Vida e Legado de Lullaby Minus escrita por Laudomir Floriano


Capítulo 13
Decimo Segundo Capitulo


Notas iniciais do capítulo

"Money is the reason we exist
Everybody knows it, it's a fact
Kiss, kiss"
—Lana Del Rey, National Anthem



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Eu prometi para Ciel que voltaria a frequentar a escola hoje. Mas não fui. Quando acordei, o presidente havia me contatado. Ele aceitou o projeto e está pedindo que eu vá ao seu encontro. Fico meio zonzo quando leio aquilo. Reli algumas vezes para ver se era verdade. Eu vou me encontrar com o presidente.

Meu pai foi trabalhar cedo, plantão ou algo assim, então tenho que ir para a capital sozinho. Checo os horários dos metrôs entre goles ansiosos de café.

Encontrei. Daqui à uma hora, um expresso. Deixo uma mensagem na lousa da cozinha e subo para me arrumar.

Estou pensando seriamente em que tipo de roupa as pessoas usam para encontrar autoridades de estado. Não encontro absolutamente nada adequado no meu guarda-roupa. Eu, basicamente, só tenho moletons e camisetas, mas acabei de encontrar uma camisa social.

— Ah. – penso alto quando lembro. A malha dela é daquele tipo que muda de cor conforme seu humor. Foi o presente de uma das namoradas do meu pai. A que eu mais odiei para ser exato. Odiei muito mais depois que ganhei essa porcaria.

Desisto. Eu visto qualquer coisa, pego minha chave e saio. Aqui fora o clima está ótimo. O ar parece até perfumado, o sol brilha delicadamente e as margaridas que minha vó me deu estão tão bonitas que parecem até sorrir. Acho que não vou precisar de casaco hoje, mas há um na minha mochila por precaução.

Chegando à estação compro meu bilhete o mais rápido possível e espero. Quando avisto o trem, estampado com uma escandalosa propaganda de refrigerante, parando, pergunto para um homem de terno que está ao meu lado, qual o destino.

— Esse trem é o expresso para a capital?

— Sim – ele responde apressado.

Tudo bem” penso comigo mesmo “vamos lá”.

Quando o trem para, todas as entradas se igualam a pequenos portais com detectores de metais. Esses portais leem você procurando por alguma arma que prove que você é um psicopata doentio que quer criar uma chacina lá dentro. Quando comprovam que você é uma pessoa comum, então estará liberado para depositar seu bilhete no leitor – com o código de barras virado para cima – e embarcar.

Quando consigo entrar, fico feliz em achar um assento vazio. A música interior é horrível. É algum tipo de remix das últimas nas paradas, mas é terrivelmente ruim. Além disso, é entrecortado por propagandas. Eu quase enlouqueço quando procuro meus fones de ouvido e percebo que esqueci. A única solução é tentar dormir.

Acordo com os autofalantes gritando que estamos chegando ao nosso destino.

Foda-se” falo por dentro.

Quando o trem para, eu cambaleio para fora meio desorientado. Olho para os lados e me pergunto o que eu fiz. Eu não faço a mínima ideia de como me locomover por aqui, por todos os lados há pessoas correndo apressadas para todas as direções. É desesperador.

Ok, primeiro, tenho que sair da estação”.

Procuro as escadas-rolantes que levam para a rua. Provavelmente devo estar sob o centro da cidade, então se eu sair daqui posso achar um taxi. Avisto as esteiras e subo em uma, na entrada do metrô já há um ponto de táxis, então pago por um e digo meu destino para o painel piscando na minha frente.

— Palácio do Planalto.

Enquanto a máquina de três rodas segue rapidamente o trânsito turbulento eu reparo seus detalhes. Táxis não se parecem nem um pouco com carros comuns. Tem espaço para apenas três pessoas – duas atrás e uma na frente – e são ovais. Há faixas quadriculadas em preto e branco nas laterais e o veículo é amarelo e cromado. Por dentro não há volante, já que é automático. No lugar, há um painel enorme para informar clima, data, essas coisas desinteressantes. Além de tudo, uma narradora entediante conta a história do lugar para onde você vai, provavelmente para os turistas.

— E depois da quarta guerra, – declara ela – o Brasil estava em ascensão, ao contrário dos outros países sul-americanos que afundavam em dividas. Seus líderes doaram partes de suas terras para o governo Brasileiro tentando se livrar do encargo. A NNSA – Nova Nação Sul Americana, nosso país. – É a união dos seis países: Brasil, Guiana, Guiana Francesa, Venezuela, Paraguai e Uruguai.

Finalmente avisto o prédio milenário, e a maçante narradora decide que a aula de história deve acabar.

— Estamos chegando – declara a voz – está vendo um questionário no painel a sua frente? – baixo a vista e noto que apareceram algumas perguntas sobre a viagem – por favor, gostaria que você avaliasse nossos serviços, e muito obrigado por nos contratar.

Dou cinco estrelas para tudo sem nem sequer ler as perguntas. Desço do taxi e entro no prédio. Mas antes disso, dou uma leve olhada na rua. As pessoas estão se juntando com cartazes na mão. Devem ser hippies.

Há quadros espalhados por todos os lados com os rostos dos nossos antigos presidentes. E também há uma recepção com uma moça de coque sentada atrás de uma bancada enorme.

— Com licença, – murmuro nervoso – eu recebi um e-mail do presidente e creio que deveria falar com ele.

Tenho a impressão de que ela está segurando o riso. Se ela começar a rir aqui, vou sufoca-la com a minha bolsa.

— Bem – ela me olha meio desconfiada, deve achar que sou louco ou terrorista – posso checar seus e-mails para confirmar?

— Fique a vontade. – declaro tentando soar firme.

Abro minha agenda e mostro o e-mail que recebi mais cedo. Ela arregala os olhos.

— Bem, parece que é verdade. – É. Parece. – Você deve assinar alguns termos.

Ela abre arquivos e pede que eu escreva meu nome em cada maldita linha pontilhada.

— Obrigado – depois que arquiva tudo ela se levanta. – Siga-me.

Ela começa a caminhar e eu a sigo. O barulho do seu salto fino lembra-me Susan correndo em minha direção aquele dia. Começo a suar frio.

Depois de atravessar algumas portas ela me deixa em uma sala de espera gigante com sofás incrivelmente confortáveis.

— Aguarde aqui. Informaremos que você chegou. – todas as portas são incrível e desnecessariamente altas. Qual a necessidade de gastar silício nisso? Existe alguém no mundo com dez metros de altura?

Já faz muito tempo que ela saiu. Passei horas e horas aqui. Perco até a noção de tempo. Estou jogando um puzzle clássico quando a porta se abre. Homens de terno aparecem e pedem que eu os siga, dizem que acompanharei o presidente em um almoço formal.

Meus deuses. Será que estou adequado para almoçar com o presidente? Devia ter vestido aquela camisa. Fico mais nervoso a cada corredor que dobro, até que finalmente paramos em algum lugar.


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Notas finais do capítulo

Não lembro mais o que eu estava escutando daqui pra frente, mas nesse momento estou ouvindo Twenty One Pilots.



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