Vida e Legado de Lullaby Minus escrita por Laudomir Floriano


Capítulo 6
Quinto Capítulo


Notas iniciais do capítulo

"One for the money, two for the show
I love you honey, I'm ready, I'm ready, to go
How did you get that way? I don't know...
You're screwed up, and brilliant
Look like a million dollar man
So why is my heart broke?"
—Lana Del Rey, Million Dollar Man



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Dentre todas as idiotices que fiz essa foi a maior.

Acordo com meu pai me sacudindo com cara de preocupação.

— Você está um trapo. – melhorou muito meu estado de espirito, pai.

— Obrigado.

— Seu nariz está sangrando – diz ele – ou melhor, estava.

Toco no espaço entre meu lábio superior e minhas narinas e sinto o sangue seco. Eca.

— Vai lavar isso – ele se afasta me dando espaço para me levantar – aproveita e toma um banho. Parece que meus conselhos de ontem não foram dos mais inteligentes. Desculpe.

— Não se dá ideias fracas a pessoas de mentes fracas – repito o discurso que ouvi em algum lugar. – Ai... – digo me levantando lentamente e, passando a mão na cabeça, sinto que se formou um galo no local que bati.

— Você se machucou mais? Como foi isso? Uma briga? Se ele tiver batido em você eu juro que...

— Não pai, – eu o interrompo – eu bati a cabeça na arquibancada da escola depois de descobrir que o Ciel e a Kitsune estão juntos, depois vim para casa tropecei meti a cara na parede e resolvi dormir ali mesmo.

— Você sempre foi desajeitado, mas dessa vez... – a observação dele é válida. Eu sempre fui como um boi em uma loja de porcelana.

— Estou com fome. – digo – faz alguma coisa para gente comer, por favor.

— Claro comandante.

Ele sai cabisbaixo. Ele parecia realmente decepcionado. Acho que ele ficou mais confiante que eu. Eu odeio decepciona-lo.

Percebo que já é noite quando olho pela janela do meu quarto e vejo os LEDs dos postes da rua acesos. Eu vou para o banheiro e encaro meu reflexo no espelho. Que coisa terrível. Depois de ter passado dezenove horas chorando noto as bolsas embaixo dos meus olhos, sem falar no sangue seco que desce do meu nariz e vai escorrendo bochecha esquerda abaixo. Como eu estava deitado ele seguiu essa direção. “Que decadência.” penso sozinho, depois vou tomar banho.

Visto um moletom cinza folgado e sigo até a cozinha, mas vejo meu pai na porta de entrada depositando dinheiro no único robô que eu sou completamente apaixonado desde criança. O entregador de pizza. E eu amo pizza. E meu pai sabe disso. Ele deve está tentando compensar alguma coisa, e se a recompensa por ter me ferrado o dia inteiro é pizza acho que vou fazer isso mais vezes.

O entregador desbloqueia o compartimento onde as caixas de pizza ficam. Meu pai leva-as até a mesa de centro e abre uma deixando visível aquela esfera divina que os seres terrenos chamam de pizza. Ele faz um gesto para que eu me aproxime e eu obedeço. O cheiro de queijo e orégano impregna meus pulmões. Pego um pedaço e sento ao lado do meu pai no sofá.

Continua frio e nós jantamos aqui mesmo. Eu não sei o que está passando na televisão, e não me importo com o que quer que seja. Na verdade estou encarando a porta há muito tempo.

— Pai? – pergunto quebrando o gelo.

— Oi. – ele responde de boca cheia.

— O que houve com a minha mãe mesmo?

Ele reflete por algum tempo, o que me faz pensar que não quer responder, então finalmente ele diz:

— Ela morreu para te deixar viver.

Eu já ouvi a história. Nós estávamos indo para algum lugar de carro, até que batemos e capotamos. Eu tinha cinco anos e minha mãe estava comigo no colo. Ela se curvou sobre mim para que eu não me machucasse muito, mas ela não aguentou os ferimentos. Não sei como deu tempo de ela se enrolar sobre mim. Mas quando as ambulâncias chegaram ela estava me abraçando. Mas já não respirava mais. Meu pai quase entrou em depressão, ele a amava muito.

Ele não fala mais nada, e eu também não. Acabo adormecendo.

Acordo na minha cama e estou exausto apesar de ter dormido a noite inteira. Infelizmente tudo isso aconteceu da segunda para a terça, ou seja, tenho uma semana inteira pela frente. O resto dela é um misto de tédio e desilusão. Vou para a escola para fingir que sou forte, mas sempre me pego chorando no mesmo lugar, e Ju aparece todo dia para me ouvir desabafar. Ela já sabe mais sobre mim do que eu mesmo. Parece que Kitsune e Ciel resolveram oficializar e falo com eles menos do que deveria e Ciel parece cada dia mais preocupado e culpado. Não o julgo, pelo menos ele sabe que a culpa é dele por me fazer ama-lo.

A semana finalmente acabou, é sábado, e estou no meu quarto revendo os projetos de Wonderland. Tive pesadelos ambientados lá à semana inteira. Foi horrível.

Estou no meu quarto revendo os arquivos da minha cidade em um computador de bolso quando escuto a campainha tocar lá embaixo e escuto meu pai indo abrir a porta. E eu reconheço a voz de Ciel, o cumprimentando. Penso na possibilidade remota do nosso projeto deixar de ser apenas um projeto para se tornar realidade. Fico tão nervoso com a ideia que tenho a impressão de que vou esquecer, então abro o bloco de notas e deixo uma anotação em voz:

— Fazer Wonderland existir. – digo para que a máquina possa gravar.

Depois sento na minha cama e espero pacientemente que Ciel entre no meu quarto explicando o motivo da visita.


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Notas finais do capítulo

Meghan Trainor - Title (2014)
Avril Lavigne - Avril Lavigne (2013)
Lana Del Rey - Born to Die (2012)
Lana Del Rey Born to Die, Paradise Edition (2012)



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