Após dizer para o assistente que ao ver a lista logo entenderia do que se tratava a tal "lista de autorizados", a ruiva foi à uma das muitas gavetas do laboratório buscar o documento em questão. Depois de alguns instantes, retornava ao homem de óculos que permanecia curioso sobre o assunto. Abrindo uma pasta, colocou os papéis sobre a mesa e nele o indivíduo pode aferir uma longa listagem com nomes e datas.

— Entende agora do que se trata? - Perguntou.
 

Mahiro ainda permanecia atônito.

— Isso seria... Uma lista de visitas? - Perguntou ainda incerto.

— Exatamente.
 

O homem voltou seu olhar novamente para a lista. O documento nada mais lhe parecia do que uma impressionante listagem do alto escalão da Soul Society. Tudo se resumia basicamente em vários capitães e alguns tenentes, com exceção de alguns nomes de nobres não-shinigamis. Se o assistente tinha dúvidas sobre quem seriam as conexões da garota, agora sabia de quem se tratavam, porém isso apenas lhe gerou mais dúvidas.
 

Como podia conhecer tantas pessoas poderosas? Essa era uma das principais indagações que lhe surgira, além da relação de frequência de cada nome que o deixava ainda mais curioso.

— Essa é uma lista detalhada com todas as pessoas que visitaram a Karin-chan desde que veio para cá. A folha de trás contém o nome de todas as pessoas que não precisam da autorização do taichou para entrar, mas ainda assim deve ser registrado quem veio e quando veio, além do horário de saída. É uma questão de segurança. - Afirmou. - Se houver qualquer outra pessoa que queira entrar, você tem que falar com o Hitsugaya-taichou antes para saber se ele autorizará. Seu capitão na 12ª divisão é um dos que precisam de autorização prévia. Não culpo o taichou, Kurotsuchi-taichou é um ser que coloca a ciência acima de tudo e isso as vezes é perigoso. Ele já mostrou interesse em fazer experiências com o Ichigo-kun antes, mas ele negou. Sendo irmã dele, seria um alvo fácil para suas experiências malucas. - Afirmou.

— Entendo. - O assistente não podia descordar da decisão de impedir Mayuri de entrar em contato não supervisionado com a garota. Como seu subordinado, sabia de sua personalidade e de sua sede de conhecimento inescrupulosa.

— Matsumoto-fukutaichou, tenho uma dúvida sobre essa lista de visita. Algo não parece estar fazendo sentido. - Comentou.

— E o que seria?
 

A verdade é que a ruiva já imaginava sobre o que seria, mas preferiu deixar-se ter certeza sobre o assunto antes de comentar.

— Para começar, não vejo a confirmação de qualquer familiar direto da garota, digo, os Kurosaki's. Eles não precisam assinar o controle?

— Iie... Eles apenas não vieram nenhuma vez. - O rapaz olhou confuso. - Não é nada do que você possa estar pensando se relaciona isso com problemas familiares, pelo contrário, são muito ligados até. - Fez uma pequena pausa. - Você sabia? O Shiba-taichou não teve apenas um, mas três filhos no mundo humano. O mais velho é o Ichigo-kun, depois veio a Karin-chan e a irmã. São gêmeas, aliás, embora fraternas apenas. O problema é que a terceira é a que menos desenvolveu seus poderes espirituais, e graças a isso, não consegue vir para a Soul Society.

— Então...

— Sim, é por isso que ninguém veio. A Yuzu-chan é a irmã mais nova e sempre foi muito apegada à Karin-chan. Depois do que aconteceu com ela, o taichou teve que trazê-la para esse mundo para que pudesse cuidar dela adequadamente, porém isso também impedia que a irmã dela conseguisse vir vê-la. A família dela, dado o desespero da irmã mais nova, decidiu que não viria também para que ela não sofresse sozinha, mas ainda assim o taichou manda relatórios periódicos sobre a situação aqui para o Shiba-taichou.

— Ah... Entendo. E quanto as visitas dos capitães? Parece que eles vêm de tempos em tempos, até mesmo o Kuchiki-taichou e o Zaraki-taichou.

— Soi Fong-taichou foi uma aprendiz da ex-capitã Yoruichii-san, assim como a Karin-chan e parece que ela ganhou afeição pela garota por causa disso. Zaraki-taichou gosta dela por ser tão competitiva quanto ele, mas admito que não sei como eles se conheceram, pelo que ouvi ela brincava com a Yachiru-fukutaichou. O Kuchiki-taichou já conhecia ela por causa do casamento do Ichigo-kun com a Rukia-chan, o que o tornou parentes. A Isane-taichou é a encarregada de fazer os exames periódicos, junto com o Hanatarou-fukutaichou, porém ele também é um amigo da Karin-chan, assim com o Abarai-fukutaichou, Madarame-fukutaichou e o Yumichika-kun. O Hirako-taichou e a Hyourin-fukutaichou também à conhecem. Por fim, o atual comandante, Kyouraku-soutaichou vem em consideração ao taichou e aparentemente parece ter ganhado interesse em conhecê-la por ter visto ela salvando o taichou e está esperando ela acordar. - Explicou.
 

Mahiro começava a entender o porquê de ter sido ameaçado tão intensamente antes de aceitar o trabalho. Ichigo já era conhecido por seu poder exagerado que foi capaz de salvar a Soul Society e o mundo humano várias vezes, além disso, também era conhecido por seu temperamento impulsivo - o que se tornaria uma bomba-relógio se algo acontecesse à sua irmã por culpa da Soul Society. Hitsugaya, por sua vez, era extremamente poderoso e já havia provado ser perigoso à mínima ofensa feita à garota, estava mais do que claro que em caso de sua morte, cabeças iriam rolar e quiçá alguma ficasse em seu lugar. O mesmo acontece com o ex-capitão da 12ª divisão, e como avisado pelo mesmo, ainda acrescentava-se a ex-capitã da 2° divisão. Só nesta pequena lista, com apenas 4 pessoas, já seria o suficiente para levar a Soul Society a beira da destruição em poucos segundos. A garota ainda tinha conexões com outros integrantes da Gotei 13, de níveis tão altos quanto os já contabilizados e ainda tinha a questão das famílias Kuchiki e Shiba. Agora, ao menos um pouco, Mahiro entendia o quão ameaçado estava seu cargo, e principalmente, seu pescoço.

— Matsumoto-fukutaichou, não sei se tenho permissão para perguntar, mas ainda assim tentarei. O que de fato aconteceu há quase 3 anos atrás? Se puder me contar, mesmo por ser algo que talvez não deve ser divulgado, prometo manter isso apenas entre nós! - Proclamou o homem.

— Iie... Não é esse o caso, Masashi-san... - A mulher olhou de forma dolorosa para a garota no tanque. - Não é esse o caso... O assunto apenas se tornou delicado demais e os taichous decidiram não comentar muito para que o Hitsugaya-taichou não ficasse relembrando tudo. Entretanto, posso te dizer com toda certeza, o taichou nunca sequer tentou esquecer qualquer coisa que tenha acontecido naquele maldito dia. O dia em a Karin-chan entrou em seu sono profundo.

— Desculpe, parece que foi grosseiro de minha parte lhe forçar a comentar um assunto delicado. - Desculpou-se.

— Não tem problema... Mas será que pode ser amanhã? Amanhã começo a lhe contar tudo quando o taichou não estiver por perto. A história é longa e hoje tenho que lhe instruir tudo o que puder sobre o funcionamento deste lugar. Pode ser? - Perguntou.

— Como desejar, Matsumoto-fukutaichou. - Respondeu. - Ainda assim, pelo pouco que ouvi, me parece que essa humana de alguma forma ganhou o respeito de muitas pessoas importantes. Deve ser uma pessoa incrível. - Afirmou.

— Sempre pensei que fosse, mas nunca pude imaginar nem uma pequena parte do que ela realmente é. Incrível não é suficiente para descrever o que vi acontecer aquele dia... - A ruiva respirou fundo e pôs um sorriso em seu rosto. - Então, Masashi-san, vamos ao trabalho. Hoje vou lhe explicar tudo mais o que precisa saber para manter esse lugar funcionando até a Karin-chan acordar! - Proclamou animadamente.

— Desculpe, mas não quis dizer que "até que o Urahara-san volte", ou ele foi demitido?

— Urahara-san nunca foi um subordinado do taichou, pelo contrário, ele mesmo se voluntariou para trabalhar de graça aqui. O taichou até tentou fazer com que aceitasse um salário, já que gasta seu tempo aqui, mas ele nunca aceitou. Ele sempre diz: "Não há porquê receber se não está fazendo mais do que sua obrigação como mestre e cuidando de um de seus pupilos. Além disso, tenho uma dívida enorme com essa família, seria desonroso de minha parte aceitar qualquer pagamento".  - Contou. - Entretanto, ele voltará sim. Não há qualquer problema sobre isso.

— Não compreendo o que quis dizer. Por que acha que ficarei aqui até ela acordar? Fui contratado apenas para substituição. - Contestou.

— Não posso provar, mas de alguma forma sei... Ela irá acordar, e será antes do Urahara voltar. Eu sinto. - Declarou com seriedade e com uma impressionante convicção.

— Por que acha isso, tenente? - Perguntou genuinamente curioso.

— Porque se ela não acordar, o taichou se despedaçará. Já faz tempo que ele está em um lento processo de autodestruição, é fato. Quem conheceu o verdadeiro capitão Hitsugaya Toushirou sabe que o que está vendo agora nada mais é do que uma mera casca vazia. A Karin-chan não foi a única à entrar em coma, quando entrou levou junto consigo a alma do taichou. - Afirmou. - Ela vai acordar. Não consigo imaginar na possibilidade de ela deixar o capitão se destruir depois de tudo. Ela é forte e vai ser o anjo que novamente o salvará e o trará de volta à vida. Não tenho dúvida. - Afirmou a ruiva.
 

Um sentimento estranho passou pelo corpo de Mahiro, sentimento este que nunca havia sentido antes em toda a sua existência. Pela primeira vez em sua vida, uma especulação sem fundos comprobatórios lhe pareceu tão real quanto o fato de estar respirando naquele momento. O que era aquilo? O que era aquela certeza que lhe preenchia? O que era aquela expectativa que invadia seu corpo? E o principal... Por que a garota lhe parecia tão imponente à ponto de acreditar por um segundo que a qualquer momento tudo o que conhecia seria destruído e como uma fênix, se ergueria das cinzas após as palavras da tenente?