Nas vastas ruas movimentadas de Tokyo, em um dia aparentemente comum. Muitas pessoas caminhando de cá a lá. Turistas, moradores, trabalhadores e entre muitíssimos outros. O jovem de cabelos albinos caminhava cabisbaixo e silencioso.

Ele parecia bem abatido com algo, pois andava calmamente e com a cabeça baixa. Seus olhos continham olheiras profundas de noites mal dormidas e a mais pura tristeza presente em sua íris negra e profunda, que estava muito radiante lubrificada.

Este jovem é Kaneki Ken, um garoto que convive com um grande problema peculiar. É um ghoul, porém também é humano. Como? Em seu passado sofreu um acidente por confiar em um ghoul feminino, ela quase o matou nesse incidente, porém uma grande quantia de entulho os soterrou em seguida.

Algumas viaturas encontraram seus corpos e assim fizeram um transplante de órgãos, pois a ghoul estava morta e Kaneki quase morrera. Assim tornou-se um humano ghoul, um dos únicos que compreenderia os dois lados de uma vida obscura e traiçoeira.

Entretanto, vamos focar na situação atual. O que poderia ter ocorrido para que a vida do jovem parecer ainda mais sombria e cruel? Ele já era solitário, confuso e antissocial. O que poderia faltar para fazê-lo se sentir destruído?

As pessoas ao seu redor não lhe davam a mínima importância, alguns até mesmo o encaravam com reprovação e cheios de críticas e julgamentos desnecessários. O estresse entre os seres humanos é realmente indecifrável.

Kaneki chegou a uma livraria e parou à sua frente. Estava com um livro em mãos e adentrou o local cuidadosamente, devolveu o livro alugado e rumou em busca de outros. Infelizmente ele não encontrou nem sequer um livro de romance – A categoria literária que mais o agradava.

Saiu do local quão decepcionado e arrastando os pés ao solo ligeiramente, continuou rumando perdidamente pelas ruas sem um verdadeiro rumo decidido. Caminhava olhando os próprios pés e atento para não tropeçar, não encarava ninguém e preferia não trocar olhares com conhecidos ou desconhecidos.

—Hide – Murmurou inauditamente o nome de seu amigo.

Sim, Hide havia morrido há uma semana e Kaneki estava presente quando o incidente ocorreu. Ele era o único melhor amigo dele e ambos praticamente dependiam um do outro. Sempre que ele pensava no amigo, seu coração doía e ele não conseguia conter flashbacks e déjà vus sobre sua infância e amizade.

Hide foi quem chegou até Kaneki na escola em que ambos estudavam e perguntou-lhe se queria ser seu amigo. Como o moreno não tinha amigos, ele aceitou desconfiadamente na hora.

Juntos eles compartilhavam de tudo, até mesmo sobre o fato do Ken morar sozinho desde a infância e sustentar a casa por ter perdido seus pais muito cedo. Hide o ajudava com tudo que podia ao máximo. A conexão que ambos compartilhavam chegava a ser suspeita.

Kaneki suspirou fundo assim que chegou à porta de sua casa. Girou a chave e adentrou o local desanimado, guardou seu fardo de coisas em cima de uma cadeira. Enquanto rumava à sala para procurar algo para assistir e matar algumas horas, sua campainha tocou.

Quem poderia ser? Se fosse Touka ela obviamente já teria batido na porta ou invadido a casa em revolta. Portanto ele ficou um tanto incrédulo e desconfiado. Rumou até a porta rapidamente e a abriu.

—Você é Kaneki Ken? – Perguntou um entregador, que possuía uma pequena caixa em mãos.

—Sou sim – Informou rapidamente e completamente desconfiado.

—Então o senhor conhecia o Hideyoshi Nagachika Correto? – Kaneki assentiu, tentando disfarçar a melancolia. O entregador lhe entregou a caixa, acenou e saiu do local.

Ele fechou a porta e retornou até a sala e se sentou com a caixa sob o colo. Estudou-a e observou que havia uma pequena carta acima. Pegou-a e começou a ler o seu conteúdo.

De: Hide

Para: Kaneki

Olá!
Caso você esteja lendo esta mensagem, obviamente eu morri, me desculpe por isso. Antes que você abra a caixa que lhe entregaram, é necessário que você possua os seguintes itens e precauções:

—O seu velho vídeo cassete

—Um martelo

—Paciência

—Força – Pois não te quero ver chorando, seu bebezão.

—Um grande sorriso no rosto!

Espero que goste do presente,

Com amor de seu amigo

Hide.

Kaneki sorriu brevemente com os comentários idiotas do amigo. Buscou um martelo e conferiu se o vídeo cassete estava configurado. Tudo estava do jeito que o loiro havia pedido.

Abriu a caixa e encontrou uma caixa menor adentro, de madeira e com um cadeado. Quebrou o cadeado com o martelo e encontrou dois itens: Uma fita de vídeo e um caderno de anotações em que Hide anotava de tudo.

Ele colocou cautelosamente a fita no aparelho eletrônico e um vídeo começou a ser reproduzido em sua televisão. Hide estava configurando a câmera para focar em si e sentou-se em uma cadeira enquanto mexia em um objeto que aparentava ser um cubo mágico.

—Olá amigão! – Exclamou o loiro sorridente e aparentemente muito feliz – Fico feliz que minha mensagem esteja sendo entregue para você agora. Antes de qualquer coisa, digo que já sei de tudo!

O coração de Kaneki parou por breves segundos e ele congelou.

—Sei que você é metade ghoul, e dai? – Hide deu de ombros – Confesso que fiquei um pouco chateado quando você teve de se afastar de mim, mas o que eu posso fazer se sou tão apetitoso?

Hide começou a gargalhar constrangido com o próprio comentário, pegou um copo de agua e acalmou-se para retomar a fala.

—Me desculpe pelo comentário, juro que não acontecerá novamente – ele piscou – Bem, como você já deve saber, se você recebeu essa caixa, obviamente eu já estou morto.

Kaneki assentiu em para o aparelho, concordando com o Hide do passado e aguardando para ver aonde ele queria chegar. Afinal, o loiro era e sempre fora imprevisível.

—Bem, eu só queria te confessar o verdadeiro por que de eu querer ser seu amigo..

O moreno congelou e engoliu em seco. Estava obviamente com medo da resposta do Hide do passado, podia ser qualquer coisa.

—Cara, eu vou ser sincero com você. Eu sempre gostei de você, desde a primeira vez que lhe vi. Quanto mais amigos nós nos tornamos, eu descobri que, na verdade eu realmente amo você.

Kaneki ficou boquiaberto e seus olhos marejaram descontroladamente. O Hide do passado ficou levemente ruborizado e seus olhos estavam bastante dilatados, como se estivesse prestes a chorar.

—É Kaneki, eu te amo. EU TE AMO! – Levantou-se e saiu do local, depois retornou com um pequeno boneco parecidíssimo com Kaneki, ele estava abraçando-o – Kaneki, eu te amo. Arrependo-me muito de nunca ter confessado, me desculpe.

Hide desligou a câmera e o vídeo mudou. Logo apareceram várias apresentações de slides feitos com fotos e curtos vídeos humorísticos em que os amigos se divertiam.

Kaneki começou a chorar descontroladamente e ficou completamente sem chão, não sabia mais o que poderia fazer para controlar seus sentimentos. Sentia que estava prestes a desmaiar de cansaço causado pelas insônias da saudade.

—Hide, eu também te amo – Murmurou o moreno em meio aos soluços – Eu sempre te amei. Desculpe-me, me desculpe!

Ele não sabia se era correto gostar de homens, mas pouco se importou com isso.

Após muito tempo se afogando em pensamentos e lágrimas, Kaneki pegou a fita que estava em seu aparelho de vídeo cassete e guardou-a em sua caixinha protetora. Pegou o caderno de anotações de Hide e começou a folhear com atenção.

O caderno possuía quinhentas paginas e estavam todas completamente preenchidas. Possuía reflexões, poemas, anotações, confissões e muitos outros para apenas um pequeno caderno.

Kaneki escutou várias batidas impacientes na porta, decidiu que deveria abrir antes que Touka quebrasse sua porta e não queria ter de ficar com uma porta quebrada.

—Kaneki! Seu idiota – Cumprimentou a morena.

Mesmo que ela tenha percebido que ele estava chorando, ignorou a etapa de fazer perguntas e pegou-o pelo braço e o arrastou.

—T-touka! Espere um pouco! – Suplicou Kaneki, porém Touka o ignorou e continuou puxando o pobre garoto rua a fora, até pararem em um beco claro.

Touka o soltou e ficou encarando-o com os braços cruzados, Kaneki ficou confuso e não fazia ideia do que a morena tramava, será que só queria xinga-lo até a morte?

 -Touka, o que você quer? – Perguntou ele, agora estava irritado.

—Apenas saber o que está acontecendo com você! – Exclamou irada – Kaneki, você está estranho desde que fomos salva-lo de Jason. E ainda mais depois que o loiro morreu, será que pode me explicar?!

A expressão de Kaneki voltou a ser chorosa. Ele abaixou a cabeça e começou a explicar para Touka a confusão de sentimentos que sentira assim que passou pelas diversas torturas feitas por Jason. O amor por Hide e tudo que ele havia lhe deixado.

Touka fechou os punhos em aparentemente ódio. Mas para a surpresa de Kaneki, ela o abraçara.

—Agora compreendo, me desculpe em ser tão dura consigo. Mas por parte você mereceu!

Ambos ficaram por um tempo ali. Kaneki não possuía mais Hide em sua vida, entretanto sabia que possuía Touka em sua vida. Ela podia ser dura consigo diversas vezes, mas isso era para o seu bem, pois ela era sua amiga.

—Kaneki, vamos? – Convidou ela e ele obviamente aceitou.

Eles saíram e iriam para o apartamento de Touka, conversaria com Hinami e enfim poderia ter um pouco de paz que lhe faltava há tempos. Será que enfim ele conseguiria conseguir paz?