A Redenção do Tordo escrita por IsabelaThorntonDarcyMellark


Capítulo 5
05. O resultado do julgamento




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Por Peeta

Acordo num sobressalto, em razão de um pesadelo. Como todos os que costumo ter, este envolvia a morte de Katniss e foi particularmente aterrorizante.

Sonhei com o julgamento de Katniss. Ela havia sido condenada à morte e fui o executor da pena. Despertei no exato instante em que a flecha que atirei atravessou seu coração.

Foi só um pesadelo. Não foi um mau presságio. Repito as palavras em pensamento e sinto meu coração desacelerar.

Meu estômago se contorce de fome, pois fui dormir sem jantar. Levanto e vejo a bandeja sobre a cômoda, com a tigela de sopa que serviram, intacta. Tomo algumas colheradas, mesmo estando fria e insossa.

O sol ainda não despontou no céu, mas estou sem sono e descansado. Felizmente, posso me ocupar com o quadro que comecei a pintar ontem. As horas passam e nem percebo. É fascinante ver uma imagem que estava apenas em minha imaginação tomar forma na tela, ainda que essa imagem me remeta a momentos tristes. Agora já é possível distinguir dentre as pinceladas as feições de Primrose. Este rostinho que tanto ajudou no meu tratamento no Distrito 13 e que acho que vai me ajudar sempre.

Como prometeu, a Dra. Ceres veio me ver logo nas primeiras horas da manhã. Desta vez, ela está acompanhada do Dr. Aurelius.

— Bom dia, Peeta! Já está de pé e se dedicando à pintura! — O Dr. Aurelius dá alguns passos em minha direção, observando-me atentamente. — A sua melhora é visível, comparando com seu estado na última em vez que o vi. Como você deve saber, estive bastante ocupado durante o julgamento da Katniss e deixei o seu caso aos cuidados da Dra. Ceres. Devo dizer que estou impressionado, apesar de conhecer muito bem a competência da minha jovem colega de trabalho.

A Dra. Ceres logo fica corada e sorrio em sua direção, sinceramente agradecido.

— Os méritos são do paciente, Dr. Aurelius — balbucia ela, envergonhada.

— Tudo bem. Os dois estão de parabéns, então.

— Alguma novidade sobre... sobre o julgamento? — titubeio ao perguntar.

— Nada ainda — responde o Dr. Aurelius. — Acho que toda Panem está aguardando esta notícia.

— Nós vamos checar outros pacientes agora, Peeta — despede–se a Dra. Ceres. — O Dr. Aurelius e eu viemos somente para uma visita rápida.

— Mais tarde buscaremos você para fazer alguns exames — informa o Dr. Aurelius.

— Até lá — digo e eles saem.

Não demora muito, Maximus chega sorrateiramente ao meu quarto.

— Minha irmã já veio aqui? — pergunta, tentando falar baixo, mas sem conseguir, como sempre.

— Sim. Ela e o Dr. Aurelius.

— Então, vamos poder conversar. — Ele respira aliviado. — Soube que Johanna e Annie vêm ver você daqui a pouco. Vim pegar aquelas dicas que você prometeu...

— Ah, sim! — respondo, tentando pensar rápido no que vou dizer a ele, pois não imaginava que estivesse falando sério quando disse que queria ser apresentado à Johanna.

Começo a dar a ele umas ideias absurdas, pra ver se ele desiste de me colocar como cupido nessa história.

Não tenho nada contra nenhum dos dois, muito ao contrário. Ambos conquistaram a minha amizade e o meu carinho justamente por serem tão... eles. No entanto, vai que o romance não dá certo? Não quero confusão para o meu lado.

— Primeiro, você deve deixá-la bastante irritada. Só assim ela vai notar sua existência. — Este é o meu conselho inicial.

Max me olha com cara de descrença.

— Vai por mim! — continuo. — Segundo, você não pode se intimidar com as provocações dela e deve responder à altura ou, melhor ainda, provocar até mais que ela.

— Entendi — responde, pensativo. — Vamos traçar aqui uma estratégia, então...

Max começa a narrar o que pretende fazer para aborrecer Johanna e o mais preocupante é que ele está me incluindo nos seus planos. Estou em apuros!

O pior é que não tenho ideia do que estou fazendo, pois nunca conheci nenhum namorado da Johanna. Apenas convivi com ela tempo suficiente para saber que não tem freios na língua, fala frases de duplo sentido tão facilmente quanto respira e tem tolerância zero para o que a irrita. No entanto, estou curioso pra saber onde isso vai dar.

Antes de Annie e Johanna chegarem, peço para ser algemado às grades da cama por precaução. As duas estiveram comigo na época em que fui torturado e pode ser que, ao vê-las, algo desencadeie um daqueles episódios desagradáveis. Annie está grávida e, mesmo que não estivesse, não quero colocá-las em risco.

Assim, recebo as duas com minhas mãos atadas, sem poder lhes dar um abraço, porém com o maior dos meus sorrisos.

— Humm. Um belo exemplar do sexo masculino, preso na cama com algemas. Isso é a concretização de um dos meus fetiches! — Johanna não perde a oportunidade de me deixar embaraçado.

— Johanna, controle-se! — Annie pede, rindo.

— Acho que as algemas servem mais para a sua segurança do que para realizar as suas fantasias, Joh — digo, tentando mover minhas mãos e braços sem sucesso, enquanto Johanna se senta ao meu lado no colchão.

— O fato de você estar numa cama de hospital é um mero detalhe... ou pode deixar tudo ainda mais excitante! — Johanna aproxima seu rosto do meu e finjo ficar alarmado, para depois começar a rir junto com ela.

Mesmo com todas as recomendações para que não tocasse em assuntos delicados, Johanna logo pergunta:

— E então, Peeta? Quer saber notícias da sua atiradora de flechas ruim de mira?

Já havia me preparado para ouvir comentários sem filtro da Johanna, mas, ainda assim, precisei segurar firme as bordas da cama. Felizmente, eu me recupero sem mais esforços. Fecho os olhos e balanço a cabeça:

— Eu... não estou aguentando de tanta ansiedade em saber qual será o destino da Katniss. — É tudo o que consigo dizer.

Max bate à porta e entra em seguida, falando com a voz bem grave e de maneira exageradamente formal:

— Senhorita Mason, devo mais uma vez adverti-la de que nem todos os temas devem ser discutidos com o paciente.

— Escuta aqui, grandalhão, eu falo sim. Se quiser me tirar daqui, vai ter que me carregar lá pra fora e vou ficar berrando no corredor tudo o que eu quiser, como eu quiser, quando eu quiser. E não vai ser nada bonito! — Johanna vocifera.

Annie arregala os olhos e me fita espantada. Faço um sinal pra ela de que está tudo bem.

Se Johanna estivesse falando comigo daquele jeito, eu certamente tremeria na base. Max, no entanto, parece não se importar nem um pouco com o tom ameaçador dela. Na verdade, está bem satisfeito com a sua reação.

— Eu. Adoraria. Carregar. A. Senhorita. Lá. Pra. Fora. — Max diz pausadamente. — No entanto, não foi isso o que vim fazer aqui.

Até eu ficaria irritado com o jeito que ele falou. Johanna semicerra os olhos e o analisa dos pés à cabeça, sem cerimônias, já mudando sua postura em relação a Max.

— Já que está tudo sob controle, vim soltá-lo, Peeta — avisa o enfermeiro, enquanto gira as chaves nas amarras nos meus pulsos e antebraços.

Max pisca discretamente para mim, dando a deixa para eu apresentá-lo à Johanna. No entanto, não preciso dizer nada, pois é a própria quem toma a iniciativa:

— Ah, que bom. Estou pensando aqui em algo muito mais interessante pra se fazer com essas algemas. — Ela vai até Max e as toma de suas mãos. — E com um enfermeiro bonitão também.

Como você quiser, quando você quiser e onde você quiser. — Ele não se intimida e sustenta o olhar de Johanna. — Você não prefere me dizer o que gostaria de fazer com essas algemas em um lugar mais reservado?

— Quero as chaves também. — Johanna mostra a mão com a palma para cima e Max deposita ali o pequeno chaveiro.

Annie dá as costas para a cena, servindo-se de um pouco de água na cômoda do quarto, enquanto tenta sem sucesso sufocar uma risada.

Disfarço à minha maneira, esfregando os braços nos pontos onde estavam presos. Até que Johanna me inclui na conversa:

— Como pode eu nunca ter encontrado seu enfermeiro antes nesse hospital, Peeta? Ele certamente não passaria despercebido por mim — pergunta ela sem tirar os olhos dele.

— Er... Bem, ele... — gaguejo e Max nem espera que eu termine de falar.

— Trabalho na ala pediátrica. Enfermeiro Maximus, à sua disposição.

— Maximus? Gostei do seu nome. E o seu plantão vai até que horas? — Johanna questiona.

— Na verdade, já acabou. Só estava aqui pra acompanhar a visita de vocês ao Peeta.

— Então, não precisa mais cuidar do bebezão aqui. — Johanna se aproxima de mim e aperta minha bochecha. — Peeta vai ficar em ótima companhia, não é, Annie?

— Ah... A ótima companhia sou eu? Oh! Sim, claro! — Annie concorda.

— Vocês dois perceberam que tá rolando uma tensão sexual aqui, não é? — Johanna pergunta para mim e Annie, apontando para ela e Max alternadamente.

— Está? Nem reparei — respondo ironicamente.

— Tenham juízo — Annie pede, enquanto os dois acenam pra gente e saem do quarto conversando animadamente.

— Será que isso vai dar certo? — Annie indaga, risonha.

— Vai ter que dar! Você acredita que o Max me pediu dicas de como conquistar a Johanna e seguiu à risca as bobagens que falei? Aí deu nisso que acabamos de presenciar.

Annie quase fica sem fôlego de tanto rir.

— Onde estava com a cabeça, Peeta? Esses dois juntos vão implodir esse hospital.

— Você achou que ela ficou interessada nele? — pergunto, descendo do leito.

— E como ficou! Devo reconhecer que você é um gênio. Se ele chegasse de mansinho nela, levaria um belo fora.

— É difícil saber qual dos dois é o mais sem noção...

— Isso é verdade. Ainda não me acostumei com as maluquices da Johanna, e o Maximus não fica muito atrás.

— Você e a Johanna formam uma dupla improvável realmente. — Posiciono duas cadeiras de modo que fiquem próximas uma da outra para eu e Annie nos sentarmos.

Antes disso, porém, abro os braços para envolvê-la num abraço.

— Senti muitas saudades de você!

— Eu também, Peeta!

— Você está tão linda. A gravidez deixa você... radiante! — Levo Annie até a cadeira. — Sente-se aqui. Não é bom você ficar de pé por muito tempo.

Ela se acomoda e dá um suspiro aliviado.

— Você já sabe o sexo do bebê, Annie?

— É um menino... Finnick. Ele terá o nome do pai.

— Posso conversar com ele? — indago.

Annie pega em minha mão e leva até sua barriga, enquanto me agacho ao seu lado.

— Oi, garotão! Estou muito feliz com a sua visita e com o fato de você e sua mãe estarem bem... Quando eu ficar bom, vou visitar vocês no Distrito 4. Vou ensinar você a fazer pão e biscoito e você vai me ensinar a nadar — digo com carinho. — Mas não precisa ter pressa de sair daí pra fazer todas essas coisas, não.

Annie sorri lindamente e me levanto para, agora sim, sentar-me à sua frente.

— Um dia você será um excelente pai.

— Não tenho tanta certeza. A única pessoa que dizem que amei na vida sempre foi completamente indiferente aos meus sentimentos... Não sei se vou formar uma família algum dia. No entanto, posso ser um ótimo tio para o pequeno Finnick!

— Você vai ser um ótimo padrinho, isso sim!

— Ah, Annie. Que honra! Obrigado pelo voto de confiança. Queria mesmo ser uma pessoa presente na vida do seu filho. Devo isso ao Finnick. No entanto, tinha medo de você pensar que eu tentaria ocupar um lugar que não me pertence. Agora, você me deu carta branca pra estar sempre por perto.

Annie se estica para segurar minhas duas mãos e me sento na ponta da cadeira para ficar mais próximo dela.

— Mesmo depois de tantas coisas horríveis que aconteceram com a gente nesses últimos meses, ainda existem motivos para eu me alegrar. Ter conhecido você é um deles. Sempre vou querer você por perto — declara emocionada.

— Soube que você quer que o parto seja no Distrito 4. Como estão as coisas por lá? Sua casa ainda existe?

— Algumas partes do Distrito 4 estão sendo reconstruídas, mas a Vila dos Vitoriosos não foi atingida.

— Não sei pra onde vou quando eu tiver alta. Tenho uma casa no Distrito 12, mas nada me prende lá. Aquele lugar não é mais meu lar — constato com um peso no coração. — Agora, minha família são vocês e o Haymitch. Como antes, ninguém, de fato, precisa de mim.

— Não existe essa história de que ninguém precisa de você! — Annie me repreende.

— Precisar, precisar, ninguém precisa mesmo... — lamento.

— Você está enganado. Quanto a isso e quanto ao que você disse antes sobre Katniss ser indiferente. Posso ser essa cabeça de vento, mas sou também muito sensível. Katniss ama você. Talvez ela não saiba como e o porquê, mas basta que vocês se reaproximem para ela conseguir essas respostas — afirma Annie com convicção. — E quanto a você, meu amigo, mesmo depois de tudo o que aconteceu... você continua perdidamente apaixonado por ela.

Nem tenho tempo de protestar. Johanna invade o quarto correndo:

— A desmiolada foi absolvida! — grita ela a plenos pulmões.

Eu e Annie praticamente saltamos das cadeiras e nós três nos unimos num abraço, enquanto Max nos observa, sorridente. Quando nos separamos, Annie pergunta:

— Simples assim? Ela ficará livre para ir pra onde quiser?

— Fiquei tão eufórica que nem prestei atenção no restante da notícia! — Johanna exclama. — Você ouviu algo mais, Maximus?

— A soltura dela foi condicionada à continuidade do tratamento com o Dr. Aurelius e ela deve ser levada ao Distrito 12 e lá permanecer até uma nova decisão — explica Max.

Annie fixa seus olhos nos meus.

— Distrito 12, é? Acho que já sabemos para onde você vai quando for liberado do hospital, Peeta. Seus lindos olhos azuis estão com um brilho especial, que não estava aí alguns minutos atrás.


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Notas finais do capítulo

Olá, pessoal!
Eu me diverti muito escrevendo a "paquera" entre Johanna e Max... Espero que a leitura tenha sido divertida também! XD
Beijos! Até o próximo capítulo!



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