Vida e Legado de Lullaby Minus escrita por Laudomir Floriano
Notas iniciais do capítulo
estas alegrias violentas, têm fins violentos, falecendo no trunfo, como fogo e pólvora que num beijo se consomem.
—Romeu e Julieta, ato II, cena VI
— Nós vamos conhecer seu amigo? – pergunta Candy animado.
— Vamos sim! – digo muito feliz. Desde que conheci Lullaby, eu falo muito dele. O que despertou uma curiosidade gigante de como ele deve ser em Candy. – vai se arrumar.
Hoje, na escola, Kitsune falou com o pai de Lullaby pelo celular. Ele estava no trabalho, mas disse que Lullaby estava indo ao psicólogo esse tempo todo e não quis sair de casa. Ele estava com medo. Esses últimos dias ele estava na casa dos avós, mas já havia voltado. Ele convidou a gente para ir dormir lá hoje, disse que Lullaby ficaria feliz em nos ver.
Eu e Candy descemos os degraus do condomínio dando boa tarde aos vizinhos que também estão saindo de casa. Chego ao estacionamento do prédio, pego minha moto – que Candy carinhosamente apelidou de Anna – e saio, com meu irmão na garupa.
— Você esqueceu nossos capacetes – lembra Candy atrás de mim.
Voltamos para pegar os capacetes.
Devidamente equipados, nós saímos finalmente. Vamos todos nos encontrar na casa de Ciel, o pai dele vai levar a gente de carro para a casa de Lullaby, principalmente eu, que não sei onde é.
— Você toca também? – indaga Kitsune apontando a capa de violão em minhas costas.
— Sim. – rio – por que também? Alguém mais toca?
— Ciel. – o vejo na portaria com uma bolsa idêntica nas costas. – Vamos ter um luau hoje.
Deixo Anna na garagem do prédio e seguimos para nosso destino. Candy está bastante animado. E Ciel também.
— Parece que não vejo Aby há anos. – diz ele do banco do carona.
Quando finalmente chegamos, Callaway, o pai de Ciel, abre o porta-malas para que todos removam suas bagagens. Alguém toca a campainha, e um homem alto e bonito atende a porta.
— Esse é o pai de Lullaby? – cochicho no ouvido de Kitsune.
— Sim! Gregor Minus. – ela responde animada e pisca para mim. Já sei de onde Lullaby puxou aquela beleza toda.
— Callaway! – Gregor estende a mão para o pai de Ciel.
— Gregor. – Callaway sorri e cumprimenta o pai de Lullaby. – as crianças estão entregues. Boa sorte.
Gregor ri.
— Aceita um café? Você não bebe né?
— Não, não. Mas deixe o café para depois. Obrigado. – ele dá umas batidinhas de leve no ombro do pai de Lullaby, se despede do filho, e vai embora.
— Entrem meninos. – ele sai da frente para que possamos passar, e fecha a porta atrás de nós. – Aby está lá em cima. – ele se dirige a mim. – Ah! Você é Ju não é? Muito prazer, Aby fala muito bem de você.
— Obrigado Sr. Minus. – aperto a mão dele.
— Seja bem vinda. – ele sorri ternamente – pode me chamar de Gregor. – ele vai até meu irmão. – E eu soube que teríamos um pequeno recruta! – diz ele se abaixando para ficar da altura de Candy, que por sua vez, está explodindo de alegria. – vamos comer uns biscoitos?
— Vamos! – exclama Candy pondo os braços minúsculos para cima.
— E como se chama meu pequeno recruta? – ele indaga sorrindo.
— Candy.
— Oh! – ele fica surpreso – bastante apropriado para um garoto tão doce.
Ele põe Candy no colo.
— Você escolhe – diz Gregor jogando meu irmão para cima – Chocolate ou Morango? – ele está indo em direção de onde suponho que seja a cozinha.
— Os dois! – Diz Candy no ar. Gregor ri da resposta.
— Então vamos nessa! Chocorango! – os dois se afastam, mas escuto os risos. Ele se dá muito bem com crianças.
— Uau! – diz Kitsune perplexa – o que foi isso? – ela começa a rir como uma louca.
— Estou me perguntando à mesma coisa. – eu também comecei a rir, mas foi mais dela do que deles.
— Vamos ver Aby. – diz Ciel – afinal viemos aqui para isso.
— Corta clima. – diz Kitsune com um biquinho para o lado dele. Ele sorri e a beija.
— Eca – brinco fazendo uma careta. – Vem, vamos. – Pego minhas bolsas que estavam repousando sob o piso cromado da sala e os sigo escadaria acima.
Paramos em frente a uma porta preta, Ciel diz que é o quarto de Lullaby.
— Estou passando mal. – Ofega Ciel. E ele deve estar mesmo, a cor do seu rosto já mudou sete vezes nos últimos dois segundos. – Alguém aqui está bem? Poderia abrir a porta?
— Eu até poderia, mas não sou tão de casa ainda. – explico suspirando.
— Você que é o amigo de infância e... – Kitsune mal terminou a frase quando a porta abre.
— Eu consigo ouvir vocês. Fala sério. – debocha Lullaby.
— Aby! – Ciel pula em cima dele. – Pelo amor das divindades! Onde você estava? Você está bem? Porque você passou esse tempo todo sem falar com a gente? Qual o seu problema?
— Posso responder, se você não me sufocar antes. – murmura Lullaby de dentro do abraço de urso de Ciel.
Não contenho o riso. Depois que Lullaby se livra de Ciel, ele fala conosco.
— Meninas. – ele nos abraça.
Entramos no quarto de Lullaby, que é muito organizado, seja por cor ou por ordem alfabética. Parece que se você procurar direito vai encontrar algum lugar exatamente do seu tamanho que tenha uma etiqueta com o seu nome. Ele se senta na cama – onde parece que já estava antes, já que é o único lugar meio bagunçado. – todos se acham em alguma parte, então me jogo em um tapete felpudo que parecia confortável.
— Bom, – murmura Lullaby – podem perguntar o que quiserem. Não vou privar vocês de nenhuma informação.
— Por que – faço uma pausa – por que você não foi à escola esse tempo todo?
— Eu não estava me sentindo muito bem em sair, e o mundo está acabando de qualquer forma, então meu pai me deixou ficar em casa por enquanto.
Ele esfrega as mãos. Sinto que está um pouco nervoso e desconfortável.
– E quando a gente ligava? – interpela Kitsune sentada na poltrona embaixo da janela – Por que não atendia?
– Desliguei tudo. – ele abaixa a cabeça – queria desengatar do mundo um pouco. Desculpa.
– Você está bem? Depois do que aconteceu? – Ciel ainda está envolvendo Lullaby com um braço. Deve estar tentando recompensar o tempo perdido.
– Não. – ele tenta ri quando responde – e acho que não vou estar tão cedo. – Lullaby faz uma pausa. Ciel o abraça mais forte. Lullaby o encara como se quisesse absorver cada curva do rosto dele. Como se houvessem anos desde a última vez que se viram, e ele está tentando recuperar o tempo perdido. É lindo, ver o quanto ele o ama, mas é lamentável saber que Ciel não pode correspondê-lo.
Como se fosse um sacrifício mortal, Lullaby levanta-se e se afasta de Ciel. Vai até a escrivaninha, abre uma gaveta e tira algumas embalagens coloridas. Verde, vermelho, rosa.
– É que – fala ele sem jeito – eu queria compensar esse tempo sem dar satisfações.
A maior embalagem – a verde – ele joga na direção de Ciel, dá a vermelha para Kitsune e caminha em minha direção para entregar a rosa.
– Obrigado, Aby – eu me levanto e o abraço. Eu rio. Ainda não tinha o chamado de Aby.
– Parece que Ju é oficialmente parte da turma. – diz Lullaby com as mãos no bolso.
Ciel rasga o papel colorido e encontra um casaco de couro, ou uma imitação disso, Aby diz que é para fazer par com o lenço. Kitsune ganhou um colar com pingente de gatinho.
– É adorável Aby! – ela lembra mesmo um gato, então nada mais apropriado.
Rasgo a embalagem minúscula e encontro um anel de pirulito dentro. Pelo universo. Ele me conhece.
– Obrigado de novo, é lindo. – eu ponho no meu dedo indicador e fico encarando aquilo. É tão colorido.
– Obrigado também Aby – murmura Ciel. Lullaby vai até ele e estica mão, Ciel a usa para se levantar e abraça-lo. Ele o beija no pescoço.
– Por último, – ele cambaleia devagar pra longe de Ciel – eu queria dizer que enviei o projeto para o presidente. Se for aprovado, as pessoas em todo o país podem se inscrever, desde que tenham de 14 a 17 anos. Serão selecionadas mil, e essas mil vão para Wonderland e podem levar duas pessoas junto. Se vocês não querem ir, é só não se inscrever.
Todos ficam chocados nos primeiros segundos. Depois começamos a pensar a respeito. Se eu me inscrever e, remotamente, for aprovada, eu posso deixar Candy em um lugar seguro. Ele poderá crescer a salvo, mesmo que seja dentro de uma cúpula.
– Provavelmente, para passar pela seleção, essas pessoas e seus acompanhantes, serão submetidos a testes de saúde. – murmura Lullaby destruindo minhas esperanças – doenças terminais ou até mesmo um resfriado... Eu acho que não vão fazer vista grossa para nada.
– Então Candy não poderia... – penso alto.
– Acho que não Ju, me desculpe. – ele tenta me acalentar.
— Mas AIDS tem cura. – mia Kitsune detrás de mim.
– Mas o tratamento não é nada barato. – sibila Ciel.
Um silêncio fúnebre se faz no quarto por um tempo. Meu olhar está perdido entre a maçaneta da porta e a parede.
– Já vivemos esse tempo todo por aqui mesmo. – eu quebro o gelo.
— É verdade, Ju – Kitsune tenta me consolar – vai dar tudo certo, além do mais, nenhum de nós vai participar dessa seleção. Não vamos nos inscrever. Você agora tem a nós.
Olho para Lullaby e ele parece estar tentando me dizer algo, que eu não consigo entender sem palavras. Eu balanço a cabeça, confusa, como resposta, então ele desiste e vai para a janela. Sentimos um leve tremor na terra. Um pequeno terremoto.
— É Ju – diz ele encarando a rua – vamos ficar por aqui.
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Nate Ruess, Fun., Coldplay.