A Verdade Através do Sangue escrita por Pan


Capítulo 1
A Primeira Gota


Notas iniciais do capítulo

Tem um pouco de violência, não chega a ser extrema, mas é melhor avisar. Essa história começa assim mesmo e termina do mesmo jeito. Se quiserem esperar, explico tudo no segundo capítulo. É uma história um pouco diferente, nunca fiz isso antes, espero que se ficar uma bosta vocês me avisem. Acho que é só isso. Ah, como foi requisitado, tem um pequeno sumário nas notas finais. Espero que gostem.



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— Quem é aquele menino? – havia tempo que ela o olhava.

— Qual deles? O de pé ou o que está apanhando?

— O de pé, já me viu gostar de perdedores? – elas não estavam realmente conversando, mal se olhavam. Hope observava a luta com estranha fixação, enquanto Sky recolhia o dinheiro das apostas.

— Já vi sim, você adorava aquele menino que morreu na semana passada. Aliás, você ainda me deve pelo enterro dele.

— Te pago depois. Olha, ele é tão bonito. Você acha que ele ganha de novo?

— Hope, você apostou nele? Se sim, espero que ganhe. Agora, anuncia o fim da luta e a próxima.

— Ok – a morena ligou o microfone e subiu no palco. – O gongo soa novamente e salva mais uma vida. Onde estão os meus apostadores? – gritos e canecas se elevaram em níveis ensurdecedores. – Ótimo, ótimo. Gastem seu dinheiro, a casa agradece. Não se preocupem com as dívidas, elas podem ser pagas. Venham, aproximem-se, aposto que eu ganho de vocês novamente. Aos compradores, nossos lutadores estão esperando sua oferta. Não se sintam envergonhados, podemos sempre abrir a gaiola e deixar que novas pessoas experimentem a dor e o gelado do sangue. Nossa próxima luta vai acontecer daqui alguns minutos, encham as canecas a arrumem mais dinheiro.

— Poderia ter feito melhor. Vai falar com ele? Hope? Ela já foi.

Hope não precisou abrir caminho entre os grandes lunáticos que estavam presentes. Além da fama, ela e Sky eram as únicas mulheres presentes e por isso eram respeitadas. Havia regras naquele lugar e se fossem descumpridas tinham todas a mesma punição, a morte. Apesar do caos que sempre parecia estar, o clube era arrumado e organizado. Qualquer briga que acontecesse era dentro do octógono e quando se entrava lá, os briguentos se tornavam lutadores da casa. Ela chegou rápido até os boxes onde seu novo amante estaria. Ele tinha que estar lá, todos os lutadores só saiam se fossem comprados ou mortos.

— O que você faz aqui? – um dos lutadores sempre ficava de vigia na porta.

— Vim falar com o campeão da última luta. Vamos, saia da frente. Onde ele está?

— Aqui, minha senhora. O que a senhora deseja comigo? – ele era como os outros, corpo definido e cicatrizes. O cabelo raspado tornava a crescer, o que significava que ele não havia perdido nenhuma luta desde a última inspeção de rotina.

— Você luta bem, gostaria de saber se você quer subir de categoria? – os outros olharam para ela, não por ser a única garota que veriam na vida curta deles, mas por ser uma oferta suicida e muito desejável. – Rápido, não tenho o dia todo. Se não quiser, há outros que podem muito bem servir para a nova vaga.

— Sim, senhora, eu aceito. Posso saber o porquê da oferta? – ele parecia diferente dos outros, os demais lutadores não perguntavam.

— Tem coragem de fazer perguntas, bem ousado. Fique até o final e eu te explico tudo.

 Ela atravessou o salão novamente. Parou poucos metros antes de chegar na bancada onde Sky trabalhava. Havia um homem parado conversando com a sua parceira. Hope avançou lentamente em direção aos dois, vendo cada movimento. Ele fazia piadas e ela ria, arrumava o cabelo e desviava os olhos esmeraldas do dinheiro, ele levava as mãos aos bolsos e ao dinheiro do caixa. Hope acelerou o ritmo.

— Acho melhor devolver e ir embora – Sky a encarou como se tivesse se tocado. – Vou ter que pedir de novo? Que pena, na segunda vez eu uso violência. – fora rápida e certeira. Puxou o braço dele e o torceu, tirou o dinheiro do bolso dele e entregou para a amiga. – É nosso? Parece que temos um ladrão entre nós. Vai para a gaiola.

Hope levou o tal ladrão até a gaiola e o jogou no meio dela. A porta foi fechada e ambos ficaram trancados dentro. Só havia um jeito de sair, matando o outro. Ela tirou a jaqueta e as botas. O homem continuou no chão, sem se levantar nem para olhar o que acontecia. Ela avançou e acertou a joelhada no queixo. Caído de costas, ela teve uma boa visão. Os cabelos negros cobriam boa parte do rosto, bem definido e de fato muito bonito.

Se vestia com roupas de primeira mão e realmente parecia como um comprador. Talvez fosse algum farsante conhecido de um dos lutadores. Seria punido com a morte, assim como os anteriores foram.

— Não vai levantar e tentar? Eles estão loucos por isso. Se aguentar até o gongo soar, eu até te faço um dos lutadores de base.

— Eu não luto, sou pacifista – ele ajoelhou e levantou as mãos. Tirou o blazer e a gravata. Ficou de pé.

— O que faz aqui não me interessa, mas você tentou roubar de nós – ela levantou as mãos e aumentou o tom da voz. – Nós odiamos ladrões. – o barulho aumentou, as apostas dobraram e pelo canto do olho, ela viu que ambos viraram a luta da noite.

— Eu estava tentando tirar meu irmão daqui, vocês o escravizaram – ele tentou um soco, falhando. Ela prendeu o cabelo e os uivos subiram quando ela fingiu dançar. – Por favor, termine logo com isso. Eu não sei o que fazer.

— Lamento por você, não conhece as regras da casa. Na tentativa de roubo, a morte deverá ser lenta e feita de exemplos aos outros. Mamãe que escreveu – o chute acertou a parte esquerda do rosto dele e ele caiu. Ela o imobilizou. – Qual o seu nome? Assim você não é enterrado como indigente.

— Você foi falar com meu irmão, eu vi vocês conversando – ela deu o primeiro soco.

— Finja estar morto depois que eu te cobrir de sangue. Evite respirar alto e não se mexa. Desmaiar ou dormir seria perfeito, mas depois eu não saberei se você está vivo ou não.

Os golpes se dirigiam a pontos estratégicos, supercílio, nariz e boca. Demoraram uns dois ou três minutos naquilo. Ela levantou, juntou as coisas dele e as delas. A porta da gaiola se abriu e ela esperou tirarem ele de maca antes de sair. Sky não levantou os olhos quando a morena subiu no palco.

— Ah, eu cansei. Vocês não? – copos de bebidas foram levantados. – Teremos a última luta e depois encerraremos nosso trabalho por hoje. Não fiquem tristes, teremos mais na semana que vem. O bar ficará aberto até a última luta, paguem o que devem, ou vão ter que entrar comigo lá dentro. Aproveitem, bando de bêbados, a próxima luta já vai começar. Devo apresentar os participantes. Temos nosso grande campeão, vocês deram um apelido a ele, suba ao palco.

— Atlas! Atlas! Atlas! Atlas!

— Muito bom, muito bom. Melhor que o coro de uma Igreja. Acho que o oponente dele não está tão bom assim. Que ponham no octógono esse frango. Ei, rapaz, o novato, se você ganhar, terá um apelido... e terá que enterrar nosso Atlas. Em suas posições, lutem.

A luta acabou, o lugar se esvaziou e as duas ficaram quietas todo o tempo. Sky não quis começar o assunto e Hope não precisava falar nada. Os lutadores já haviam partido. A cerveja no chão, os restos de comida e o sangue seriam limpos no dia seguinte. Sky terminou de contar e organizar o dinheiro. Ela costumava sentar e estudar, esperando que Hope terminasse de cremar os corpos, explicar como as regras funcionavam para os novos lutadores, punir alguém ou que quer que ela precisasse fazer. Os livros didáticos ficaram guardados dessa vez.

— Sabe, Sky, eu realmente tento entender porque as pessoas são tão cruéis com você. Talvez seja porque você nunca lutou ou porque você parece ser fraca ou pelo fato de você ser sempre tão besta. Eu posso ser trouxa ao ponto de proteger alguns lutadores, mas não perceber que está sendo roubada? Faça me o favor de prestar atenção no dinheiro, se quiser um namorado eu te arrumo.

— Desculpa. Eu não sei o que aconteceu comigo essa noite. Não vai acontecer novamente. Eu só, só... me descuidei, foi isso – o novo lutador protegido de Hope saiu dos boxes, olhos vermelhos e inchados.

— A senhora queria falar comigo? – ele ainda tinha o nariz entupido e a voz fanha.

— Ele não morreu, pelo menos não pelas minhas mãos. Eu sei que ele era seu irmão. Espero que ainda seja. Se ele estiver vivo, vai sair andando e se for esperto, vai conseguir o dinheiro e mandar alguém te tirar daqui. Aos dois, não se acostumem, não vou ser boa para sempre. Ele está nos fundos, na sala de cremação. Traga ele para a gaiola e vamos cuidar dele.

Sky saiu em disparada pelos corredores, sendo seguida de perto. Hope continuou a recolher cacos de vidro e a varrer. Não era a atividade preferida dela, entretanto a mãe queria o lugar limpo e assim ele ficaria. Os dois voltaram com o kit de primeiros socorros e o tal ladrão. O colocaram na gaiola e Sky quase vomitou quando limpou o sangue seco. Hope tinha os dedos calejados de tantos treinos e as marcas feitas ficaram profundas.

— Eu faço isso, pode deixar. Vai se arrumar – o lutador tomou o kit das mãos de Sky e começou a remendar o irmão.

— Assume aqui. Quero ver se ele sabe mesmo costurar um rosto – Hope passou a vassoura e a pá para a amiga. – Você está tremendo, passa pra cá que eu sei. Eu sei que você não entrou aqui porque que quis, quer me contar sua história? Não vamos sair daqui tão cedo.

— Não tenho a dizer sobre mim. A única coisa que lembro é meu nome, mas os outros lutadores me chamam de Leônidas. Meu irmão chama Balthazar. Por que você não conta como veio parar aqui?

— A história é longa e entediante. Deixa pra outro dia. Eu tenho que ter foco aqui – ela costurou um corte no supercílio. Colocou o osso do nariz de volta no lugar e colocou curativos nos cortes que haviam. Sentiu orgulho de si mesma enquanto fazia. – Levanta a cabeça dele, vou dar um anti-inflamatório e um analgésico, vai aliviar a dor e o inchaço. Sky traz uma caneca com água e outra com whisky – os remédios foram dissolvidos na água e postos garganta a baixo. A caneca com whisky virada de uma mesma vez, fez o corpo dela se aquecer e tremer.

— Eu gostaria de ouvir a história de como acabamos aqui. Não lembro de nada – Sky tinha se sentado e colocado a cabeça de Balthazar no colo. – Não vamos até ele acordar.

— Eu conto, mas assim que acabar, vamos todos embora. Vou começar pela história da mãe. Eu acho que todos conhecem os mitos sobre ela, porém eu a conheço e muito bem. Ela trabalhava em uma loja de roupas, tinha uma vida normal. Um dia, ela se apaixonou pela pessoa errada. Elas fugiram, sem nada. O pai dessa pessoa tinha um clube durante a Lei Seca e elas decidiram abrir de novo esse bar. O lugar começou a ficar movimentando, encheu de pessoas erradas. A mãe disse que as duas viviam felizes. Quando as lutas começaram a ficar famosas, o bar delas virou a maior confusão. A mãe queria colocar a gaiola e organizar as brigas, criar as regras e ganhar ainda mais dinheiro. A outra foi contra. Disse que elas deveriam continuar no ramo de bebidas. A outra vendia drogas, participava de tráficos e usava o bar para lavar dinheiro. A outra começou a dar em cima das mulheres que vinham aqui.

— Por isso as mulheres são proibidas – Leônidas fez o comentário. Os olhos e a voz já haviam voltado ao normal.

— Sim, a mãe não queria competição. Precisava de um jeito de se vingar. Não teve tempo. A outra fugiu e levou boa parte do dinheiro. A mãe criou isso aqui do zero. Começou a criar as regras, comprou a gaiola, construiu o império. Ela passou a ganhar muito dinheiro, chamou muita atenção de pessoas importantes. Os lutadores passaram a ser patrocinados e ela abriu outras franquias. Essa é a primeira, a mais frequentada e a única que abre mais de uma vez por semana. Uma temos toda essa bagunça e dois dias depois os compradores vem.

— Onde a mãe está agora? Ela já passou por tanta coisa, tem tanto dinheiro, ela tem que fazer alguma coisa da vida – Sky penteava freneticamente os cabelos de Balthazar.

— Isso é confidencial, entre eu e ela. Não posso contar a ninguém e não ouse perguntar novamente – Hope deitou no octógono com as mãos debaixo da cabeça. Ela fez uma pausa e continuou as mentiras. Nenhum dos três descobriria a verdade, não se dependesse dela. Haviam coisas perturbadoras demais para se ouvir. Além disso, Hope corria sério risco só por ter colocado Sky dentro do clube, se a mãe pegasse ela contando a história real para um ladrão que foi poupado e um lutador que estava sendo protegido, o custo seria alto e Hope sabia que não seria ela quem pagaria.


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Notas finais do capítulo

Oi. Você está lendo até aqui, darei três pulinhos para cada comentário e duas abdominais por cada um que favoritar. Parei de apelação. Eu não muito boa com finais, mas sei lá.
Sumário de nomes:
Leônidas: Significa “que tem a aparência de um leão”.
Balthazar: Significa “salve a vida do rei”, “salve a vida do senhor”.
Atlas: Significa “grande montanha” ou “aquele que suporta”.
Meu único fã que comenta pediu e eu coloquei. Eu juro que as coisas vão fazer sentido no próximo capítulo, pelo menos fez na minha cabeça. Espero vocês lá. Não tem data definida porque eu estou em semana de provas, mas eu sou louca e provavelmente vou postar.



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