Soltei minha mão da dele, e de repente a musica me fugiu dos ouvidos, estática mirei a entrada, havia dado de cara com a única pessoa que acreditei não ver mais naquela noite.

Cebola se destacou em meio a escuridão, com as mãos no bolso e um pacote em baixo do braço. Minha felicidade que segundos atrás transbordava, agora deu lugar a um coração disparado, e uma ansiedade que agoniava.

— Monica... Eu não podia deixar de te ver, antes de você ir embora... – Ele comentou baixo, mas pude sentir.

Não esperei mais nenhuma palavra, apenas corri em encontro com ele para abraçá-lo.

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— Eu sinto tanto a sua falta – Ele tornou a falar me fazendo chorar, novamente borrando sua camiseta agora branca, de maquiagem.

O Soltei limpando as lágrimas e observei seu rosto, mirei seus olhos mais uma vez, e pude ter a certeza de que o mesmo sentimento permanecia ali, intacto. Tanto nele, quanto em mim.

— E ai mano, achei que nem vinha – Titi chegou o cumprimentando, mas imediatamente percebeu o clima pesado que se instalava no local – Er... – Coçou a cabeça - Não é melhor irem conversar em outro lugar?

Eu apenas abaixei a cabeça e segui para fora, caminhando até um banco nos arredores do salão, longe do som animado do local. A madrugada fria caia noite adentro, e um vento gelado perambulava o ambiente externo, agradeci mentalmente por ter escolhido o vestido de manga comprida. Senti o Cebola me seguindo, mas não tive coragem de olhar para trás, eu sabia que o Fabinho nos acompanhava e explicar isso para ele, era a última coisa que eu queria naquele momento. Não precisávamos de mais um coração machucado por ali.

— Por que veio? – Perguntei de braços cruzados tentando me esquentar.

— Eu não ia vir, mas quando soube que não vai passar o natal nem o ano novo por aqui, e logo após a virada de ano já vai se mudar de vez, eu não pude conter, precisava te ver novamente antes disso – Me respondeu claramente chateado.

Nesse momento tornei a abaixar a cabeça, ele sempre conseguia ler meus sentimentos através do meu olhar.

— Eu achei que não queria mais me ver – Respondi pausadamente girando o anel em meu dedo.

— Jamais quis isso Monica, foi muito difícil para mim, passar por tudo que aconteceu – Contou levantando minha cabeça com as mãos. – Te ver todos os dias e não poder simplesmente te abraçar.

Encarei firmemente seus olhos novamente e me coloquei de pé um pouco confusa.

— É... Eu sei, pra mim também. Você foi... Meu primeiro amor – Contei em forma de sussurro, como se procurasse coragem para contar um segredo.

— Eu... Fui? Não sou mais? – Me perguntou se aproximando consideravelmente.

— É complicado – Respondi sentindo seu perfume mais perto.

— Que saudade desse seu cheiro doce – Ele balbuciou a centímetros de mim.

Eu sabia que deveria ter recuado, mas não conseguia negar o que meu coração queria com tanta força, permaneci ali, como uma princesa adormecida esperando para ser beijada, fechei meus olhos calmamente, senti suas mãos entrelaçando meus cabelos, instantaneamente todos os poros do meu corpo se arrepiaram, e segundos depois seus lábios encontrando vorazmente os meus.

Passei meus braços pelos seus ombros, ele rapidamente me virou encostando minhas costas na parede e tornando a me beijar. Pouco a pouco minha respiração foi ficando entre cortada, e minutos depois nossos lábios foram se separando.

Ele permaneceu segurando meu rosto e me olhando ofegante, como se não acreditasse no que tinha acabado de fazer.

— Eu... Nós não devíamos ter feito isso – Falei o afastando um pouco enquanto arrumava freneticamente o meu penteado.

— Não consegui evitar – Me respondeu pegando o pacotinho que antes segurava nas mãos, mas com o beijo havia caído no chão.

— Eu vou me mudar Ce, são 4 anos de muitos kilometros de distancia daqui, e você é o melhor amigo do meu irmão, e um professor – Lembrei levando minha mão a boca para arrumar meu batom agora totalmente borrado.

— Eu... Eu sei, eu nem devia ter vindo, não quero te confundir ainda mais... – Passou as mãos sobre a cabeça, um tanto quanto agoniado - Por mais que eu seja mais velho Monica, quando se trata de você eu pareço uma criança, fico sem saber como agir... Perco a noção das coisas, e sempre acabo deixando o coração falar mais alto... – Comentou andando de um lado para o outro.

Permaneci quieta respirando fundo e segurando todo e qualquer vestígio de choro que pudesse aparecer naquele momento.

— Eu te amo, e eu precisava que soubesse disso antes de ir, antes de achar que te esqueci ou que o que passamos juntos foi em vão – Ele concluiu parando novamente em minha frente.

— Mas eu não acho nada disso Ce... Eu também te amo muito... Sei que fiz tudo errado, só queria ter conseguido conc... – Tornei a falar, mas ele me cortou.

— Não, não se culpe, isso já passou... – Segurou uma de minhas mãos - Eu tive que escolher no começo e agora eu me encontro tendo que escolher novamente – Comentou com lágrimas nos olhos, nunca tinha o visto daquele jeito.

— Como assim... Escolher? – Perguntei sentindo um medo repentino percorrer meu corpo.

— No começo, quando soube de tudo, eu me vi perdido, entre esquecer e lutar por nós, ou seguir em frente sem nos prejudicar de forma alguma, tanto você nos estudos, quanto eu nas leis. Resolvi então te esperar, agüentar firme, te deixando livre, se permanecesse solteira até o final do ano, eu iria te procurar, mas se por acaso você encontrasse alguém, deixaria você ser feliz e observaria de longe sem atrapalhar, afinal você merece isso. Mas de repente, não envolvia mais somente nos dois, envolvia sonhos, carreiras, realizações, de ambos. Envolvia cumplicidade, empatia e humildade. Reconhecer que não era o nosso momento antes, e ainda não é o nosso momento agora. – Respondeu limpando a lágrima que escorria sorrateiramente pelo seu rosto.

— ... – Tentei abrir a boca, mas sem forças tornei a fecha - lá.

— Vai ser feliz Mo, você é uma pessoa incrível, tem a vida toda pela frente, a faculdade é momento especial em nossa vida, descubra coisas, aproveite, se conheça, e quem sabe um dia, a gente se encontre novamente – Ele concluiu me dando um beijo na testa – Eu te amo, pra sempre.

Observei em silencio, ele me entregar um pacote de presente, olhar mais alguns segundos dentro dos meus olhos e em seguida ir embora por entre a escuridão com as mãos no bolso, sem voltar atrás.

— Você estragou tudo.... – Chorei descontroladamente o vendo cada vez mais longe, eu sabia que ele não mais me escutava – Estragou tudo.... – Passei a mão sobre o rosto – Estragou tudo... – Essa ultima frase saiu em forma de sussurro, mais pra mim do que para qualquer outra pessoa. Sentei no chão, abracei os joelhos e permaneci ali chorando enquanto olhava para o embrulho recém entregue, analisei mais um pouco e percebi que dentro havia uma carta, a peguei na mão e passei o dedo delicadamente sobre o nome escrito do lado de fora, com aquela letra que por algumas aulas pude observar na lousa.

— Eu te amo Cebola... Pra sempre – Conclui abaixando a cabeça por entre os joelhos.