cheiro de Lys. Lysander tinha cheiro de pergaminho novo.

Ela estava triplamente confusa.

— Está tão frio. – reclamou Lily Luna. Tiago tirou seu próprio casaco e embrulhou a caçula.

— Vamos jogar quadribol. Vai esquentar. – ele deu de ombros.

Dominique percebeu que estava perdendo sua chance.

— Eu trouxe cerveja amanteigada. – ela falou num fio de voz. – Tirou as taças de seu blusão e serviu.

— Você trouxe é? – Lysander olhou para ela com incrível suspeita.

— Qual o problema? – Tiago Potter achou estranha a reação de Lysander. Ele já estava no fim da taça, tomando com gosto.

Lily Luna agradeceu e ficou tomando aos goles. Lysander olhou para Dominique, penetrando o olhar de forma tão inquiridora que ela não insistiu que ele tomasse.

— Vamos jogar? – perguntou Tiago para Dominique, olhando a luz enfeitiçada de Lysander lá no alto.

Dominique ficou olhando de um para o outro, cheia de expectativas com os efeitos das poções. Assentiu para Tiago, pegando a vassoura devagar.

Os dois desceram das arquibancadas.

Tiago estava ombro a ombro com ela. Ele era uma cabeça mais alto, e a mão dele que carregava a maleta ficou roçando na dela enquanto desciam as escadas.

— Obrigado por aceitar sair comigo. Depois de tudo aquilo.— Tiago olhou de soslaio para ela. – Você realmente consegue me irritar.

— Você também consegue me irritar. – resmungou ela de volta. – Por que você me chamou pra sair? Por que de repente se interessou por mim? – Dominique perguntou com ferocidade, antes que ele estivesse enfeitiçadamente apaixonado.

— Eu sou um babaca com as pessoas que não conheço. – ele novamente abriu um sorriso repleto de tranqüilidade. – Ainda mais com quem começa a me rivalizar no quadribol, me atacar nos corredores e me xingar no meio do Salão Principal. Acho justo só contra-atacar.

Ela teve que concordar com ele.

— Sim, é autodefesa. Isso não explica seu interesse repentino em mim.

— Não foi repentino. – Tiago semicerrou os olhos.

Eles chegaram ao chão do estádio e Tiago pousou a maleta no chão. Seu pirulito havia acabado e ele colocou o cabinho num bolso da calça para jogá-lo no lixo mais tarde.

— Já faz um tempo que me interessei por você. Só tomei coragem de demonstrar agora. – ele completou e deu de ombros.

Dominique se distraiu por um momento, sentando com as pernas cruzadas na grama. No alto do céu, a bola de luz de Lysander brilhava fracamente, suspensa sobre eles, iluminando em um círculo o espaço em que ela e Tiago estavam como uma lua sinistra.

De repente, tão rapidamente que Dominique não teve tempo de prever, Tiago Potter tinha deixado sua vassoura cair no chão e havia colado os lábios nos dela, a agarrando pela nuca. Ela foi obrigada a se levantar e ficou nas pontas dos pés, sentindo uma das mãos dele em suas costas e a outra em sua nuca, mexendo delicadamente em seus cabelos embaraçados.

O beijo era tomado com uma urgência de quem tinha esperado tempo demais. Ela ouvia a respiração alta dele colada em seu rosto e ficaram assim por pelo menos cinco minutos.

Lentamente ele a soltou. Os olhos estavam desfocados, a fala estava pastosa e o corpo dele estava estranhamente tenso. Dominique soube que ele estava envenenado pela poção.

— Acho que te amo. – ele falou. – Pra valer.

Dominique teria achado graça se não estivesse bamba pelo beijo repentino.

— Você só está enfeitiçado. Como se sente? – perguntou Dominique.

Tiago parecia confuso. Ele nunca parecia confuso para Dominique.

— Eu amo você. Eu achei que só estava apaixonado. Que tinha que te conhecer melhor. Só que agora tenho certeza que amo você. Vamos nos casar quando você se formar, por favor?

Dominique revirou os olhos.

— Claro que não. Somos muito jovens. Quero fazer muita coisa na vida.

Tiago pareceu ter levado um balaço no rosto.

— Eu faço essas coisas com você.

— Você quer fazer o que comigo, senhor-desesperado-de-amor?

— Jogar quadribol no mesmo time, para que a gente pare de brigar? – tentou ele. – E... e ... Apresentar você como namorada aos meus amigos. E te chamar do jeito que você gosta porque eu sou realmente irritante quando eu quero.

— Sente aqui. – ela pediu, sentando-se novamente. Tiago obedeceu docilmente, enlaçando a mão na dela.

— Desculpe ficar repetindo seus apelidos idiotas. E desculpe ter demorado meses pra te chamar pra sair. E desculpe por ter colocado pó-de-mico nos seus cabelos naquele jogo contra a Lufa-Lufa...

Foi você?!

— Desculpe desculpe desculpe. – pediu ele. – Você era tão irritante. Você tinha me cegado com aquele feitiço uma semana antes! Eu quero que você saiba que eu adoro o jeito que você faz as coisas que bem entende sem deixar ninguém ficar no seu caminho. E te acho uma batedora incrível. E eu sempre torço para que você invente alguma maluquice ou se meta em alguma encrenca para receber um Berrador na hora do café. Eu realmente acho graça na voz do seu pai gritando que vai te prender no banheiro com a Murta-Que-Geme por um dia inteiro. São as três coisas que eu mais gosto em você.

Dominique ia protestar que receber tantos Berradores não era engraçado, quando um Lysander aparentando muito mau humor chegou ao estádio com uma Lily Luna inquieta.

Lily se jogou com sofreguidão num abraço pelas costas em Dominique, que ainda estava sentada.

— Senti sua falta. – fungou a menina.

O que você fez com eles?! — esganiçou Lys.

— Por que você está normal? – reclamou Dominique.

Lysander olhou para ela como quem diz “você realmente acha que não te conheço?” e colocou sua taça de prata no chão, a bebida intocada.

— Você nunca é simpática assim Dominique.

— Podemos andar de mãos dadas? – pediu Lily no ouvido dela. – Você é tão quentinha.

Lily estava agarrada às suas costas, o corpo colado no dela, Tiago sentado à sua frente, olhando para os três com visível confusão.

— Não acredito que você enfeitiçou os dois com Amortentia! E ia me enfeitiçar também!

Lysander estava perigosamente bravo.

— Eu estou confusa. Não sei por qual de vocês sou apaixonada de verdade. – Dominique rebateu como se fosse um motivo lógico.

Lysander suspirou alto.

— Você está apaixonada por mim?

— Não sei. Eu ia beijar todos vocês e ver se...

Lysander fez cara de incredulidade e se ajoelhou de frente para ela. Então a beijou. Ele tinha o conhecido cheiro de pergaminho. Suas mãos tocaram as mãos dela, apoiadas no chão. Lily tombou fracamente pra trás. O beijo de Lys tinha jeito doce, delicado.

Ele interrompeu o beijo abruptamente.

— Como se sentiu? – perguntou Lys impaciente.

Dominique não teve tempo de responder. Lily se colocou em pé e perguntou para Dominique timidamente:

— Você pode ser a primeira pessoa a me beijar? Eu realmente gosto de você.

Os olhos dela cintilavam com a luz do feitiço de Lys, que ia enfraquecendo. Tiago se levantou de súbito.

— Por que você a beijou, cara? Nós estávamos tentando nos entender. – perguntou pro Lysander de maneira cabisbaixa.

Dominique estava desesperada. Lily Luna a abraçou novamente. Ela se sentiu extremamente mal. Não podia roubar aquela experiência da garota. Seu primeiro beijo, roubado por alguém que a tinha dopado com uma poção. Ela automaticamente tirou do bolso o antídoto e o estendeu pra Lily, enquanto Lys se entendia com Tiago Potter.

— Se você beber isso eu te beijo. Tem gosto de chocolate.

Lily Luna confiou nela, confiou nela como se ela fosse digna de toda confiança do mundo, como se Dominique nunca fosse lhe fazer mal.

O problema era que Dominique já tinha feito e Lily era por demais ingênua para entender isso. Dominique estava se arrependendo. Lily começou a perder o efeito de seu estado apaixonado, olhando com visível choque para a situação, extremamente confusa.

Lys conseguiu acalmar o enfeitiçado Tiago e ofereceu sua taça intocada com Amortentia para Dominique. Ela não entendeu de imediato.

— Por q...?

Então sentiu o cheiro que vinha da poção. O cheiro da pessoa por quem ela estava realmente apaixonada.

Não eram três.

Era apenas uma.


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Notas finais do capítulo

Hááááááá. Vocês vão me odiar por esse final de capítulo, sim ou lógico?



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