A Assassina e o Alquimista escrita por Lilás


Capítulo 3
O jantar de noivado


Notas iniciais do capítulo

Oi. Sou eu de novo. E no dia marcado, como foi prometido. Espero que gostem.



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Edward entrou de qualquer jeito em casa como se estivesse fugindo da própria morte. Afobado, correu os olhos pelos cômodos da casa, procurando por seus moradores.

— Alphonse – gritava, desesperado – ALPHONSE!! WINRY!! VOVÓ!!       

— Que gritaria é essa? – Edward ouviu, com certo alívio, a voz de Winry vindo da cozinha e correu ao seu encontro.

— Winry! Cadê o Alphonse? Preciso falar com ele algo urgent...

E engasgou com as próprias palavras ao entrar na cozinha e deparar-se com uma cena tirada de seus pesadelos. Akame estava com um avental amarrado na cintura e segurava uma faca ENORME de cortar carne perto da pia da cozinha.

— Ed – Winry estava ao lado dela, também com um avental amarrado na cintura, e aproximou-se do rapaz – Por que está gritando dessa forma? O que aconteceu? Você está pálido.

Edward não ouviu nem uma única palavra dita por Winry. Sua atenção estava toda voltada para Akame. E aquela faca. Ele até podia ver seus movimentos em câmera lenta.

— Resolveu aparecer para ajudar a preparar o jantar? – Winry continuou a perguntar – Akame-chan está me ensinando alguns truques de culinária – ela acrescentou, animada – Você acredita que ela era a responsável por cozinhar para todo mundo no lugar que ela trabalhava?

Edward permanecia sem ouvir. Ele ainda observava Akame que resolveu voltar a fatiar um tomate com golpes rápidos e certeiros. Era como se ele fosse o tomate. Edward podia até sentir cada vez em que o vegetal era fatiado.

— Ei! Não fique olhando com essa cara de bobo – Winry deu um peteleco em sua testa e isso o despertou – Se não vai ajudar aqui, vai ajudar o Al com a lenha para o forno – e o empurrou porta afora.

Ele tentou resistir e alertar Winry de alguma forma do perigo, mas sua voz não saia. Winry o empurrou para fora de casa e ele ficou encarando a porta sem saber qual o passo seguinte. Não poderia perder a calma. Era melhor ele não fazer um alarde porque não sabia qual seria a reação de Akame. Decidiu ir até onde Alphonse estava e o encontrou carregando alguns pedaços de madeira perto da pilha cortada por Akame.

— Ed! Ainda bem que você chegou – Alphonse sorriu – Pode me ajudar com essas...

— Precisamos conversar, Al – Edward dá um puxão tão forte em Alphonse que faz o irmão derrubar todos os gravetos de suas mãos – Mas não aqui. Vem comigo.

Alphonse estranhou a atitude do irmão, tentou pará-lo e fazer se explicar. No entanto, Edward estava com um brilho estranho no olhar e Alphonse achou melhor segui-lo. Edward conduziu seu irmão até um ponto mais afastado, quase nos limites da floresta.

— Al – ele começou bem lentamente – eu tenho fortes motivos para acreditar que a sua amiga é uma assassina foragida.

A reação de Alphonse não era a que Edward estava esperando. Alphonse não parecia surpreso nem tampouco apavorado. Ele apenas deu um longo suspiro e encarou os próprios sapatos.

— Olha, Ed – ele disse com tristeza – Talvez, você não tenha tido uma boa impressão da Akame-chan por causa do jeito dela...

— Não. Não. Não – Edward segurou o irmão pelos ombros e o sacudiu – Não é nada disso – ele puxou um papel dobrado do bolso – Olha o que eu encontrei na Biblioteca Nacional.

— Você está rasgando os jornais da seção de periódicos? – Alphonse franziu o cenho.

— Isso não vem ao caso – Edward apontou para a figura em preto e branco de Akame – Eu fiz uma pesquisa do lugar que a Akame veio e, adivinha, o país passou por uma guerra civil há uns dois anos atrás. Os rebeldes tomaram o poder e mataram o Imperador. Dentre os rebeldes, havia muitos assassinos profissionais. Sua amiga era membro de uma facção rebelde chamada Night Raid e uma das assassinas mais procuradas do país. Ela matou milhares de pessoas, Al!

Alphonse suspirou novamente e escondeu o rosto com as mãos.

— Espera um pouco aí – Edward disse, lentamente – Você... você sabia disso?

Alphonse não respondeu. E nem precisava. Seu olhar para Edward disse tudo.

— Você... – gaguejou – VOCÊ COLOCOU INTENCIONALMENTE UMA ASSASSINA DENTRO DE NOSSA CASA?!!

— Ela está arrependida – Alphonse começou.

— E VOCÊ ACREDITOU?! – Edward estava fora de si – E SE ELA FIZESSE ALGUMA COISA COM A WINRY E A VOVÓ?! E SE ELA CORTASSE SUA GARGANTA ENQUANTO VOCÊ ESTIVESSE DORMINDO?!

— Ela não vai fazer nada disso – Alphonse fez um gesto apaziguador com as mãos – Ed, quer parar de gritar...

— E COMO PODE TER CERTEZA?! – Edward gritou.

— Porque ela me prometeu – Alphonse disse, com firmeza – Você não acha que, se ela quisesse, já estaríamos todos mortos?

— Você só pode estar louco – Edward cobriu o rosto com as mãos e jogou a cabeça para trás.

— Ela não vai nos atacar. Ela não tem nenhum motivo para isso – Alphonse chamou – Ed! Akame-chan é uma pessoa como qualquer outra. Ela é igual a mim e você.

— Eu não sou igual a ela, Al – Edward apontou um dedo acusador contra o irmão – Eu nunca matei ninguém!!

— Mas faria qualquer coisa por mim, seu irmão caçula – Alphonse rebate – Assim como Akame-chan faria qualquer coisa pela irmãzinha dela. Você sabia que ela também tinha uma irmã?

— Eu nunca matei ninguém!! – berrou no rosto do irmão.

— Porque você sempre teve pessoas que lhe ensinaram o que era o certo – Alphonse devolveu – Ed, nós tivemos uma mãe amorosa e, mesmo depois da morte dela, ainda tivemos a vovó, a nossa professora e várias outras pessoas que, bem ou mal, nos ensinaram o que era o certo. Akame-chan nunca teve isso. Não teve a nossa sorte. Ela e a irmã foram vendidas ainda pequenas para o governo para serem treinadas como assassinas. Elas foram largadas em uma floresta cheia de animais perigosos onde tinham de lutar para sobreviver. Passaram por um treinamento desumano para virarem assassinas a serviço do Estado. Akame-chan nem teve tempo de chorar sua própria desgraça porque precisava cuidar da irmã. Pense bem. Nessas circunstâncias, você também não mataria para me salvar?

— Eu arranjaria outra forma – disse, com mais calma – Nós sempre arranjávamos. E nós também fomos jogados em uma floresta ou você esqueceu?

— Você não entendeu. Não havia outra forma – Alphonse balançou a cabeça – Era um treinamento para criar assassinos. Não bastava sobreviver. Tinham que matar. Quem não matava era descartado. Então, repito, você mataria para me salvar?

Edward não soube o que responder. Abriu a boca para rebater, mas deparou-se com o olhar duro de Alphonse. Edward suspirou alto e fez um gesto de impaciência com as mãos.

— Nós também temos amigos no exército – Alphonse continuou – que mataram muitas pessoas e, mesmo assim, não deixamos de gostar deles. O major Armstrong, o general Mustang e, até mesmo, a capitã Riza, todos eles, mataram milhares. Quer dizer que, dependendo de qual lado você pertence, um assassino pode ser chamado de herói?

— Não confunda as coisas – Edward suspendeu uma mão – Nós conhecemos a capitã Riza e todos os outros. Todos eles são boas pessoas e se arrependem de todas as vidas que tiraram. Mas não sabemos nada dessa garota. Ela nem ao menos tem expressão. Ela tem o olhar frio e insensível de um assassino!

— Não, Ed – Alphonse apontou para o irmão – Você não a conhece. Eu a conheço. Ela não é insensível. Pelo contrário, ela sofre até hoje com a morte da irmã e de todas as pessoas que ela perdeu. Ela usa aquela máscara para se proteger e não sofrer. Eu já a vi chorar.

— E você sempre se deixa levar por mulheres que choram – Edward falou com sarcasmo.

—Mas não é só isso – Alphonse remexeu os próprios bolsos, nervoso – Eu também a trouxe comigo por causa de outra coisa – ele levanta os olhos do chão – Tem uma coisa que você precisa saber, Ed. Você tinha razão. A katana de Akame-chan foi feita usando alquimia.

— O quê?! – Edward se assustou – Nã-não me diga que aquela é... – ele parecia estar falando consigo mesmo – a lendária Murasame!! A Espada Demoníaca!!

— Exatamente, irmão – Edward se espantou por Alphonse ter confirmado sua afirmação. Como ele sabia da Murasame? – A espada que mata só com um corte. A lendária Murasame.

— Pensei que fosse só lenda – Edward parecia chocado.

— Não, irmão – Alphonse adotou uma expressão séria – Eu vi a Murasame em ação. É ela com certeza. Você também sentiu o poder que emana daquela espada? Nenhum alquimista conseguiria ignorar.

— Mas, Al, essa é a maior descoberta da alquimia – Edward segurou o irmão pelos ombros e o sacudiu – O doutor Marcoh disse que nunca foi confirmada a existência das Armas Imperiais. Mas, se a Murasame existe, as outras também existem. A comunidade científica precisa saber que é possível, sim, criar ferramentas que conservem propriedades alquímicas!

— Eu olho para aquela espada – Alphonse não aparentava estar muito animado – e só consigo pensar que é a espada que matou milhares. As vidas que Akame-chan foi obrigada a tomar.

— Al, por favor... – Edward chamou, baixinho.

— E, ironicamente, é também a espada que salvou a minha vida – Alphonse suspirou, tristemente – Ao custo de outras... Inclusive, a vida de Akame-chan. De certa forma, a espada também levou a vida dela.

— Você gosta dela, não é? – Edward perguntou, mas não estava dizendo isso para debochar do irmão. Ele tinha um ar preocupado no rosto.

Alphonse fez uma careta e arrepiou-se todo como um gato assustado.

— O QUÊ?! – Alphonse deu um pulo desnecessário – DO QUÊ ESTÁ FALANDO?!

— Não grite – Edward o repreendeu – Admita, Al.

— Não posso negar que tenho um grande apreço por Akame-chan – Alphonse ajeitou nervosamente a gravata e sorriu amarelo – E ela é uma pessoa de confiança. Eu te garanto. Ela não vai fazer mal a ninguém. Eu assumo a responsabilidade.

— Se ela fizer alguma coisa com a Winry ou com a vovó...

— Ela não fez nada e nem vai fazer – Alphonse o interrompeu – A vovó e a Winry adoram a Akame-chan e ela também gosta delas. Dê um voto de confiança, Ed – suplicou – Por mim.

Edward ficou alguns minutos em silêncio, respirando pesado.

— Você não vai falar nada para a vovó ou a Winry – Alphonse arriscou – Não é, Ed?

— Está bem. Está bem – ele confirmou com impaciência – Não precisa fazer essa cara.

— Sabia que podia contar com você, Ed – Alphonse sorriu largamente – Agora, preciso voltar ao trabalho para ajudar as meninas com o seu jantar de noivado. Akame-chan disse que iria fazer um prato especial para a noite – e saiu, cantarolando alegre.

Edward não conseguia acreditar que havia acabado de concordar em abrigar uma assassina. O que o Alphonse não o obrigava a passar? Mas havia uma coisa que ainda o intrigava.

— Quando foi – Edward berrou para Alphonse que já se afastava – que você a viu chorar?

— Quando ela falou da irmã dela – Alphonse gritou de volta e seguiu o caminho para casa.

********************************

— EDWARD ELRIC!!! – o major Alex Louis Armstrong já atraía a atenção de toda a estação de trem apenas com seus músculos de tamanho avantajado e seu uniforme militar azul. Imagina, então, berrando e com rios de lágrimas escorrendo do seu rosto – VOCÊ CRESCEU!! QUE EMOÇÃO REVÊ-LO!!!

— Sai pra lá, major – Edward se esquivava como podia do seu abraço de urso.

— Mas onde está seu irmão Alphonse Elric? – ele diz, pegando uma mala do chão – Também preciso abraçá-lo depois de tanto tempo!!

— Com certeza, ele vai adorar – Edward revirou os olhos – Você foi o primeiro convidado a chegar, então, ainda não está nada pronto. Mas pode dar um alô para todo mundo. Venha. Vamos logo para casa.

O major alugou um carro e ele e Edward foram conversando sobre os últimos três anos por durante todo o caminho. O major contou as novidades do governo e da Cidade Central enquanto Edward relatou os lugares que conheceu. O dia ainda estava claro e o major observava, admirado, a paisagem campestre de Resembool.

— Aqui não mudou muita coisa – o major comentou ao estacionar o carro próximo ao portão.

— Resembool é sempre muito pacata... – Edward iniciou.

— Ed? – Alphonse apareceu na varanda de casa, provavelmente atraído pelo barulho do motor do carro – Major Armstrong?!

— ALPHONSE ELRIC!!! – o major choramingou e Alphonse pulou para trás de susto – QUANTAS SAUDADES!! VOU ABRAÇÁ-LO COM MEUS BRAÇOS MUSCULOSOS!!

— ESPERA AÍ, MAJOR – Alphonse abanou as mãos na frente do corpo em uma tentativa de barrar o major – ESPERA AÍ!!!

Tomado pela emoção, o major não escutou e avançou na direção de Alphonse com os braços para cima. Alphonse se assustou com a atitude do major – apesar de já saber que ele sempre agia assim – e apertou os olhos, esperando para ser esmagado. Entretanto, ele não chegou a sentir os braços do major o estrangulando porque, no segundo seguinte, o major Armstrong saiu voando e aterrissou alguns metros de distância dele, fazendo um grande estrondo.

— Mas que...? – Edward olhou para os lados, procurando uma explicação.

Um vulto preto e vermelho surgiu do nada e pulou em cima do peito do major Armstrong que ainda estava caído e um pouco desnorteado no chão. O vulto agilmente sacou uma espada e o reflexo da lâmina brilhou no alto.

— AKAME!! – Alphonse gritou – NÃO!!

A lâmina parou a centímetros do pescoço do major. Akame parecia um boneco que havia parado de se mexer porque acabou a corda. O major olhou da garota para a espada, sem reação. Os dois ficaram nesse impasse por uns breves segundos até Akame embainhar novamente a espada.

— Major – Edward correu até onde eles estavam. Alphonse vinha logo atrás – Está tudo bem?

— Sim. Estou bem – o major levantou-se com a ajuda dos irmãos Elric – O quê me acertou?

— Ah, major – Alphonse deu um sorriso amarelo – Esta é a Akame. Uma amiga de muito longe que está passando uns dias conosco. Desculpe. Ela pensou que o senhor iria me machucar.

— Está tudo bem – o major coçou a nuca – Akame, não? – ele segurou a mão de Akame e fez uma reverência – É um prazer conhecê-la, senhorita. Não é qualquer pessoa que consegue derrubar Alex Louis Armstrong, o Alquimista dos Braços Poderosos – e exibiu seus músculos.

— O prazer é meu – Akame retribui o gesto do major, porém seu rosto continua sério.

— Vamos entrando, major – Alphonse gesticulava, ainda um pouco envergonhado – A Winry e a vovó estão lá dentro. É melhor descansar enquanto os outros não chegam.

— Sim. E estou ansioso para mostrar meu presente para a senhorita Winry Rockbell – o major fazia grandes gestos – Uma belíssima escultura feita por mim utilizando técnicas de transmutação passadas de geração a geração pela família Armstrong!! Se me permite, senhorita – ele vira-se para Akame – teria imenso prazer de lhe mostrar também meus trabalhos artísticos.

— Sim. Vamos todos – Alphonse sorri e indica a passagem para o major.

— Se você não estivesse aqui – Edward puxa a manga da camisa do irmão, atrasando os seus passos, e cochicha em seu ouvido – ela teria matado o major!

— Se eu não estivesse aqui – Alphonse sussurra de volta – ela nem teria o atacado. Ela só fez isso porque pensou que ele me machucaria.

— O que não é totalmente uma mentira – Edward sente um calafrio ao se lembrar do abraço esmagador do major – Você não pode vigiá-la o tempo todo, Al – Edward apressa o passo para acompanhar os dois que iam à frente, deixando Alphonse para trás.

Não costumava chover naquela época do ano e Winry resolveu arrumar a decoração no quintal para aproveitar melhor o ar fresco. O major Armstrong ajudou a trazer uma imensa mesa para o lado de fora enquanto os irmãos Elric trazem as cadeiras e ajudam a carregar as travessas de comida. Mais convidados começam a chegar. Kain Fuery, Heymans Breda e Jean Havoc chegaram cedo, provavelmente para terem mais tempo do que todos os outros convidados para comer os docinhos da festa. Izumi Curtis e seu marido açougueiro apareceram carregando várias caixinhas embrulhadas e acompanhados pelo médico Tim Marcoh. O carro de Roy Mustang, dirigido por Riza Hawkeye, estacionou na frente da casa quando vovó Pinako recepcionava alguns de seus amigos e vizinhos mais próximos. Em menos de duas horas, já havia mais ou menos umas vinte pessoas conversando e bebendo alegremente em frente à casa dos Rockbell.

A noiva Winry Rockbell estava sorridente e bem arrumada com um vestido florido simples, mas muito bonito. Os irmãos Elric estavam elegantes em suas casacas sóbrias e os sapatos bem engraxados. Até Akame abandonou seu clássico vestido preto e curto e aceitou usar um dos vestidos de Winry emprestado. Ela ficou muito bonita em um vestido longo marcado na cintura.

— Eu ofereço um brinde aos noivos – Mustang erguia uma taça de bebida – à senhorita Winry Rockbell pela coragem. Porque é preciso muita coragem para aceitar casar com “O do Aço” – veias saltavam da testa de Edward – e quanto ao Edward... Bom, eu conheço Edward desde pequeno, quer dizer, ele nunca deixou de ser pequeno, não é mesmo? Enfim, o que importa é a saúde. Então – ele levanta mais a taça e os outros o imitam – Saúde!!

— Saúde!! – todos repetem, sorrindo. Edward rangia os dentes na direção de Mustang.

O clima estava muito animado e, apesar da animosidade entre o – agora – general Mustang e o alquimista aposentado e atual noivo Edward Elric, o jantar foi muito agradável. Porém, muitas pessoas ficaram com a mesma dúvida pairando no ar durante a noite inteira: quem era aquela bela moça de olhos vermelhos ao lado de Alphonse Elric? E, como a garota era de poucas palavras, a maioria foi embora sem conseguir sanar sua dúvida.

Enquanto alguns dos convidados só foram embora depois que o último salgadinho evaporou das bandejas, outros beberam demais e começaram a dizer coisas sem sentido. Um deles era o major Armstrong. O tenente Breda e o recém-promovido tenente Fuery penavam para conseguir arrastar o major até o seu carro enquanto o mesmo repetia palavras desconexas.

— Muito obrigado, doutor Marcoh – Fuery agradeceu quando o médico abriu a porta do carro alugado por Armstrong e ele e Breda deslizaram o major para o assento de trás do carro.

— Obrigado vocês pela carona – o médico sorri e senta no banco do carona ao lado de Breda que assumiu o volante – É o mínimo que posso fazer.

— Cadê o Havoc? – Breda perguntou antes de ligar o motor.

— Estava conversando com uma garota quando sumiu misteriosamente. Não espere que ele chegue cedo amanhã – Fuery se acomodou ao lado do major – O general Mustang e a capitã Hawkeye já foram?

— Pela hora, já devem até estar na Cidade Central – Breda dá a partida no carro – Não vou esperar o Havoc.

— Eu deixei o meu... – o major começou a falar, semi-inconsciente – meu... presente embrulhado... foi passado de geração em geração...  na família Armstrong... pegue para mim... pegue para mim, por favor... garota da espada...

— Garota da espada? – doutor Marcoh pergunta.

— É aquela garota de olhos vermelhos que estava do lado de Alphonse Elric – Fuery explicou – O major ficou a festa toda dizendo que a garota puxou uma espada contra ele. Céus, ele já chegou no jantar completamente bêbado.

— Então, aquela era a garota da Espada Demoníaca – doutor Marcoh disse para si mesmo.

— Espada Demoníaca? – Breda repetiu suas palavras – O senhor não está falando da...?

— Murasame – doutor Marcoh completa – O Edward colocou na cabeça que a garota é a portadora da Murasame.

— Murasame? – Fuery perguntou, confuso – O que é isso?

— É uma lenda do antigo Oriente – Marcoh explicou – Sobre uma espada lendária produzida com Alquimia e que possuía um veneno poderoso e sem antídoto capaz de matar com um corte.

— É apenas uma lenda, Fuery – Breda dirigia e o carro sacolejava na estrada poeirenta – E o Edward acredita em histórias para crianças?

— Bom – doutor Marcoh meneia a cabeça – diziam também que a pedra filosofal era lenda. E você se lembra da guerra civil naquele país do Extremo Oriente chamado o Império?

— Eu ouvi falar – Breda falava sem tirar os olhos da estrada – Uma coisa horrível. Morreu muita gente e os rebeldes tomaram o poder.

— Dizem que tantos os rebeldes quanto as forças imperiais – Marcoh diz – usaram armas produzidas com Alquimia como a Murasame. Por isso, a carnificina foi maior.

— Não brinca – Breda encarou o doutor por uns breves segundos antes de voltar os olhos para a estrada – O senhor está falando das Armas Imperiais?

— Sim. É o que dizem – doutor Marcoh confirma.

— Esse pessoal inventa cada uma – Breda sacudiu a cabeça – Eu ouvia histórias da Night Raid que fazia atentados terroristas contra o governo. Eles tinham uma líder... como era o nome dela? – ele forçou um pouco a memória – Acho que era Najenda. Tinha um braço mecânico. E os subordinados dela eram os mais terríveis. Os que tinham as mais altas recompensas pela cabeça deles. Diziam até que um dos subordinados dela portava a Murasame. Ouviu isso também, doutor? – Breda sorriu para ele.

— Não me interessavam muitas dessas histórias – doutor Marcoh deu de ombros.

— Para mim – Breda continuou – era mentira para amedrontar os inimigos. Ainda inventaram que a tal Murasame foi dada para uma menina. Uma menina, doutor! – ele bate no volante – Uma criança! Recrutam crianças para a guerra! Esses caras não têm mais limites mesmo. Acho que ela carregava uma imitação da Murasame só para causar terror. E ela ficou famosa porque era uma das mais terríveis assassinas. Uma criança – Breda abana a cabeça, inconformado – Como é que ela se chamava mesmo? – ele faz um esforço para lembrar – Kimi, não... Akemi... Não, Akame. Isso! – e completa, com um sorriso triste – Akame da Espada Demoníaca.

— Akame? – Fuery arregala os olhos – Mas esse é o nome da... AH, NÃO, MAJOR!!!

O balanço do carro deixou o major Armstrong enjoado e ele acabou devolvendo tudo o que havia bebido naquela noite no chão do carro. Fuery praguejava e choramingava ao lado do major enquanto Breda amarrava a cara.

— Não adianta se lamentar – Breda ralhava com Fuery – Vamos ter que aguentar essa inhaca até a Cidade do Leste.


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Notas finais do capítulo

Comentem se perceberem algum erro.
Até mais.



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