Os Aprisionados escrita por Igor Feijó
Três noites e nenhuma pista.
Sakura abriu a porta com um solavanco resmungando algo sobre a fechadura, ao deslizar o dedo pelo interruptor a luz permaneceu apagada.
— Ah, ótimo. Eles cortaram a luz – bufou batendo a porta em seguida.
Na gaveta da escrivaninha havia uma lanterna, enquanto caminhava em direção ao objeto seu telefone vibrou. Era Uzaki, seu contato da polícia.
— Sakura?
— Nossa, até que enfim consegui falar com você – reclamou brincando.
— Me desculpe, as coisas têm andado meio estranhas por aqui – ele não parecia muito confortável.
— Estranhas, estranhas como? - se interessou.
— Um caso. Ainda não temos nada, mas está dando dor de cabeça para o departamento.
— Mas o que aconteceu?
— Isso não pode sair daqui, ouviu?
— E quando foi que eu saí por aí espalhando casos secretos?
— ;Está bem, eu confio em você – algumas vozes no fundo da ligação foram se distanciando, um som de algo batendo pode ser ouvido – Pronto, estou em um local mais reservado. Ao que parece duas pessoas estão desaparecidas, tudo indica que a última visita foi a catedral. As duas se confessavam com frequência nesta mesma catedral. Estamos investigando os padres, mas não temos nada concreto no momento. Pra falar a verdade… não temos nada.
Sakura pensou por um momento.
— Hmm. Entendo. Obrigado por me contar, Uzaki. Te devo essa!
— Ei, espere, você n…
Mas ela já havia desligado.
Ao lado da lanterna também repousava um revólver. Sakura verificou o tambor, todos preenchidos.
— Gostaria de me lembrar quando esta cidade começou a ficar suja – disse pra si.
Ela conhecia a catedral mencionada por Uzaki, ficava a três quadras dali. O estabelecimento nunca se envolvera com escândalos desde que fora fundado. Pelo contrário, muitos frequentavam a missa local, vivia lotado.
Sakura tinha um plano, se funcionasse poderia encontrar uma resposta antes da polícia. Ela não tinha certeza, mas desconfiava que trilhava a pista da primeira carta.
Isso a deixou animada.
Chegando ao local reparou que o movimento era quase nulo, duas ou três pessoas rezavam ajoelhadas enquanto uma saía pela porta. A direita entre grossas pilastras de granito branco encontrava-se o confessionário. Se aproximou com cuidado para analisar a pequena construção de madeira escura, vazia.
Raspou o dedo no assento acolchoado como quem investiga grãos de poeira, porém, uma estática ínfima surgiu no exato segundo em que a pele roçou no couro avermelhado. Era sem dúvida um resquício de magia.
Um pigarro rouco a fez saltar para trás de susto.
— Posso ajudá-la senhorita?
O dono da voz era um padre de batina escura, era alto e careca, os olhos eram castanhos. Mesmo com a roupa larga percebeu braços fortes e uma pequena barriga se avolumando pelo tecido.
— Ah… eu queria me confessar – falou meio sem jeito.
O padre abriu um sorriso acalentador, embora os olhos expressassem uma frieza sobrenatural.
— Sem problemas, pode se sentar aqui – ele indicou o local enquanto fechava sua cortina.
— Obrigada.
Ao lado de sua cabeça uma portinhola deslizou reproduzindo um som característico. Os furos pareciam alguma espécie de decoração, era quase impossível reconhecer o rosto de alguém por ali.
— Na verdade, espero que não me leve a mal, padre. Mas eu sou uma detetive e estou aqui para lhe fazer algumas perguntas.
Não houve resposta.
— O senhor sabe alguma coisa sobre o desaparecimento dos frequentadores?
— Peço que espere alguns minutos. Ainda existem alguns irmãos trabalhando, mas eles já estão de saída, daí poderei conversar melhor e responder todas as suas perguntas, detetive – as últimas palavras foram pronunciadas de modo mais lento.
Depois de alguns minutos a porta da catedral bateu, Sakura concluiu que não seria um questionário tranquilo.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!