A Redenção do Tordo escrita por IsabelaThorntonDarcyMellark


Capítulo 45
Insegurança


Notas iniciais do capítulo

Oi!
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Por Peeta

Alguns dias depois da inauguração da padaria, Annie, Finn, Johanna e Max voltaram ao Distrito 4.

A estadia prolongada deles estreitou nossos laços de amizade e, nesse tempo, Katniss também se afeiçoou muito ao bebê. Depois do que ela me falou sobre tentar vencer seu medo de ter filhos, eu até me esforçava para conter um pouco meu entusiasmo ao vê-los juntos, para que ela não se sentisse compelida a nada, mas era quase impossível não largar tudo o que estivesse fazendo para admirar os momentos de convívio dos dois… A desenvoltura dela nos cuidados com ele, a confiança de Finn em abandonar-se em seus braços, o empenho dela em fazê-lo sorrir.

Desde que eles partiram, Katniss retomou suas idas à floresta e, às vezes, passa algumas horas na padaria no turno da tarde, no horário em que Violet está estudando.

Nossa rotina mudou um pouco com o início da Turnê Presidencial, que finalmente chegou ao Distrito 12. A cidade está lotada de visitantes e de agentes de segurança.

Por isso, hoje, excepcionalmente, Katniss não foi caçar e veio comigo logo cedo para a cidade, pois mais tarde acontecerá a cerimônia de abertura da turnê.

Ainda é difícil acreditar que agora posso contar com a presença dela aqui na padaria, auxiliando em pequenas tarefas. Isso é algo que, até a primeira colheita, apenas fez parte da minha imaginação.

Já estamos no final da manhã e acabou de ser assada a segunda fornada do dia.

Nesse exato instante, nós nos deparamos um com o outro, quando me encaminho de volta ao interior da padaria. Estou indo guardar o tabuleiro que usei para reabastecer o cesto com pães frescos e Katniss traz de lá de dentro alguns sacos de papel para deixar no balcão à disposição dos clientes que comprarão nossos produtos.

Não planejo o que se passa a seguir. São momentos que simplesmente acontecem quando Katniss está aqui…

Minha rota e a dela se cruzam por acaso. Mas não é por acaso que as nossas mãos se conectam e os nossos lábios se encontram. E permanecem unidos até que ouço a campainha do balcão sendo tocada insistentemente.

— Onde estão os modos de vocês? – Effie pergunta, porém não há sinal de impaciência em sua maneira de falar.

O súbito afastamento dos lábios de Katniss e seus olhos arregalados me fazem rir. Ela segura meus braços e espia por cima dos meus ombros, para depois tentar esconder o rosto enrubescido em meu peito.

A expressão ainda mais envergonhada dela denuncia que Effie está acompanhada, e que não é Haymitch quem está ao seu lado.

— Esse é o melhor modo de ser recebida na Padaria Mellark, Srta. Trinket. – Um timbre feminino chega a meus ouvidos.

Reconheço a voz como sendo da Presidente Paylor e me viro, surpreso.

— É o melhor modo mesmo, vendo esses dois tão, tão felizes! – Effie concorda. — Bom dia pra vocês!

— Presidente Paylor. Effie. Bom dia! – Katniss as cumprimenta, finalmente depositando as sacolas de papel no balcão.

— Bom dia! Em que posso ser útil? – pergunto e imediatamente vejo a expressão satisfeita que sempre se reflete no rosto de Effie, quando eu e Katniss temos a oportunidade de mostrar a ela os resultados de suas lições de boas maneiras. — Sinto muito pelo que aconteceu antes. Eu achava que sabia separar bem o lado pessoal do lado profissional, mas é muito difícil com ela por perto – confesso, segurando a cintura de Katniss com minha mão livre e olhando em seus olhos.

— Peeta… – Ela me repreende, mas sustenta um leve sorriso. — Eu atendo os pedidos das nossas clientes ilustres.

Beijo sua testa e, em seguida, refaço o caminho até o interior da padaria para guardar o tabuleiro que ainda estava segurando. Ao retornar, Katniss está servindo duas fatias de bolo à Effie e à Presidente Paylor.

— O Comandante Hawthorne e o Prefeito estavam me mostrando algumas partes do Distrito, mas resolveram tomar uma sopa no estabelecimento ali ao lado. – A Presidente Paylor diz para Katniss. — Ele mencionou que era um costume de vocês.

— Era sim – confirma Katniss. — Vocês não quiseram experimentar?

— Ai! A culpa é toda minha – assume Effie. — Ontem eu me empanturrei com a sopa da Greasy Sae. Hoje, fiquei enjoada só de pensar… A Presidente Paylor fez a gentileza de me acompanhar até aqui, pois o Haymitch foi comer um pouco também. Eu não deixei sobrar nada pra ele!— Effie sussurra a última frase.

— Já são os sintomas da gravidez – comento. — Espero que você não enjoe dos pães e dos bolos.

— Não, não, não! Nada de enjoo. Eu quero mais um pedaço!

Recebo de Effie uma piscadela cúmplice, enquanto ofereço outra fatia a ela. Haymitch cruza a porta logo depois.

— Bom dia, garoto. Olá, lindinha.

— Haymitch, eu e Katniss já alimentamos seus bebês— brinco.

Bebês? – Ele e Effie repetem assustados.

— Pelo tanto que a Effie está comendo, são dois bebês, no mínimo. – Katniss embarca na brincadeira e Effie descarta suas palavras com um gesto de mão.

— Mais um motivo pra você vir pra casa comigo, Effie. A manhã foi cheia de compromissos – argumenta Haymitch.

— Mas é o meu trabalho! Eu sou a escolta da… – Effie já começa a protestar, mas a Presidente Paylor a interrompe, pondo uma mão sobre a dela.

— Haymitch tem razão, Effie. Você está dispensada pelo restante do dia. O Timothy pode me apresentar todo o Distrito 12.

— Vejo vocês na cerimônia de mais tarde, então! – Effie se convence e Haymitch a leva pra casa.

Nem bem eles saem, nossos olhares são direcionados para a entrada da padaria, quando escutamos os passos de Gale, Cressida e Timothy, que adentram pela porta, conversando animados e dando risadas, antes de se aproximarem de onde estamos.

— Greasy Sae não cabe dentro de si! – Gale fala entre risos. — E isso é obra sua, não é, Peeta?

Antes que eu responda, ele vê Katniss ao meu lado e para de andar abruptamente, surpreendendo Cressida, que segura firmemente a mão dele e se vê obrigada a interromper seus passos também.

— O que foi, Gale? – Cressida pergunta.

— Eu não posso crer nos meus olhos! Catnip trabalhando na padaria? – pergunta ele num tom divertido.

— Pra você ver como as pessoas mudam… – Katniss graceja.

— Estou sentindo que o emprego da Violet está sendo ameaçado. – Timothy finge se queixar.

— Vocês sabem que o lugar de Katniss é na floresta… Por mais que eu aprecie o tempo que ela passa aqui – afirmo.

— Se você herdou o talento do seu pai, Peeta, ela já deve ter pensado em passar mais tempo aqui do que na floresta – prossegue Gale. — Ainda mais agora que não precisa caçar esquilos para comer pão fresco, não é, Catnip?

— Só posso dizer que os esquilos agradecem o fato de eu ser casada com o padeiro. – Katniss sorri pra mim ao dizer isso.

— Brincadeiras à parte, a nova padaria está espetacular! E foi muito legal o que vocês fizeram por Greasy Sae. – Gale assume uma postura mais séria.

— Estou impressionada com a transformação do Distrito 12 – elogia Cressida. — Eu vi essa padaria em ruínas apenas alguns meses atrás.

— Vocês estão fazendo um excelente trabalho de reconstrução, Timothy. – A Presidente também manifesta sua admiração. — Gostaria de conhecer as outras construções.

— Será um prazer acompanhá-la – declara ele.

— A senhora já está pronta para ir, Presidente? – Gale pergunta e ela confirma.

— Vou reunir a equipe de filmagem – avisa Cressida, que dá um beijo rápido em Gale. — Peeta e Katniss, vejo vocês depois.

A Presidente Paylor faz menção de seguir Cressida, porém se detém.

— Katniss… – chama ela, antes de se retirar. — A cerimônia de hoje à noite será transmitida ao vivo e, se você se sentir à vontade pra isso, tenho certeza de que significaria muito para a população de Panem se pudesse dirigir algumas palavras a todos.

— Eu… Eu vou tentar – titubeia Katniss. — Até mais tarde, Presidente Paylor.

Todos nos despedimos e Gale imediatamente dá o alerta aos outros agentes através de seu comunicador. Em questão de minutos, os oficiais sob seu comando se posicionam para garantir a segurança de toda a equipe.

Apenas um agente entra na padaria. Ele usa um uniforme escuro como os outros, porém não está armado, nem mesmo em posição de alerta.

— Capitão, o senhor está escalado somente para os eventos da noite – informa Gale.

— Sim, senhor. Vim apenas conhecer o local – responde o homem secamente.

— Esse é o Capitão Letus Razor. Ele era um dos agentes de confiança da Força de Resistência e, recentemente, ofereceu-se para atuar na Guarda Nacional. – Gale o apresenta. — Estarei na sede da Guarda Distrital, caso precisem de alguma coisa. Adeus!

Ele fecha a porta atrás de si, enquanto o Capitão Letus Razor sequer se move.

— Seja bem-vindo ao Distrito 12, Capitão – digo e o homem nada responde, apenas gesticula com a mão, como se prestasse continência para mim e para Katniss, olhando alternadamente para nós dois.

Essa forma despropositada de nos cumprimentar e de nos analisar me incomoda um pouco. Então, simplesmente pego a mão de Katniss e me afasto, acenando com a cabeça e levando-a comigo. Pelo canto dos olhos, vejo que ele deixa a padaria logo depois.

— Eu não estou preparada para um discurso ao vivo, em rede nacional – murmura Katniss atrás de mim.

— Não precisa ser um discurso. Bastam algumas palavras. Eu ajudo você – ofereço.

— O que mais essa noite nos reserva?

— É bem provável que os pronunciamentos tragam à tona tudo o que aconteceu, desde as arenas até a rebelião. Mas tenho certeza de que a Presidente Paylor vai conduzir tudo com sabedoria e enaltecer as coisas boas que foram conquistadas.

— Eu sei. É que… A cidade está cheia de gente diferente e, por mais que não façam por mal, as pessoas nos avaliam e, algumas vezes, eu não me sinto bem com isso. Como agora, com aquele Capitão…

— Letus Razor. Você não foi a única a ficar incomodada com ele, então. – Faço-a saber que entendo o que ela quer dizer.

Um menino de cerca de seis anos desvia a nossa atenção, ao se aproximar do balcão para fazer um pedido.

— Eu quero um pão de nozes. – Ele me entrega algumas moedas, de modo acanhado. — Posso levar biscoitos com o troco?

Nem mesmo conto as moedas e entrego seu pedido, enchendo um pacote com variados biscoitos e outras guloseimas. Observo como ele sorri e sai pulando de alegria.

Uma sensação de bem-estar me invade ao pensar que ele não vai sentir temor algum, além das questões próprias da idade, ao completar doze anos.

— Katniss, talvez você se sinta melhor se lembrar de que esse menino nunca terá que enfrentar uma colheita. – Indico a criança, que exibe o saco de biscoitos para o irmão mais novo e ambos levantam os bracinhos em comemoração.

— É… Talvez. – Sua boca se curva num sorriso discreto, o que já é um começo para que essa noite de homenagens não seja um total martírio para ela.

— Você põe na caixa registradora pra mim? – Deixo cair nas mãos dela as moedas que recebi do garoto.

— Assim você vai à falência! – Katniss ri ao reparar que a quantia paga não cobriria nem metade do valor dos produtos entregues ao menino.

— É mesmo, Sra. Mellark?

— Ainda não preenchemos os formulários no Palácio da Justiça. Ainda não sou a Sra. Mellark.

— É que você falou como uma autêntica Sra. Mellark – ironizo e Katniss contorce o rosto numa careta.

— Falando nisso, você pegou os formulários no Palácio da Justiça? – pergunta.

— Eu sabia que estava esquecendo alguma coisa… – Esfrego a nuca, sem saber se ela ficará zangada por eu ainda não ter providenciado a documentação.

— Nós precisamos resolver isso, Peeta.

— Você acha? Não preciso de papel, nem preciso que você tenha um novo sobrenome. Eu preciso de você.

Pego sua mão e beijo seus dedos. Katniss me abraça e apoia a cabeça em meu peito por alguns segundos.

— Tenho que ir pra casa pensar em algo para falar nessa grande, grande, grande noite. – Ela suspira, sem disfarçar seu desânimo. — Ainda bem que tenho você comigo pra enfrentar isso.

— É apenas uma cerimônia. Quando você se der conta, já vai ter acabado.

— Estou com um mau pressentimento… um aperto no coração.

— Nunca se esqueça: nós protegemos um ao outro. – Pressiono meus lábios em sua têmpora, abraçando-a bem apertado.

É isso o que fazemos— sussurra ela, que retribui o meu abraço e caminha em direção à saída.

Noto que aquele capitão, na verdade, não havia ido embora. Ele está fumando na calçada e, o que é mais estranho, observa o interior da padaria com cara de poucos amigos. Quando Katniss passa a seu lado, os olhos dele a acompanham enquanto ela se distancia.

Levo um cinzeiro até a porta e estendo na direção dele. Antes que eu abra a minha boca, ele se manifesta:

— Você deveria se preocupar com outras coisas que, uma vez em chamas, podem virar cinzas. – Ele traga o cigarro pela última vez, esmaga-o rudemente contra um dos tijolos da fachada da padaria, ignorando o cinzeiro que lhe ofereci e, em seguida, libera de seus pulmões a fumaça fétida no espaço entre nós dois. — Mas não se preocupe. Estou aqui para protegê-los. – Ele aponta para mim e para Katniss, que ainda pode ser vista ao longe.

Logo depois, o homem joga o que sobrou do cigarro no cinzeiro e, sem mais uma palavra ou cumprimento, desaparece rua afora.

Não é possível conciliar as suas últimas palavras com a sua expressão corporal. Seu oferecimento de proteção se confunde com uma ameaça.

— Casper? Lionel? – Retorno à padaria e busco meus ajudantes. — Vocês podem dar conta da padaria por meia hora? Preciso falar com o Gale.

Eu me encaminho à sede da Guarda Distrital e, por sorte, Gale está na entrada. Não vejo o Capitão Razor por perto.

Ao ver minha aproximação, Gale dispensa alguns de seus oficiais para conhecerem a cidade e me leva até uma sala que fica no andar térreo do prédio.

— Peeta, você parece preocupado.

Eu confirmo com a cabeça e conto sobre a má impressão que tive com a frase ambígua do Capitão Razor.

Gale escuta tudo com ar angustiado.

— Vou sondar outro antigo membro da Força de Resistência, que também veio conosco. Espere aqui, por favor. – Gale sai da sala e volta alguns minutos depois, acompanhado de um homem de cabelos grisalhos, também uniformizado. — Esse é o Capitão Chase, Peeta.

Aperto a mão que ele me estende e explico brevemente o que aconteceu, dessa vez sem fazer menção ao meu desagrado com aquilo que interpretei como uma forma de intimidação proferida pelo outro oficial.

O Capitão Chase solta uma gargalhada quando termino de falar.

— Peço desculpas por achar graça. Mas não se aborreça. Ele está fazendo isso pra manter a sua fama de enigmático. – Ele faz aspas no ar ao dizer a última palavra. — Razor é um cara muito solitário e reservado. Sempre morou sozinho na Capital, nunca fala da família. Porém, acho que jamais colocaria a carreira brilhante em risco, fazendo ameaças infundadas. Até porque foi ele que insistiu em fazer parte da equipe durante a turnê aqui no Distrito 12.

— Isso me deixa mais tranquilo – diz Gale. — Mas eu quero que você me ajude a manter o olho nele. E ele deve ser colocado na primeira nova missão que aparecer. Assim, o Capitão Razor se afasta do Distrito 12 tão logo surja a oportunidade – ordena ele, por fim.

O oficial assente e se retira.

— Você disse que ficou mais tranquilo, Gale, mas eu estou mais apreensivo ainda. O fato de ele insistir para estar aqui…

— Eu não me preocuparia com isso. Muitos outros também queriam estar aqui. Razor é apenas um deles. A visita ao Distrito 12 é o ponto alto da Turnê – explica Gale. — Mas não vou me descuidar dele.

Eu agradeço e deixo a sede da Guarda Distrital. No entanto, ainda sinto uma enorme insegurança e, por isso, não volto à padaria. Não pretendo deixar Katniss sozinha enquanto aquele agente estiver nas redondezas. Não vou dizer nada a ela, para não assustá-la.

Chego à nossa casa e não a encontro. Apenas ouço sons vindos do segundo andar. Buttercup está na sala, estirado no sofá, então não é ele quem está fazendo barulho.

Só pode ser Katniss. Ou…


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Notas finais do capítulo

Olá, pessoal!

Suspense no ar... Aguardemos os próximos capítulos!

Mas, antes disso, quero anunciar uma novidade!

Estou traduzindo e postando no Wattpad uma fic da LylaDoll, uma autora mexicana maravilhosa!
É uma fanfic THG, numa realidade alternativa, na qual Katniss e Peeta não foram tributos. O nome dela é:

No Caminho (Katniss e Peeta, se não houvessem ido aos Jogos)

Eu amo tudo o que a Lyla escreve e "En el camino" foi a primeira fic dela que eu li, daí o carinho que tenho por essa história.

Espero que possam dar uma conferida e que se apaixonem também! Está lá no meu perfil no Wattpad.

http://my.w.tt/UiNb/di2fwiXk2z

Beijos!

Isabela