Vida e Legado de Lullaby Minus escrita por Laudomir Floriano


Capítulo 3
Segundo Capítulo


Notas iniciais do capítulo

"Hold up, they don't love you like I love you
Slow down, they don't love you like I love you
Back up, they don't love you like I love you
Step down, they don't love you like I love you"
—Beyoncé, Hold Up



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— Lullaby! Acorda! – meu pai – Hora de ir para a escola!

Minhas pálpebras se separam preguiçosamente, e escuto o som da chuva fina batendo no telhado devagar, parece que ela está com tanta vontade de deixar as nuvens quanto eu estou de deixar minha cama.

Quando finalmente me sento na cama, meu pai surge na porta com um papel vermelho com quadrados amarelos perfeitamente alinhados na mão direita e uma xícara de café na esquerda.

— Pai, – esfrego os olhos – o mundo está acabando. E você ainda quer que eu vá para a escola?

Mesmo com a possibilidade de a terra despencar no espaço, ou perder a órbita, ou de que algum terremoto monstruoso una os continentes de novo, ninguém quer se esconder em casa. As pessoas vivem normalmente, como antigamente. Que graça tem viver em um mundo apocalíptico se não tem zumbis, nem pessoas desesperadas brigando por água e comida como nos filmes de dois séculos atrás?

— Esquece essa baboseira de Cataclisma, isso é invenção da mídia. – “Ah! Como não pensei nisso antes? Claro! E as imagens dos desastres e das guerras devem ser apenas computação gráfica também.” Penso ironicamente, enquanto ele fala. – O importante é que hoje é o grande dia! Olha!

Ele esfrega o papel que está segurando na minha cara, e vejo que é o calendário que fica na cozinha, pendurado na parede em cima do balcão. E depois de perceber o que é o objeto eu noto o pior detalhe: no calendário, o dia de hoje está circulado, e dentro do circulo ele escreveu em maiúsculo O DIA MAIS IMPORTANTE DAS NOSSAS VIDAS!, tudo em caneta permanente vermelha. Meu rosto esquentou na mesma hora que percebi isso.

— Pai! – Eu exclamo finalmente desperto – isso fica na cozinha!

— E o que eu escrevi demais? – diz ele, fingindo desentendimento – além do mais, a nossa cozinha não é muito frequentada pelos civis dessa cidade. Estou esperando lá.

— Tudo bem.

Arrumo-me e desço para tomar café com o meu pai.

— Pegue seu casaco – ele fala quando eu chego – com essa neblina você pode pegar um resfriado.

Assinto, atolo uma torrada na boca, e subo para pegar meu casaco verde preferido. Depois que termino de comer pego a minha cópia da chave da porta e caminho em direção a ela quando meu pai pigarreia para me chamar atenção. Eu me viro e ele vem em minha direção – contornando a mesa da cozinha e depois os outros móveis – põe a mão em meu ombro e dá os mesmos conselhos de ontem.

— Boa sorte. Eu te amo. – ele fala por último. Ele já disse “eu te amo” umas três vezes em um intervalo de mais ou menos oito horas. Eu também o amo, mas nunca disse tantas vezes em tão pouco tempo. Acho que vou dizer também antes eu seja tarde demais.

— Eu também... – respiro. – Também te amo, pai. – Pronto. Consegui. Olho o rosto bondoso dele. Seus olhos castanhos, a barba rala eu seu queixo, e se você olhar de perto tem alguns fios brancos perdidos entre seus lisos e bagunçados cabelos pretos.

Ele passa o braço em mim, apoiando-o no meu ombro e pergunta se quero uma carona.

— Claro! – minha resposta.

— Então vamos.

Estou no banco do carona do sedan azul do meu pai. Estamos contornando algumas crateras que não estavam aqui ontem. Parece que os granizos que eu queria que acertassem minha cabeça erraram a pontaria. Mas não é por isso que estou nervoso. Não sei como vou contar ao Ciel. Já organizei tudo que poderia falar milhares de vezes na minha cabeça, mas nada é bom o bastante.


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Notas finais do capítulo

Avril Lavigne - Avril Lavigne (2013)
Coldplay - Viva La VIda (2008)
Coldplay - Mylo Xyloto (2011)



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