A História antes da História escrita por P B Souza


Capítulo 3
A Inveja dos ímpios


Notas iniciais do capítulo

O pecado já habitava o próprio firmamento.



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É dito para os humanos que não devem pecar, e até uma lista lhes foi dada.

O Pai não fez o mesmo conosco, nunca avisou-nos sobre o que não deveríamos fazer, mas de certa forma sempre soubemos, pois fomos criados de forma diferente. Nossa concepção já é completa, nosso nascimento não é prematuro. Nos lembramos desde o primeiro instante de nossas vidas até o derradeiro final, pois acima de tudo, somos finitos em nosso modo.

Então surgimos com certo saber, e em tal saber se encontra o que nunca nos falaram, como um extinto prematuro escondido no interior, borbulhando para romper a casca e sair. Cada um a seu modo, todos impares e magníficos, mas uns mais que outros.

Dentro de mim agitava-se luz.

Dentro de meus irmãos agitava-se inveja por tal luz que estes jamais portariam, pois eu sou a estrela da alvorada. Não eles!

Os fiz lembrar. Os fiz entender que era meu poder e minha posse e não deles que o Pai havia me presenteado e não a eles. Que eu sentava ao lado do trono acima das estrelas.

Os fiz saber que jamais seriam como eu, e assim foi!

Varrido para o fundo de seus seres a inveja foi, escondida por uma camada de disfarces tão poderosa que até mesmo Ele poderia ter sido enganado?

A, Pai, como deve ser frustrante saber de tudo. Essa sensação de mistério que lhe é desconhecida, o medo que não possuí, a agonia do porvir que jamais sentirá.

A, Pai, sua vida deve ser tão miserável. Me causa pena lhe ver assim.

Me pergunto se, sendo ti detentor de tudo, poderia por escolha deixar de ser, só para pôr um momento sentir os prazeres da ignorância na qual nos forçou a viver. Você adoraria? Me pergunto.

A pai, veja meus irmãos, caindo na inveja como eu caio na ira e sequer notamos, pois você nos fez assim, ignorantes mesmo quando somos detentores de tanto saber. Falhos, mesmo quando deveríamos ser perfeitos.

Mas não me julgue errado por inflamar-me de descontentamento ao ver meus irmãos caindo na inveja, pois tal culpa é Sua. Você me fez assim, me fez passível da ira e do ódio. E o que eu fiz foi seguir as diretrizes do Criador. Pois tu tudo sabe, então sabia que eu cairia junto deles. Com eles. Por Eles!

Então percebi a verdade que não poderia mais ocultar de mim mesmo, Pai. Não era culpa deles a inveja que se espalhava, pecaminosa, pela vastidão vazia ocupada agora pelos corpos celestes frios. Era Sua! Sua criação, Sua responsabilidade.

A, Pai, por que me fizeste assim? A, Pai, por que nos fizeste para cair?

Dá-me uma escolha, mas não posso escolher, pois meu destino tu já sabes e o que me resta é entender.

Mas não entendo. Não, não entendo. E não perdoo por tal crueldade!


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