Entre vãos escrita por Miss Birth


Capítulo 10
Uma verdade inconveniente


Notas iniciais do capítulo

Hey, kids! Mais um capítulo novinho pra vocês. :)



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Já passava das três da tarde quando Tony foi até a oficina para enfim visualizar o resultado da sua análise sanguínea. Acessando seu e-mail pessoal, pode baixar o arquivo criptografado e em seguida desbloqueá-lo utilizando sua senha de acesso. Sem rodeios, ateve-se a leitura dos dados na tela do computador.

LABORATÓRIO DE BIOMEDICINA – INDÚSTRIAS STARK

ANÁLISE SANGUÍNEA – PACIENTE: CONFIDENCIAL

Resultados relevantes:

As amostras analisadas não indicaram presença de infecções, anemias ou alterações celulares de ordem patológica.

Observações:

Notou-se, entretanto, a presença do elemento químico Paládio nas amostras. Nível de intoxicação a 5,5%.

Por alguns segundos, Tony manteve-se focado nas palavras ‘Paládio’ e ‘Nível de intoxicação a 5,5%’. Agora tudo fazia sentido. Seus sintomas iniciais se encaixavam perfeitamente com os sintomas de intoxicação causada por qualquer elemento químico, radioativo ou não.

—“Senhor, tomei a liberdade de pesquisar a respeito de seu problema com o paládio.”, disse Jarvis.

—“E o que encontrou?”

—“Bem, inicialmente, averiguei que no sangue humano não há presença do paládio em sua composição...”

—“O que indica que estou sendo contaminado por uma fonte externa.”, interrompeu Tony.

—“Isso mesmo. A única fonte de tal elemento na qual o senhor tem contato é...”

—“O reator Ark, que me mantém vivo.”, interrompeu novamente, completando as frases de Jarvis.

—“Muito astuto, senhor.”

—“E tem algum meio de combater isso? Me sinto enjoado e sem disposição.”, disse Tony.

—“Posso realizar um diagnóstico no processo de fusão do reator a fim de encontrar o problema específico. Mas seria proveitoso consultar um médico, senhor.”, respondeu Jarvis.

—“Eu detesto médicos, Jarvis.”

—“Isso é algo que eu já sabia, senhor. Porém, considerando seus sintomas, seria correto e prudente procurar um especialista que pudesse direcioná-lo aos tratamentos existentes. Pelo menos até encontrarmos uma solução definitiva.”, insistiu ele.

—“Não se preocupe com isso.”, disse Tony. “Vou me informar sobre esse assunto. Quem sabe assim me mantenho longe de hospitais.”

—“Senhor, segundo minhas pesquisas, uma alimentação rica em clorofila, que é encontrada em vegetais e responsável pela cor verde dos mesmos, pode ajudar a desintoxicar o organismo.”

—“Clorofila? O agente fotossintetizante?”

—“Sim. Altamente benéfico a saúde.”

—“Em vez de ir a um hospital, vou ter que procurar um bom hortifruti.”

—“É uma boa ideia. Deseja que eu contate o sr. Hogan para levá-lo até o supermercado mais próximo?”, perguntou Jarvis.

—“Não quero sair de casa, Jarvis.”, respondeu ele. “Faça uma lista do que comprar e envie a ele. Diga que preciso desses itens com urgência.”

—“Como quiser, senhor.”

Há quase cinco meses Tony utilizava o eletroímã acoplado em seu peito para manter longe de seu coração os estilhaços que lhe atingiram no Afeganistão. Ao incorporar a tecnologia do reator Ark, porém, ele apenas considerou a eficácia energética do item, sem se dar conta que as reações com o núcleo de paládio poderiam lhe trazer prejuízos à saúde. E era exatamente isso que estava acontecendo. Como forma de tentar solucionar sozinho seu problema com a toxicidade do elemento, Tony começou a pesquisar mais a respeito do assunto. Os primeiros dados lhe confirmaram o que Jarvis havia dito: uma bebida à base de clorofila, aliada a uma rotina diária de exercícios e descanso poderiam acabar com o desconforto que sentia. Por ora, julgou que aplicar essas sugestões em seu cotidiano seriam suficientes, já que a taxa de intoxicação indicada no teste não parecia alta aos seus olhos.

Uma hora após Jarvis ter repassado os pedidos de Tony, Happy chegou a mansão carregando os pacotes do supermercado. Ao entrar na sala, encontrou o chefe sentado numa das poltronas do cômodo, atento a algumas vídeo-aulas de artes marciais. Depositando as compras no chão, Happy estalou os dedos duas vezes, como forma de chamar a atenção de Tony, que rapidamente notou sua presença ali.

—“Demorou um pouquinho, hein Happy!”, disse ele.

—“Desculpe, chefe! É que o trânsito está uma loucura. E também eu estava na empresa quando Jarvis me avisou para ir até o mercado. Saí de lá assim que pude.”, justificou Happy.

—“Entendi. Conseguiu tudo o que pedi?”

—“Sim, está tudo aqui. Olha, não quero ser intrometido, mas você está fazendo alguma dieta especial, virou vegetariano ou o quê?”, perguntou Happy.

—“Não é do meu feitio virar vegetariano, Happy.”, respondeu Tony, levantando-se. “Ainda não inventaram nada melhor que um cheeseburger. Ou pelo menos ainda não conheço.”

—“Tem razão. Então por que tanta ‘comida verde’?”

—“Preciso me alimentar bem e cuidar do meu corpo. Como posso lutar contra o crime se não estiver fisicamente preparado?”

—“Certo, entendi. Falando nisso, há tempos não visitamos o tatame, não é?”, comentou Hogan, se referindo as vezes em que os dois treinavam juntos na academia particular do chefe.

—“É por isso que amanhã você vai passar a manhã aqui, me ajudando a retomar o treino.”, replicou Tony. “Comece o serviço hoje por levar essas coisas até a cozinha.”

—“E se Pepper precisar de mim para levá-la a algum lugar?”, protestou Happy, pegando novamente os pacotes.

—“Ela sabe se cuidar, Happy. Nós sabemos que a srta. Potts prefere fazer muitas coisas sozinha, inclusive ir de um lugar a outro. Se ela não quiser dirigir, há outros motoristas na empresa.”

—“Tudo bem... Se você diz, né? Com licença, vou levar as coisas para dentro.”

Tony assentiu, ligando novamente a TV. De repente, lhe veio à mente que teria uma certa reunião para frequentar no dia seguinte – exatamente no mesmo horário em que havia combinado o treino com Hogan. E o pior: tinha prometido a Pepper que não faltaria. Apesar da grande relutância em ir, sentia que precisava compensá-la por tudo que estava fazendo por ele até então, o que incluía estar à frente da empresa desde a morte de Obadiah. Sem ver outra saída, remarcou seu treinamento para a tarde, depois do almoço.

—“Happy...”, chamou ele.

—“Sim, Tony. Tá precisando de mais alguma coisa?”, perguntou Happy, que depois de alguns minutos voltou da cozinha.

—“Acabei de lembrar que tenho uma reunião pra assistir pela manhã... Então nosso treino vai ser depois do horário de almoço, ok? Se quiser, pode até comer por aqui, tomar uma cervejinha...”, anunciou.

Happy sorriu desdenhosamente enquanto sentava no sofá.

—“Há quantos milênios você não aparece numa dessas reuniões, hein Tony?”, brincou ele.

—“Muito tempo, cara. Tanto que nem lembro qual foi a última vez...”, respondeu Tony, sorrindo também. “Mas prometi a Pepper que iria e você já sabe o resto...”

—“Ela ficaria uma fera se você não cumprisse...”

—“E como... Eu detesto ir nessas reuniões... Ninguém tem senso de humor e sempre falam as mesmas coisas.”

—“Dessa vez pode ser diferente, né? Não tem nem um dia ainda e as coisas estão a todo gás por causa da feira. Quem sabe a mudança de rotina tenha animado um pouco o pessoal?”, comentou Happy.

—“É, quem sabe... Happy, preciso dar um pulo lá embaixo, se não se importa...”, disse Tony. “Deixei umas tarefas em aberto e já que amanhã o dia vai ser cheio é melhor adiantar o que der...”

—“Claro, vai lá. Está na minha hora. Ainda a pouco, Pepper me pediu para buscá-la na empresa... Disse que tem um compromisso importante...”

—“A essa hora?”, perguntou ele.

—“Não sei o que é, mas posso descobrir. Tenho meus talentos como detetive.”, respondeu Happy, dando uma piscadela.

—“Não é necessário, Happy. Só cuide para que ela volte em segurança para casa.”, disse Tony, sem esconder sua preocupação.

—“Sim, senhor. Até mais, chefe. Nos vemos amanhã. E se prepare para os meus novos golpes. Pensa que é o único que está se atualizando?”

Tony sorriu e acenou.

—“Até mais, Happy.”

Ao despedir-se do amigo, Tony seguiu para a oficina, chamando por Jarvis.

—“Filho, hora de acordar!”, exclamou ele. “Temos muita tarefa de casa para fazer.”

—“Olá, senhor. Como se sente?”, perguntou Jarvis.

—“Estou melhor... Apesar de ainda não ter preparado meu ‘remedinho’.”

—“É uma boa notícia.”

—“É sim... Falando em notícia, preciso que exiba aquela pesquisa sobre o Brandt que pedi ontem.”

—“Exibindo resultados da pesquisa.”, disse Jarvis.

Diferentemente do que Tony imaginava, Brandt não estava tão ativo. Poucas informações surgiram sobre a tela holográfica, porém algo significativo chamou sua atenção instantaneamente. Brandt havia trabalhado para Obadiah Stane há muitos anos, antes da morte de seus pais em 1991.

Antes de se associar com Howard Stark, Obadiah possuía sua própria empresa de tecnologia, a Stane Internacional, herdada de seu pai, Zebediah Stane. Não havia limites para os negócios de sua empresa, visto que a ambição da família Stane sempre foi maior que os interesses civis. Aos poucos, no entanto, sua formação tecnológica foi se tornando obsoleta à medida em que as Indústrias Stark ganhavam mais reconhecimento pelo governo norte-americano e seus aliados. Para fugir da falência e do esquecimento, Obadiah astutamente tornou-se um grande amigo de Howard e se juntou a ele nos negócios, supostamente pondo um fim a sua própria empresa.

Mas os dados revelados por Jarvis lhe confirmaram o contrário. Durante todos os anos em que Obadiah esteve ligado as Indústrias Stark, ele manteve, em segundo plano, seus esquemas ilegais e utilizava sua influência como meio de incitar conflitos de menor escala, mas que geravam grandes lucros ao sistema de defesa e, consequentemente, ajudavam a aumentar a fortuna de Obadiah. Quanto mais Tony cavava para obter informações, mais se dava conta de que a traição de Stane vinha desde muito antes da morte de seu pai. E a pergunta que não calava: onde estaria Brandt e o que ele planejava? O que estaria fazendo após a morte de seu líder?

—“Jarvis, qual foi a última vez que Brandt foi visto?”, perguntou ele.

—“Minhas fontes informam que ele esteve no Irã há cinco dias. Possivelmente na residência de Obadiah Stane, em Teerã. Mas fiz reconhecimento facial nas câmeras dos aeroportos e rodoviárias do país e o identifiquei partindo para Bogotá, na Colômbia.”

Lembrando-se de uma ocasião em que estivera em Teerã para um teste de armamento, Tony rapidamente ligou os pontos.

—“Sempre achei esquisita a galera que trabalhava para o Obadiah... Usavam um véu sobre a cabeça, cobrindo seus rostos... Obadiah me dizia que era uma questão religiosa. Mas acho que era um simples disfarce. Por isso, nunca vi Brandt naquele lugar, mas ele devia estar lá o tempo inteiro.”, explicou Tony.

—“Além do mais, senhor, como Obadiah conseguia manter sua residência sem incomodar seus vizinhos? Todos sabem que os EUA não mantem acordos diplomáticos com o Irã.”, disse Jarvis.

—“E é aí que eu vejo com clareza que Obadiah era um grande canalha. Nas visitas, éramos acompanhados pelos militares que operavam naquela região. E sem os militares, a única maneira de ter paz num lugar como aquele era fazendo parte da barbárie.”

—“Podemos concluir disso tudo que Brandt pode estar tirando vantagem do que seu chefe deixou.”

—“Isso mesmo. Dando continuidade as loucuras de Stane... Eu deveria saber que nada era tão simples como parecia... Mas estava tão cego pela vida medíocre que levava que acabei deixando passar uma situação dessas. Não mais.”, disse Tony, sentindo o remorso tomar conta de seu humor. “É por isso que vou atrás do Brandt.  Antes que seja tarde.”

—“Quando deseja partir, senhor?”, perguntou Jarvis.

—“Preciso ser discreto e cauteloso, para não afugentar Brandt. De início, vou prosseguir minhas investigações checando o que ele está fazendo em Bogotá.”, respondeu ele. “Bom, prepare a armadura. Teremos uma longa noite.”

—“E quanto aos compromissos de amanhã? Devo cancelá-los?”, questionou Jarvis.

—“Vou chegar a tempo, Jarvis. Como eu disse a Pepper, vou estar nessa reunião nem que seja dormindo.”

—“Como quiser, senhor.”

—“Mais uma coisa...:”, disse Tony, posicionando-se sobre a plataforma robótica responsável por montar e desmontar a armadura. “É uma missão confidencial. Caso alguém me procure, diga que não quero ser incomodado.”

—“Nem mesmo a srta. Potts ou o Tenente-coronel James Rhodes?”, insistiu Jarvis.

—“Duvido que eles apareçam aqui hoje. Pepper está num compromisso da empresa e Rhodes em Mojave. Agora, monte a armadura, Jarvis.”

Em segundos, sentiu seu corpo ser coberto pelo traje metálico com ajuda dos braços robóticos que trabalhavam harmoniosamente na junção dos muitos circuitos e engrenagens que compunham a armadura. Na interface do traje, Tony verificou as condições de tráfego aéreo e os controles de solo, bem como o estado de funcionamento das funções de combate. Traçando seu destino, saiu em disparada pelo portão da oficina. O tempo estava favorável e em poucas horas ele chegaria a Bogotá. Uma tensão enorme pairava sobre sua mente, lhe fazendo esquecer até mesmo de seus problemas de intoxicação provocados pelo reator. A única coisa que conseguia pensar era em que Brandt estava metido.

Certamente não era em coisa boa.


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Notas finais do capítulo

A srta. Potts terá uma longa noite para defender as ideias de Tony e para fugir dos flertes de Justin Hammer.
E mais: o que Tony vai encontrar nessa viagem de última hora? Vejam nos próximos capítulos. :)
Agradeço de novo por acompanharem a fanfiction! Thanks!



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