My Dear Old Friends escrita por Roses in misery


Capítulo 1
Point to the pictures, please tell them my name


Notas iniciais do capítulo

Olá... Faz um bom tempo e nem tenho certeza que alguém se lembra de mim, mas hoje, exatamente nesse dia, completa um ano que terminei When Smiled You Knew, que foi uma história que amei escrever e carrego os personagens sempre comigo... Então eu pensei que talvez gostariam de saber como eles estão.
Esse é meu presente para vocês, para os leitores que ainda estão aqui e que me apoiaram tanto enquanto eu contava a história de WSYK.
Espero que gostem.

Boa leitura.



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A campainha soou pela casa, anunciando que mais algum convidado havia chegado para a festa de aniversário da garota emburrada no sofá e de braços cruzados com força na frente do peito. Ela olhou para porta, mantendo a mesma expressão, mais por orgulho do que por qualquer outra coisa, e pulou em direção a ela, sentindo e reprimindo a ansiedade que estava fazendo cosquinha em sua barriga para saber quem estava do outro lado.

—Engraçado, imaginei que Éponine iria nos receber e não sua pirralha. – Grantaire provocou passando pela porta, parando em frente ao espelho arrumando os cachos.

—Como vai Francesca? – Simon a cumprimentou, pegando sua mão e dando um beijo, fazendo a garota, de cabelos castanhos, dourados e olhos chocolates, rir, quebrando a carranca brevemente,  antes de revirar os olhos e bufar.

—Minha mãe teve que sair correndo com Francis para o hospital. – explicou, guiando os dois pela casa até o quintal, onde já se encontrava os outros Amis arrumando as mesas e seus filhos brincando.

—Algum problema? – Grantaire indagou sério.

—Um problema chamado meu pai. – replicou apontando para o loiro que estava na churrasqueira, parecendo ter dificuldade em acendê-la. – Mamãe e eu fomos buscar os doces da minha festa de aniversário e quando chegamos encontramos meu pai chorando e Francis se fingindo de desmaiado em seus braços segurando com força uma bandeira da França.

—Francesca não tem necessidade de espalhar isso para cada convidado que chegar. – Enjolras chamou atenção da filha, sem de fato se virar para encará-la.

—Ah tem sim! – retrucou pousando as mãos na cintura. – E ainda nem cheguei a melhor parte. – a garota limpou a garganta, então seu rosto assumiu uma expressão dramática. – “Ponine, Ponine. Eu juro que não tive a intenção... Mon Dieu! Será que eu matei nosso filho?” – imitou com um desespero cômico, ganhando um olhar atravessado do pai.

—Tá. – Simon interrompeu a cena da garota. – Mas o que aconteceu?

—Aconteceu que quando saímos, Jojo e Francis decidiram montar barricadas para defenderem a França. – explicou cruzando os braços. – Francis caiu de cima de uma delas. Estragando assim o meu aniversario.

— Éponine logo deve estar aqui, Francis estava reclamando de dor no braço, então ela achou melhor levá-lo ao pronto socorro, Joly está de plantão. – Enjolras concluiu. – E eu sou seu pai Francesca, nada de me chamar de Jojo ou ficar me imitando.

A garota revirou os olhos, bufando.

—Estão vendo? Ele me odeia. Com Francis ele é um amor, agora comigo? – apontou para o próprio peito com dramaticidade. – Irei ver se tia Cosette precisa de ajuda. – e saiu rumo à cozinha, jogando os cabelos para trás.

Os três a observaram sumir dentro de casa e Grantaire começou a rir.

—Que azar o seu ter uma mini Éponine. O drama é idêntico.

—Pelo menos Francis se interessa por revoluções.

—E tem cinco anos. – Simon atalhou como se desaprovasse.

—Enjolras precisa de... Ah oi Grantaire e Simon. – Combeferre os cumprimentou. – Já ficaram sabendo que ele quase matou o filho hoje mais cedo?

—Sim, Francesca já representou a cena com toda a intensidade de drama necessário. – Enjolras grunhiu, jogando mais carvão na churrasqueira.

Combeferre franziu a testa, observando o amigo.

—Você sabe que não vai acender se não tiver fogo, não sabe? – questionou como se falasse com uma criança.

Os ombros do Ami ficaram tensos, antes que ele se virasse para encarar Combeferre.

—Claro que sei que se precisa de fogo... Quem não sabe? – indagou com um tom debochado.

O rapaz de olhos verdes e óculos, o encarou cético.

 – Você nunca fez churrasco antes, não é?

Os ombros de Enjolras caíram.

—Não.

—Tsc, tsc. Que grande decepção você é Jojo, estragando o aniversário de nove anos de sua filha. Vou entrar para cumprimentar as garotas e volto logo para infernizar vocês. – Grantaire informou, passando o braço pelo do namorado e saiu andando para casa.

—Vou precisar de álcool... E fogo é claro. – Combeferre avisou, começando a cuidar da churrasqueira.

Após alguns minutos e vários xingamentos depois, Combeferre se encontrava com o rosto sujo de carvão, assoprando o fogo na esperança que ele se alastrasse e finalmente começasse a assar a carne. Enjolras olhava o Ami com escárnio e braços cruzados.

—Então senhor churrasqueiro? – perguntou com arrogância.

—Algum problema aqui... Mon Dieu, Comb! Acho que você precisa usar mais protetor solar, você está meio... Queimado. – Courf apontou para o rosto do amigo.

—Estou tentando acender a churrasqueira. – informou com rispidez.

—Jogou álcool?

Combeferre plantou as mãos na cintura, olhando para o amigo como se pudesse matá-lo.

—Eu não sou burro, Courf. Sei como acender uma maldita churrasqueira. – rosnou.

Courfeyrac o ignorou, estudando a churrasqueira.

—Talvez não tenha colocado álcool o suficiente. – decretou por fim, abrindo a garrafa e álcool e tacando diretamente no fogo, sem cuidado nenhum, espalhando o liquido para todos os lados.

Imediatamente o fogo levantou, fazendo os três pularem para trás com o susto, observando as chamas altas, um caminho alaranjado se alastrando até onde o liquido havia derramado.

Uns minutos depois o fogo abaixou. Courfeyrac se aproximou da churrasqueira.

—Quem quer comer carne? – berrou. – Já ta assada e muito bem passada.  Falei que faltava um pouco de mais de álcool. – bateu no ombro de Combeferre, saindo em direção às crianças que corriam ali perto.

Grantaire observava a bagunça que era feita no quintal pela janela, sem conseguir acreditar que se passara tanto tempo.

Não se sentia nem um pouco velho quando estava com os amis, e muito menos preocupado com a vida.

—Sua mãe vem? – indagou desviando os olhos para a loura que arrumava a mesa com a comida.

—Éponine vai pegá-la quando estiver voltando. Achamos que seria cansativo para ela vir para cá tão já.

Grantaire assentiu. Fantine se sentia melhor na casa da fazenda, motivo que fez Cosette e Marius se, mudarem para lá quando Valjean infelizmente veio a falecer uns três anos antes. Ela detestava Paris como sempre deixava claro.

Logo, Cosette assumiu de se mudar para lá. Éponine se ofereceu é claro, embora ela já estivesse com a escola de teatro começando a ganhar alunos, sem falar que Enjolras por mais que adorasse Fantine, não se animava nem um pouco com a ideia de a esposa pegar a estrada todo dia para ir trabalhar sendo que tinha uma filha pequena.

No fim, Cosette acabou montando seu consultório por lá, e o ambiente acabava por ajudar seus pacientes, como gostava de se gabar toda vez que se encontravam. Sem falar que seus filhos adoravam o lugar e ela percebeu que não havia um lugar melhor para criá-los.

—Precisa de ajuda? – o amigo perguntou, roubando um docinho da bandeja e ganhando um olhar torto da loura.

—Você desenha, não é mesmo? – questionou.

Grantaire deu de ombros.

—Dá para o gasto.

—Ótimo. Pegue o kit de tinta que Éponine comprou para fazer os desenhos no rosto das crianças... Logo os outros amiguinhos de Francesca vão chegar e está tudo de pernas para o ar aqui.

O amigo abriu um sorriso diabólico que passou despercebido por Cosette e saiu em direção onde sabia que Éponine guardava as tintas e maquiagens, ignorando as que estavam separadas e pegando as que a amiga comprava para a escola de teatro.

[...]

—Voltamos! – Éponine anunciou assim que abriu a porta, vendo as crianças correndo. Francis estava ao seu lado, o braço engessado e com uma tipoia, parecendo orgulho do machucado. – Sinta-se a vontade, mãe. Irei ver como estão às coisas. – a morena beijou o rosto enrugado de Fantine, que fechou os olhos de deleite ao sentir o toque carinhoso da filha. – Mas que porra é essa?!  - a morena gritou, segurando o rosto de um dos amiguinhos de Francesca.

—Ponine! Esses são modos com tantas crianças em casa? – Fantine bradou.

—Pardon, mãe. Mas olha isso! – apontou para o rosto de uma menina que passava por elas, tudo borrado e rabiscado. – Todas estão assim! Parecem que saíram de um filme de terror... “A entidade” ou “O orfanato”.

—Não sei ao que está se referindo... Mas até que não está tão ruim... É uma arte, muito... Moderna. – gaguejou, tentando acalmar a filha que começava a se empertigar ao olhar os rostos sorridentes das crianças que passava correndo por elas. Francis já havia se juntado a um grupo de meninos que olhavam admirados para o gesso em seu braço e ouviam fascinado o discurso do garotinho. Éponine não pode deixar de reparar que o filho se tornaria igualzinho o pai. Um criador de encrencas que causaria sérias dores de cabeça quando mais velho. –Inovadora! Esta era a palavra que eu estava procurando. Para que pinturas de borboletas ou animais? Pff estão ultrapassadas.

—Mãe... Isto está um lixo.

—Sim. – concordou. – Todavia você não precisa ver desse modo. Veja só. – soou positiva, segurando delicadamente no rosto de uma menina que passava com um copo de refrigerante. – Olá lindeza... Muito linda sua pintura, não achou?

A garotinha olhou para o rosto de Fantine.

—Não. Mas foi engraçada de fazer.

—Graças a Deus, mãe! – Francesca entrou no vestíbulo praticamente gritando, os olhos vermelhos com as lágrimas contidas. – Eles estão acabando com a minha festa!

—Eles quem, meu anjo?

Os olhos chocolates idênticos aos da mãe, encarou-a de forma cética.

—Seu marido, que queimou a carne. Grantaire e Courfeyrac que se apossaram das tintas e estão fazendo isso. – apontou com desprezo para o rosto dos coleguinhas. – Essa festa está um verdadeiro desastre!

—Mamãe já vai dar um jeito. – Éponine prometeu, indo para o quintal.

Fantine abriu os braços e a neta correu para retribuí-la, escondendo o rosto no peito da avó, como se tentasse se perder ali, no conforto que emanava dos braços da mulher.

—Mas claro que tinha que ser vocês! – Éponine rosnou e Grantaire se encolheu assim que viu o olhar desvairado da amiga. Ele tinha certeza que assim que ela se aproximasse seria capaz de ver sangue nos olhos dela.

Ele amava a amiga, assim como aprendera com os anos a temer aquela expressão que ela exibia. E se Courfeyrac fosse esperto iria parar naquele instante de pintar o rosto do garoto, com chifres e uma monocelha para correr.

—Olá Ponine... Como vai Francis? Alguém já mencionou como está bonita hoje? – indagou abrindo um sorriso que deixava a mostra todos os dentes e o deixava com um semblante amável, não que precisasse, já que Éponine achava qualquer expressão do amigo amável e isso não ajudava muito quando precisava brigar com ele. Mas aquela era a festa de aniversário de sua filha, os dois tinham que saber os limites.

—Não comece. – bradou erguendo a mão. Courfeyrac percebeu a presença da amiga e parou o que estava fazendo, dispensando o menino que saiu correndo e gritando em direção aos amiguinhos. A morena percebeu que era tarde demais e que o estrago já havia sido feito ao ver os rostinhos sorridentes todos pintados com desenhos que ela não sabia nomear. – Será que vocês são incapazes de crescer? Ou será que não podem respeitar nem o aniversário de uma criança? Francesca está chorando nesse exato momento porque os dois não são capazes de ajudar. Vocês não sabem o quanto ela ama vocês e que estão a machucando em um dia que estava ansiosa para que chegasse?

Os dois homens abaixaram a cabeça, fitando as mãos sujas de tintas, e aos olhos de Éponine eles pareceram duas crianças se dando conta da coisa errada que haviam feito depois da bronca que levaram.

Grantaire ergueu a cabeça e viu Francesca nos braços de Fantine, o rosto afogueado das lágrimas que ainda estavam recente. Ele tinha certeza que se tocasse a face da menina, iria senti-las úmidas e se sentiu péssimo. O rapaz adorava a filha dos amigos mais que tudo na vida, e seu objetivo sempre era fazê-la sorrir, France possuía um sorriso lindo que sempre lhe aquecia o coração. A menina sempre costumava abraçá-lo forte e dizia que o amava, gostava de estar em sua companhia sempre que possível.

Ele se sentiu o pior por ter deixado seu jeito moleque que se recusava deixá-lo estragar e causar as lágrimas nos olhos de Francesca.

A garota percebeu os olhos azuis do homem, que sorriu para ela, querendo saber se ainda estavam bem  e desviou o rosto, escondendo no peito da avó.

Courfeyrac também observava a menina que pegou no colo inúmeras vezes. Ela que havia soltado um “Courf” todo enrolado antes mesmo de “mãe” ou “pai”. France que sempre iluminava o dia quando surgia em seu escritório no hotel. Ele não via a hora de ter seus filhos, contudo ainda não havia sido abençoado com crianças. Sua esposa queria concluir a faculdade antes de ficar grávida e ele esperava o momento acontecer.

E ao ver a tristeza no rostinho da menina, perguntou-se se conseguiria ser um bom pai, agindo pior que uma criança às vezes.

—Iremos limpar o rosto deles. – Courf garantiu.

Éponine assentiu os braços caindo ao lado do corpo.

—Mas quem passou essa porra no rosto da minha filha? – Augustinne entrou arrastando a menina pela mão que parecia não entender a reação da mãe.

—Epa, epa, epa. – Grantaire se colocou de pé parecendo ultrajado. – Ninguém aqui passou porra na cara de ninguém. O que pensa que somos?

Augustinne ficou encarando o amigo de modo sério, para deixar claro que não estava de brincadeira.

—Você lava isso agora ou você vai ver só o que irei fazer com os dois. – ameaçou.

Éponine fechou os olhos, pressionando os lábios para não rir. Sabia que os dois morriam de medo de Augustinne, que sem dúvida alguma, sabia como se vingar se necessário.

A morena queria morrer de bem da amiga.

—Irei falar com Enjolras. – avisou, deixando os três discutindo e saindo em direção ao marido, que cutucava a carne com certo receio.

Ela o observou de bermuda branca, as pernas cheias de fios louros praticamente invisíveis e que sabia que eram macios. Ponine gostava de puxá-los para irritá-lo quando estavam assistindo algum filme que ela não se interessava.

—Então senhor churrasqueiro... Como vai? – cumprimentou com doçura, envolvendo seus braços ao redor dele, e encostando o rosto em suas costas. A morena sentiu o marido estremecer e sorriu. Mesmo depois de tantos anos o toque um do outro causava aquela sensação gostosa, como se fosse o primeiro.

—Eu não sei fazer isso. – murmurou, olhando a esposa de rabo de olhos. – Achei que sabia, mas não sei e acredito que perdi um monte de carne no processo.

—Não se preocupe. As crianças gostam mais dos salgados. O churrasco era mais para o núcleo adulto da festa. – falou, soltando-o para que pudesse olhar nos olhos de seu garoto.

—E Francis? – quis saber, largando o garfo e enlaçando a cintura da mulher.

—Nosso mini- revolucionário está bem, apesar de ter quebrado o braço. Mas ele está orgulhoso de seu ferimento de guerra. Precisava ver, ele contando para o médico como que aconteceu. Parecia você. – contou sorrindo. – Não me deixou falar uma única vez.

—Desculpe-me por causar esse transtorno para você quando está tão atarefada. – pediu com sinceridade, dando um beijo na testa de Éponine que fechou os olhos de deleite.

—Tudo bem. Vá conversar com os rapazes que eu cuido daqui. Está tudo sobre controle... E deveria falar com France... Ela está um bocado chateada com você. – comentou.

Enjolras correu os olhos pelo quintal tentando encontrar sua garotinha.

—Tente com a minha mãe. – Éponine aconselhou.

Seu garoto dos olhos azuis sorriu para ela e foi em direção a casa, passando por Augustinne que ainda discutia com Grantaire.

Enjolras entrou pela cozinha, encontrando-a vazia e foi para a sala, onde uma mesa enfeitada e cheia de doces esperava pelo momento do parabéns. Subiu as escadas para o andar superior, deixando a gritaria das crianças para trás e foi até o quarto da filha, encontrando a porta entreaberta. Ele viu a menina deitada na cama, usando o colo da avó como travesseiro. Cosette e Marius estavam sentados no chão e o tio fazia carinho nos cabelos castanhos dourados da menina.

—Não precisa chorar Frannie. – Marius falou. – Sua mãe vai deixar tudo em ordem rapidinho.

—É tudo culpa dele. – a menina murmurou com a voz embargada. – Meu pai me odeia. Nada teria saído do controle se ele não tivesse quase matado Francis hoje de manhã.

—Seu pai te ama muito, mocinha. – Cosette interviu. – Não diga isso, garanto para você que ele ficará muito triste se ouvir você falando isso. Acidentes acontecem o tempo todo.

Enjolras se aproximou mais, escutando a filha fungar.

—Ele não se importa em me deixar triste.

—Seu pai, Frannie, tem esse jeito, mas ele é um homem incrível. – Marius voltou a falar. – Por muitos anos todos nós achávamos que ele odiava a todos, e que era incapaz de amar... Ai. – reclamou ao levar um tapa de Cosette. – Mas então aprendemos que não sabíamos lidar direito com ele, daí ele conheceu sua mãe e... Tudo mudou.

—Eu queria que você fosse meu pai, tio... Você sempre trata seus filhos tão bem e não tem preferência entre eles. Às vezes eu sinto como se Enjolras desejasse que eu nunca tivesse nascido.

—Wow! Isto é muito pesado de dizer, Francesca. Seu pai só não é bom em demonstrar os sentimentos dele.

—Mas eu sou filha dele caramba! – guinchou. – Se ele não... – ela se calou ao perceber o pai parado a porta. – Ótimo. Aposto que agora vai gritar comigo. – sussurrou para ninguém em particular.

Enjolras sentiu o coração pesar ao ouvir as palavras ressentidas da filha e se perguntou se estava sendo o monstro que a menina via todo aquele tempo. Se de fato não demonstrava quanto amava sua menina e que daria a vida por ela se necessário sem nem pensar duas vezes.

—Poderiam deixar nós dois a sós? – instigou para os três que imediatamente se colocaram de pé e saíram do quarto.

Ele entrou vagarosamente e fechou a porta, observando Francesca que se recusava a encará-lo, o rosto inchado.

—Sabe que quando você nasceu eu senti medo. – começou. - Medo de falhar com você, de não ser suficiente. Eu estava feliz em tê-la e apavorado. Era uma coisa completamente nova para mim e eu não sabia... Então eu entrei no quarto e a vi nos braços de Ponine... Mon Dieu, eu achei que morreria de felicidade! – Enjolras se aproximou da filha, sentando-se ao seu lado. A menina olhou para ele desconfiada. – E quando eu a peguei nos meus braços e segurei-a bem próxima, ao meu coração prometi que nunca a deixaria esquecer o quanto a amo e quanto é importante para mim. Que nunca a faria chorar... Parece que não consegui cumprir minha promessa.

—Parece? – Francesca indagou com sarcasmo.

—France, você está se tornando uma mocinha e eu estou passando por toda aquela sensação novamente de não saber o que fazer... Como agir. Mas eu nunca faria nada para machucá-la, minha filha... Como poderia? Não vou mentir que é mais fácil com seu irmão, porém, você é a minha garotinha... E Mon Dieu... Já se parece tanto com a sua mãe nas atitudes que penso que me dará trabalho igual ela. – riu.

—Mamãe fala a mesma coisa de Francis. – contou, secando os olhos. – Que ele dará dor de cabeça igual o senhor.

Enjolras sorriu e puxou a filha para um abraço, apertando a garota bem forte e beijando a cabeça dela.

—Quando eu fizer algo que a deixar triste, por favor, conte para mim, certo? Eu a amo Francesca e não quero nunca mais que pense por um único momento o contrário. Você é o melhor presente que a vida me deu e sempre que olho para você sinto orgulho de ser seu pai.

—Está me... Sufocando. – falou com dificuldade.

—Não. Eu estou te amando, é diferente. – ele afrouxou um pouco o aperto, o suficiente para poder olhar o rosto da filha. – Je t’aime mon fille. Você tem aquele je ne sais quoi da sua mãe, que me faz amá-la cada dia mais.

—Também te amo, papa. – France retribuiu o abraço, fungando no peito do pai que sorriu, sentindo os olhos ardendo. – Pardon.

—Non... Eu preciso te pedir pardon... Agora o que acha de colocar um sorriso nesse rosto lindo e ir aproveitar sua festa? Não é porque o começo foi um desastre que todo o resto tem que ser também.

Francesca grudou os lábios na bochecha do pai, dando um beijo estalado.

—Fico feliz que você me ame, porque eu te amo tanto. – murmurou antes de soltá-lo.

[...]

—E no fim, deu tudo certo. – Marius observou, sentando-se no colo de Cosette.

O grupo de amigos estava sentado na grama do quintal, aproveitando a noite quente enquanto dividiam uma cerveja. Francis dormia nos braços de Enjolras e Francesca estava encostada na mãe.

—Tem certeza que não quer levá-los para dentro? – Augustinne indagou. As outras crianças haviam se recolhido nos sofás e camas disponíveis dentro da casa, mas os dois se recusaram a sair de perto dos pais.

—Tudo bem, os dois estão confortáveis aqui. – Enjolras respondeu, beijando a testa do menino adormecido.

—Meu Deus... Nunca achei que iria sobreviver para ver um Enjolras babão pelos filhos. – Grantaire brincou.

—Eu sou louco por eles e nunca escondi. – retorquiu para o amigo. – E não seria nada mal se viesse um terceiro. – cantarolou.

—Nem vem Jojo... Dois já estão de bom tamanho. – Éponine atalhou fazendo cafuné na cabeça da filha.

—Nós queremos mais um não é Marius? – Cosette indagou, apoiando o queixo no ombro do marido.

—Sim e estamos tentando quase toda noite.

Courfeyrac fez um som como se estivesse vomitando.

—Poupe-nos dos detalhes.

—Estou sentindo falta do Jehan aqui. – Éponine suspirou levando o gargalo da garrafa a boca. Eles raramente viam o Ami pessoalmente que havia se mudado para o litoral assim que se casou com Caitlyn.

—Também sinto falta do nosso artista... E que pincel certeiro esse tem... Ele está indo para o décimo filho? – Courfeyrac questionou perplexo.

—É cara... Como a Caitlyn aguenta colocar tanto filho no mundo? – Grantaire perguntou.

—Deve espirrar e já sair à criança. – Combeferre disse com um sorriso no rosto. – Eu estou feliz com nossos filhos, por mais que ainda sinta falta da nossa pequena Anna. – seu olhar ficou melancólico. Não havia um dia que ele não pensasse em como a filha que fora levada cedo demais estaria se estivesse ali.

Com toda certeza uma linda moça.

—Eu graças a Deus nunca perdi nenhum filho. – Fantine falou. – Na verdade, até ganhei uma... Mas acredito que não é uma coisa que consiga superar, Combeferre. Mas você e Augustinne foram abençoados de verdade com suas crianças.

—Nós sabemos Tine. – Augustinne assegurou, afagando o rosto do marido. – Contudo sempre continuamos esperando nossa pequena Anna aparecer em algum momento.

Eles ficaram um momento em silêncio, lembrando-se da pequena que partira. Enjolras se recordou da vez que cuidara da menina quando ainda era um bebê e não sabia o que fazer e que se não fosse Éponine chegar para ajudá-lo, provavelmente iria começar a chorar junto com a criança.

Cada um se recordou dos sorrisos inocentes que a pequena abria e que os fazia sorrir sempre.

—Sabe o que sempre me deixa feliz? – Grantaire indagou de repente, com a voz nostálgica. – Lembrar dos nossos encontros no apartamento de Jehan e Joly para podermos dançar. Nosso Ami e seus vinis. Sempre que algo me deixa para baixo eu lembro-me das risadas... Então choro... Como está acontecendo agora. – riu com os olhos avermelhados.

—Por incrível que pareça os meus são das nossas reuniões no Musain. – Courfeyrac  falou. – Deus como eu amava aquele café... Uma pena que os estudantes de hoje nunca saberão como é se reunir ali. Foram tantas provocações trocadas naquelas mesas... Tantas coisas aconteceram e agora... É apenas um lugar vazio. Se eu fecho os olhos ainda sou capaz de ouvir esse chato discursando. – apontou para Enjolras. – Vocês conseguem acreditar que fazem tantos anos e ainda somos os mesmos? Ainda nos reunimos e tentamos sempre estarmos juntos. Jehan não está aqui agora, mas sabemos que nas férias, todos nós iremos visitá-lo...

—E provavelmente cortaremos o cabelo dele de novo. – Combeferre completou.

—Sim! Nunca perde a graça. – Grantaire concordou.

—Às vezes nem parece que vocês já têm praticamente quarenta anos nas costas. – Cosette comentou rindo. – Eu sinto falta da época da faculdade... Em que nos reuníamos na hora do almoço. Sinto falta daquela... Vibração que apenas Sobornne possuía. Era algo único pisar dentro do campus.

—Eu sinto falta das noites que saímos para beber e descobrir novos bares que Ponine e Grantaire tinham para mostrar. – Marius disse. – Sinto até falta das encrencas que nos enfiávamos.

—Eu, sinto falta da biblioteca de Sobornne, onde eu me escondia atrás dos livros e escrevia meus discursos... Até que uma certa mulher apareceu para me desconcentrar. – Enjolras contou, olhando com carinho para a esposa. – Graças a Deus que ela fez isso.

—Não acredito que vou dizer isso, mas... Sinto falta das nossas viagens... Assim continuamos viajando juntos. – Combeferre falou. – Porém quando éramos jovens as coisas que fazíamos. Conseguíamos nos colocar em cada situação... Que Mon Dieu! Não pensávamos nos riscos.

—Assim que é bom... Porque agora rimos. – Augustinne atalhou animada. – Vou confessar que gosto do casamento de Ponine... Eu AMO o vídeo de casamento de vocês dançando. Amo mesmo. Eu morro de rir toda vez que vejo aquilo... São péssimos dançarinos.

—Eu gostava quando vocês iam visitar Valjean e eu na fazenda... Como ficávamos felizes com a casa cheia de jovens. Então veio Gavroche e ele cresceu, e se mudou para cá e então foi para Londres. – a senhorinha vez uma cara triste, recordando-se do menino que havia conseguido vaga na faculdade de Cambridge. – Daí Valjean decidiu me deixar também. –murmurou os olhos se enchendo de lágrimas. – Sinto tanta falta do meu marido.

Éponine esticou a mão, apertando a da mãe e levou-a aos lábios.

—Todos nós sentimos falta dele... Contudo não esqueça que estamos aqui com a senhora, mãe.

—Eu sei... Ele garantiu que eu ficasse rodeada de anjos. – concordou, olhando para cada um ali sentado. – É tão bom ser aceita nesse grupo de jovens.

—Mas você é jovem, Fantine. Tá com tudo em cima... Por sinal, acho que devemos levá-la para uma saideira um dia desses. – Grantaire brincou, apertando a mão do namorado que permanecia em silêncio.

—Eu gosto de agora. – Éponine falou, olhando para o céu. – Gosto de exatamente deste momento e já sinto falta dele. Amo nossos momentos da juventude e carrego-os com todo carinho do mundo aqui dentro, mas não sinto falta daquela Éponine. Aquela que fugia sempre, que era insegura e não conseguia acreditar que merecia ser amada. Ela é uma parte minha, porém, sinto falta do minuto que passou, de horas atrás. E não me arrependo de nada, porque se não tivesse feito, não estaria sentindo falta desse momento.

Marius jogou uma almofada na cara da amiga.

—Sempre querendo ser a que fala mais bonito, não?

—Força do hábito. – deu de ombros.

—Eu sei que sempre digo isso, mas amo vocês. – Grantaire sorriu sem graça. – Amo mesmo e se não fosse vocês não sei o que teria sido de mim. Vocês me salvaram.

—Muito obrigado por terem salvado ele. – Simon murmurou olhando para o rosto do namorado com uma expressão estranha.

—Por nada... Nós amamos o Grantaire... Cada partezinha dele. – Cosette respondeu.

—Até as destrutivas. – Marius acrescentou.

—E encrenqueiras.  – Enjolras lembrou.

—Vocês já decidiram as fantasias para a festa de aniversário surpresa do Joly? – Courf indagou, servindo-se de outra cerveja. – É tão estranho não ter nosso médico aqui. Maldito plantão!

—Ele apareceu aqui logo de manhã para falar com a Frannie. – Ponine contou. – E disse que sentia muito por não poder ficar que havia tentado de tudo para trocar o plantão.

—Esta é a vida de adulto. Privações e mais privações. – Augustinne fingiu desgosto. – Comb e eu estamos pensando em ir de Carlos e Emma Bovary.

—Nossa! – exclamou Grantaire. – MAS QUE SEM GRAÇA!

—Eu vou ir de duende. – Marius contou.

—E eu de cubo de gelo. – Cosette falou animada.

Courf e Grantaire olharam para a cara da amiga sem expressar nada.

—E vocês casal de ouro? – Combeferre questionou para Éponine e Enjolras.

—Estamos pensando em ir de Sandy e Danny.

—Jojo... – Grantaire começou. – Você... Você disse que eu ia ser a sua Sandy e agora... – fingiu choro, engasgando dramaticamente. – Ela vai ser a sua Sandy?

—Nada pessoal Grantaire... É que a Éponine da uma Sandy bem melhor que você. Já viu ela naquela roupa preta apertada?

—Fui trocado por peitos.

—E olha que nem são grandes.  – Courfeyrac falou com desapontamento.

—Vão começar o bullying com os meus peitos? – Éponine instigou fingindo ultraje.

—Seus peitos são lindos, Ponine... – garantiu Courf. – Não dando em cima da tua mulher, Jojo. Não faço a mínima ideia do que me fantasiar.

—Hmm... Vai de traveco.

—Não Grantaire.

—Pavão?

—Não.

—Vai de Oompa Loompa... Já é pequeno mesmo.

—Cara... Eu te odeio do fundo do meu coração.

—Eu escuto isso já tem mais ou menos uns... – Grantaire fechou os olhos como se pensasse. – Dez anos e ainda assim sou seu melhor amigo.

[...]

Enjolras fechou a porta do quarto, encontrando Éponine já na cama com as luzes apagadas, mas o notebook ligado e rindo sozinha.

—O que está vendo?

—O vídeo do nosso casamento e percebendo as mudanças sutis do tempo no rosto dos nossos amigos... Contudo tem uma coisa que nunca muda.

—O que? – Enjolras quis saber com curiosidade.

—Os sorrisos quando estamos juntos e como parecemos um bando de adolescentes. E os olhares. Sempre nos olhamos como se o outro fosse tudo na vida.

—Mas são.

—Sim... Eles são. – concordou, abrindo um espaço para o marido. – Conversou com Frannie hoje?

—Sim. E estamos entendidos... Percebi que preciso demonstrar mais com ela. France é sentimental e precisa ser lembrada sempre que é amada. Ela é maravilhosa, Éponine. Nossa menina é a coisa mais preciosa do mundo todo. Estava observando ela hoje, depois que tudo estava resolvido, Francesca consegue dar atenção para todos e escuta, e sorri, brinca e é gentil com os amiguinhos... Tenho tanto orgulho dos nossos filhos, Ponine.

A morena sorriu para o marido, afagando seu rosto e enfiando a mão no cabelo que já estava começando a ficar comprido, com cachos se formando, antes de beijá-lo e puxá-lo para si.

—Eu a amo.

—Também o amo. – murmurou, escrutinando o rosto dele iluminado pela luz do notebook. – Outra coisa... Você está começando a ficar com cabelos brancos.

—A velhice chega, infelizmente. – falou, fechando o computador bem na hora que começava a dança dele e dos Amis, esticando-se para colocar o aparelho no chão, voltando sua atenção para a mulher que acariciava suas costas por baixo da camiseta. – Quer que eu tire?

—Por favor.

O homem passou a camiseta pela cabeça, jogando em qualquer canto.

—Sabe... Eu estou com trinta e seis anos. – Éponine começou. – Francesca tem nove anos completos e Francis quatro.

—Eu sei dessas coisas, Ponine. – respondeu, deitando ao seu lado, abraçando-a.

—Deixe-me terminar de falar. – bradou. – Você acha que... Estou muito velha? Para outro filho? Digo... Passamos toda aquela preocupação com a gravidez de Frannie e de Francis, porque você sabe que eu tenho dificuldade de manter os bebês dentro de mim.

Enjolras sorriu para a morena. Éponine sofrera dois abortos antes da gestão de Francis e isso a deixou, desolada. Eram noites e mais noites em que ela chorava abraçada a ele, e que o homem achou que a mulher em seus braços iria quebrar em algum momento.

—Você não está velha de jeito nenhum, Ponine. Muitas mulheres são mães de primeira viagem nessa idade.

—Enjolras... Você quer tentar outro bebê mesmo? Porque eu quero... Mas, por favor, não vá ficar bravo se eu não conseguir mantê-lo dentro de mim.

Enjolras respirou fundo, antes de beijar a esposa, tentando passar todos os sentimentos bons que sentia naquele momento. Desejava que ela pudesse sentir seu coração dançando dentro do seu peito.

—De modo algum, Ponine... Quer começar agora.

Ela abriu um sorriso largo para ele, seus olhos chocolates brilhando.

—Com toda certeza... Ah mais uma coisa.

—O que?

—Dessa vez posso escolher o nome? Não quero mais um filho homenageando a França.

—Não vejo o que há de errado em homenagear o país que nascemos.

—Por favor.

Enjolras ponderou por um instante.

—Tudo bem. Você escolhe o nome. Podemos?

—Claro. Faça direito, não é porque não vai escolher o nome que tem que fazer amor comigo de má vontade.

—Entenda uma coisa... Eu nunca faço amor com você de má vontade.

—Bom. Bom mesmo Enjolras Lavrefe.

[...]

Enjolras chegou em casa e a encontrou vazia. Sabia que estava atrasado para o encontro na casa de Combeferre, mas o caso que estava estudando, fazia-o perder a noção do tempo.

Correu para o banheiro a fim de tomar um banho rápido e assim que fechou a porta deu de cara com um papel vermelho preso no espelho.

“Já fui com as crianças para a casa do Comb... Por sinal, deixei um presente para você no armário do banheiro. Aposto que não vai acreditar ao ver.

Você sem dúvida nunca faz amor comigo de má vontade.

Ponine”

O homem abriu a porta do armário sem entender, encontrando um ultrassom. Ele o abriu e ficou estudando as imagens escuras, vendo dois pontinhos brancos começando a se formar.

Enjolras sentiu um sorriso se formando e como foi das outras vezes em que descobrira que a esposa estava grávida, começara a chorar.

Eles teriam mais dois bebês.

E Éponine não sairia da cama até que nascessem.

Enjolras iria garantir isso.


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Notas finais do capítulo

Foi isso. Não tenho certeza se ainda lembravam da história ou que seja, mas achei importante fazer isso, em uma data significativa para mim. WSYK foi a primeira história que eu concluí, então ela precisava ser lembrada de algum modo

Muito obrigada se leram, espero que tenham gostado.

Beijos.



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