Vida e Legado de Lullaby Minus escrita por Laudomir Floriano


Capítulo 17
Decimo Sexto Capitulo


Notas iniciais do capítulo

"All the nights spent off our faces
Trying to find these perfect places
What the fuck are perfect places anyway?"
—Lorde, Perfect Places.



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— Desde que vocês cantaram aquela música, Ciel, eu comecei a pesquisar muito mais sobre canções de época. – diz Aby do banco de carona com um bolo no colo. – Eu até conheci um rapaz online que curte muito música antiga.

— Rapaz online? – questiona Gregor – eu mandei você tomar cuidado com isso, Aby.

Aby suspira e revira os olhos.

— Eu sei do risco pai. Não se preocupe com isso.

Estamos indo para a casa de Ju comemorar que o tratamento de Candy começa amanhã. Faz três dias desde que recebemos a notícia. Achei muito altruísta da parte de Aby exigir isso, afinal nenhum de nós vai morar em Wonderland, então além de ceder o projeto, ele ainda conseguiu o tratamento de Candy gratuitamente.

Apesar de tudo parece que ainda teremos que ir ao Dia da Inauguração como convidados de honra por sermos os fundadores. Estou muito ansiosa para ver como tudo vai ficar no final. Nós idealizamos tanto esse lugar...

— Sério Aby? – Ciel o responde ao meu lado – e você achou muito material bom?

— Sim! Não é nada igual ao lixo sonoro de hoje em dia. É infinitamente melhor! Você não faz ideia. Vou procurar alguma coisa aqui. – ele ascende o reprodutor de música e revira algumas playlists.— Aqui! – exclama ele apontando um título com o dedão – Pai, eu posso? – ele está se referindo a plugar o reprodutor no som do carro.

— Não vejo problema algum se isso é tão bom assim. – diz Gregor.

Ele interliga os aparelhos e aperta o play.

Não consigo explicar o que está tocando muito bem, é um ritmo que eu nunca ouvi, mas é realmente muito dançante. Não tenho certeza, mas acho que a cantora está falando Português mesmo, só não entendo a metade das palavras. Acho que são as gírias da época.

— Isso é português Aby? – pergunto para garantir.

— Por incrível que pareça sim. – ele ri. – se não me engano esse ritmo se chama Samba, ou Tropicália. Deve ser algo do fim do século XXI, eu acho. Apesar de precisar de um dicionário pra entender metade das palavras, eu achei bem agradável.

— É bom mesmo – comenta Ciel – e a melodia é perfeita para violão. Quando eu chegar em casa, vou pesquisar a letra. Mas não hoje, – ele comenta – hoje é o dia do Grande Retorno das Aventuras Noturnas de Ciel e Aby!

— Estreando: Ciel e Aby! – completa Aby. Ele estende o punho fechado para Ciel e eles se cumprimentam. Eu sorrio e vejo Gregor fazer o mesmo. Parecem duas crianças. Como sempre a propósito.

Esse negócio de Aventuras Noturnas deles é algum programa que eles inventaram quando eram crianças pelo que eu entendi. Uma vez por mês Lullaby ia dormir na casa de Ciel. Basicamente, o que acontecia lá devia ser secreto, mas Aby sempre contava para o pai. De qualquer forma, nunca era nada demais. Eles apenas assistiam filmes ou liam gibis até tarde da noite. Provavelmente até às nove mais ou menos. Para dois pirralhinhos que dormiam de sete, isso devia ser bastante tarde.

Quando foram crescendo deixaram o costume de lado e quando eu os conheci eles não faziam mais isso. Só que esses dias Ciel teve a ideia de voltar. Ele acha que vai ser bom relembrar o passado de alguma forma.

A playlist toca por todo o percurso – que não é muito longo – até que Gregor estaciona na vaga do Bloco de Ju.

— Pronto pessoal! Podemos descer! Todos sobreviveram? – Aby desconecta os dois aparelhos.

— Sim Pai, estamos todos bem. – ele fala pausada e ironicamente.

— A propósito Comandante – diz Gregor para Aby – O Samba e a Tropicália não são do fim do século XXI. Eles são de meados do século XX.

— Desculpe Historiador. – sibila Aby – quero saber se não cheguei perto.

— Duzentos anos de diferença não querem dizer nada para você? – Gregor dá uma tapinha na cabeça de Lullaby, que por sua vez fica erubescido como um tomate – Vamos crianças?

Nós descemos do carro e pegamos o elevador para o andar de Ju. Eu encaro o boneco que customizei para ficar igual o Candy. Eu estou meio insegura quanto a ele. Pergunto para os meninos o que eles acharam.

— Está lindo, Miau. – diz Ciel, ele começou a me chamar de Miau, mas dependendo do momento é bem constrangedor.

— Mais parecido com o Recruta, só o próprio Recruta, Sune. – acrescenta Gregor.

— Se ele não quiser você dá pra mim. – comenta Aby. Eu rio.

— Mas eu te dei a Carmen – ele dá de ombros. – Obrigado meninos.

O elevador se abre e vemos a porta ébano imitando madeira da casa de Ju. Ciel toca a campainha e ela atende imediatamente.

— Oi gente! Que surpresa! – ela abraça todos nós e nos convida para entrar. – Candy! Vem falar com o pessoal!

Candy está deitado no chão da cozinha pintando um livro de colorir, mas quando ele levanta a vista e nos vê, vem correndo – para falar com Lullaby é claro. Que como sempre não sabe lidar com a criança que pulou em cima dele.

— Lullaby! – grita ele de dentro do abraço desajeitado de Aby.

— O... Oi Candy. – Diz Aby tentando se soltar do super-abraço de urso do Candy.

Quando ele finalmente se liberta, Gregor rouba a criança para si pelo resto da tarde. Então só tenho a chance de dar meu mini Candy para ele depois do bolo.

Gregor está sentado no sofá da sala montando casinhas de lego com ele, estamos na cozinha – na verdade, é uma separação psicológica, já que os dois cômodos são divididos apenas por uma meia parede. Os únicos cômodos realmente separados são os dois quartos e o banheiro. De resto...

— Candy – eu o chamo.

— Vai lá Recruta – diz Gregor – eu fico aqui montando nossa base secreta.

Ele desliza o corpinho pelo sofá em direção ao chão, e corre até mim.

— Oi.

— Olha só o que eu fiz pra você. – eu fico de joelhos para ficar do seu tamanho e tiro o boneco de trás das costas. Ele para um pouco e observa.

— Parece comigo. – ele pausa pensativo – sou eu?

Eu assinto. Seu rosto se ilumina.

— Obrigado, Kitsune. – ele me abraça e eu ponho minhas orelhas de gatinho nele.

Ele tenta enxergar, mas não consegue. Depois de um tempo desiste. Então sai correndo para mostrar o boneco a Gregor.

— Só faltam as luvas. – ironiza Aby.

— Me deixa em paz. – digo sorrindo – agora temos um novo homem gato na cidade.

— Vamos lá, Kitsune. – ele encoraja – não é tão difícil.

— Ai Aby, cala a boca. – todos riem.

Ju muda de assunto:

— Então vocês dois vão “se aventurar” juntos hoje à noite? – diz ela encarando Ciel – o que vocês prepararam? – eu não devia estar sentindo ciúmes. Ela está claramente falando com Aby, mas não desgruda os olhos de Ciel.

— Nada Ju – nega ele a encarando de volta. – por quê? Você tem alguma sugestão?

— Não, Ciel – ela responde enfatizando o nome dele – a não ser que você tenha algum plano em mente, ai talvez eu possa ajudar.

— Estou aberto a ideias. – ele dá aquele meio sorriso lindo e Aby cruz os braços encarando os dois.

— Vamos lá meninos, – chama Gregor – está anoitecendo.

— Sune, eu estava pensando em uma coisa – faço cara de confusa – Vamos fazer nossa própria “Noite de Aventuras”? – ela faz as aspas com os dedos – versão Sune e Ju. Vamos! Dorme aqui hoje!

— Mas eu não trouxe nada... – queria ficar, mas estou só com a roupa do corpo.

— Eu te empresto um pijama. Só vai ficar um pouco grande, mas você não vai aparecer em nenhum desfile. Vamos, por favor! Vamos falar mal dos meninos. – ela me encara maliciosamente.

— Ei! – reclama Aby. – Se for assim também quero ficar!

— Você tem que avisar a sua mãe se for ficar, Kitsune. – adverte Gregor.

Como se ela se importasse.

— Ela não liga Gregor. Eu fico Ju. Depois vamos comparar para ver quem teve as melhores aventuras. Nós duas, ou eles.

Os meninos começam a rir como loucos.

— Ok. – Ciel aceita o desafio. – vamos ver.

— Tudo bem. – Assente Gregor – mas vou passar na sua casa para avisar. E Ju, eu até levaria o Candy para dormir comigo hoje e fazer nossas versão da famigerada noite de aventuras, mas eu tenho compromisso hoje.

— Gregor vai aproveitar que seu inocente e infantil filho vá dormir na casa do coleguinha para poder levar uma moça qualquer para um encontro hoje, Ju – entrega Aby – o garanhão finalmente achou uma nova vítima.

— Aby! – ele repreende o filho que está segurando o riso – mas é mais ou menos por aí, Ju. Desculpa.

— Não tem problema Gregor, obrigado. – agradece Ju pela oferta hipotética.

— E você – ele aponta para Aby – a gente conversa mais tarde, rapaz. E se prepare para condições severas dessa vez.

— Ah Pai! Espera! Foi brincadeira!

— Vai parecer mesmo depois do que eu vou fazer com você. – ameaça Gregor, mas acho que no final, ele não vai fazer nada. – mas temos que ir.

Ele se despede de Candy e Ju com um beijo na testa e vai em direção à porta. Aby também se despede e o segue. Ciel me beija e os segue.

— Ciel! – Ju chama sua atenção – você esqueceu isso aqui! – ela joga uma sacola branca na direção dele que a agarra no ar.

— Obrigado, Ju. – ele pisca para ela. O ciúme havia passado, mas volta devagarinho e se aloja em mim.

Todos o encaram.

— O que foi? – ele se faz de desentendido – É só bolo pra Nitta.

Espero que eles saiam e olho para o bolo. Está exatamente do jeito que estava depois que comemos. E está na sala.


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