I Hate You, Don't Leave Me escrita por Keilla de Amigo


Capítulo 1
Only


Notas iniciais do capítulo

Nos vemos nas notas finais!

♥ *-* ♥

P.S. O dia dos Namorados é comemorado no dia catorze de fevereiro em outros lugares.



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I hate you, don't leave me

I feel like, I can't breathe

Just hold me, don't touch me

 

Kim  discou a sequência de números em seu celular pela terceira vez consecutiva. Com a outra mão apertava com as pontas dos dedos um pequeno cartão onde se encontrava um número de telefone de contato.

A força misteriosa que agia em sua vida uma vez por ano, mais especificamente naquele dia, já havia começado a por seus planos em prática.

Dia dos Namorados.

 Mesmo com a escuridão da rua e com a neve fraca ao lado de fora da vitrine do pequeno estabelecimento ela pode ver as luzes alaranjadas piscarem em cima do carro de reboque. Na plataforma estava seu Audi vermelho. Bem, não exatamente seu. Ela havia alugado durante as duas semanas que passaria na Califórnia, o estado de sua cidade natal, Seaford.

 Seaford. Após quase uma década ela não mudara tanto. Reformas foram feitas, comércios fechados e outros abertos, um novo prefeito e até mesmo o grande terreno com o lago que costumava ficar em meio a mata fechada da cidade havia se tornado um parque, mas ela ainda era a mesma. Todas as coisas que tanto costumavam irrita-la continuavam ali.

A neve continuava a cair e suas lembranças a despertarem.

 — Garotas – resmungava ele – Vocês não podem ver ao menos um deles em uma capa de revista sem soltar gritinhos histéricos.

Kim pôs a revista de volta na prateleira.

— Não foi um gritinho histérico. – ela negou subindo as mangas de seu blazer – E são os Jonas Brothers. É impossível não gostar deles.

Ele fez uma careta.

— Eu não gosto. Você deveria parar de venerar esses caras. É boa demais pra qualquer um deles, Kimmy.

— Não fico venerando eles. – respondeu ignorando a última parte enquanto tentava disfarçar o rubor das bochechas.

Jack riu passando um braço por cima dos seus ombros.

— Não é isso que os pôsteres colados nas paredes do seu quarto dizem.

Ah esses dois. Era quase impossível vê-los juntos e não pensar que eram um casal. Toda a Seaford High sabia disso. As garotas já não jogavam charme pra cima do jovem Brewer por conhecerem o temperamento da loira e os garotos pensavam duas vezes antes de olha-la com qualquer malícia temendo as atitudes do moreno que não era conhecido por sua paciência.

Não eram exatamente namorados. Nunca negaram que estavam em um relacionamento além de amizade, no entanto também não confirmaram nada. Era difícil para a jovem Kim de 17 anos responder essa questão, uma vez que nem ela mesma sabia ao certo. Os dois já haviam se beijado algumas vezes e ela tinha que confessar, eles realmente agiam como namorados.

Se apaixonara por ele com seus 13 anos. Quando ainda estavam na condição de amigos, e não na de melhores amigos como no momento, ele havia a ajudado a salvar seu caõzinho de um afogamento no lago e puff! Apaixonada.

Anos depois ela percebeu o quão infantil aquilo fora de sua parte. Primeiro porque era um cachorro. Era natural que soubesse nadar. Em segundo porque parecia algo totalmente insano acreditar estar apaixonada só porque um garoto tinha salvo seu cão.

Porém isso não impediu que seus sentimentos por ele fossem menos verdadeiros.

 Sem que se desse conta o carro do reboque já havia partido e o táxi que chamara a esperava ao lado de fora. respirou fundo, endireitou sua postura e estufou o peito. Ela vinha preparando seu psicológico para aquele noite e gastado uma boa quantia de dinheiro para restaurar seu antigo vestido. Então segurando a saia de seu longo vestido branco e se equilibrando nos saltos prateados, pôs se a andar em direção a saída da pequena lojinha de conveniências do posto de gasolina.

Primeiro obstáculos vencido com sucesso, ela pensou.

 Não seria um pequeno acidente sem gravidade alguma que interromperia seus planos.

***

 Certamente que o carro não fora um obstáculo. Muito menos a vergonha de estar aquela hora da noite usando um vestido de baile dentro de uma loja de conveniência. Na realidade aquilo era de longe um problema.

É claro que nem tudo ocorrera conforme o planejamento original. Kim ficara trancada em seu apartamento durante um dia inteiro pensando se valeria ou não a pena atravessar o Atlântico para voltar ao berço de sua infância.

 No começo ela cogitara que não. Definitivamente não. Uma simples carta do Conselho da Seaford High School já havia conseguido abalar seu emocional. Imagine voltar ao lugar onde tudo aconteceu, naquela mesma data, compartilhando o mesmo espaço com seus antigos companheiros de Colegial e principalmente ele.

Ah, ele. Ela ainda conseguia ver a decepção em seus rosto quando recebeu a notícia. O magoara tanto. Não fazia ideia de como olharia para ele novamente sem sentir-se mal. Não se considerava nem mesmo digna de dirigir ao menos uma palavra que fosse a ele. Não depois do que fez.

Foi despertada de seus pensamentos quando ouviu Derick murmurando uma série de palavrões enquanto se soltava do cinto de segurança que o prendia no banco do motorista. O rapaz abriu a janela sem se importar com a quantidade excessiva de neve que caia e pôs a metade de cima corpo pra fora gritando algo impossível de se identificar graças ao som das buzinas de outros carros.

Engarrafamento.

O clima permanecera frio em sua primeira semana de fevereiro na cidade, mas nem mesmo as previsões do tempo indicaram que algo assim viria acontecer. A neve já estava lá quando ela chegara. Algo completamente comum, mas não dessa forma.

Mas algum idiota havia conseguido bater o carro congestionando a S Valley Frwy. Não que ela pudesse culpa-lo. Havia conseguido colidir com um hidrante na calçada em uma rua deserta. Derick pôs se ao seu lugar. O cabelo negro desgranhado salpicado com os pontinhos brancos da neve.

— Conseguiram desocupar uma pista. O trânsito está lendo, mas logo chegaremos a Seaford. - Derick se prendeu mais uma vez ao cinto - E então Kimbs, como tem sido morar em Paris?

Kimbs. Quanto tempo fazia desde de a última vez que alguém a chamará assim?

— Não são só flores, mas é bem agradável. - respondeu.

— Não venha com essa. - ele rebateu se virando pra trás de forma que pudesse encara-la - Você só falava do curso de design meses antes de ir embora.

Ela não pode deixar de rir. Trabalhara dos quatorze aos dezessete anos como babá dos Parker aos fins de semana. Derick fora uma garotinho hiperativo. Lembrava de ter tido muito trabalho com ele nos primeiro meses, até que o mesmo enfim acabou por se adaptar a presença da loira.

— Vamos, Kim. Ele só tem 7 anos, não pode ter ido muito longe. – Jack disse enquanto trocava as pilhas de sua lanterna.

— Ele pode ter ido a qualquer lugar! Eu só dei as costas por cinco segundos e ele fugiu. – ela bateu o pé no chão como uma criança mimada. Tentou afundar o corro em sua cabeça em busca de conseguir se aquecer – Essa é só a terceira vez que cuido dele e já consegui perde-lo.

Era segunda semana de dezembro e o inverno enfim chegara. As ruas na cidade estavam cobertas pela neve e as noites mais frias que o normal.

— Relaxa, ta? Eu vivia fugindo pra cá quando era moleque e sobrevivi. A floresta só é perigosa pra quem não conhece.

Ela bufou e desferiu tapa um tanto forte no braço do melhor amigo.

— Só que você não vinha pra cá ás onze da noite no inverno e sem agasalho algum.

Foram necessárias uma hora e meia até que encontraram o garoto encolhido, recostado ao tronco de um velho carvalho.

— Ta legal. É incrível. Tudo. – ela enfim não conseguiu mais conter a euforia – A cultura, as pessoas, o lugar. Tenho tanta coisa pra dizer.

Ele soltou uma risada.

— Bem, nós temos tempo. Sabe como é, trânsito lento.

— É eu sei, mas e você? Aposto que tem muita coisa pra contar.

— Kimbs, você mais do que ninguém sabe que não. – lhe respondeu

Ela conferiu a hora em seu celular. O baile já havia começado há meia hora.

— Poderia me contar como virou… humm, taxista?

Bola fora, garota, ela pensou.

Derick a encarou com uma das sobrancelhas erguidas e a boca aberta.

— Eu não sou motorista de taxi. Trabalho em uma oficina mecânica e o irmão do meu chefe é taxista. Ele teve um imprevisto e bem, aqui estou eu. Agora, me conte mais sobre Paris.

***

Foram quarenta e cinco minutos até que enfim chegaram em Seaford.

 Kim não sabia de verdade o que a deixava pior. Tudo parecia uma questão de sim ou não e ela tinha a impressão de que fez a escolha errada. Por que não ficara em casa? Poderia estar tomando um delicioso café com brownies na cafeteria embaixo de seu apartamento. Que horas deveriam ser em casa? 

Recebera uma carta do Conselho da Seaford High School a convidando para o baile de ex-alunos formandos em 2007 há um mês atrás. Seu primeiro pensamento foi não. Ela se esforçara ao máximo para tentar deixar tudo para trás e estava decidida a nunca mais por os pés naquela cidade.

Assim que se passou o choque inicial ela se dirigiu até sua fragmentadora de papéis em baixo da escrivaninha onde ficavam seus projetos, mas algo a fez parar.

Ela tinha vinte e seis anos. Era uma mulher e estava na hora de encarar isso. Entrara com exito na Escole de la Chambre, se tornara uma designer de moda bem sucedida e conseguira adestrar seu pastor alemão sozinha.

Decidiu que iria. Passaria duas semanas em Seaford. Talvez ele nem morasse mais lá. Talvez nem mesmo estivesse no baile de ex-alunos ( mesmo que internamente ela torcesse que sim).

Porém não pode. Não conseguiu ficar mais do que algumas poucas horas na cidade sem se sentir claustrofóbica.  Passou a primeira semana em Morgan Hill, uma cidade vizinha, e decidiu que só retornaria a Seaford naquela noite, mas talvez ter permanecido na cidade não teria sido tão ruim, afinal teria evitado o constrangimento, engarrafamento e toda aquela ansiedade que tomava conta de si.

Derick estacionou o carro do outro lado da rua.

A estrutura da Seaford High School se ergia imponente no território do colégio. A grama verde ocultada por uma fina camada de neve. Havia uma facha pendurada na fachada.

Encontro de Ex-alunos – Formandos 2007 – Baile Anual do Dia dos Namorados 

Uma limousine estacionou do outro lado. Dela saíram um grupo de jovens. Os garotos com seus habituais ternos escuros e as garotas com seus vestidos fabulosos, cabelos perfeitos e maquiagem estonteante.

Os dois riam enquanto corriam para atravessar a rua de mãos dadas.

— Mais devagar. Você já viu os saltos que Grace escolheu pra mim. Eu posso quebrar uma perna se não tomar cuidado.

Ele revirou os olhos diminuindo a velocidade em que se moviam mudando para passadas rápidas.

— Foi uma eternidade pra que ficasse pronta. – ele respondeu – Quer mesmo que nos atrasemos mais?

— Ah me desculpe, Sr. Brewer,  mas essa “eternidade” foi capaz de te deixar embasbacado por minutos. – Kim contrapôs sem raciocinar. Suas bochechas coraram quando enfim se deu conta do que dissera.

— Você não precisa disso, Kimmy. Esse seu ar ameaçador já faz todo o trabalho por você.

Os anos se passavam e nada mudara. Na época tudo aquilo parecia ser tão incrível e essencial para sua adolescência. Como uma tradição. Mas agora, nove anos depois, ela percebera o quão estúpido e desnecessário era.

— Todo o clichê de filmes e sonhos bestas adolescentes estão reunidos em um ginásio decorado com corações vermelhos por toda parte.

Mas parecia ao que Derick era imune.

Ela arqueou as sobrancelhas.

— Vai me dizer que não tem uma namorada incrível pra ser sua acompanhante em comemorações como essa?

— Eu tenho. Ela se chama Harley, mas assim como eu ela também não acredita na magia dos bailes.

Não podia e nem queria negar. Derick sempre dera indícios de que seria um rapaz belo e genial.

— E vocês estão certíssimos. – concordou - Queria ter tido pensamentos e atitudes assim.

Abriu sua carteira e retirou duas notas de cinquenta dólares, entregando-as para Derick.

— Boa sorte com essa coisa toda.

Ela se despediu carinhosamente do garoto com uma abraço um tanto desajeitado, desceu do taxi e o viu sair com rapidez rua abaixo.

Kim permaneceu na calçada por um instante observando observando os casais que chegavam, abraçados, com as mãos dadas e toda essa coisa de feliz para sempre.

Alguns garotos, do primeiro ano quem sabe, saíram pelas portas cada um com um cantil de bolso em mãos.

Qualquer bebida contendo álcool era proibida durante eventos organizados pelo colégio, mas isso não impedia que alguns alunos batizassem as bebidas permitidas.

Eles riam um do outro como se algo extremamente engraçado estivesse acontecendo naquele momento.

Se abaixaram e pegaram um bocado de neve com as mãos, mesmo sem as luvas, enrolaram até que tivessem o formato de uma esfera e as lançaram em direção a faixa, repetindo o mesmo processo várias vezes seguidas. Até que uma garota com os cabelos escuros tingidos de rosa-shocking e vestido roxo apareceu gritando e os arrastando de volta pra dentro.

— Toma cuidado! – ela gritou enquanto segurava a escada. Sentia suas mãos tremerem pelo nervosismo.

Ele parou no meio da escada. Com a cintura apoiada em um dos degraus enquanto as mãos se ocupavam amarrando a ponta da corda que prendia a faixa em uma das pilastras.

Baile Anual do Dia dos Namorados

— Qual é, Kimmy? Já te vi subir em lugares bem mais altos que esse dando risada.

— Não é a altura que me assusta. – Kim soprou uma mecha de cabelo que caía em seu rosto – É a queda. Você pode se machucar.

E foi aí que aconteceu.

Foram questões de segundos, mas para ela pareceu que tudo se passou como um filme em câmera lenta.

Um dos garotos do Futball que corria pelo gramado da frente lançou a bola alto demais com força na direção errada, acertando o jovem Brewer na nuca.

Os minutos seguintes ocorreram com uma velocidade absurda. Ela se lembrava dos gritos, várias pessoas correndo, alguém parando ao seu lado enquanto falava com a emergência por um telefone celular.

Se abaixou de modo que ficasse por cima do garoto caído ao chão.

— Jackson! Jackson, não me assuste! - ela o sacudia freneticamente tomada pelo medo – Diga algo!

Ele apertou os olhos em uma careta grunhindo de dor.

— Pode relaxar. Eu não vou embora nem tão cedo. – disse rindo

— Ora seu…Seu… Argh! – Kim arregalou os olhos enquanto abria e fechava a boca perplexa. Fechou a mão em punho e lhe deu um soco no braço para depois se levantar e ir embota – Eu te odeio!

Não olhou pra trás uma única vez por maior que fosse a sua vontade.

Mais tarde naquele mesmo dia ela soube que ele vomitara sangue e em seguida desmaiara.

 Kim respirou fundo e ajeitou sua postura. Era hora de fazer o que era necessário.

***

A droga dos problemas de bailes de ex-alunos eram como eram realizados.

Todos os anos o comitê estudantil escolhia um dos bailes que ocorriam durante o decorrer do ano letivo para organizar o encontro para antigos alunos, mas lá não haviam apenas eles. Qualquer estudante da Seaford poderia comparecer ao baile.

Bailes de primavera, inverno, outono,halloween, volta as aula, máscaras e tinham que escolher justo aquele? Dia dos Namorados?

Já se considerara louca algumas vezes. Até frequentou uma psicologa durante dois anos e meio, mas de nada adiantou. Aquela data parecia persegui-la. Quatorze de fevereiro.

Por que não podia ter se livrado daquela carta e agido como nada houvesse acontecido?

Primeiro o carro, ter ficado plantada em uma loja durante o que pareceu ser uma eternidade, um congestionamento e agora isso.

Kim não tivera muitos bons relacionamentos. Sendo franca ela nunca tivera um relacionamento que realmente dera certo. Desde o colegial. E agora estava em um ginásio cheio de adolescentes com os hormônios a flor da pele.

Jack a girou em seus braços.

— Você podia parar de encara-los por um instante.

 Ela desviou os olhos dos dois e focou as belas orbes castanhas a sua frente.

— E se algo der errado? – perguntou – Ele parecia tão nervoso no telefone mais cedo.

— Kimmy, ele já é grandinho o suficiente, ta? Não precisa de ajuda.

Kim mordeu o lábio inferior.

— Mas e se…

— Chega de “e se’s”. – ele segurou seu rosto. Sentiu suas bochechas esquentarem  ao toque do rapaz. Odiava quando aquilo acontecia, era constrangedor –Julie e Milton conseguem se entender perfeitamente bem sem que você fique analisando os dois de longe.

E ainda haviam aquelas lembranças. Seaford era cheia delas e era algo perturbador.

Após cerca de duas horas Kim se cansou. Já havia esperado, rodado todo o ginásio a procura dele. Encontrara alguns de seus antigos amigos e prometera lhes ligar no dia seguinte.

 Andou novamente pelos corredores escuros do Colégio. Se recostou em seu antigo armários e observou a parede de troféus bem a sua frente.

Ele era péssimo com o Futball. Péssimo o suficiente ao ponto de não conseguir segurar ao menos a bola de maneira correta. Um dos alunos com maior influência na Seaford, pelo menos durante seus anos lá, não tinha registro algum ali.

Ela foi a área onde ficavam as piscinas que o time de natação usava, ao campo de esportes atrás do prédio, mas não teve coragem de chegar perto da estufa. Adorava fazer parte do clube de jardinagem e passava algumas boas horas lá. 

Enquanto empurrava as portas deu cara com Garce O’Doherty, sua melhor amiga nos tempos do High School.

— Eu. Não. Creio. – ela pronunciou uma palavra por vez, pausadamente – Kimmberly? Kimmberly Crawford? É você mesma?

Kim abriu um sorriso verdadeiro. O mais verdadeiro desde de que se despedira de Derick.

— Grace… Você… Não mudou nada.

E era a mais pura verdade. Grace parecia nunca ter saído do colegial. Continuava com os mesmos cabelos castanhos em um tom de vermelho escuro e seu rosto ainda era o mesmo. Como o de uma adolescente. Ainda mais mais com aquele vestido. O mesmo que ela usara em sua ultima noite juntas.

— Vamos, Kimmy. É só a estufa. Não é como se outros alunos não estivessem em outros lugares fazendo coisas piores.

Os dois haviam saído do ginásio onde o baile estava há horas de acabar. A grande maioria das garotas já tinham seus batons borrados, os cabelos não tão perfeitos e os saltos jogados em algum canto.

Kim segurava os saltos com uma das mãos, a vestimenta danificada. Seus cabelos antes presos em uma trança enrolada ao redor da cabeça agora estavam presos em um coque frouxo bagunçado.

Seu belo vestido antes impecável agora tinha um grande rasgo na parte de trás da saia e as bordas sujas de terra, mas ela não mais se importava.

Ele a ajudou a sentar em cima de uma das mesas de madeira coberta até a metade por vasos de diversos formatos com as mais variadas flores.

— Kimmberly, eu não acredito que você esta realmente aqui! Ainda por cima vindo de Paris! – ela a puxou para um abraço apertado - Você precisa me contar tudo! Cada detalhe. Quer saber? Você, eu e as garotas, na minha casa mais tarde. Elas vieram certo? Mika e Julie? Vai ser in-crí-vel!

— Não acho que hoje seria uma boa ideia, Grace… - disse se afastando da amiga.

— Corta essa. Temos tanto assunto pra por em dia.

Ela queria dizer que não. Que precisava ir embora, que não estava bem e que nunca deveria ter ido até lá. Mas ela não conseguia. Era Grace. Quantas vezes as duas não haviam virado noites a fio conversando depois que se mudou pra longe.

— Então…

Ela não pode dizer não para o sorriso de Grace. Deixou que a amiga a arrasta-se para dentro do colégio novamente.

***

— Você ainda não o superou, não foi? – Grace apertou sua mão lhe dando um sorriso compreensivo

Kim encostou as costas em sua cadeira.

— Mas é claro que não. Eu só queria… você sabe – ela mentiu descaradamente sem se preocupar o quão falso aquilo soou.

— Você ainda o ama. – ela concluiu ignorando o suspiro de Kim. – Então nosso assunto da noite vai ser Jack Brewer. Interessante.

Seria uma longa noite.

— Vamos, pode perguntar. – o rosto de Kim foi tomado por uma expressão de dúvida e Grace logo tratou de esclarecer as coisas – Eu normalmente perguntaria sobre as roupas incríveis que você comprou em Paris e sobre os caras maravilhosos com quem você ficou, mas vou ser uma boa amiga. Vamos falar de Jack Brewer. Nunca achei que esse seria o assunto da minha primeira entrevista. Ele ficou arrasado quando você deu aquele chute na bunda dele.

Aquele não foi tipo de coisa que Kim achava correto uma amiga dizer, mas sabia que Grace não fizera por mal. O que não impediu que seu coração se partisse ao ouvir a última parte.

— Eu sei

— Então você assume ser uma destruidora de corações?

— Cale a boca, Grace

— Você o deixou arrasado. Tipo que nem um cachorrinho abandonado pelo dono que ainda mantém as esperanças de que um dia ele voltará. Sabia que ele não saiu do quarto por um dia inteiro? Nem pra comer. Mas depois que ele saiu… Ah, Kimmberly, até eu quis soca-lo e o deixado tão mal quanto você conseguiu fazer.

Ela sabia. Claro que sabia. Ela havia ido embora uma semana depois, mas não deixara Seaford pra trás. Não totalmente. Recebeu várias ligações das colegas de equipe, as Cheleardes, e mensagens de ódio. Como se toda Seaford  High tivesse decidido tomar as dores de Jack.

— Ele saiu pegando as primeiras garotas que lhe davam mole. Só aparecia no colégio quando bem queria e se formou por um milagre. Acredita que ele ainda… Ele a Donna… Argh! De dar náuseas.

— Eu soube.

Grace apertou sua mão com mais força.

— Ela é uma vadia.

— Ela é uma vadia. – Kim concordou.

— Mal acredito que a ajudei. Aquela vadia. Você lembra, não? Antes que eu a encontrasse chorando naquele maldito banheiro ela era apenas uma garotinha invisível no Ensino Médio. Fiz com que do dia pra noite ela se tornasse uma das garotas mais populares pra alguns anos depois isso vir acontecer. Não acredito que ela já foi minha amiga.

 - Não acredito que ela e o Jackson… Argh! Realmente.

Era complicado aceitar aquilo. Ele costumava ser tão doce. Não era certo.

— Mas tudo bem. Você não precisa dele. – Grace tinha um olhar de determinação – É maravilhoso não termos que compartilhar o mesmo ar que ele esta noite.

Kim a olhou surpresa novamente.

— O que quer dizer com isso?  - perguntou.

— Ah querida, ele não vai vir hoje.

Não fora por mal. Nunca era. Grace acreditava estar ajudando, mas sempre escolhia todas as palavras erradas.

Ela pode sentir a raiva crescendo dentro de si. Era importante que ela estivesse ali. Para lembra-la de não sentir culpa enquanto o matava com as próprias mãos.

— Mas só para o caso de uma mudança repentina, ele mora atualmente na Beacon com a Setenta e Quatro.

Kim duvidava bastante quanto a isso. Encontra-lo ali era uma, mas ir atrás dele era outra totalmente diferente.

— Ele pegou metade das garotas desse colégio? Sim. – ela deu início ao pior discurso motivacional de toda história com uma belo sorriso crescendo no rosto – Teve a audácia de se envolver com grande parte das garotas da Universidade da cidade? Também. Mas o que são garotas que não se valorizam se deitando com um cara extremamente gato comparado aos caras maravilhosos que você pegou em Paris?

Aquilo a fez se sentir uma vadia. Tão vadia quanto Donna.

Enquanto Grace se esforçava para saber sobre os rapazes franceses, os quais ela suspeitava que fizessem o tipo da amiga, Kim só queria saber como ele estava. Não o que ele fizera.

Ela podia estar sentindo o que fosse por ele, mas uma parte dela ainda se preocupava. Independente do que ele fizera.

— Grace, preciso que me responda. Ele tem namorada? Esta noivo, casado, ou algo assim?

Grace suspirou soltando sua mão e batendo as costas na cadeira.

— Não Kimmberly, ele não esta namorando, nem noivo ou casado.

— E filhos? Grace, ele tem filhos?

— Ãhnn… Até onde ele saiba não, mas foram tantas vai saber. – ela respondeu batucando os dedos na mesa e recebendo um olhar repreendedor da loira – Que foi? Ah Kim, eu não persigo o garoto! E já tem uns bons anos desde de que também não nos falamos.

Kim revirou os olhos.

— Tem certeza do que esta me dizendo?

— A não ser que ele tenha declarado seu eterno amor a uma das ex-namordas dele e tenha a pedido em casamento, os dois tenham ido há um daqueles casinos onde as pessoas se casam e nesse momento eles estejam… sabe… fazendo um filho.

Dia dos namorados.

Tudo era possível.

— Algum de vocês ainda mantém contato com ele? – perguntou – Jerry, Eddie, Milton? Algum deles ainda é amigo dele? Ou Rudy?

— Ah Darling, tem algumas coisas que achamos melhor que você não soubesse, mas antes de mais nada quero que fique claro que só o fizemos pro seu bem.

Mais? Ainda tinha mais?

E eu achando que o pior já tinha acontecido…

— Depois que você foi a notícia se espalhou muito rápido. Na verdade foram boatos, mas o ponto é que ele foi bem… Digamos que zoaram muito com a cara dele. – Grace explicou – Dizendo coisas como que ele não tinha pegada, que não foi homem o bastante pra você e coisas assim. Garotos, vai entender. Mas aí ele começou a falar mal de você.

A música que tocava acabou e logo o ginásio foi preenchido pelo som de Big Girls Don’t Cry.

Justo aquele música. Ela havia servido de trilha sonora para o ponto alto daquela noite há nove anos. O tema da sua catastofre. E ela ainda se encaixava perfeitamente com sua situação. Tanto a de antes quanto a de agora.

Big Girls Don’t Cry. Garotas Crescidas Não Choram.

— Mas foi pesado, acredito que a intenção dele tenha sido desviar a atenção ou mudar a percepção. Você não o rejeitou, foi ele que não te quis. Algo assim. Disse que não fez diferença alguma pra ele, que você fez papel de idiota porque ele só queria se divertir, que só aceitou de dar aquele último beijos porque os dois estavam chapados naquele final de noite.

Ouviu tudo calada. Grace havia começado e não a interromperia. Escolheu debater consigo mesma.

— Jack disse mais um monte de outras coisas, mas eu não lembro porque fazem tipo nove anos. Aí nós ficamos com raiva dele. Não, raiva não. Ódio. Sabíamos o que tinha acontecido. Foi aí que em uma das nossas passadas ao Falafel Phil’s nós começamos a gritar com ele e vice versa e do nada começou uma briga entre os quatro e mais gente se juntou. Uma pancadaria que só. Achei que alguém ia sair morto de lá.

“Valeu pela informação”, “Ah, sem problemas”. Estava na ponta da sua língua, mas não saiu. Saber que ele dissera algo assim em relação a ela doía. Doía porque nunca imaginara que algum dia Jack pudesse fazer isso com alguém. Com ela.

Porém a raiva era maior que a mágoa.

Kim levantou de sua cadeira.

— Você disse Beacon com Setenta e Quatro, certo? – perguntou.

Grace abriu sua bolsa e tirou de lá uma caneta esferográfica. Ela puxou a mão Kim e anotou algo ali.

— Um prédio de tijolos vermelhos e portas de madeira negra. Terceiro andar, apartamento número 15. – respondeu sorrindo.

A morena se levantou pegando o paleto de Jerry pendurado atras de sua cadeira.

— Não sei como pretende achar um taxi a essa hora, mas boa sorte. – ela colocou o paleto por cima dos ombros de Kim.

A loira assentiu e antes mesmo de agradecer se pôs a correr.

***

Aquela fora uma péssima ideia. Talvez uma das piores que ela já teve.

As ruas estavam cobertas pela neve. Uma camada fina, o que indicava que o limpa-neve passara a pouco. Mas ainda assim era incomodo, diria até um tanto perigoso.

Os únicos sons eram da música alta vindo do baile da Seaford e dos seus saltos batendo contra o chão.

Grace esquecera de lembra-la que eram três quarteirões até o endereço.

O paleto estava disposto como uma capa e abotoada apenas no primeiro botão. Segurava a saia do vestido com as duas mãos enquanto corria desajeitadamente. A saia de seu vestido se danificara com a corrida. Ela sabia que ficaria com raiva de si mesma daqui há algum tempo, mas não naquele.

O frio era seu maior incomodo.

Era uma ideia de louco, mas não faltava tanto e ela não voltaria pra casa sabendo que não fez o que pode.

— O que acha da UCLA? – ele perguntou depois de terem encerrado o beijo. – Fica aqui mesmo na Califónia e são tipo 213 milhas. Podíamos voltar pra cá de carro em cinco horas quando bem quisessemos.

Por que ali? Estava tudo correndo tão bem. Por que ele tinha que querer falar disso justo agora?

— Jack, eu…

— Você tem outra ideia? Me deixe adivinhar…Harvard? Yale? Stanford? Columbia? Cambridge? Princeton?...

Ela precisava dizer. Precisava contar a ele agora. Não havia mais como continuar evitando aquele assunto

— Você precisa saber de uma coisa.

Ver o sorriso de Jack vacilar fez seu coração doer.

— O que foi?

— Eu.. bem… - ela engoliu um seco. O ar parecia escapar de seus pulmões e a garganta parecia arder com o que diria – Recebi uma carta a duas semanas.

— Que carta? – ele perguntou – Algo sobre a sua família? Kim.

Era agora ou nunca.

— Uma carta da Escole de la Chambre.

— A Universidade de design de moda? – Jack perguntou e ela assentiu em resposta – Por que não me disse nada?

Respira fundo, Kim. Ela pensou.

— Eu te disse.

— Não, você comentou sobre ela. – ele disse passando as mãos pelos cabelos castanhos. Um claro sinal de nervosismo – Kim, o que você quer dizer com isso?

Kim não era nenhuma idiota. Sabia que ele já tinha noção do que ela diria a seguir, mas não queria aceitar.

E seu coração se partiu no momento em que contou a ele.

Faltava pouco. Muito pouco.

Seus cabelos loiros haviam se desprendido do coque e agora estavam soltos e salpicados pela neve. Ela pode sentir os lábios arderem de leve. A ponta dos dedos mais frias do que cogitara.

O frio que sentia era terrível. Ela teria uma crise de hipotermia mais tarde.

— Eu fui aceita.

Ele continuou a olhando esperando que contasse mais.

— Tenho notas suficiente pra me formar antes da hora.

Jack arregalou os olhos, um tanto incrédulo.

— Nós acabamos de voltar das férias. Estamos em fevereiro e o ano letivo só acaba em…

— Junho. – completou – Mas eu fiz parte da equipe de Chearleaders por quatro anos, voluntaria no hospital da cidade por meses e tenho o cargo de presidente do conselho estudantil. Tudo isso conta pontos e eu meio que fiz algumas avaliações.

 E ali estava ela.

As portas duplas de madeira negra.

Passou por elas agradecendo por não ficarem trancadas. Os pés doíam muito e ela pode ver uma ferida aqui e ali, mas optou por pegar o caminho pelas escadas. A corrida em um lugar mais abafado faria bem. Ela precisava se aquecer ao menos um pouco.

Chegou ao terceiro andar e viu ao fim do corredor o número 15 em uma plaquinha na parede ao lado da porta de mogno.  

Os dois passaram minutos em silêncio até que ele finalmente disse algo.

— Então foi por isso que passou o recesso do fim de ano a sua tia no Texas?

— Eu precisava me focar e não tinha como fazer isso aqui. Não com…

— Não comigo aqui pra te distrair dos seus objetivos.

Parou em frente a porta.

Levantou a mão em punho e aproximou a da porta pronta pra bater. Não iria embora, não agora que chegara até ali.

Sentia seu coração acelerar e as mãos tremerem. O rosto esquentava aos poucos mesmo com a baixa temperatura.

Não, não e não. Pensou ela. Não era mais uma adolescente e não se daria o direito de agir daquela forma por um rapaz novamente. Ainda mais se tratando dele.

Kim respirou fundo uma última vez e deu três batidas fortes na porta.

— E por que não me contou? – foi o estopim para Jack – Ou você nem cogitou fazer isso? Realmente estava nos seus planos me dizer ou você também pretendia esconder isso?

A voz dele ecoou pelo terreno vazio.

Não tinha dúvidas que se alguém estivesse próximo ao local poderia ouvir perfeitamente a discussão que ali se iniciara.

Ela se irritou com aquilo.

Kim errou ao ocultar a verdade dele. Assumia isso.

Mas era o futuro dela, seus sonhos. Ele mais do que ninguém deveria entende-la. Era seu melhor amigo.

— Será que da pra você parar? – elevou seu tom de voz. Odiava quando gritavam com ela – Parar com toda essa ignorância!

— Ignorância? Eu sou ignorante? Ignorante por não concordar com você escondendo coisas de mim? Nós sempre contamos tudo um para o outro, Kim.

Aquilo doeu como uma facada.

Kim era quase seu nome. Apenas Grace a chamava de Kimmberly e Derick a apelidara de Kimbs. Mas não Jack. Ela odiava ser chamada de Kimmy e ainda assim ele insistia em chama-la assim. Sempre.

— Se eu tivesse te contado que iria pra França antes teria feito alguma diferença? Você não iria surtar como esta fazendo agora mesmo?

 - Não. Eu não iria! – ele respondeu.

— Iria sim! Você não ia me apoiar nem por um segundo! – levantou-se da mesa e se pôs de pé – Ia tentar me convencer a ficar por perto porque é a sua vontade!

Apertou a terra fria com os dedos dos pés descalços.

Não era pra ser assim.

— E se quer saber eu não me importo com o que você pensa. – disparou – Eu vou embora em uma semana quer você queira ou não!

Kim já podia sentir os olhos arderem, as lágrimas logo viriam e ela não podia deixar que ele o visse chorando, afinal garotas crescidas não choram.

— E mesmo que nossa amizade termine aqui, eu seguirei em frente e espero que você faça o mesmo. – Ela lhe deu as costas se encaminhando até a porta, mas antes de sair disse algo que jamais esqueceria – Não me ligue e não me procure. Só finja que esse final nunca aconteceu.

Ouviu o barulho de trancas sendo abertas pelo lado de dentro.

A porta foi aberta.

Lá estava ele.

Os mesmos cabelos castanhos até a altura do ombro. Estava alguns centímetros mais altos do que ela se lembrava. O rosto amadurecido, mas suas principais características continuavam ali. As duas pintas, uma de cada lado do rosto, os olhos castanhos de sempre e os lábios finos.

No entanto diferente do que Kim formulara em sua mente ele não estava como ela havia imaginado. Esperava que ele estivesse com seu sorriso sarcastico, os cabelos sedosos perfeitamente penteados, os olhos com seu costumeiro traço de divertimento. Pensara que ele talvez viesse a tentar fechar a porta antes que ela tivesse a chance de dizer algo, que ele a lhe diria tamanhas ofensas ou que até fosse dizer que ela mesma não foi capaz de cumprir o que pedira a ele.

Não me ligue e não me procure.

Mas ao invés disso ele deu um salto assim que a viu. A expressão de susto logo deu lugar a confusão em sua face. Não esperava essa reação da parte dele.

Teria passado minutos se torturando mentalmente por aquilo. Se culpando por ele ter feito o que fez graças a ela. Mas não conseguiu. Não quando lembrou que ele também já era um garoto crescido.

— Você disse que não me quis! É um imbecil mentiroso de merda! Você me quis sim! Estava bem na sua testa! Também queria me beijar! Você me beijou! E só precisei virar as costas pra você dar uma de bebezão apaixonado com o coração ferido e sair dizendo que nunca me quis! Eu teria sido idiota se tivesse desistido por você! Acha que foi difícil pra você? Passei meses sem conseguir me dar a chance de seguir em frente pensando no que fiz com você! Seu…

Teria continuado com os insultos, os gritos, os gestos frenéticos com as mãos e tudo mais. Sem se importar com os vizinhos que deveriam estar atordoados com os gritos da garota aquela hora. Mas Jack a segurou pelos ombros com um tanto de força com os olhos achocolatados arregalados ainda em choque.

— Você… Kimmberly… - sua voz falhou – Kim, você ta aqui!

Kim saiu de seu aperto com certa brutalidade.

— Você não é cego e muito menos louco! – ela gritou novamente com ele sem se importar com nada. Aquilo já estava preso dentro de si a muito tempo e depois de tudo que Grace lhe contara… - Nós bebemos sim como todos que estavam lá naquela maldita noite, mas não foi o suficiente para que um de nós fizesse algo que não estivesse consciente. Eu fiz diferença pra você sim! Você não teria ficado tão indignado ou se trancado em casa por nada.

E ela continuou gritando. Sem ao menos se importar com o fato dele ainda estarem choque com sua presença ali ou com qualquer outra coisa que fosse. Disse até mesmo o que nem pretendia, coisas que nem sabia que sentia ou que ainda estavam ali.

Jack por outro lado parecia não estar dando a miníma para o que ela dizia ou para como ela aparecera ali.

 Céus! Só agora percebera o quão louca estava de ir até la. Não havia nem mesmo pensado em como estava. Com a mesma roupa que usava da última vez que se viram, porém mais “detonado” que antes. A maquiagem escura que a deixara com um toque desafiador agora deveria parecer com algo semelhante a uma caracterização de Halloween. Isso sem contar o cheiro horrível que devia estar exalando.

Seu queixo só não foi ao chão após perceber o quão louco aquilo parecia porque em um movimento de surpresa ele segurou se rosto e a beijou.

Porém antes que ele pudesse aprofunda-lo Kim o empurrou. O empurrou e desferiu um tapa em sua bochecha.

— Isso é pelas suas inúmeras mentiras! Por ter levado metade da Seaford High pra sua cam… - sua voz foi interrompida poe um soluço, sentiu seus olhos arderem com as lágrimas que logo viriam. Deu passadas longas para trás até sentir suas costas baterem contra a parede mais próxima – Você foi maduro o suficiente ao se controlar pra não acabar com o seu pai quando descobriu que ele traia sua mãe, mas teve que me fazer parecer uma oferecida desesperada de merda só porque estava machucado? Aí vai uma notícia, Jackson! Eu sofri tanto quanto você e não precisei pisar em ninguém pra isso.

Jack passou as mão por seus cabelos e recostou a cabeça na porta entreaberta de seu apartamento.

— Eu sinto muito, esta bem? Não devia ter dito aquelas coisas, mas eu era só um garoto de coração partido que não soube lidar com o fim de um namoro. Se é que o tivemos podia ser classificado dessa forma.

— Sem essa! Não se rebaixe a esse nível, Brewer, hipocrisia não é algo que combina com você. – Kim usou as costas das mãos para secar as bochechar levemente umidecidas pelas lágrimas que haviam caído sem sua permissão. – Acha que só doeu em você? Eu me culpei durante meses por ter te magoado, mas nunca, em hipótese alguma, teria feito algo assim como você. E não esperava que o fizesse comigo.

A atmosfera do corredor se tornou mais abafada com a tensão quase palpável.

— O que você queria que eu fizesse? Nada justifica ter inventado aquelas coisas, mas você teve sua parcela de culpa. – ele a acusou. Sua voz diminuía a cada palavra pronunciada e as emoções de Kim se confundiam ainda mais. – Não entendi porque você me deixou daquele jeito. Nós estávamos tendo uma noite tão boa antes que você fugisse. E em um piscar de olhos toda aquela felicidade escapou pelas minhas mãos sem que eu pudesse fazer nada.

Todas as suas emoções explodiram dentro de si novamente.

 Ele estava a culpando?

— Não venha se fazer de vitima!  Eu não fugi, só terminei o colégio mais cedo. Fui clara quanto a isso.

Jack bufou passando as mãos pelos cabelos mais um vez antes de andar com passos firmes em sua direção. Em um ato quase desesperador ele enlaçou sua fina cintura com um dos braços e dirigiu a outra mão a sua nunca, a puxando para mais um juntar de lábios com uma delicadeza que ela não não acreditou ser possível.

E todos os beijos trocados e roubados de quase uma década atrás vieram a sua mente. Tudo o que sentiu naqueles momentos, a ansiedade, nervoso, paixão e calafrios internos, estavam ali, com se todo aquele tempo em que estiveram longe um do outro fosse aos poucos apagados. Sentia como se fossem adolescentes no último ano novamente.

Eles estavam se beijando…

Estavam se beijando! Se bei-jan-do!!!

Beijando?!

Tão rápido quanto ele foi com aquele ato, ela o afastou novamente, dessa vez com mais força. Não permitiria que aquilo acontecesse, não depois dele ter posto a culpa nela por ter sido um babaca.

— Você acha que é só vir com essa sua boquinha mágica e esta tudo resolvido? Pode até funcionar com Donna, mas não comigo. Que nojo! Eu nem sei por onde essa sua boca passou!

Ele rolou as orbes castanhas da mesma forma que fazia antes.

— Você e essa mania de por a Donna entre nós…

— Não, você a pôs entre nós no momento em que mesmo alegando ter sentimentos por mim foi atrás dela! Qual de nós fugiu mesmo?

— Kim, você foi embora sem se despedir! Sem ao menos me dizer que o que tivemos significou pra você como significou pra mim! Você me deixou confuso! Que droga, Kim. Eu te amei de verdade e cheguei acreditar pra valer que você correspondia. – ele dizia cada palavra com uma sinceridade que parecia se solidificar. Kim já não o via a anos e assim como ela, ele mudara, porém seus olhos ainda mostravam que tudo era verdade. – Só que você foi embora, me deixou naquela estufa sozinho e sem conseguir conciliar nada direito. Eu precisava fazer algo quando voltei. Você não tem noção do quanto eu me arrependo pelo que fiz. Te passa pela cabeça que eu odiei cada uma das coisas que disse? Que sentia meu estômago revirar todas as vezes em que seu nome era acompanhado por aquelas coisas absurdas?

Kim o olhou estática. Estava paralisada, sem conseguir se mover ou dizer qualquer coisa.

— Merda, Kimmy! Eu estava indo bem até você aparecer aqui. Dizer essas coisas… Isso torna tudo mais real e pra mim já era passado. Eu tinha te superado! Amo você e foi uma barra me convencer do contrário.

— Você precisa repensar melhor sua definição de “indo bem”. – ela soltou um comentário sarcástico e logo depois sentiu vontade de ser estapear. Jack se declarará e aquilo era tudo que ela conseguia dizer? O comentário a seguir a fez perceber o quão idiota estava sendo – Sair se agarrando com a primeira que vê pela frente não é bem superar! Já teve mononucleoseHerpes, cárie, sífilis, gengivite? Quem sabe uma gripe suína?

— Superando ou não eu não apareci na sua porta fazendo cobranças de coisas ditas no passado.

Kim tirou o blazer de cima de seus ombros. Sentia a ponta dos dedos gelarem e o frio percorrer seu corpo inteiro ao mesmo tempo em que sentia um calor febril vindo de dentro.

— Coisas ditas sobre mim!

— Há dez anos! – ele berrou – Você chorou achando que seu cachorro ia se afogar e eu não te julguei por isso, nunca!

— Nove anos!

— Um ano não faz diferença alguma!

As lágrimas voltaram com maior intensidade, caindo sem permissão. A diferença era que agora ela deixava que suas bochechas fossem banhadas sem impedir. Chorou como não fazia a tempos.

— Faz diferença pra mim!

No fim de tudo a culpa fora dela. Ela havia o magoado e nem mesmo teve coragem de pedir desculpas, esclarecer as coisas ou se despedir. Fez com que seus amigos e sua família não contassem onde ela estava e caso acabassem sedendo que dissessem que ela alugara um apartamento próximo ao Campus. Ocultou que ficaria em um dos alojamentos da Universidade. Percebeu quão estúpida fora ao ir até ali cobrar explicações.

Ele disse coisas horríveis sim, mesmo que não fossem verdade. O que não a tornava uma pessoa melhor. Ele cometera erros, mas não teria os feito se ela não houvesse agido como uma menininha. Teve tanto medo de olhar para ele, chorava só de imaginar tentar. Assim como quando ele salvara seu cachorro.

Agora se sentia uma pessoa horrível. Fez com que Jack se tornasse o antagonista de sua história de vida quando na verdade fora ela mesma que causara tudo a si. Mas ela ainda era orgulhosa por mais que a machucasse. Não aceitava ser taxada de idiota nunca, então acabava por apontar pequenas falhas e detalhes estupidos como aqueles.

O que ela estava fazendo a si mesma?

Ela espirrou. Três vezes seguidas.

Jack se aproximou cautelosamente como se com um movimento mais precipitado fosse fazer com que ela fugisse.

— Kimmy, eu sei que esta com raiva e que você deve me odiar muito, mas não estou disposto a ver você ter um ataque de pneumonia na minha frente. – Ele afagou seu braço esquerdo coberto pela fina manga do tecido enfeitado com pedras brilhantes. Seu tom de voz era doce, tão doce como quanto o que ele usara enquanto a acalmava após a morte de seu cachorro alguns meses antes da formatura. – Você é a garota mais louca que já conheci e sei que não exitaria em me bater agora mesma e ir embora. Eu sinto muito por tudo, mesmo, peço desculpas. Mas você pode por favor engolir só um pouco do seu orgulho e entrar pra se aquecer? Eu prometo não reclamar dos seus sermões ou contar mentiras. Pelo Código Wasabi, lembra?

Ela imaginara diversas vezes o reencontro dos dois, mas de longe nada se aproximara daquilo.

Com um sorriso sincero ela o deixou acompanha-la pra dentro naquela fria noite de fevereiro.

 

I hate you, don't leave me

I hate you, please love me


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Notas finais do capítulo

Espero profundamente que vocês tenham gostado!
Particularmente eu estou bem ansiosa com essa One e muito feliz por ter conseguido conclui-la da maneira que queria.
Por mais que eu fosse amar desenvolver toda uma história por cima dessa One, infelizmente não há como.
Um avisinho pra quem lê minhas outras duas fanfics: Não abandonei. Metade dos capítulos já estão escritos.

Então gostaram?
Favoritem e recomendem!
Sejam educados e deem um oi para a autora