Percy Meets Chaos escrita por MagnusChase


Capítulo 1
Caos gosta dos anos cinquenta




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Percy caiu em sua cama, exausto. A guerra contra Gaia havia acabado nove horas atrás, eles tinham perdido vinte e um semideuses gregos e romanos.

 Leo explodiu Festus com um controle remoto e matou Gaia de vez. Ele confidenciou com os sete depois, que planejava se sacrificar, mas mudou de idéia e decidiu que iria atrás de Calypso de uma forma mais calma.

Depois de cuidar de todos os feridos e queimar os mortos, os campistas se reuniram no refeitório para ouvir um discurso inspirador de Reyna e comer alguma coisa. Os romanos iria começar a construir cabanas amanhã onde ficariam no Acampamento Meio-Sangue até segunda ordem.

Annabeth deu um beijo de boa noite em seu namorado e foi dormir. Percy planejava cair no sono também. Mas quando ele começou a fechar os olhos, ouviu uma música. Parecia Elvis Presley, e ficava mais alta a medida que o tempo ia passando, até que Percy teve que tapar os ouvidos com as mãos para escapar do som infernal.

Quando abriu os olhos novamente, não estava em sua cama. Estava sentado em um restaurante anos 50, com chão quadriculado preto e branco, uma jukebox tocando Jingle Bell Rock e mesas com bancos de couro vermelho. Ele estava sentado em uma cabine perto das janelas.

—Mas... O que? –Percy perguntou desorientado.

Olhando em volta viu que era o único no restaurante inteiro. A jukebox continuava tocando a música alta. Espiou pela janela esperando ver algum ponto de referência, mas parecia que uma névoa grossa estava cobrindo o lugar, não dava para ver nada. Parecia aquele filme, O nevoeiro, sobre os monstros que atacam o mercado. Percy quase esperava ver um tentáculo se esticando pelo ar.

O garoto conferiu seu bolso e relaxou quando viu que sua espada ainda estava lá. Percy pensou. Isso deveria ser a obra de algum deus ou deusa tentando arruinar sua vida. Ele não ficaria surpreso se soubesse que Hera estava por trás disso.

Ficou sentado lá por alguns segundos não sabendo o que deveria fazer, até que o sino em cima da porta tocou e Percy se virou para ver quem era.

Parado na porta do restaurante estava um homem nos seus quarenta, com cabelo preto encaracolado e olhos azuis. Ele tinha uma barba grisalha e covas no rosto. Usava um paletó e calça jeans como se tivesse saído de uma palestra. Parecia um pouco com Rufus Sewell, na verdade.

O estranho avistou Percy e sorriu. Começou a andar na direção da cabine onde o garoto estava sentado. Só por segurança, o filho de Poseidon apertou a caneta com força, no caso de precisar usá-la. Só porque estava sonhando não significa que não poderia se machucar.

Sentado na frente de Percy, o homem encarou o semideus por alguns segundos e então estendeu sua mão para um aperto. Percy não fez menção de apertar a mão dele.

—Quem é você? Um deus? –Percy perguntou, desconfiado.

O homem riu. Deixou sua mão cair.

—Deuses me livrem, não. Jamais. Sou um titã.

Percy ficou ainda mais desconfiado. Havia alguns titãs legais como Bob, por exemplo. Mas a maioria dos titãs que Percy encontrou em seu caminho não eram legais.

—Porque me trouxe aqui? Quem é você? –Percy insistiu.

O homem barbudo suspirou.

—Vejo que você não vai parar. Muito bem, tente não ficar muito surpreso. Percy, meu nome é Caos. –Ele falou.

Houve um silêncio no restaurante só quebrado pelos Blue Brothers cantando no fundo. Percy tentou digerir aquela informação.

—Você é Caos? Você?

Caos assentiu. Percy suspirou.

Essa noite vai ser longa, pensou ele.

—Tá legal, vamos fingir que eu acredito em você...

—Mas é verdade. Eu posso provar.

Percy pareceu cético.

—Tudo bem. Prove, então.

Caos pigarreou.

—Eu juro pelo Rio Estige que sou Caos, criador do universo. Que assim seja. –Ele disse na mesma hora em que um trovão ressoava do lado de fora.

Percy meneou a cabeça.

Caos apontou para seu corpo.

—Não estou me contorcendo de dor por quebrar um juramente sagrado, portanto, devo estar falando a verdade.

Percy assentiu a cabeça, hesitante.

—Ok, você é Caos. Mas como? Achei que você estivesse morto ou algo assim. Todos nós achávamos. Até os deuses. –Percy argumentou.

Caos riu secamente.

—Eu sei, eu queria isso. A coisa é assim, sendo Caos posso criar e reformar matéria, ou seja, posso pegar um cinzeiro e transformar em uma espada. Ou pegar água e transformar em vinho, como Jesus. Está me entendendo?

Percy assentiu.

—Tudo que fiz foi pegar algo que já existia e moldar uma cópia de mim mesmo. Eles se convenceram de que eu estava preso no centro da Terra quando na verdade, tenho andando pelo mundo mortal já faz um bom tempo.

—Isso  até que faz sentido, mas porque aparecer agora? E para mim, de todas as pessoas? Porque não o Jason? –Percy reclamou.

Caos o avaliou de cima para baixo.

—Vou começar pela última pergunta. A coisa sobre Jason é que ele é romano. Nasceu e foi criado como romano. Sempre segue as regras e respeita os deuses como um bom garoto. E eu preciso de alguém mais parecido comigo. Um fora da lei.

—Alguém como eu.

—Sim, exato! Você enfrenta os deuses quando é necessário, sabe que há mais na vida do que seguir as regras. Por isso sei que se existe algum semideus que possa sentir alguma empatia comigo, esse semideus é você. Você irá entender melhor do que Jason jamais poderia.

Percy ainda parecia cético, mas estava começando a entender. Parou para pensar.

O criador do Universo, depois de milênios em silêncio, decidiu o chamar para uma conversa noturna em um restaurante dos anos 50. Ele precisava de algum tipo de ajuda e só Percy conseguiria entendê-lo porque ambos eram espíritos rebeldes. Confirma? Sim.

—O que você quer de mim? Porque eu preciso muito descansar agora e se eu for à outra missão, Annabeth me mata.

Caos riu.

—Sim, eu entendo. Sua namorada é durona. Mas eu vou tentar ser rápido. Percy, você sabia que a história é sempre contada do ponto de vista dos vencedores?

—Acho que sim.

—A maioria dos titãs pode ser maus, mas nem todos. Pense em Tyson, ele é um ciclope e o garoto mais bonzinho que eu já vi. Eu costumava ser cruel, mas eu mudei. Consertei meus erros e passei boa parte da minha existência tentando me redimir com os deuses e com o Olimpo. Mas Zeus é teimoso como uma mula, e não iria acreditar em mim. Por isso preciso de você, preciso que você fale em meu nome.

Percy demorou alguns segundos para entender o que ele queria.

—Você quer que eu peça desculpas para Zeus em seu nome?

—Essa é uma das coisas que eu quero que você faça. A segunda coisa, é a seguinte: você sabe o que Acrux significa?

Percy pensou sobre as aulas de astronomia que sua namorada havia lhe dado.

—É o nome de uma estrela no cinturão de Alpha Crucis. –Percy sugeriu.

—Correto, mas também é um título. Deuses, titãs e até semideuses possuem títulos para contar os feitos que fizeram, ou os monstros que mataram. Ou aquilo que eles protegem.

—O que isso tem a ver comigo?- Percy disse confuso.

—Eu quero que você receba o título de Acrux Master. Isso significa que você será meu representante na Terra e irá falar por mim. Deverá proteger os semideuses e criaturas do Olimpo de outros monstros e até dos deuses em pessoa. Você poderia fazer isso? –Caos perguntou, franzindo as sobrancelhas.

Percy estava estupefato. Falar em nome de Caos? Isso era uma baita responsabilidade. Percy era bom em proteger as pessoas, mas ir contra os deuses nunca era uma boa idéia. E essa explicação só gerou mais perguntas.

—Espera, porque eu precisaria proteger o Olimpo dos deuses? Os deuses são os caras bons da história, não são?

Caos suspirou.

—O que você precisa entender é que o mundo não é em preto e branco. Os deuses fizeram muitas coisas horríveis e mataram muitos inocentes, mas ao mesmo tempo tem espíritos honestos e trabalhadores. Mas às vezes eles extrapolam. O que aconteceria se os deuses saíssem matando qualquer um e ferrando com a vida de todos?

Percy considerou sua resposta.

—Isso seria ruim.

—Sim, muito ruim. Alguém precisa manter a ordem, alguém que seja justo e não faça favores a ninguém. Já estava na hora de criar esse cargo. E eu quero que você seja essa pessoa.

Percy olhou pela janela, pensando. Ele concordava com Caos, mas poderia confiar nele?

—Preciso de um tempo para pensar nisso. Se eu aceitasse, não estaria mudando só minha vida, mas a da minha namorada, meus amigos, minha família.

—Entendo. Fale com seus amigos, peça a opinião deles e quando tiver certeza eu chamarei você de volta. –Caos disse.

—Posso fazer uma pergunta? –Percy falou.

—Claro. Pergunte o que quiser.

—Quais benefícios haveria em receber esse título? Imortalidade? Porque se é isso, eu não quero.

Caos sorriu.

—Sim, eu venho acompanhando a sua história. Desistiu da imortalidade pelo amor. Muito corajoso. Mas não, esse cargo não vem com imortalidade. Você ficaria mais forte e rápido, isto é, seria mais saudável, mas se fosse atingido no coração por uma flecha ou pegasse pneumonia, com certeza iria morrer.

—Uhm.

—Outra coisa seria o poder da linguagem. Você seria capaz de falar qualquer língua no mundo, humana ou não-humana. Também teria um grande dom para diplomacia, para unir as culturas e diferentes espécies em nome do bem maior. E claro, de vez em quando poderia alterar realidades, como eu faço.

—Como agora? Esse restaurante não existe no mundo real, certo? Você o criou numa dimensão alternativa.

Caos avaliou o garoto a sua frente com interesse. Às vezes se esquecia que apesar de jovem, Percy Jackson não era burro.

—Exato. Algo parecido com isso. Você iria ter a capacidade de criar um prédio falso ou um documento que não existe e quando a pessoa abrisse os olhos, sua criação iria ter desaparecido.

—Isso é meio que legal. Ainda não entendo porque eu, sem ofensa.

Caos meneou a cabeça.

—Você nunca ficou curioso porque os deuses simplesmente não o fuzilam de uma vez?

Percy deu de ombros.

—Me considero sortudo e tento não quebrar a cabeça com esse tipo de coisa.

—Bem, me deixe iluminá-lo. Os deuses se sentem ameaçados por você.

O garoto quase deu risada. Ameaçados?

—Certo, porque um garoto magro de dezessete anos é muito assustador. - Percy brincou.

—Nós dois sabemos que você usa o humor como um sistema de defesa porque se sente inferior aos outros. Mas na verdade, você é com certeza, o semideus mais poderoso que eu já encontrei. Você deveria dar a si mesmo mais crédito. Os deuses dão.

Percy ficou sério. Não gostava quando as pessoas o analisavam. Terapeutas de escola haviam feito isso no passado e ele odiava.

—Zeus poderia ter te matado há muito tempo atrás, mas decidiu contra porque não tinha certeza se você iria realmente morrer. Se você escapasse com vida, como se sentiria?

—Irritado. Ficaria fulo da vida.

—Claro, e é isso que Zeus teme. Que você se torne cruel e malvado e acabe tentando destruir o Olimpo. Ao contrário de Luke, se tentasse destruir nossa civilização, provavelmente conseguiria. Você derrotou um deus com doze anos de idade, um feito poderoso para alguém tão jovem. Os deuses não querem que você se irrite então te deixam livre para fazer o que quiser.

Percy tinha que concordar com Caos.

Aquele titã sabia do que ele estava falando, e pelo jeito que conduzia a conversa, estava por dentro das últimas notícias. Percy ficou pensando se Caos havia comprado alguma revista adolescente de fofoca nos últimos tempos. Talvez Greek Pop Girls ou Aphrodite’ Beauty Tips.

—Então, você me escolheu porque sabe que os deuses não irão interferir em minha missão? Vão ficar quietos com medo de que eu fique irritado e tente destruir eles?

—Sim, exato. Você aprende rápido. –Caos o elogiou.

Percy riu.

O filho de Poseidon gostou do jeito de Caos, mesmo sabendo que ele era um titã e poderia estar inventando tudo aquilo. Ele entendeu ainda melhor o que Caos falou sobre eles serem iguais. Tinham até o mesmo jeito de falar.

Cara, Jason vai ficar com tanta inveja quando descobri que eu conheci Caos, Percy pensou, rindo.

—E o que exatamente eu faria se eu fosse aceitar o título? Existe algum tipo de cerimônia ou...?-Percy perguntou, confuso.

Caos juntou as mãos em um triângulo.

—Bem, existe um juramento que você tem que prestar. Nada sério. Diz explicitamente, que se você quiser desistir do cargo só precisa encontrar outro semideus para te substituir. Sua primeira missão seria ir até Brasil para negociar com os vampiros na Mata Atlântica.

Percy olhou para ele tentando encontrar algum indício de zombaria em seu rosto, mas Caos estava sério.

—Vampiros? Na Mata Atlântica?´

—Sim. Você teria que avisar todas as espécies de que é meu novo representante e dizer que se eles se colocassem em perigo ou coisa parecida, você iria ajudá-los. Só burocracia. Só precisa visitar os grupos maiores e dali, a notícia se espalha.

Percy assentiu hesitante.

—E com espécies, você quer dizer, vampiros e lobisomens, e bruxas?

—Na maioria das vezes. Sendo meu representante, eles pensariam duas vezes antes de atacá-lo, mas eu não posso dizer o mesmo dos monstros. Precisa entender que existem duas classificações de espécies: os monstros e as criaturas. Os monstros são malvados e irão te matar. As criaturas preferem serem deixadas em paz e respeitam a ordem.

—Entendo. Precisaria ir a outra missão, então?

—Sim, na pior das hipóteses. Sinto muito, mas seria necessário.

—E se eu aceitar, ainda posso me casar, ter filhos e envelhecer?

Caos sorriu.

—Claro, nada o impede de fazer tudo isso. Poderia ir para a faculdade também, se quisesse. Teria que viajar pelo menos uma vez a cada quatro meses, mas isso são apenas detalhes. –Caos explicou.

Percy assentiu de novo.

—Olha, eu preciso pensar sobre isso. É muita coisa para digerir de uma vez só. Então, me leve de volta para casa e eu te dou uma resposta em alguns dias.

—Sem problemas. Mas antes disso, não gostaria de ver sua nova arma? Caso aceitasse o cargo, isto é.

A curiosidade venceu Percy e ele concordou.

Caos pegou um saleiro da mesa e colocou sua mão sobre ele, se concentrando. Lentamente, o saleiro começou a se alongar, se esticando e engrossando, ficando mais prateado até se transformar em uma espada. O cabo era preto com detalhes em roxo, e havia espinhos no comprimento da espada, cujo lâmina terminava em um meio-círculo.

Percy a admirou, impressionado.

—E essa espada... Seria minha?- Percy perguntou, sem fôlego.

Caos meneou a cabeça.

—Se você aceitasse. Eu a chamo de Spiral, por causa da lâmina curvada.

—Nome apropriado. –Percy admitiu.

—Muito bem, agora... - Caos falou, recolhendo a espada. Ele olhou novamente para seu candidato. –Hora de ir para casa, Percy.

Ele estralou os dedos na frente de seu rosto e o garoto acordou em sua cama, suado e assustado. Olhando pela janela se deu conta de que já era manhã. Sua camiseta estava empapada de suor e sua testa também. Percy se sentou na cama, pensando em tudo que ele ouviu.

Como reagiria Annabeth?

E quando Percy olhou para sua cômoda, Spiral estava descansando em cima dela.


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