Gênesis 1:1

No princípio criou Deus o céu e a terra.

E esse foi o princípio da história dos homens, não a minha e certamente não a Dele.

Então me permita um pedido: volte comigo para uma época em que não existia tempo. Quando não existia os dias para se contar e a eternidade era tão longa quanto um instante, um instante na vasta e inesgotável vida. Vida está que acabou em um piscar!

Antes do princípio do homem e dos anjos, Ele surgiu. Tal origem, porém, me é desconhecida. O que me lembro, no entanto é minha própria concepção.

Meu nascimento como o primeiro e mais belo. Em dado momento no vazio, estava meu Pai existindo em sua solidão quando já sabendo do porvir decidiu, podendo impedir, me criar apenas para que eu pudesse me opor a ele no futuro que sequer existia até então.

E foi assim, aglomerando a luz de dezenas de sois ao redor de um espaço vazio na vastidão e com os mais resistentes materiais que forjam planetas e a energia que os aniquila, que eu fui moldado com um estrondo que varreu o vazio de ponta a ponta, se é que o vazio possuí pontas. E não mais só estava meu Pai, pois o primeiro anjo havia sido forjado e tal anjo era perfeito. “Ó pai, que nome escolheste a mim?” E Ele respondeu de seu trono acima das estrelas que chamar-me-ia de Heylel. E assim foi, pois nada deve ser sem nome.

E do meu corpo criou meus irmãos nos momentos seguintes.

Esses momentos podem ter sido horas depois de minha concepção divina, ou milênios. Como eu disse, até então o tempo não existia e éramos eternos em nossas breves vidas.

Bons tempos, eu me lembro. O vazio estava cheio pela primeira vez desde sempre. Deus era bom!

Meu Pai era bom.

Era, no passado. Porque aprendemos, talvez tarde demais, o quê significava o tempo!