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A brisa levantava os cabelos castanhos, enquanto seus pés calçados por sandálias delicadamente tocavam o chão. Um suspiro lhe escapou dos lábios quando sua visão alcançou o rapaz na margem do pequeno riacho em frente ao apartamento.

Hachi apertou os lábios e puxou a manta mais para cima dos braços, quase lhe chegando ao pescoço.

Nobu passeava com seus olhos pelo cenário, ignorando a chegada da garota.

Estava agachado com o braço em cima do joelho e apenas uma de suas pernas dobradas no chão. Havia uma blusa muito fina lhe cobrindo o corpo, de mangas curtas, o que era insuficiente para um final de tarde frio como aquele.

 Nana parou ao lado dele, esperando que ele a olhasse e dissesse algo.

 - Nobu? – disse finalmente, após um longo tempo de espera.

O rapaz tirou os olhos da única janela acesa do apartamento, para então posicioná-los em cima da garota. Havia uma mescla de tristeza e raiva naqueles olhos, Nana pôde ver.

Ele manteve-se em silêncio por bastante tempo, até resolver quebrar sua mudez com um suspiro e algumas poucas palavras:

 - O que foi?

 - Fiquei preocupada com você.

Nobu abaixou os olhos.

 - Comigo? Porque deveria? Preocupe-se com seu amado. Preocupe-se somente com o filho de vocês e com o casamento de vocês.

 - Ora, porque você está assim, Nobuo?

O menino se colocou imediatamente em pé e deus poucos passos para longe, seguido das palavras mais intensas de Nana. Ficou de costas para a garota, cruzando os braços e suspirando nervoso. Calou-se.

Ela apertou os lábios e segurou o manto com força.

 - Nobu... por favor...

 - Porque você não me destrói de uma vez?

 - O que...?

 - Pare de torturar! Meu coração já está bastante machucado para você vir aqui e querer me consolar e vir me perguntar o porque estou assim, de forma tão arrogante -  ele virou o rosto contorcido de dor para ela, segurando-se para não verter suas emoções em lágrimas.

 - N-Nobu... e-eu... – Nana viu sua visão ficar turva – Eu não qu...

 - Cale a boca! – exclamou ele, virando o rosto para frente e andando firme e apressado mais longe dela – Fique longe de mim!

A garota soluçou.

Nobu sentiu as lágrimas quentes escorrendo pela própria face. Sua boca torceu e ele apertou os lábios, fazendo de tudo para segurar sua amargura. Uma mão sutil segurou seu braço, o fazendo eriçar os pêlos da pele. O toque das mãos mornas de Hachi sempre o fazia ceder à qualquer situação.

Ele parou.

Ela passou o braço oposto pela cintura dele, ainda segurando o outro. Apoiou sua face nas costas dele, entregando-se ao choro.

 - P-por fav-vor, N-Nobu... n-não me od-deie... – balbuciou entre soluços, com a voz quase incompreensível.

Nobu não falou nada no momento, porque não conseguia. Em sua garganta estava preso um sentimento penetrante e terrível. 

A música. A voz suave e melodiosa soou da janela do apartamento.

“I need your love, i’m a broken rose”

Nobu dirigiu seus olhos para o céu escuro.

“Oh, querido, me cure dessa gélida dor...Com seu sorriso, olhos, cante apenas para mim...”

 - Naquele tempo... quando eu estava na escuridão...  – ouviu-se a voz de Nobu lenta em sincronia ao canto da mulher, ao longe - No canto do meu quarto, com meus lábios trêmulos, eu chorei...

Hachi soluçava. A mão de Nobu lhe aqueceu os dedos frios, que percorriam a silhueta de sua cintura. Ela soltou a mão do braço oposto e contornou o corpo dele com este. Abraçou-o forte.

 - Quanto mais luto, mais essa mágoa penetra em mim... Promessas quebradas me machucam...

A noite foi embalada pelo choro, agora silencioso, de Hachi, a melodia de Nana Oosaki e de Nobuo. Lágrimas serenas desciam continuamente de seus olhos, pingando sobre os braços de Nana, em completa melancolia.

 - Ninguém pode me salvar... Somente Deus pode fazê-lo...  – a voz dele perdeu o compasso com Oosaki, esvaindo devagar junto aos ventos. Somente foi ouvida a voz da moça, bem ao longe e distinta.

“Ninguém pode me salvar... Como uma rosa congelada...”

 - Nobu...

O rapaz abaixou os olhos, virando-os de soslaio. A garota deslizou de trás e foi parar na frente dele.

Elevou os calcanhares.

“Eu quero contar com seu amor...”

Passou os braços em volta de seu pescoço.

“Eu sou uma rosa despedaçada...”

Encostou de leve seus lábios nos dele.

“Eu quero contar com seu amor...”

Imediatamente ao ato dela, ele passou as costas dos dedos sobre a face molhada da garota. Mais duas lágrimas vazaram as pálpebras fechadas de Nobu.

“Minhas lágrimas querem adormecer gentilmente...”

Um calor típico de quando Hachi lhe acalantava tomou conta de suas entranhas e de seu peito. Um pulsar gostoso em sua cabeça. Talvez fosse o doce amor, ou quem sabe medo de tocá-la novamente... A suavidade do beijo era tanta que Nobu acreditou estar adormecendo aos poucos, penetrando num profundo sono.

“Quanto mais me tranco, mais complicado este amor cresce Beije-me lenta e gentilmente”

Não foi Nana quem quebrou esta deliciosa ligação, mas sim, Nobu.

Ele encarou-a nos olhos, desviando de uma íris à outra, parecendo triste por isso.

“Eu quero contar com seu amor... Eu sou uma rosa despedaçada... Eu quero contar com seu amor...”

 - Hachi... sinto muito.

Os olhos brilhosos de Nana faziam o mesmo movimento que os de Nobu, tentando encontrar alguma solução para a angústia de ambos. Havia apenas uma solução: amar sem poder tocar jamais.

 - Nobu...

Ele tirou suas mãos dela, passando ao lado de Hachi e caminhando para próximo de uma roseira perto do virtuoso riacho. Colheu uma das flores, aquela que acreditou ter a coloração mais escarlate de todas, além das pétalas mais firmes e do caule mais verde.

Deu as costas para a roseira, chegando próximo de Hachi. Ofereceu-a silenciosamente a rosa. Nana pegou, olhando infeliz.

Após isso, Nobu não a olhou de volta. Virou-se, caminhando desamparado pelo caminho que seguia por aquele riacho...

“Ninguém pode me ajudar... Ninguém pode me ajudar...”

No momento em que ela dirigiu os olhos dele para a rosa, uma brisa forte fez com que todas as pétalas rubras voassem da flor pelo ar, dançando sutilmente pelo vento. Ela acompanhou este doce movimento...

“Eu sou uma rosa despedaçada...”

... E quando ela voltou a olhar para Nobu, ele já havia desaparecido de sua visão.

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End.