A Assassina e o Alquimista escrita por Lilás


Capítulo 40
À prova de morte


Notas iniciais do capítulo

Por que eu não consigo escrever capítulos pequenos?
Consegui voltar antes do previsto com um presente de Natal antecipado!! Capítulo novo!!
Bom, eu não lembro as maluquices que escrevi, então vocês me dizem depois quais coisas absurdas eu escrevi dessa vez.
Estava pensando por esses dias que, talvez, muitas pessoas que poderiam gostar dessa história, não leem porque sou uma garota. Eu falo isso porque isso já aconteceu várias vezes comigo quando eu desenhava histórias em quadrinhos.
Um colega chegou a me confessar que, ao olhar para mim, pensou que eu desenhava só coisas fofinhas e se surpreendeu quando foi ler uma história minha e tinha uma cena de assassinato na primeira página.
Esqueçam as besteiras que eu falo. Vamos logo para o capítulo.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/695826/chapter/40

— Esse cara é completamente maluco!! – Leone gritava e gargalhava enquanto voava no ar, após ser repelida por um gigantesco bloco de pedra que brotou do chão.

Logo abaixo, Alphonse se desviava freneticamente dos golpes de Tatsumi, usando a arma suplementar da Incursio, e de Susanoo ao mesmo tempo, com o auxílio de duas espadas transmutadas. Lutando daquela forma, ele estava mais parecendo seu irmão, Edward. Seus movimentos estavam bem mais rápidos e violentos, talvez porque estava com raiva de estar preso naquele recanto de loucos, sendo que Leone era a diretora do hospício.

Najenda havia pedido para o novo integrante demonstrar suas habilidades e Alphonse escolhera lutar com os dois com quem ele tinha menos antipatia no grupo. Leone acabou se metendo no meio dos três, mas era constantemente afastada por alguma barreira de pedra, surgindo miraculosamente na sua frente todas as vezes em que ela tentava alguma coisa.

— Estou impressionada. Apesar do tamanho, ele é rápido – Najenda coçava o queixo, observando os movimentos do rapaz – Tem certeza que ele é médico?

Ao seu lado, Akame apenas assentiu com a cabeça.

— Vai ver ele é médico de guerra – Lubbock se espreguiçava – Ei! – ele acenou para os três lutadores – Vocês vão ficar aí? É hora da boia, macacada!!

— É uma boa ideia – Tatsumi desfez a forma de armadura e alongou os braços – Eu estou todo acabado e faminto.

Alphonse abaixou as duas espadas enquanto Susanoo andava tranquilamente na direção da casa.

— Cara, foi muito bom!! – Lubbock foi cumprimentar Alphonse, dando uma pancada dolorosa em seu braço. Alphonse devolveu o gesto com um olhar que assustaria até um fantasma.

— Só fico curioso com uma coisa – Tatsumi caminhava ao lado de Alphonse – É verdade mesmo que você não precisa de uma Teigu e nem de nada para fazer tudo isso?

— Não – Alphonse abanou a cabeça – Não preciso.

— Melhor ainda – Lubbock ergueu o polegar – Não precisamos nos preocupar em arranjar uma Teigu para você. Você poderia até participar das missões com a gente.

— Seria bom ter você no time – Tatsumi deu um sorriso amigável para o novato.

— Mas eu nunca poderia participar do mesmo grupo de vocês – Alphonse tirou a mão de Lubbock de cima de seu braço.

— E por que não? – Tatsumi enrugou a testa.

— Por uma razão simples – Alphonse olhava para o chão, sério – Eu nunca matei ninguém.

Tatsumi e Lubbock pararam imediatamente de andar e arregalaram os olhos.

— Como assim “nunca matou ninguém”? – Lubbock gaguejou.

— Nunca matando – Alphonse encolheu os ombros, aborrecido por ter de responder uma pergunta tão boba.

— E você nunca sentiu vontade de matar alguém? – Tatsumi o puxou pela manga da camisa.

— Não – Alphonse abanou a mão como se estivesse espantando uma mosca.

— Nem quando comem a sobremesa que você guardou para comer depois? – Lubbock insistiu.

— Principalmente, por um motivo tão fútil – respondeu, rispidamente.

— Nem quando você precisa vingar a morte de um amigo? – Tatsumi franziu a testa.

— Não é suficiente – Alphonse suspirou.

— Está bem, senhor “eu-não-mato-em-nenhuma-circunstância” – Lubbock cobriu o rosto com uma mão e cochichou para Alphonse – E se eu dissesse que estou indo espiar a Akame-chan durante o banho?

Alphonse olhou para Lubbock com a mesma expressão de um predador selvagem prestes a estraçalhar sua presa, sem nenhuma piedade.

— É essa intenção assassina que eu queria ver – Lubbock riu, apontando para ele – Relaxa, cara – ele suspendeu as mãos em sinal de rendição – Eu não sou doido de fazer isso. Akame me mataria de tanta pancada. Aquela mulher tem olhos nas costas. Chega a ser assustador, às vezes. E também porque a gente já reparou que você gosta dela, não é? Por que você acha que te chamamos de “Pet da Akame”?

— Ah, é por causa disso? – Tatsumi parecia surpreso.

— Sempre o último a saber – Lubbock suspirou – Agora – ele apontou para Alphonse – você sabe que, se magoar a Akame-chan, você está completamente ferrado, não é? Se ela não te matar, nós mesmos iremos fazer isso.

Alphonse não se intimidou com a ameaça, porém não teve tempo de responder. Na verdade, ele teve uma repentina falta de ar quando sentiu alguma coisa pular nas suas costas.

— Aiô, silver!! – Leone gritou, pendurada no pescoço de Alphonse – Me leva para dentro de cavalinho, bichinho de estimação. Estou tão cansadinha...

— Sai de cima de mim, sua doida! – Alphonse se sacudiu, tentando derrubá-la.

— Todo mundo carrega a Leone nas costas nos primeiros dias, novato – Lubbock ria, atrás dos dois – Vai se acostumando.

— Sério? – Tatsumi coçou a nuca e acompanhou os três que se dirigiam para a base da Night Raid – Não me lembro de ter carregado a onee-san nas costas...

***************************

Depois do almoço, Najenda separou um grupo para uma missão especial. Ela recrutou Leone, Mine, Suzanoo e Akame para acompanhá-la em um trabalho naquela noite. Chelsea faria o reconhecimento de uma área próxima à Capital e os membros restantes, incluindo Alphonse, ficariam na base. Logo após o anúncio, Akame pediu para falar em particular com Alphonse.

— Lembrei de algo que você disse – ela tirou uma pedrinha do bolso – Seu irmão mandou entregar isso para você – e colocou a pedra na palma da mão de Alphonse.

— O Ed me mandou uma pedra filosofal? – Alphonse enrugou a testa, incrédulo.

— Para ser usada em caso de necessidade – Akame fechou a mão de Alphonse ao redor da pedra – Olhe, enquanto eu estiver fora, não faça nada imprudente.

— Por que acha que eu faria? – ele a encarou, mas ela não respondeu – O que você quis dizer com “escolheu me salvar”?

— Nada de mais – Akame encolheu os ombros – Falei por falar.

— Você é uma péssima mentirosa – Alphonse riu pelo nariz, olhando para a mão com a pedra.

— Não estou mentindo.

— Claro que não. E eu sou um idiota quando finjo que acredito nas suas mentiras – Alphonse balançou a cabeça, sem elevar a voz – Como a sua mentira de que deveríamos ficar aqui com seus amigos. “Se envolver demais com os problemas dessa realidade é a maneira mais rápida de se esquecer de onde veio”, não?

— É diferente – Akame revirou os olhos.

— Diferente no quê? – levantou uma sobrancelha – Ah, sim. Diferente porque estamos convivendo com esses seus amigos assassinos.

— Eu também sou uma assassina – ela estreitou os olhos.

— Mas você não é como eles – Alphonse parecia estar procurado as palavras certas – Eles são todos loucos e inconvenientes. Não consigo acreditar que você viveu tanto tempo com esse tipo de gente. Você é delicada e... gentil... Não é como eles...

— Sou delicada e gentil quando mato alguém? – Akame perguntou, séria.

— Não foi isso que eu quis dizer...

— Eles foram minha única família por durante muito tempo – Akame o interrompeu com uma voz contida – Devo lembrar que, quando você os ofende, é uma ofensa direta a mim?

Alphonse a encarou por alguns segundos, sem saber qual resposta falar.

— Sua família, é?– Alphonse suspirou pesadamente enquanto Akame virava o rosto para o outro lado – Entendi. Parece que existe um oceano entre nós dois. Bom, se for preciso, eu atravesso esse oceano a nado – e se inclinou para beijar discretamente a bochecha de Akame antes de sair.

***************************

Correndo rapidamente entre os telhados das casas de uma favela, Akame e Leone se dirigiam ao centro da cidade com as respirações descompassadas. Segundo Leone, aquele era o caminho mais mal vigiado da cidade e, portanto, o mais seguro para elas. Porém, precisavam passar rápido por ali porque não saberiam dizer qual dentre aqueles milhares de telhados estaria tão apodrecido para não suportar nem mesmo o peso de uma pena. Akame olhou para cima e viu o céu carregado. A temperatura havia caído drasticamente à medida que elas se aproximavam do centro e Akame conseguia até ver sua respiração subir em espirais de vapor.

Leone parecia conhecer bem o caminho e não demorou nada para ela conseguir achar um bom lugar para descansar e ter uma vista mais ampla da cidade. As duas escalaram um velho reservatório de água e se posicionaram no topo da torre. Vários pontos luminosos espalhados pelo chão indicavam as casas da Capital. Era possível até mesmo ver o Palácio do Imperador, mas o cenário estava um pouco diferente do que Akame se lembrava.

— Eu disse para você trazer um casaco extra – Leone olhou de esguelha para o casaco negro de Akame e que, agora, lhe parecia extremamente fino – Ela consegue até derrubar a temperatura...

Ao longe, o Palácio do Imperador erguia-se com imponência. A construção brilhava como gelo e era cercada por algumas poucas casas grandes. Um pouco mais afastado do castelo e ao redor, um conjunto de casinhas miseráveis predominava nas ruas da Capital. O abandono e o descaso eram evidentes e não se via nem uma única alma viva pelas ruas.

— Toque de recolher – Leone estava adivinhando seus pensamentos – As coisas pioraram muito desde que o Bulat e a Sheele foram mortos... – e a voz de Leone sumiu aos poucos.

Akame engoliu em seco. A situação estava muito pior do que ela imaginava.

— Estou preocupada com você, Akame – Leone voltou a falar depois de um bom tempo em silêncio – Está mais silenciosa que o normal.

— Não é nada – e pulou para longe, antes que Leone estendesse mais a conversa – Vamos logo terminar com isso. Estou congelando.

***************************

Alphonse preferiu ficar sozinho do lado de fora da base da Night Raid. A noite estava bonita e ele se sentia sufocado dentro do esconderijo. Ele observava a Lua, em pé e com as mãos no bolso, enquanto pensava. Apenas ele, Lubbock e Tatsumi ficaram guardando o lugar enquanto todos os outros saíram em missão. Pelo menos, aquela doida da Leone também saiu junto com eles. Teria algumas horas de paz.

— Sabia que estaria por aqui – Alphonse olhou por cima dos ombros e encarou o rosto sorridente de Tatsumi – Não vai querer comer alguma coisa?

— Não estou com fome – Alphonse deu de ombros.

Tatsumi se aproximou e parou ao lado de Alphonse.

— Não tivemos chance de conversarmos direito – Tatsumi sorriu – Eu percebi que você ficou meio deslocado, Aru-san. Posso chamá-lo assim?

Alphonse encolheu os ombros novamente.

— Eu também tive dificuldades para me adaptar no início – Tatsumi continuou – Depois de você, eu sou o mais novo daqui.

— Você também está aqui há pouco tempo? Hum – Alphonse fez uma pequena pausa – o que acha dela?

— Dela quem? – Tatsumi ergueu uma sobrancelha.

— A Leone – Alphonse bagunçou os próprios cabelos.

— A onee-san é bem divertida e otimista – Tatsumi abriu um largo sorriso – Ela e a Akame são muito amigas.

— Infelizmente, eu percebi isso – Alphonse bufou, contrariado – Mas não acha que ela exagera nas brincadeiras?

— Está falando do esconde-espanca?

Essa era uma das brincadeiras inventadas por Leone. Era assim, Leone contava até um número qualquer e depois procurava onde se esconderam os outros, no caso, Tatsumi, Lubbock ou Alphonse. Se ela achasse qualquer um deles, poderia quebrá-los na porrada e perdia quem demonstrasse que estava sentindo dor.

— Isso também – uma nuvem negra pairava sobre a cabeça de Alphonse por causa da lembrança. Tatsumi também estava tendo calafrios por se lembrar disso – Mas tem... outras coisas...

— Ah, entendi – Tatsumi deu um meio sorriso – Ela te molestou, não foi?

— Ah!! Você também?! – Alphonse se sobressaltou e gesticulou nervosamente – Ela apareceu do nada na minha frente, perguntando “quer ver uma coisa?” e, quando eu vi, ela estava com os peitos na minha cara. E eu juro que não tive culpa de nada!!

— Acredito em você – Tatsumi assentiu com a cabeça.

— E quando eu afastei ela – Alphonse continuou – Ela perguntou se eu não gostava de mulheres e eu disse que gostava, sim, mas de uma em especial. E sabe o que ela me disse?

— Posso imaginar – Tatsumi cruzou os braços com a sombra de um sorriso no rosto.

— Ela virou para mim com a cara mais cínica desse mundo e disse “Akame não é ciumenta” – Alphonse amarrou a cara – Ela estava claramente bêbada!

— É o jeito dela – Tatsumi sorriu – Ela é um pouco... extravagante...

— Extravagante o caramba – Alphonse se irritou – Ela faz isso porque deixam!

— A onee-san é assim mesmo. Não precisa se preocupar muito porque, depois, ela cansa – Tatsumi sorriu amarelo – E a Akame não vai brigar com você por causa de algo que a Leone fez. Ela sabe como a onee-san é.

— Talvez, você tenha razão – Alphonse coçou a parte de trás da cabeça – E eu acabei discutindo com Akame de qualquer forma... Não por causa da Leone.

— E por causa de quê? – Tatsumi se virou para ele.

— Porque eu nunca sei o que ela está pensando – Alphonse suspirou – Talvez, eu esteja sendo egoísta. Sabe, Tatsumi, antes de virmos para cá, eu e Akame estávamos na casa da minha família. Ela e meu irmão não se deram muito bem.

— É mesmo, Aru-san? Não fazia ideia – Tatsumi cutucou o próprio queixo, pensativo – Mas, se você é estrangeiro, como vocês estavam na casa da sua família?

— Eu disse casa da minha família?! – Alphonse gaguejou. Talvez, dessa vez, ele tenha falado demais – Não... eu quis dizer... Minha família se mudou para cá tem alguns anos. É. É isso.

— Ah, bom – Tatsumi parecia não ter desconfiado do excesso de nervosismo de Alphonse – E você estava dizendo que a Akame e seu irmão não se deram bem...

— Isso. Meu irmão pode ser muito irritante, às vezes, mas Akame não reclamou dele comigo nem uma única vez. Sinto-me mal porque eu deveria ser mais paciente, assim como ela. Afinal, vocês foram a única família dela por um bom tempo – e suspirou profundamente – Bom, eu não falei nada sobre a Leone porque sei que elas são como irmãs.

— Pois é – Tatsumi confirmou – Ela e a onee-san se conhecem há muito tempo. Nem sei quanto.

— Droga. Eu preciso pensar em alguma coisa para me desculpar – Alphonse hesitou por alguns minutos antes de perguntar – Você... você sabe alguma coisa sobre a irmã da Akame, Tatsumi? A irmã dela de verdade.

— Você sabe que ela tem uma irmã, é?

— Uma irmã caçula chamada Kurome – Alphonse confirmou com a cabeça – Ela me disse.

— A onee-san me contou que a irmã dela se aliou aos Jaegers, um esquadrão especial da Polícia do Império – Tatsumi fez um ar pensativo – Eu acho que a única coisa que a Akame gostaria de fazer e não consegue é fazer as pazes com a irmã dela – e comentou consigo mesmo – Ela deve odiar a Akame porque Akame preferiu trair o Exército Imperial e apoiar os rebeldes.

— Irmãos nunca se odeiam realmente – Alphonse abanou a cabeça – Eu também tenho um irmão mais velho e eu até posso ficar chateado com ele, às vezes, mas eu nunca o odiaria – e acrescentou – Aposto que se tivesse alguém para dizer a Kurome o quanto Akame está chateada por elas estarem separadas, elas fariam as pazes.

— Eu não tenho tanta certeza – Tatsumi deu de ombros – Akame tentou convencê-la várias vezes e Kurome jurou matá-la mesmo assim.

— É inacreditável que um irmão caçula realmente queira fazer algum mal contra seu irmão mais velho – Alphonse apertou os punhos – E vocês? O que vocês fazem para ajudar Akame?

— Akame disse que isso é algo para ser resolvido somente entre elas – Tatsumi sacudiu as mãos – Nós evitamos nos envolver nisso e cuidamos apenas para que ninguém interfira.

— Mas isso não parece justo – Alphonse coçou a cabeça – Akame sempre quer resolver tudo sozinha. Ela lembra muito meu irmão. Quando ela vai perceber que precisa de ajuda?

— Bom, preferimos respeitar a vontade dela. Tudo que podemos fazer é estar à disposição dela quando ela precisar – Tatsumi olhou para cima – Está esfriando. Acho melhor entrarmos antes que o Lubbock coma toda a nossa comida, não acha? – e sorriu com simpatia.

Alphonse devolveu o sorriso e seguiu o outro. Sem nem mesmo jantar, Alphonse preferiu ir logo dormir e nem viu quando os outros voltaram para a base no meio da madrugada.

— Quem mexeu nos meus mapas? – Chelsea bagunçava uma pilha de papeis sobre a mesa. Era o dia seguinte e o sol havia acabado de nascer.

— Quem mexeria nesses seus mapas estúpidos? – Mine devolveu com irritação – Tire logo isso daqui para podermos servir o café da manhã.

— Estranho – Chelsea ignorou totalmente Mine – Tenho a impressão de estar faltando algum.

— Ei, parem de brigar logo cedo – Leone reclamou – Akame – chamou, com a voz melodiosa – seu bichinho já acordou?

— Não o chame assim – Akame terminava de dar os últimos detalhes no café da manhã, juntamente com Suzanoo – Eu não sei. Não o vejo desde ontem.

— Então, vou lá acordá-lo – Leone levantou saltitando e correu para um dos quartos da base. Minutos depois, ela voltou aparentemente confusa – Que estranho. Ele não está no quarto.

A cama de Alphonse parecia que nem foi desfeita. E ele não estava em lugar algum. Procuraram por ele em toda a casa e os arredores. Lubbock até usou a Cross Tail para rastrear o perímetro e nada. Alphonse havia simplesmente desaparecido.

— Será que ele saiu para a floresta e foi devorado por alguma Besta? – Mine disse, pensativa.

— Não diga uma bobagem dessas, idiota – Leone rosnou.

— Você não foi a última pessoa que falou com ele, Tatsumi? – Lubbock se lembrou quando estava recolhendo os fios de sua Teigu.

— É mesmo – Chelsea estalou os dedos – Pode ser que ele tenha dito algo que sirva como pista.

— Sério? – Tatsumi coçou a nuca – Não lembro muito bem...

Tatsumi se lembrava da conversa, mas não sabia como dizer sobre o que conversaram sem colocar o próprio pescoço em risco.

— É importante, Tatsumi – Akame o segurou pelos ombros – Ele perguntou sobre alguma coisa ou falou que pretendia fazer algo?

— Bom – Tatsumi coçou novamente a nuca – estávamos falando... Estávamos falando da sua irmã, Akame.

Ao ouvir essas palavras, Akame largou imediatamente Tatsumi, porém continuou o encarando.

— Ele perguntou sobre sua irmã – Tatsumi continuou – Disse que se tivesse alguém para dizer para a Kurome o quanto você tinha ficado triste por vocês duas estarem brigadas, vocês já teriam se reconciliado.

Akame engoliu em seco quando um pensamento passou por sua cabeça. O quão adoravelmente idiota Alphonse Elric poderia ser?

***************************

Realmente, Chelsea era extremamente talentosa elaborando mapas. Alphonse dobrou cuidadosamente o mapa da ruiva e o guardou no bolso. Esbarrou os dedos na pedra filosofal dentro do bolso e a aproximou do rosto para examiná-la melhor.

— Teoricamente – disse para a pedra – agora, eu sou à prova de morte.

Mas não poderia ficar andando com a pedra nas mãos. Precisava escondê-la de olhares curiosos e, ao mesmo tempo, evitar perdê-la no meio do caminho.

Depois de prender a pedra filosofal no antebraço com um adesivo, Alphonse a envolveu com algumas ataduras para firmar e, para finalizar, cobriu as faixas com a manga da camisa. Usaria a pedra apenas em caso de extrema necessidade. Em seguida, procurou algo que o ajudasse a se localizar e saiu sorrateiramente da base.

Alphonse não teve nenhuma dificuldade em achar uma estrada que levasse até a Capital. Precisou andar por algumas horas e já era quase de manhã quando conseguiu uma carona. Estranhamente, quanto mais perto chegava da Capital, mais frio ficava o tempo.

— Está indo para onde, garoto? – o velho que lhe deu carona resolveu puxar assunto após vários minutos em silêncio.

— Estou indo para o centro – Alphonse respondeu – Quero me alistar no Exército Imperial.

— Você não parece ser daqui – o velho o observou pelo canto do olho – É algum mercenário?

— Só estou atrás de novas aventuras – sorriu, nervosamente, e tratou logo de mudar de assunto – O comandante supremo desse país é a imperatriz Esdeath, não?

— Bom, tem o príncipe regente Mork – o velho coçou a barba rala – Ele é um dos primos do último imperador e é um completo covarde. Morre de medo da imperatriz e não passa de um fantoche nas mãos dela. Dizem, ela só não o matou porque ele pode controlar a Shikoutazer...

— O quê?

— Ah, esqueci que você é estrangeiro – o velho usou um tom de desculpa – A Shikoutazer é a Teigu do Imperador e, dizem, apenas aqueles que têm o sangue real podem controlá-la – e ele ainda explicou mais sobre as Teigus para Alphonse até chegarem aos arredores do centro da cidade – Fim da linha, garoto. É só seguir por aqui que você vai chegar rápido no palácio.

Alphonse desceu e agradeceu ao homem. Na verdade, as instruções foram desnecessárias porque aquele gigantesco palácio dava para ser visto à distância.

No caminho para chegar ao palácio, Alphonse passou pelas ruas mais feias que já vira na vida. O povo se amontoava em casinhas minúsculas e apertadas com crianças de rostos sujos, chorando de fome, na frente das casas. Alphonse não conseguiu ficar indiferente diante de todo aquele sofrimento e pobreza, mas precisava avançar.

— O que quer, moleque? – os guardas bloquearam sua passagem na ponte de acesso ao pátio do Palácio Imperial.

— Eu quero entrar para os Jaegers – Alphonse disse, cheio de certeza.

Os guardas começaram a rir.

— Você quer entrar para os Jaegers? – o guarda perguntou, depois de controlar o riso – E quem disse para você que estávamos com seleções abertas?

— Deixem-me falar com a imperatriz – ele insistiu – Tenho certeza que a deixarei impressionada.

Mas os guardas não quiseram deixá-lo passar. Felizmente, Alphonse conseguiu ver um rosto conhecido passando displicentemente pelo pátio naquele exato momento.

— WAVE!! – Alphonse acenou para o marinheiro.

Wave parou de andar e encarou o estranho. Não conseguia lembrar se conhecia aquele sujeito, mas como ele sabia seu nome?

— Quem é você? – ele se aproximou, sinalizando para os guardas abaixarem as armas.

— Não se lembra de mim? – Alphonse perguntou.

Na verdade, ele não lembrava. E nem teria como lembrar.

— Você não esteve na Marinha do Império? – Alphonse arriscou.

— Não me diga que você é um colega de navegação – Wave chegou mais perto dele, sorrindo e abandonando a aura de desconfiança.

— Bom... – Alphonse meneou a cabeça.

— Ah, já sei – Wave gritou, triunfante – Você é aquele cara que foi transferido para o norte, não é? Foi logo no começo do meu treinamento na Marinha.

— Éééé... – Alphonse balançou os ombros – Mais ou menos...

— Deixem ele passar – Wave falou com os guardas – Ele é meu amigo...

— Alphonse – completou.

— É mesmo – Wave deu tapinhas no ombro de Alphonse – Grande Arufonsu!! – Alphonse franziu as sobrancelhas. Não tinha jeito mesmo – Desculpe. Eu tenho uma péssima memória. O que anda fazendo, heim?

— Vim me inscrever para os Jaegers – Alphonse falou, firme.

— Não sei se a taichou está recrutando novos membros – Wave fez sinal para que ele o seguisse – Mas eu posso fazer ela abrir uma exceção. Você sabe que precisa fazer um teste de admissão, não é? Está pronto?

— Tenho certeza que ela ficará impressionada comigo – Alphonse passou discretamente a mão sobre o adesivo com a pedra filosofal, escondida debaixo da manga.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Lembrei de uma coisa, Leone é uma das minhas personagens favoritas em AGK e eu acho que dei mais destaque para ela nesse capítulo. Ou não. Não lembro.
Ultimamente, eu estou ouvindo muito as trilhas sonoras de FMAB e AGK. Se eu pudesse escolher uma música para esse capítulo, eu escolheria "The Intrepid" da trilha do FMAB.
Boas Festas e Feliz Natal para todos!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Assassina e o Alquimista" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.