A Assassina e o Alquimista escrita por Lilás
Notas iniciais do capítulo
Oi. Sou eu de novo. E no dia marcado, como foi prometido. Espero que gostem.
Edward entrou de qualquer jeito em casa como se estivesse fugindo da própria morte. Afobado, correu os olhos pelos cômodos da casa, procurando por seus moradores.
— Alphonse – gritava, desesperado – ALPHONSE!! WINRY!! VOVÓ!!
— Que gritaria é essa? – Edward ouviu, com certo alívio, a voz de Winry vindo da cozinha e correu ao seu encontro.
— Winry! Cadê o Alphonse? Preciso falar com ele algo urgent...
E engasgou com as próprias palavras ao entrar na cozinha e deparar-se com uma cena tirada de seus pesadelos. Akame estava com um avental amarrado na cintura e segurava uma faca ENORME de cortar carne perto da pia da cozinha.
— Ed – Winry estava ao lado dela, também com um avental amarrado na cintura, e aproximou-se do rapaz – Por que está gritando dessa forma? O que aconteceu? Você está pálido.
Edward não ouviu nem uma única palavra dita por Winry. Sua atenção estava toda voltada para Akame. E aquela faca. Ele até podia ver seus movimentos em câmera lenta.
— Resolveu aparecer para ajudar a preparar o jantar? – Winry continuou a perguntar – Akame-chan está me ensinando alguns truques de culinária – ela acrescentou, animada – Você acredita que ela era a responsável por cozinhar para todo mundo no lugar que ela trabalhava?
Edward permanecia sem ouvir. Ele ainda observava Akame que resolveu voltar a fatiar um tomate com golpes rápidos e certeiros. Era como se ele fosse o tomate. Edward podia até sentir cada vez em que o vegetal era fatiado.
— Ei! Não fique olhando com essa cara de bobo – Winry deu um peteleco em sua testa e isso o despertou – Se não vai ajudar aqui, vai ajudar o Al com a lenha para o forno – e o empurrou porta afora.
Ele tentou resistir e alertar Winry de alguma forma do perigo, mas sua voz não saia. Winry o empurrou para fora de casa e ele ficou encarando a porta sem saber qual o passo seguinte. Não poderia perder a calma. Era melhor ele não fazer um alarde porque não sabia qual seria a reação de Akame. Decidiu ir até onde Alphonse estava e o encontrou carregando alguns pedaços de madeira perto da pilha cortada por Akame.
— Ed! Ainda bem que você chegou – Alphonse sorriu – Pode me ajudar com essas...
— Precisamos conversar, Al – Edward dá um puxão tão forte em Alphonse que faz o irmão derrubar todos os gravetos de suas mãos – Mas não aqui. Vem comigo.
Alphonse estranhou a atitude do irmão, tentou pará-lo e fazer se explicar. No entanto, Edward estava com um brilho estranho no olhar e Alphonse achou melhor segui-lo. Edward conduziu seu irmão até um ponto mais afastado, quase nos limites da floresta.
— Al – ele começou bem lentamente – eu tenho fortes motivos para acreditar que a sua amiga é uma assassina foragida.
A reação de Alphonse não era a que Edward estava esperando. Alphonse não parecia surpreso nem tampouco apavorado. Ele apenas deu um longo suspiro e encarou os próprios sapatos.
— Olha, Ed – ele disse com tristeza – Talvez, você não tenha tido uma boa impressão da Akame-chan por causa do jeito dela...
— Não. Não. Não – Edward segurou o irmão pelos ombros e o sacudiu – Não é nada disso – ele puxou um papel dobrado do bolso – Olha o que eu encontrei na Biblioteca Nacional.
— Você está rasgando os jornais da seção de periódicos? – Alphonse franziu o cenho.
— Isso não vem ao caso – Edward apontou para a figura em preto e branco de Akame – Eu fiz uma pesquisa do lugar que a Akame veio e, adivinha, o país passou por uma guerra civil há uns dois anos atrás. Os rebeldes tomaram o poder e mataram o Imperador. Dentre os rebeldes, havia muitos assassinos profissionais. Sua amiga era membro de uma facção rebelde chamada Night Raid e uma das assassinas mais procuradas do país. Ela matou milhares de pessoas, Al!
Alphonse suspirou novamente e escondeu o rosto com as mãos.
— Espera um pouco aí – Edward disse, lentamente – Você... você sabia disso?
Alphonse não respondeu. E nem precisava. Seu olhar para Edward disse tudo.
— Você... – gaguejou – VOCÊ COLOCOU INTENCIONALMENTE UMA ASSASSINA DENTRO DE NOSSA CASA?!!
— Ela está arrependida – Alphonse começou.
— E VOCÊ ACREDITOU?! – Edward estava fora de si – E SE ELA FIZESSE ALGUMA COISA COM A WINRY E A VOVÓ?! E SE ELA CORTASSE SUA GARGANTA ENQUANTO VOCÊ ESTIVESSE DORMINDO?!
— Ela não vai fazer nada disso – Alphonse fez um gesto apaziguador com as mãos – Ed, quer parar de gritar...
— E COMO PODE TER CERTEZA?! – Edward gritou.
— Porque ela me prometeu – Alphonse disse, com firmeza – Você não acha que, se ela quisesse, já estaríamos todos mortos?
— Você só pode estar louco – Edward cobriu o rosto com as mãos e jogou a cabeça para trás.
— Ela não vai nos atacar. Ela não tem nenhum motivo para isso – Alphonse chamou – Ed! Akame-chan é uma pessoa como qualquer outra. Ela é igual a mim e você.
— Eu não sou igual a ela, Al – Edward apontou um dedo acusador contra o irmão – Eu nunca matei ninguém!!
— Mas faria qualquer coisa por mim, seu irmão caçula – Alphonse rebate – Assim como Akame-chan faria qualquer coisa pela irmãzinha dela. Você sabia que ela também tinha uma irmã?
— Eu nunca matei ninguém!! – berrou no rosto do irmão.
— Porque você sempre teve pessoas que lhe ensinaram o que era o certo – Alphonse devolveu – Ed, nós tivemos uma mãe amorosa e, mesmo depois da morte dela, ainda tivemos a vovó, a nossa professora e várias outras pessoas que, bem ou mal, nos ensinaram o que era o certo. Akame-chan nunca teve isso. Não teve a nossa sorte. Ela e a irmã foram vendidas ainda pequenas para o governo para serem treinadas como assassinas. Elas foram largadas em uma floresta cheia de animais perigosos onde tinham de lutar para sobreviver. Passaram por um treinamento desumano para virarem assassinas a serviço do Estado. Akame-chan nem teve tempo de chorar sua própria desgraça porque precisava cuidar da irmã. Pense bem. Nessas circunstâncias, você também não mataria para me salvar?
— Eu arranjaria outra forma – disse, com mais calma – Nós sempre arranjávamos. E nós também fomos jogados em uma floresta ou você esqueceu?
— Você não entendeu. Não havia outra forma – Alphonse balançou a cabeça – Era um treinamento para criar assassinos. Não bastava sobreviver. Tinham que matar. Quem não matava era descartado. Então, repito, você mataria para me salvar?
Edward não soube o que responder. Abriu a boca para rebater, mas deparou-se com o olhar duro de Alphonse. Edward suspirou alto e fez um gesto de impaciência com as mãos.
— Nós também temos amigos no exército – Alphonse continuou – que mataram muitas pessoas e, mesmo assim, não deixamos de gostar deles. O major Armstrong, o general Mustang e, até mesmo, a capitã Riza, todos eles, mataram milhares. Quer dizer que, dependendo de qual lado você pertence, um assassino pode ser chamado de herói?
— Não confunda as coisas – Edward suspendeu uma mão – Nós conhecemos a capitã Riza e todos os outros. Todos eles são boas pessoas e se arrependem de todas as vidas que tiraram. Mas não sabemos nada dessa garota. Ela nem ao menos tem expressão. Ela tem o olhar frio e insensível de um assassino!
— Não, Ed – Alphonse apontou para o irmão – Você não a conhece. Eu a conheço. Ela não é insensível. Pelo contrário, ela sofre até hoje com a morte da irmã e de todas as pessoas que ela perdeu. Ela usa aquela máscara para se proteger e não sofrer. Eu já a vi chorar.
— E você sempre se deixa levar por mulheres que choram – Edward falou com sarcasmo.
—Mas não é só isso – Alphonse remexeu os próprios bolsos, nervoso – Eu também a trouxe comigo por causa de outra coisa – ele levanta os olhos do chão – Tem uma coisa que você precisa saber, Ed. Você tinha razão. A katana de Akame-chan foi feita usando alquimia.
— O quê?! – Edward se assustou – Nã-não me diga que aquela é... – ele parecia estar falando consigo mesmo – a lendária Murasame!! A Espada Demoníaca!!
— Exatamente, irmão – Edward se espantou por Alphonse ter confirmado sua afirmação. Como ele sabia da Murasame? – A espada que mata só com um corte. A lendária Murasame.
— Pensei que fosse só lenda – Edward parecia chocado.
— Não, irmão – Alphonse adotou uma expressão séria – Eu vi a Murasame em ação. É ela com certeza. Você também sentiu o poder que emana daquela espada? Nenhum alquimista conseguiria ignorar.
— Mas, Al, essa é a maior descoberta da alquimia – Edward segurou o irmão pelos ombros e o sacudiu – O doutor Marcoh disse que nunca foi confirmada a existência das Armas Imperiais. Mas, se a Murasame existe, as outras também existem. A comunidade científica precisa saber que é possível, sim, criar ferramentas que conservem propriedades alquímicas!
— Eu olho para aquela espada – Alphonse não aparentava estar muito animado – e só consigo pensar que é a espada que matou milhares. As vidas que Akame-chan foi obrigada a tomar.
— Al, por favor... – Edward chamou, baixinho.
— E, ironicamente, é também a espada que salvou a minha vida – Alphonse suspirou, tristemente – Ao custo de outras... Inclusive, a vida de Akame-chan. De certa forma, a espada também levou a vida dela.
— Você gosta dela, não é? – Edward perguntou, mas não estava dizendo isso para debochar do irmão. Ele tinha um ar preocupado no rosto.
Alphonse fez uma careta e arrepiou-se todo como um gato assustado.
— O QUÊ?! – Alphonse deu um pulo desnecessário – DO QUÊ ESTÁ FALANDO?!
— Não grite – Edward o repreendeu – Admita, Al.
— Não posso negar que tenho um grande apreço por Akame-chan – Alphonse ajeitou nervosamente a gravata e sorriu amarelo – E ela é uma pessoa de confiança. Eu te garanto. Ela não vai fazer mal a ninguém. Eu assumo a responsabilidade.
— Se ela fizer alguma coisa com a Winry ou com a vovó...
— Ela não fez nada e nem vai fazer – Alphonse o interrompeu – A vovó e a Winry adoram a Akame-chan e ela também gosta delas. Dê um voto de confiança, Ed – suplicou – Por mim.
Edward ficou alguns minutos em silêncio, respirando pesado.
— Você não vai falar nada para a vovó ou a Winry – Alphonse arriscou – Não é, Ed?
— Está bem. Está bem – ele confirmou com impaciência – Não precisa fazer essa cara.
— Sabia que podia contar com você, Ed – Alphonse sorriu largamente – Agora, preciso voltar ao trabalho para ajudar as meninas com o seu jantar de noivado. Akame-chan disse que iria fazer um prato especial para a noite – e saiu, cantarolando alegre.
Edward não conseguia acreditar que havia acabado de concordar em abrigar uma assassina. O que o Alphonse não o obrigava a passar? Mas havia uma coisa que ainda o intrigava.
— Quando foi – Edward berrou para Alphonse que já se afastava – que você a viu chorar?
— Quando ela falou da irmã dela – Alphonse gritou de volta e seguiu o caminho para casa.
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— EDWARD ELRIC!!! – o major Alex Louis Armstrong já atraía a atenção de toda a estação de trem apenas com seus músculos de tamanho avantajado e seu uniforme militar azul. Imagina, então, berrando e com rios de lágrimas escorrendo do seu rosto – VOCÊ CRESCEU!! QUE EMOÇÃO REVÊ-LO!!!
— Sai pra lá, major – Edward se esquivava como podia do seu abraço de urso.
— Mas onde está seu irmão Alphonse Elric? – ele diz, pegando uma mala do chão – Também preciso abraçá-lo depois de tanto tempo!!
— Com certeza, ele vai adorar – Edward revirou os olhos – Você foi o primeiro convidado a chegar, então, ainda não está nada pronto. Mas pode dar um alô para todo mundo. Venha. Vamos logo para casa.
O major alugou um carro e ele e Edward foram conversando sobre os últimos três anos por durante todo o caminho. O major contou as novidades do governo e da Cidade Central enquanto Edward relatou os lugares que conheceu. O dia ainda estava claro e o major observava, admirado, a paisagem campestre de Resembool.
— Aqui não mudou muita coisa – o major comentou ao estacionar o carro próximo ao portão.
— Resembool é sempre muito pacata... – Edward iniciou.
— Ed? – Alphonse apareceu na varanda de casa, provavelmente atraído pelo barulho do motor do carro – Major Armstrong?!
— ALPHONSE ELRIC!!! – o major choramingou e Alphonse pulou para trás de susto – QUANTAS SAUDADES!! VOU ABRAÇÁ-LO COM MEUS BRAÇOS MUSCULOSOS!!
— ESPERA AÍ, MAJOR – Alphonse abanou as mãos na frente do corpo em uma tentativa de barrar o major – ESPERA AÍ!!!
Tomado pela emoção, o major não escutou e avançou na direção de Alphonse com os braços para cima. Alphonse se assustou com a atitude do major – apesar de já saber que ele sempre agia assim – e apertou os olhos, esperando para ser esmagado. Entretanto, ele não chegou a sentir os braços do major o estrangulando porque, no segundo seguinte, o major Armstrong saiu voando e aterrissou alguns metros de distância dele, fazendo um grande estrondo.
— Mas que...? – Edward olhou para os lados, procurando uma explicação.
Um vulto preto e vermelho surgiu do nada e pulou em cima do peito do major Armstrong que ainda estava caído e um pouco desnorteado no chão. O vulto agilmente sacou uma espada e o reflexo da lâmina brilhou no alto.
— AKAME!! – Alphonse gritou – NÃO!!
A lâmina parou a centímetros do pescoço do major. Akame parecia um boneco que havia parado de se mexer porque acabou a corda. O major olhou da garota para a espada, sem reação. Os dois ficaram nesse impasse por uns breves segundos até Akame embainhar novamente a espada.
— Major – Edward correu até onde eles estavam. Alphonse vinha logo atrás – Está tudo bem?
— Sim. Estou bem – o major levantou-se com a ajuda dos irmãos Elric – O quê me acertou?
— Ah, major – Alphonse deu um sorriso amarelo – Esta é a Akame. Uma amiga de muito longe que está passando uns dias conosco. Desculpe. Ela pensou que o senhor iria me machucar.
— Está tudo bem – o major coçou a nuca – Akame, não? – ele segurou a mão de Akame e fez uma reverência – É um prazer conhecê-la, senhorita. Não é qualquer pessoa que consegue derrubar Alex Louis Armstrong, o Alquimista dos Braços Poderosos – e exibiu seus músculos.
— O prazer é meu – Akame retribui o gesto do major, porém seu rosto continua sério.
— Vamos entrando, major – Alphonse gesticulava, ainda um pouco envergonhado – A Winry e a vovó estão lá dentro. É melhor descansar enquanto os outros não chegam.
— Sim. E estou ansioso para mostrar meu presente para a senhorita Winry Rockbell – o major fazia grandes gestos – Uma belíssima escultura feita por mim utilizando técnicas de transmutação passadas de geração a geração pela família Armstrong!! Se me permite, senhorita – ele vira-se para Akame – teria imenso prazer de lhe mostrar também meus trabalhos artísticos.
— Sim. Vamos todos – Alphonse sorri e indica a passagem para o major.
— Se você não estivesse aqui – Edward puxa a manga da camisa do irmão, atrasando os seus passos, e cochicha em seu ouvido – ela teria matado o major!
— Se eu não estivesse aqui – Alphonse sussurra de volta – ela nem teria o atacado. Ela só fez isso porque pensou que ele me machucaria.
— O que não é totalmente uma mentira – Edward sente um calafrio ao se lembrar do abraço esmagador do major – Você não pode vigiá-la o tempo todo, Al – Edward apressa o passo para acompanhar os dois que iam à frente, deixando Alphonse para trás.
Não costumava chover naquela época do ano e Winry resolveu arrumar a decoração no quintal para aproveitar melhor o ar fresco. O major Armstrong ajudou a trazer uma imensa mesa para o lado de fora enquanto os irmãos Elric trazem as cadeiras e ajudam a carregar as travessas de comida. Mais convidados começam a chegar. Kain Fuery, Heymans Breda e Jean Havoc chegaram cedo, provavelmente para terem mais tempo do que todos os outros convidados para comer os docinhos da festa. Izumi Curtis e seu marido açougueiro apareceram carregando várias caixinhas embrulhadas e acompanhados pelo médico Tim Marcoh. O carro de Roy Mustang, dirigido por Riza Hawkeye, estacionou na frente da casa quando vovó Pinako recepcionava alguns de seus amigos e vizinhos mais próximos. Em menos de duas horas, já havia mais ou menos umas vinte pessoas conversando e bebendo alegremente em frente à casa dos Rockbell.
A noiva Winry Rockbell estava sorridente e bem arrumada com um vestido florido simples, mas muito bonito. Os irmãos Elric estavam elegantes em suas casacas sóbrias e os sapatos bem engraxados. Até Akame abandonou seu clássico vestido preto e curto e aceitou usar um dos vestidos de Winry emprestado. Ela ficou muito bonita em um vestido longo marcado na cintura.
— Eu ofereço um brinde aos noivos – Mustang erguia uma taça de bebida – à senhorita Winry Rockbell pela coragem. Porque é preciso muita coragem para aceitar casar com “O do Aço” – veias saltavam da testa de Edward – e quanto ao Edward... Bom, eu conheço Edward desde pequeno, quer dizer, ele nunca deixou de ser pequeno, não é mesmo? Enfim, o que importa é a saúde. Então – ele levanta mais a taça e os outros o imitam – Saúde!!
— Saúde!! – todos repetem, sorrindo. Edward rangia os dentes na direção de Mustang.
O clima estava muito animado e, apesar da animosidade entre o – agora – general Mustang e o alquimista aposentado e atual noivo Edward Elric, o jantar foi muito agradável. Porém, muitas pessoas ficaram com a mesma dúvida pairando no ar durante a noite inteira: quem era aquela bela moça de olhos vermelhos ao lado de Alphonse Elric? E, como a garota era de poucas palavras, a maioria foi embora sem conseguir sanar sua dúvida.
Enquanto alguns dos convidados só foram embora depois que o último salgadinho evaporou das bandejas, outros beberam demais e começaram a dizer coisas sem sentido. Um deles era o major Armstrong. O tenente Breda e o recém-promovido tenente Fuery penavam para conseguir arrastar o major até o seu carro enquanto o mesmo repetia palavras desconexas.
— Muito obrigado, doutor Marcoh – Fuery agradeceu quando o médico abriu a porta do carro alugado por Armstrong e ele e Breda deslizaram o major para o assento de trás do carro.
— Obrigado vocês pela carona – o médico sorri e senta no banco do carona ao lado de Breda que assumiu o volante – É o mínimo que posso fazer.
— Cadê o Havoc? – Breda perguntou antes de ligar o motor.
— Estava conversando com uma garota quando sumiu misteriosamente. Não espere que ele chegue cedo amanhã – Fuery se acomodou ao lado do major – O general Mustang e a capitã Hawkeye já foram?
— Pela hora, já devem até estar na Cidade Central – Breda dá a partida no carro – Não vou esperar o Havoc.
— Eu deixei o meu... – o major começou a falar, semi-inconsciente – meu... presente embrulhado... foi passado de geração em geração... na família Armstrong... pegue para mim... pegue para mim, por favor... garota da espada...
— Garota da espada? – doutor Marcoh pergunta.
— É aquela garota de olhos vermelhos que estava do lado de Alphonse Elric – Fuery explicou – O major ficou a festa toda dizendo que a garota puxou uma espada contra ele. Céus, ele já chegou no jantar completamente bêbado.
— Então, aquela era a garota da Espada Demoníaca – doutor Marcoh disse para si mesmo.
— Espada Demoníaca? – Breda repetiu suas palavras – O senhor não está falando da...?
— Murasame – doutor Marcoh completa – O Edward colocou na cabeça que a garota é a portadora da Murasame.
— Murasame? – Fuery perguntou, confuso – O que é isso?
— É uma lenda do antigo Oriente – Marcoh explicou – Sobre uma espada lendária produzida com Alquimia e que possuía um veneno poderoso e sem antídoto capaz de matar com um corte.
— É apenas uma lenda, Fuery – Breda dirigia e o carro sacolejava na estrada poeirenta – E o Edward acredita em histórias para crianças?
— Bom – doutor Marcoh meneia a cabeça – diziam também que a pedra filosofal era lenda. E você se lembra da guerra civil naquele país do Extremo Oriente chamado o Império?
— Eu ouvi falar – Breda falava sem tirar os olhos da estrada – Uma coisa horrível. Morreu muita gente e os rebeldes tomaram o poder.
— Dizem que tantos os rebeldes quanto as forças imperiais – Marcoh diz – usaram armas produzidas com Alquimia como a Murasame. Por isso, a carnificina foi maior.
— Não brinca – Breda encarou o doutor por uns breves segundos antes de voltar os olhos para a estrada – O senhor está falando das Armas Imperiais?
— Sim. É o que dizem – doutor Marcoh confirma.
— Esse pessoal inventa cada uma – Breda sacudiu a cabeça – Eu ouvia histórias da Night Raid que fazia atentados terroristas contra o governo. Eles tinham uma líder... como era o nome dela? – ele forçou um pouco a memória – Acho que era Najenda. Tinha um braço mecânico. E os subordinados dela eram os mais terríveis. Os que tinham as mais altas recompensas pela cabeça deles. Diziam até que um dos subordinados dela portava a Murasame. Ouviu isso também, doutor? – Breda sorriu para ele.
— Não me interessavam muitas dessas histórias – doutor Marcoh deu de ombros.
— Para mim – Breda continuou – era mentira para amedrontar os inimigos. Ainda inventaram que a tal Murasame foi dada para uma menina. Uma menina, doutor! – ele bate no volante – Uma criança! Recrutam crianças para a guerra! Esses caras não têm mais limites mesmo. Acho que ela carregava uma imitação da Murasame só para causar terror. E ela ficou famosa porque era uma das mais terríveis assassinas. Uma criança – Breda abana a cabeça, inconformado – Como é que ela se chamava mesmo? – ele faz um esforço para lembrar – Kimi, não... Akemi... Não, Akame. Isso! – e completa, com um sorriso triste – Akame da Espada Demoníaca.
— Akame? – Fuery arregala os olhos – Mas esse é o nome da... AH, NÃO, MAJOR!!!
O balanço do carro deixou o major Armstrong enjoado e ele acabou devolvendo tudo o que havia bebido naquela noite no chão do carro. Fuery praguejava e choramingava ao lado do major enquanto Breda amarrava a cara.
— Não adianta se lamentar – Breda ralhava com Fuery – Vamos ter que aguentar essa inhaca até a Cidade do Leste.
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Comentem se perceberem algum erro.
Até mais.