História 10 - ANJO escrita por Tsuruga Akira chan


Capítulo 10
Capítulo 10 - PROMESSAS


Notas iniciais do capítulo

Enjoy, Minna-san! o/



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Com a saída de Mahiro e Matsumoto, um silêncio sepulcral e momentâneo se instalou no laboratório.

Hitsugaya, que ainda detinha a garota em seus braços, deixou seus joelhos fraquejarem e o corpo másculo despencou sobre os calcanhares. Frustado, culpado, triste e arrependido, apertou mais o delicado corpo feminino contra o seu enquanto tentava engolir todos aqueles sentimentos amargos de volta para seu âmago.

— Karin… - Balbuciou com a voz fraca e trêmula, chamando pelo nome da amiga desacordada.

O grisalho apertou-a contra si mais uma vez, e mais uma vez chamou pelo nome da morena. Seu coração batia lenta e doloridamente, como se pudesse parar à qualquer momento. O tórax se inflava o máximo que podia em buscar de ar, mas a culpa o comprimia como uma prensa que o obrigava à sofrer e se lembrar de sua incompetência à cada vez que tentava respirar. Os olhos quase marejavam, mas seu orgulho não lhe permitia chorar. A culpa era sua, unicamente sua, e sendo este o seu fardo, deveria aguentar e sofrer calado, pois graças a sua existência e sua fraqueza, muitos foram os que sofreram e sofriam pelo coma da jovem que lhe salvara e nenhuma de suas lágrimas valiam qualquer coisa perante o sofrimento destes.

Os lábios do grisalho se entreabriram para expulsar o ar que fortemente pesava em seu peito. O olhar triste e desbotado encarou a jovem inanimada em seu peito, dando-lhe à sensação de que a mesma estava morta, contando apenas com a fraca respiração para provar que esta ainda vivia, ou ao menos que o corpo ainda estava à funcionar.

— Por favor... - Suplicou em volume quase inaudível. A voz fraquejava. - Por favor, Karin… - Insistia em tentar continuar. - Por favor… - Apertou-a gentilmente mais uma vez. - Acorde… - Pediu. - Acorde… - Clamou. - Acorde! - Elevou um pouco o tom de voz. - Eu faço o que você quiser! Te dou minha vida se necessário, meu poder, o que você precisar! Apenas acorde e volte à viver! - Suplicava o rapaz desesperado e amargurado. Respirou profundamente e voltou à baixar o tom de voz. - Por favor!... Eu não me importo. - Declarou sincero. - Eu não me importo de jogar quantas vezes você quiser… Te dou quantos doces você quiser… Levo você à todos os jogos do time que gosta, todas as rodadas, amistosos e até mesmo nos jogos dos times que você nem gosta tanto… Eu faço o que você quiser! Mas, por favor, não morra… Não fique nesse tanque por mais tempo! - Pediu. - Sei que não tenho o direito de dizer isso, mas… Mas... Me dói vê-la nesta droga de aquário! Me dói não ouvir sua voz quando te conto os resultados dos jogos que você acompanhava sempre… Me dói não ouvir qualquer reclamação sua sobre o meu jeito de fazer as coisas… Me dói já quase não lembrar mais do seu sorriso… - Admitiu pesaroso e torturado pelas cenas da garota despencando à metros e metros do chão e do desespero que sentia. - Porra, Karin, acorda! - Exclamou desesperançado e destruído. - O que eu preciso fazer para te ver viva de novo?! Eu não pedi por isso! Eu não pedi para me salvar! Eu não pedi para se machucar por mim! Eu não consigo… Não aguento viver assim por mais tempo! - O tom voltou à se tornar quase um sussurro. - Acorde… Eu quero que viva de novo… Quero ver seu sorriso de novo… - Declarou por último. Seu peito ficou um pouco mais leve, mais precisamente, o seu coração ficou mais leve, embora a dor ainda continuasse lá à lhe torturar.

O grisalho ficou daquela mesma forma durante mais alguns minutos antes de colocar a garota de volta ao tubo de metal e vidro. Talvez estivesse esperando suas forças retornarem e que ao menos um pouco de dignidade retornasse ao seu rosto antes que voltasse à encarar seus subordinados. Talvez, sua espera se devia à outro fator, fator este que nada mais poderia ser além de uma pequena esperança de que talvez a morena lhe respondesse as suplicas feitas, mas que infelizmente pareceram não terem tido qualquer efeito. A última opção, na verdade, era a única verdadeira. Hitsugaya esperou por algo que não aconteceu. Sua alma se quebrou.

Passado determinado tempo, levantou-se novamente e instalou novamente a amiga no tanque. Silencioso, arrumou seu uniforme novamente e checou uma última vez - antes de chamar os subordinados - os resultados dos equipamentos que mantinham a garota viva.

***

Após serem praticamente expulsos da unidade, a ruiva e o assistente nada mais puderam fazer além de obedecer ao grisalho.

Acompanhando a mecânica substituta, o homem aproveitou-se para se despedir da irmã que passara toda a noite trabalhando consigo e aconselhou-a a ir dormir e só recomeçar seu trabalho na sua devida divisão após seu descanso para evitar erros. A tenente reforçou a ideia deixando claro que enviaria um relatório sobre o trabalho que a mulher havia prestado para a 10ª divisão e que não precisaria se preocupar com a falta. Mayumi aceitou a oferta após a declaração da ruiva, embora soubesse que não conseguiria dormir ainda devido ao número de informações recebidas na pequena estadia na unidade secreta, ao menos poderia descansar em casa enquanto pensava. Assim, a irmã mais velha de Mahiro se despediu, deixando os dois funcionários da 10ª divisão sozinhos. Não houve conversa, nem olhares ou mesmo gestos. O assistente esperava de pé e quieto, enquanto a tenente encostou-se na parede, vez ou outra soltando um ou outro suspiro de preocupação, até finalmente serem chamados.

Pelo interfone externo, Hitsugaya chamou os dois de volta para o laboratório. A voz saíra seca, séria e sem qualquer oscilação, quase como se o rapaz fizesse parte do sistema automatizado que Urahara implantara na pequena unidade.

A ruiva sentiu seu coração apertar. Pondo-se séria, desencostou da parede que havia pegado como apoio, voltou à sua postura profissional e manteve seu rosto e voz tão sérios quanto, acompanhando o subordinado em seu retorno ao laboratório.

 A porta se abriu e mal passaram por ela e o capitão já vinha em sua direção, já com seu uniforme devidamente arrumado.

— Estou voltando para minha sala e mais tarde estarei na reunião com os outros capitães. - Disse sem qualquer emoção. - Estejam atentos à qualquer mudança por aqui. Se algo acontecer, me avisem. - Disse o capitão já passando entre os dois subordinados sem lhes direcionar qualquer olhar.

Por uma fração de segundo, os olhos de Mahiro e Matsumoto visualizaram o rosto alvo do superior. O assistente se surpreendeu com o rosto sem expressão, mas ainda mais com o olhar carregado de emoções intensas. Matsumoto, no entanto, conteve-se em apenas responder o grisalho e não incomodá-lo com qualquer pergunta que fosse. Já vira aquilo antes e sabia o quão destruído estava a alma do pobre capitão.

— Hai! Não sei se nos veremos até o horário da reunião, então, tenha um bom dia, Hitsugaya-taichou. - Desejou a tenente em tom respeitoso.

Hitsugaya nada respondeu, apenas caminhou silenciosamente até à porta, que se fechou assim que ele atravessou-a.

— Matsumoto-fukutaichou, - Chamou o homem ao reparar na feição de profunda dor que a superior adquirira ao ver o capitão sair da sala e a porta se fechar atrás dele. - O que foi aquilo? Por que “Ele”estava daquela forma? O que aconteceu entre ele e ela? - Referiu-se à garota no tanque.

A tenente se surpreendeu com a pergunta e demorou alguns segundos antes de se forçar em um sorriso.

— Não se preocupe com isso. É normal, todo capitão tem seus momentos de estresse… Sabe como é? Muitas vidas para gerenciar, a papelada infinita… - Dizia ela em tom descontraído e um sorriso comercial na face.

O míope franziu o cenho se irritando com o sorriso plástico da ruiva.

— Matsumoto-fukutaichou! - Exclamou o assistente em voz firme. - Não diga que não é nada! Não diga que é normal! Eu vi aquilo no olhar do capitão! - Declarou, logo abaixando um pouco o tom de voz ao reparar já ter conseguido a atenção da superior. - Aquilo não era apenas culpa. Era culpa, desespero, solidão, vazio e tristeza. Um homem como ele não deveria ter esse tipo de sentimento e menos ainda ser visível para alguém como eu que nada sabe sobre ele. Não minta. Aquilo não é nem nunca será normal.

Mahiro olhou determinado para a tenente, que suspirou em derrota e se sentou numa banqueta próxima à ele.

— Matsumoto-fukutaichou, se puder, por favor, me conte o que realmente aconteceu naquele dia. O que essa garota realmente fez para que o Hitsugaya-taichou se culpe tanto pelo estado dela? - Pediu o assistente. A dúvida não se dava mais apenas pela curiosidade nata do homem, mas pelo fato de não conseguir mais compreender como um homem responsável e frio como o capitão que era pudesse demonstrar tamanho desesperado e culpa em seu olhar. Mesmo para ele, que evitava se envolver em assuntos não racionais e que até por isso se vislumbrara com a personalidade do chamado capitão de gelo, era impossível ignorar a expressão perturbada que a face do grisalho adquiria sempre que a garota estava envolvida. Mais do que nunca, Mahiro precisava da verdade.

A tenente encarou o homem com seriedade e encontrou em seus olhos uma real mistura entre determinação e preocupação. E fora esse achados que lhe convenceu a relembrar detalhadamente tudo o que sabia sobre o incidente de 3 anos atrás. As memórias voltavam tão vivas quanto o dia atual em que vivia, pois nada realmente havia sido esquecido, apenas guardado à sete chaves para que o capitão não sofresse mais do que se obrigava à sofrer. O dia do descontrole de Hitsugaya.

Matsumoto novamente se via em sua sala, há três anos…

Era verão, o dia estava quente e ensolarado. Do cômodo aonde trabalhava, a ruiva ouvia ao longe o característico canto das cigarras. Já passava do horário de almoço e o ruiva ainda estava debruçada sobre a sua mesa lotada de papéis, enquanto sozinha no ambiente que compartilhava com Hitsugaya, escutava os passos apressados de shinigamis indo e vindo pelos corredores.

— Argh! - Exclamou chorosa. - Eu não quero trabalhar hoje! O dia está tão bonito e eu aqui trancada neste escritório! - Resmungava.

De repente, a porta se abriu e o jovem capitão irritado apareceu.

— Matsumoto! - Gritou enquanto uma veia pulsava em sua testa. - Pare de reclamar e faça logo o seu trabalho!

— Taichou?! - Assustou-se levantando imediatamente. Em seguida, suspirou relaxada colocando uma das mãos sobre o generoso decote de seu kimono negro. - Ai, taichou, não me assuste assim. “Eles” quase pularam para fora. - Referiu-se aos fartos seios.

— Pularam nada! Se parasse de enrolar sempre, já teria terminado toda essa papelada! - Advertiu. - Ainda pensei em seguir direto, mas tive o pressentimento de que estaria matando trabalho como sempre e estava certo. - Comentou.

— Passar direto? - Repetiu a mulher finalmente observando o grisalho. Hitsugaya usava uma camisa polo branca, calça jeans de lavagem escura e sapato social-esportivo. Em seu braço, um relógio e no pescoço, seu costumeiro cachecol verde-mar. A ruiva alargou um sorriso travesso. - Vai sair taichou?

— Não te interessa. Estou de folga hoje, já que EU já terminei meu trabalho. - Enfatizou. - Trate de terminar essa papelada. Espero vê-la concluída quando voltar e nem pense em me seguir. Se o fizer, ficará presa até o próximo ano! - Advertiu o rapaz se virando para porta.

— Não preciso te seguir, sei aonde vai. Vai ver a Karin-chan de novo! - Sugeriu a mulher debochada.

— Não seja idiota, Matsumoto. Tem anos desde que voltei ao mundo humano. A Kurosaki é uma humana e tem mais o que fazer. Não irei vê-la. - Respondeu sério sem se virar.

— Taichou! É idiota, por acaso? - Perguntou a mulher repreensiva. Hitsugaya se virou não gostando da insolência da tenente que continuou sem se importar. - A Karin-chan não é qualquer uma. É lógico que ela ficaria feliz em te ver. São amigos há tanto tempo e mesmo assim o senhor a trata como uma estranha. Tenho certeza que ela deve estar esperando você voltar para vê-la de novo. Eu não tenho dúvidas! - Disse com toda confiança que sentia. - O senhor não sai desde… Bem… Desde a morte da Hinamori. Sei que estava deprimido por serem amigos há muito tempo e sei muito bem o quanto o senhor gostava dela. Mas tudo que aconteceu foi pelas escolhas dela mesma. - Argumentou em tom mais ameno.

Hinamori era amiga de Hitsugaya mesmo antes de o jovem se tornar capitão, mas seu objetivo e paixão sempre fora Aizen, o capitão traidor que tentou destruir toda a Soul Society e que foi parado pelo shinigami substituto, Kurosaki Ichigo.

Embora derrotado, Aizen não podia ser morto e por isso fora trancado em prisão perpétua por seus crimes. Hinamori, presa numa paixão que com o passar do tempo  se tornara uma obsessão, se desesperava cada vez mais e após determinado tempo de planejamento, pôs em prática um plano que tinha como objetivo principal destruir tudo que impedia Aizen de ser novamente solto, atacando a mais alta autoridade em conjunto com alguns hollows que ainda seguiam o ex-capitão.

No fim, Hinamori foi morta na guerra que se formara, assim como quase todos os hollows que participaram do ataque e Hitsugaya, seu amigo de infância, deprimiu-se por não ter percebido as intenções da garota e não ter conseguido salvá-la, sendo ela a pessoa que mais queria proteger; e com isso, escondeu-se embaixo das milhares de pilhas de papéis à serem completados. Essa passou à ser sua fuga por dois longos anos. Agora, embora ainda não aceitasse a morte da shinigami, sabia que precisava continuar sua vida e, por isso, decidira ao menos visitar a velha Haru, a idosa que em breve deveria partir para o outro mundo.

O grisalho também pensou em Karin, mas esta, diferente da velhinha, tinha muitos amigos. Além disso, a garota já era uma adolescente e começava a chamar a atenção masculina. Talvez já estivesse namorando e seguindo seu rumo normal como uma humana; e sua aparição repentina poderia interferir neste curso.

Hitsugaya iria apenas observar de longe a garota antes de voltar de sua folga. Esta fora sua decisão.
 

— Matsumoto, dois anos para nós não é nada, mas para os humanos, dois anos é muito tempo. - Respondeu o rapaz novamente se virando para a porta. - Ela se preocupa demais por nós. Dois anos é tempo suficiente para que ela se acostumasse sem a nossa presença e viva como uma humana normal. Deixe como está, é melhor para ela. Como ela mesmo disse, nós podemos morrer a qualquer momento em alguma batalha. Afinal, nós já vivemos há muito mais tempo.

— Taichou?! - Reclamou a mulher e no fim, deu-se por vencida. - Faça como quiser, mas não me culpe quando ela for até você tirar satisfações.

— Ela não irá. - Declarou o grisalho.

— Com toda certeza ela irá. - Contrariou. - Ela ainda é apenas meio-humana. Não se esqueça que ela possuí poder espiritual e sabe como usá-lo. Te achar não seria problema para ela. - Lembrou a mulher.

— Seja como for, termine o seu trabalho. Estou de saída. - Disse o capitão sumindo pelo corredor.

— Teimoso. - Murmurou a ruiva.

Matsumoto se alongou um pouco e olhou novamente para a janela para ver o dia brilhante lá fora. Suspirou e coçou a nuca.

— Acho que desta vez terei que fazer pelo menos um pouco disso tudo. Ele pode usar esses papéis como desculpa para se trancar de novo. - Dizia a tenente para si mesma. Suspirou mais uma vez. - Seria tão bom se a Karin-chan fosse vê-lo. Talvez assim ele melhorasse um pouco seu astral. Ela é sempre tão animada e sabe como animar ele. - Sentou-se novamente. - Fazer metade disso não vai me matar desta vez. - Finalmente começou a trabalhar.

Todo mundo, pelo menos uma vez na vida, já ouviu um certo ditado popular, porém, a bonita tenente parecia se esquecer do aviso que já ouvira... "A calmaria antecede a tempestade...". O dia estava apenas começando.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!

Até o próximo capítulo!

Abraço e Sayounara, Minna-san!



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