Meu seu nosso mundo escrita por Yennefer de V


Capítulo 1
Meu seu nosso mundo




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9 anos

Nosso avô Xenofílio morreu intoxicado em seu próprio chá de ameixas dirigíveis. Não posso dizer que eu e Lysander éramos muito apegados a ele. Mamãe e papai eram magizoologistas e nos levavam com eles nas viagens para estudar criaturas mágicas. Nós não tínhamos endereço fixo.

— Não vamos vender a casa, Rolf. Os habitantes farão bem ao Lys - mamãe argumentou quando papai quis vender a casa.

A casa do vovô era perto do vilarejo de Ottery St. Catchpol. Eu só sabia que era um lugar muito habitado por trouxas. Não entendi o que mamãe quis dizer quando falou que a casa faria bem ao Lys.

Mamãe já sabia que nossos mundos iriam se separar.

10 anos

Corremos sem parar até a vila Ottery St. Catchpol. Mamãe e papai deram um tempo em suas viagens e assumiram O Pasquim novamente.

Estávamos em um porto na cidadezinha que tinha comércio e uma espécie de feira de quinquilharias. Ele corria em ziguezague e eu tentava alcançá-lo. Lysander ria abertamente. Ele me fazia sentir livre.

— Vou jogar quadribol. – enumerou Lysander pela décima vez perante a ansiedade da chegada de nossas cartas de Hogwarts. – Vou fazer Trato de Criaturas Mágicas. Quero conhecer os fantasmas. Quero ser da Lufa-Lufa como papai.

— Tiago Potter diz que só tem idiota na Lufa-Lufa! – argumentei.

As sardas de Lysander se remexeram em seu rosto assimétrico. Lysander e eu não éramos gêmeos idênticos. Ele tinha os olhos castanhos e os meus eram azuis. Seu nariz era torto e a boca sempre dançava em deboche. Eu nasci com os cabelos loiros da mamãe, Lysander tinha os cabelos encaracolados e escuros do papai.

— Tiago Potter acha que só a Casa dele é boa sem contestação! – debochou Lysander com sua autoconfiança inabalável.

Eu sentia uma pequena admiração pelo mais velho dos Potter, mas omiti a informação. Meu irmão era sua própria estrela, falando sem parar sobre as coisas que acreditava, com uma transparência e sinceridade atípicas.

13 anos

Eu voltava para casa nas férias de natal além das férias de julho. Empenhei-me numa empreitada no mundo dos trouxas. Aprendi sobre palavras, gírias, apetrechos, expressões e trejeitos trouxas. Entrei na aula de Estudos dos Trouxas sem interesse algum só pelo Lys.

Corrente elétrica, computador, televisão, celular, filmes, rock n’roll, motos, canetas, lâmpadas, aviões, drogas, revistas masculinas com fotos de moças seminuas, cinema, antidepressivos, seriados, desenhos animados, bebidas alcoólicas, piscinas (...).

Mamãe e papai pararam de viajar.

Lysander parou de sorrir. Tinha no rosto um olhar conformado. Suas vestes mudaram para camisetas de bandas trouxas. Ele deixou de cortar seus cachos que cresciam desordenadamente. Parou de visitar nossos amigos no Largo Grimmauld e principalmente n’A Toca onde a maioria se reunia nas férias.

Assistia bastante daquela tela quadrada chamada televisão. Tentou tratamento num médico chamado psiquiatra. Eu quis perguntar o motivo de não o termos levado ao St.Mungus, mas aprendi que Lys não gostava mais de curiosidade.

14 anos

Lysander estava com um sorriso no rosto que eu adorava ver. Era raro eu vê-lo realmente feliz como antes.

— Olha só pra isso! – ele puxou um pequeno cilindro branco de uma caixa e acendeu um isqueiro. Eu sabia o que era um isqueiro porque Lysander me explicava sobre as coisas trouxas o tempo todo.

Fogo saiu do isqueiro e ele tragou o cilindro branco, depois tossiu fumaça. Começou a rir e se engasgar.

— Chama-se cigarro.— explicou.

Ele me ofereceu um e eu o peguei incerto.

— Não é perigoso? – arqueei as sobrancelhas.

— Só não é saudável.

Sentamos no cais de Ottery St. Catchpol, observando as pequenas embarcações de pesca ir e vir com suas redes e tripulação.

— Você acha que eles pescam diláfex? — perguntou Lysander, o cigarro dançando nos lábios, os pés descalços jogados da ponte, os dedos roçando na calmaria do mar.

—Dilátex. – corrigi. – Acho que eles precisariam ter uma vara de pesca como a da mamãe. Que toca música.

— Você está certo. – ele sorriu novamente e meu peito se inflou de alegria - Conte sobre as garotas. – pediu ele.

Traguei mais uma vez aquele cigarro nojento para que Lysander sorrisse. Não tossi. Estava pegando o jeito.

— A mais bonita delas é Dominique Weasley. – dei um suspiro. – Ela é parte veela.

— Como as criaturas do livro do nosso bisavô? - perguntou ele se referindo ao Animais Fantásticos e Onde Habitam. — Não posso me imaginar namorando com uma garota que se transforma em pássaro. – comentou.

Tive um tremelique.

— Nem eu. A bisavó dela era veela, não ela. Só que ela está no sétimo ano e não gosta de namorar por muito tempo.

— Sinto muito. – Lysander rebateu em tom sincero. – E Roxanne?

Fiz uma careta.

— Roxanne é minha melhor amiga. Que estranho Lys.

Lysander pareceu inquietar-se.

— Você vai gostar da irmã caçula de Tiago Potter. – comentei. – Ruiva, covinhas na bochecha e olhos castanhos. Joga quadribol. Aliás, o nome do meio dela é o nome da mamãe. Ela é totalmente decidida e durona. Não perde pra você.

Lysander murchou.

— O que ela vai querer comigo? – Lys colocou as mãos nos bolsos e tirou um pouco de dinheiro trouxa por puro tédio. – Não posso nem jogar quadribol.

Fiquei triste também. Lysander se levantou e calçou os tênis, cabisbaixo. Fiz o mesmo movimento que ele, me punindo mentalmente por deixá-lo deprimido tão perto do natal.

— Que tal nós nadarmos até aquele barco? – perguntei.

Ele me deu uma negativa com a cabeça.

— Quer comprar penduricalhos para turistas?

Recebi outro não.

Lysander acendeu outro cigarro, inquieto.

— Sempre me pergunto se são dementadores. – ele comentou infeliz, olhando para o céu nublado.

Só havia nuvens formando uma chuva inesperada.

Lys estava novamente com aquele humor sombrio que substituía meu irmão tagarela e sorridente para uma versão opaca e pálida dele mesmo.

15 anos

— Eu tive uma ideia quando conversava com Tiago Potter. Ele é capitão do time da Grifinória.

Lysander estava carrancudo jogando um jogo eletrônico, olhando fixamente para televisão e apertando botões em um controle freneticamente. Acho que era videogame.

— Ele que vá pro inferno com sua vassoura mágica! – respondeu meu irmão no seu mau humor permanente.

— Presta atenção! – pedi desesperado. – São as vassouras que têm magia, não os bruxos que estão em cima delas!

— E daí?!

— Vem subir na droga da vassoura Lys!

Lysander aprendeu como eu aprendi. Rapidamente, com curiosidade e satisfação. A cada vitória que ele dava, seu humor voltava a ser o do Lys de antes e nossos mundos se cruzavam novamente.

Ele fez poções, jogou quadribol, comeu doces bruxos, visitou Hogsmeade e o Beco Diagonal, fomos a jogos de quadribol, em um show d’As Esquisitonas, entramos no Gringotes apenas pelo passeio no que Lys chamou de “montanha-russa mágica”, aproveitamos muita coisa da Gemialidades Weasley, Lys comprou uma vassoura e um Pufoso para tacar-lhe com o bastão de batedor, ficamos bêbados com hidromel e soltamos fogos de artifício no quintal dos vizinhos.

Lys era parte do meu mundo bruxo tanto quanto eu era parte do mundo trouxa dele.

Aos dezesseis anos ele perdeu a vergonha de socializar com os meus amigos de Hogwarts. E Lily Luna aceitou sair com ele. E ela não se importou, como eu, do Lys ser um aborto.


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Notas finais do capítulo

PS: Pessoal, vou excluir minha conta no Nyah! em breve. Quem ainda quiser manter contato e tiver twitter adicionar lá? @Ariana_D__



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