A Verdade Através do Sangue escrita por Pan


Capítulo 13
Filho De Peixe Na Água Vive


Notas iniciais do capítulo

saímos do hiatus :) boa leitura :)



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Na manhã do dia seguinte, Hope sabia que havia coisas que ela poderia prever. Caled ficaria com raiva de Cainã e Bryan ficaria confuso com o fato de Hope ter dois filhos. Até mesmo Atlas teria uma surpresa quando descobrisse que o primeiro neto não havia morrido como a filha disse anos atrás. A algazarra aumentaria quando a menina nova e a missão também tomassem todo o tempo da beta. Ela perderia o controle da situação, ou seja, teria que confiar nos gêmeos para que tudo desse certo. 

A casa estava igual a qualquer outro dia, as crianças sentadas comendo, enquanto Jade e Luca cozinhavam e serviam as visitas. Atlas e o companheiro de viagem pareciam felizes e sorridentes, prontos para partir quando Hope chegou. Bryan ainda não havia levantado, Hefesto disse. Luca não deixou de avisar quinze vezes que Caled estava se sentindo mal, deitado na cama. 

— Atlas, você poderia voltar mais tarde? Na hora do almoço para ser mais exata, tem um assunto que eu gostaria de tratar com todo mundo, o que inclui o senhor – ela sentava na ponta, na cadeira especial. Só havia uma ponta da mesa, a outra era proibida de se sentar. Hope fazia questão de se sentar na ponta, no que se parecia mais com um trono do que com uma cadeira. 

— Não me importo. Até lá já terei terminado os meus compromissos de hoje. 

— Luca e Jade, sentem-se. Tenho avisos para dar. Hoje será um dia movimentado. Primeiro de tudo, quero que vocês saibam que a menina que chegou ontem é uma das protegidas oficias da mãe, ou seja, tratamento especial. Segundo, quero essa casa brilhando. Vou trocar a rotina de limpeza de quarta por hoje, então o ritmo vai mudar. Terceiro, todos aqui presentes vão ajudar o Damian a concluir o plano até o final da noite, preciso disso na minha mesa amanhã cedo. Último aviso, teremos uma visita especial hoje. 

— Senhora, não temos como limpar a casa sem o Caled. Ele é responsável por boa parte da limpeza – Lygia queria que o companheiro sangrasse limpando o chão. Quem sabe, ele morresse de vez. 

— Bryan vai nos fazer o favor de levar ele no médico. Eu tenho muitos assuntos importantes para discutir hoje. Graças à coincidência, temos um par de mãos sobrando no porão. Coloquem a menina de Victor para limpar as privadas. 

— Mas senhora, ela não sabe como o dia da limpeza funciona – Damian tinha uma pilha de ovos mexidos tão grande quanto as profundezas do tártaro. 

— Ela precisa ser tratada como muito amor e carinho, Hope, precisamos beijar as mãos dela e chamá-la de princesa – Josh usava a voz de deboche. Uma bolinha de papel voou na sua direção. 

— Josh, já que você está tão interessado na vida amorosa de Damian, por que você não nos faz o favor de pedir conselhos a ele para quem sabe convidar a Lygia para sair. Aposto que vocês dariam super certo matando e torturando alguém que não me interessa – Hope não comia a mesma comida gordurosa que os outros. Jade sempre preparava uma refeição diferente para ela. 

As gargalhadas foram gerais, estavam acostumados a serem sacaneados pela beta. Raras eram as vezes que ela deixava uma oportunidade passar. Os casais dentro casa nunca eram os mesmos. Casos e mais casos entre os pequenos. Não haviam discriminações. 

— Damian, não me interessa o que você e ela vão fazer depois do jantar. O que eu sei é que ela vai trabalhar como todos os outros até o almoço, que é quando nossa visita chega, se ela quiser comer. Zamira e Nika vão checar o trabalho dela e me disserão se ela senta na mesma mesa que nós ou se volta para o porão. 

— A senhora que manda – Hope sabia que ele faria a parte dele mais rápido para poder ajudar ela. 

O resto da refeição foi normal. Mais alguns comentários surgiram sobre os casais. Naqueles momentos que eles estavam descontraídos e felizes, naqueles que eles brincavam entre si e se permitiam ser mais do que marionetes num esquema de máfias, eram naqueles que Hope se lembrava de que os seres a sua frente não eram máquinas de matar. Eles eram espíritos livres, acostumados com a ideia de não terem que temer ou se preocuparem com reações. Eles faziam o que lhes era ordenado, eram felizes cometendo atrocidades desnecessárias, crimes hediondos e vivendo em um mundo onde eles faziam suas próprias regras, regidos pelo código moral e ético de uma pessoa. Essa era a liberdade que Cainã deveria estar acostumado. 

No quarto dos meninos, Caled sofria com a asma e a dor dos buracos de bala. A adrenalina que percorria seu corpo já havia acabado, o que restava em seu sangue era a mais pura sensação de ser derrotado. Ouvir as risadas vindas do andar de baixo o deixavam ainda mais depressivo. Queria estar com os outros, fingir ser de uma família normal e poder esquecer aquela maldita sensação de fracasso. A reconfortante presença de Hope e os mimos que ela lhe faria pareciam alguma espécie de redenção. 

— Oi, vim ver você – a voz dela era doce e suave, como ele sabia que seria. 

— Oi mãe. Eu to dolorido de ontem – ele sempre dizia a palavra com certo rancor. Pelo desuso, ele preferia acreditar. 

— O Bryan vai levar você no médico, tá bom? – ela havia sentado na cama com ele, segurava suas mãos e as colocava no rosto. 

— Você vai com a gente, não vai? – ele estranhava a sensação de ser amado. 

— Não dessa vez, os gêmeos ficaram de me dar uma resposta e eu tenho que conversar com a mãe e a menina nova que chegou. Teremos uma visita no almoço, então trate de melhorar até lá – Caled puxou as mãos, em resposta a ser deixado de lado pela mãe. 

— Se você tem tanta coisa para resolver, então é melhor ir logo – ele virou de costas, olhando a parede. 

— Eu encontro com vocês no médico, assim a gente pode voltar juntos, tudo bem? – tudo que Hope conseguiu como reposta foi um movimento com os ombros. Beijou a testa do seu mais novo e passou as mãos pelos cabelos sujos dele uma última vez antes de sair. 

Bryan ficou na porta mesmo depois que ouviu o barulho da porta do escritório de Hope fechar. Ela tinha levado comida para ele e lhe pedido para ajudar o pequeno. Coisa de cinco minutos, ela mesma dissera. Caled estava a sua frente, chorando. Não havia como não se ver no menino a sua frente. Ele deu alguns passos em direção a cama. 

— Não quero que tenha pena de mim, só preciso que me passe o tênis e me ajude a chegar até o carro – o menino passou as mãos pelas bochechas vermelhas, sentando na cama. 

— Não é pena, eu só não entendo porque você está chorando. Ela está fazendo o máximo que pode para te proteger – o lutador sentou no chão em frente ao pequeno. Ajustou o calçado no pé dele e amarrou suavemente. 

— Eu consigo fazer isso sozinho. Deixa que eu faço. Para, eu não tenho mais três anos. 

— Eu sei, mas eu preciso recuperar o tempo que eu perdi – Bryan andou pelos montes de tranqueiras jogadas no chão do quarto comunitário. Agarrou uma blusa que parecia limpa e cheirou. 

— Essa não, é do Josh – a blusa acertou o rosto do menino do mesmo jeito. 

— Não lembro de ter perguntado – aos poucos, Caled colocou a blusa. Seu braço esquerdo doía demais. Soltou alguns gemidos de dor. 

 – Vamos logo, tenho mais o que fazer – assim que o corpo se pôs de pé, caiu. Estava fraco e não conseguia andar. 

Bryan o pegou no colo e começou a descer as escadas. Dessa vez não houve contestações. Atlas segurou o neto, enquanto Bryan pedia as chaves de algum carro para uma das crianças que estava limpando a cozinha. A expressão do garoto fazia o lutador se lembrar. Jade explicou o caminho e deu alguns nomes e informações sobre o que Bryan deveria fazer, o que era basicamente deixar que Caled resolvesse as coisas. 

— Lá no quarto, o que você disse, você também acha? – o carro ainda estava na garagem. O portão abria com o motor mecânico com barulhos altos. 

— Somos muito parecidos, você tem a idade certa, eu e ela fizemos algumas coisas no passado que eu não me arrependo. É uma teoria que faz sentido, você sabe que é. 

— Ela não vai confirmar nada, você sabe. Quer tentar descobrir? – o carro já rodava a estrada. Havia a possibilidade de Caled ser seu filho, não podia negar isso. Poderia também ser daquele outro cara, mas não queria estragar o momento com o menino. Ele precisava daquilo, tanto quanto Caled precisava. 

— Quer mesmo? É só juntar os fatos, eu sou bonito, você puxou sua mãe por sorte. Eu consigo apanhar por horas e você pensa rápido como ela, você não vê alguma semelhança entre você e ela? Quer dizer, talvez ela seja sua mãe. Filho. 

— Corta essa. Eu já chamo duas pessoas de mãe. Além disso, eu não gosto tanto assim das gaiolas. Não tenho metade do prazer que ela tem para fazer essas coisas. Eu sou só um paga dívida seu. Não ache que eu superei isso. 

— Também te amo seu idiota de merda – Bryan sabia que era seu. Ele era muito parecido com Balthazar, quando esse era mais novo. 

O rádio tocou por um tempo. Algum diriam que Caled teria sido a perfeita réplica de Hope melhorada. Os genes que o adolescente carregava também o davam um problema, metade ele não tinha noção de onde vieram. Estava condenado antes de nascer, sabia disso. Acreditava que morreria, por isso se entregava a cada missão como se fosse a última. 

— Hope disse que vai ter um convidado especial no almoço, tem ideia de quem possa ser? – Bryan tentou quebrar o gelo. 

— Você ao menos sabe quantos anos ela tem? – Caled encarou o mais velho com o olhar de deboche que sempre usava. 

— Não sei nem o real nome dela, como eu vou saber o resto? 

— Respondeu a sua própria pergunta. Eu sou filho dela, não a enciclopédia viva. Ela esconde tudo de mim, acho que é mais um quebra-cabeça, um jeito de testar se eu posso aprender a ler os outros. Eu não tive educação, eu ainda tenho um treinamento que ainda não acabou. 


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Notas finais do capítulo

Hey! Eu já combinei com meu beta (te amo mozão) para gente se organizar e eu conseguir focar melhor na Hope, porque ela deve ta cansada de me esperar. Vou tentar intercalar com algum outro projeto ou soltar mais oneshots, para não ficar parada muito tempo e vocês não desistirem de mim. Ah, se as coisas continuarem como planejado, não esperem muito de mim, vamos ter mortes duas vezes por mês, quer dizer, atualizações.
Espero você no próximo, não morra até lá.



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